Pedro deixou Potira se trocando.
Os convidados estavam pelo jardim, alguns dançando, outros bebendo, era a primeira festa em anos naquela casa, as comemorações até aquele momento eram restritas, mas com as crianças crescendo, Estefano percebeu que precisava se adaptar mais ainda. Helena estava no colo dele. Raíra colada ao Rudá, era a maneira que a menina encontrava de manter as mulheres interessadas longe. Ela acreditava que Rudá não tinha uma namorada porque não tinha tempo para isso.
Pedro se despediu das irmãs, cheirou os cabelos do sobrinho Eli, o garoto era sorridente.
Ganhou um aperto de mão de Rodolfo. Marco Wolff parou na frente do homem que chamou de rapaz durante anos, que foi o seu pupilo e que é hoje era o seu compadre, confiavam um no outro de olhos fechados. Os dois conversaram durante alguns minutos sozinhos.
_ Se tiver problemas, peça a sua mulher para conversar com Laura, é a sua comadre e pode ajudar.
Não ofereceria ajuda para outro casal, mas Pedro era o irmão que Laura não tinha, prova disso foi que a mulher de Wolff se jogou nos braços do noivo para se despedir.
_ Não vai parar de abraçar a minha esposa, mesmo depois de casado?
Pedro riu, tinha por Laura o mesmo carinho que tinha por suas irmãs. E o antigo patrão sabia disso.
Potira desceu, gostava de como ela se parecia, como uma brisa de primavera, a pele sem maquiagem e as sardas o fazia a desejar ainda mais. Era como o desabrochar de uma rosa em noite de luar, as mesas rosas que ele via em seu rancho, e o fazia se recordar dos cabelos dela.
Pedro se recordou da primeira vez que a viu. Ele havia ido levar alguns documentos para Estefano, Potira estava deitada no tapete da sala, com um vestido comportado e jogava cartas com Rudá. Se sentiu zonzo imediatamente, as pintinhas o deixaram maluco. Ela era de uma classe superior a ele, mas a menina sorriu como se não se importasse que ele estivesse vestido com uma calça velha e bota desbotada. Nessa época a vida financeira dele começava a se organizar, cursava engenharia , o salário que Marco pagava era bom e as irmãs tinham montado uma cooperativa, além de vender temperos caseiros. Podia andar com roupas melhores,mas nunca se importou com aquilo, era um peão com alma de peão.
Estefano não estava naquele dia, mas os seguranças o conheciam e Helena autorizou a sua entrada.
Potira o serviu um café, sem se importar como ele estava vestido e nem mesmo com a sua falta de modos finos na mesa. Foi a primeira vez que sentiu o seu coração bater mais forte, a menina era jovem, e Pedro passou a evitar a todo custo voltar naquela casa.
Mas um acordo de honra o fez voltar alguns anos depois. No mundo que os circulava eram comuns acordos de casamento. Rodolfo era um amigo íntimo de Marco Wolff e desejava Dya, irmã de Pedro, como esposa.
Esse era o preço que Rodolfo exigiu em troca da vida do pai de Laura. Marco intercedeu e convenceu Pedro a permitir que Dya se casasse com Rodolfo, em troca Pedro teria Potira como esposa. Era a chance de Dya ser feliz, e Dya aceitou porque era a chance de Pedro ser feliz também, um irmão buscava proteger o outro.
Tinha sido o acordo mais difícil da vida dele, amava Potira, mas precisavam fazer ajustes pesados. Se ela resolvesse partir ficaria sem chão, não as terras que conquistou com trabalho duro seria capaz de sustentar o peso do seu sofrimento. Ela era a sua esposa e queria que continuasse como tal, mesmo que pudessem levar tempo para consumar o casamento. E ainda precisava trabalhar a falta de tato com s£xo feminino. Pedro sabia como tratar as irmãs, mas não a sua mulher, mas a beleza dela o fascinava, nunca tinha visto cores de cabelo assim, e nem mesmo sardas tão bonitas. Teve sonhos deslizando a língua em cada pintinha.
Guardou os seus pensamentos e abraçou a mãe, a senhora era aquelas mães afetuosas, nem mesmo os problemas familiares que enfrentaram acabaram com o carinho. Dona Margarida estava feliz com aquele casamento, gostava da menina que se tornava oficialmente a sua nora, e sabia que ela e Pedro se entenderiam, podia ser trabalhoso e tenso nos primeiros dias, mas o filho e a nora se amavam
Pedro observou Potira se despedir de Helena, a sua mulher era amorosa, isso era bom.
Depois Potira se agarrou a Raíra, e a sobrinha chorou, a menina era a sua companhia de todas as horas, dormiam no mesmo quarto, mesmo que cada uma delas tivessem seus respectivos quartos com tudo que queriam.
_ Não chore, Raíra. Só me casei e logo volto para passar um tempo com você.
_ Vou sentir saudade.
_ Eu também, mas Rudá vai levá-la para um passeio na minha nova casa. Vamos andar de cavalo juntas, nadar no rio e visitar Bento e Ed.
Dessa parte Rudá não gostou, trocou olhares com o tio Estefano.
Rudá sumiu pelas escadas, antes que fosse obrigado a abraçar Potira, não gostava de abraços, só o da tia Helena, e de ficar sentado ao pés dela, enquanto Helena acariciava os seus cabelos, era como estar em casa, a tia Helena ainda possuía o mesmo cheiro de mãe de quando ele chegou.
Potira parou na frente de Henrique e de Estefano, os dois estavam parados lado a lado, ganhou uma careta de cada um. Nina, mulher de Henrique o beliscou sorrateiramente, era um aviso para não fugir do abraço.
Potira se lançou nos braços de Henrique, ganhou um abraço, podia contar nos dedos esses momentos.
Depois parou na frente do cunhado.E ele abriu os braços pela primeira vez, sempre que o abraçava era por iniciativa dela.
_ Tudo bem menina.
Era uma despedida, mas ainda a antiga promessa de protteção.
_ Prometi que cuidaria de você, e ainda está valendo, Pedro tem minha confiança, mas em todo caso, sabe que estaremos aqui para o que precisar.
Potira se aconchegou em seus braços, mas logo Estefano começou a demonstrar desconforto, ele não gostava de contato feminino, a exceção era Helena e Raíra.
_ Obrigada.
Estefano assentiu.
Henry deu um beijo na testa de Potira, esse era o carinho que ele oferecia às mulheres e meninas da família, nenhuma outra menina, nem mesmo da idade dele se aventurava perto da cópia do silenciador.
As despedidas acabaram, era hora dos noivos aprenderem a viver juntos e resolver os problemas que surgissem.
Marco e Laura os deixariam no aeroporto. O casal de amigos precisava voltar logo para casa, o filho deles, Ed, estava com a perna engessada, o menino havia se acidentado ao pular de um touro bravo. Bento fazia companhia para o amigo.
. Já os pais de Bento ( Dya eRodolfo) sabiam que quanto mais longe Bento ficasse de Raíra, menos problemas teriam.