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1818 Words
Pérola narrando. Dia seguinte// Acordo completamente nua e esparramada na cama. Um lençol fino cobre o meu corpo e eu sinto o peso de um braço forte em cima da minha barriga. Olho para baixo, vendo o braço tatuado do Barão. Viro para o lado e o vejo dormindo ao meu lado. Dou um sorriso de canto e fecho os olhos ainda sorrindo, lembrando da noite ótima que nos tivemos juntos. Eu estava com med0 de acordar e descobrir que tinha sido um sonho, mas não foi. É real. Estamos juntos, na Europa. Minha barriga está roncando como nunca. Sinto bastante fome. Levanto-me da cama com cuidado para não o acordar e vejo a hora. Ainda é de manhã. Caço a minha calcinha pela casa e a coloco. Abro uma das malas do Barão que está no quarto e tiro uma blusa folgada. Tiro e visto. Vou até a cozinha, coloco algumas comidas prontas na mesa e começo a preparar um café da manhã. O cheiro de ovos mexidos e café incensa a casa, e não demora muito para o Barão aparecer aqui. Ele me olha dos pés à cabeça e nada fala, apenas se senta em uma das cadeiras a mesa. Pérola: Bom dia – Falo, me juntando a ele. Sento-me na sua frente. Barão: Bom – Sua voz é sonolenta e ele logo começa a comer. Pérola: Peguei sua blusa porque eu não tinha o que vestir, fora o meu vestido que não é nada confortável. Barão: Não tem problema. Ok, ele não deu um sermão porque eu me mexi em suas coisas e peguei uma de suas blusas. Vejo uma evolução aqui. Ele me pede para passar a manteiga e eu lhe passo. Comemos em silêncio e eu lavo a louça em seguida. Vou até a sala. Me sento ao seu lado. Ele larga o celular e me olha, ficando assim por um bom tempo. Pérola: Tá tudo bem? Barão: Comigo, sim. Com as favelas, não muito – Ele suspira – Tô voltando pro Brasil amanhã cedo. Pérola: Amanhã? Isso é... Daqui a algumas horas. Barão: É, te falei que só vim pra ficar alguns dias. Pérola: Sim, mas eu não imaginei que fosse tão rápido assim. Não queria que você fosse. Barão: Querer não é poder. Eu também não queria... passar tanto tempo longe de você. Pérola: Você me disse que ninguém mais lembra o que aconteceu com o General, e se eu... – Barão me interrompe antes mesmo de eu completar a frase. Barão: Não! Não inventa, Pérola. Você não vai voltar pro Brasil. Pérola: Mas por que não? A poeira já baixou, sem falar que eu praticamente não saio direito. Barão: É mais seguro você aqui, sem ninguém nem lembrar da tua existência. Se tu voltar, a história vai voltar e tu vai ser perseguida. Se eu te mandei pra cá, é pra tu não correr perigo. Também tem a tua mãe, tu acha que ela vai ficar bem no Brasil? Ela passou o maior sufoco, Pérola. Tu não pode voltar. Pérola: Mas e a gente? Barão: Finge que nunca existiu a gente. Pérola: E você acha que é fácil? Eu passei quase um mês só chorando, sem comer nada, tudo isso pra me recuperar. Barão: Mas conseguiu viver sem mim, da mesma forma que eu vivo sem você. Pérola: Muito m@l, aliás, né? Você m@l dorme, Barão. Me fala quantas noites ficou sem dormir desde que eu fui embora. Nem você mesmo deve lembrar, de tantas noites em claro que passou. Eu te faço bem, mas parece que você não quer encontrar a felicidade na sua vida. Prefere sempre essa mesmice de viver guardando rancor e mágoa. Se você não solta as amarras do passado, nunca terá um presente e um futuro feliz. Barão: Eu passei a minha vida inteira sendo infeliz, tu acha que um tempo a mais vai fazer diferença? Claro que não. O que ainda me mantei vivo é o zelo que eu tenho à favela, só isso e nada mais – Ele cruza os braços e eu abaixo a cabeça. Pérola: Pra mim faz. É claro que tá muito bom aqui, mas ainda falta você. Eu sinto a sua falta. Barão: Tu sabe muito bem que eu posso perder o controle e acabar descontando em você, mano. A gente nunca vai dar certo, Pérola. Eu nunca vou ser bom pra ninguém, muito menos pra você que sonha com um conto de fadas. Eu não posso te dar isso. Pérola: Eu não tô falando de contos de fadas. Eu tô falando que a gente pode se ajudar, juntos. Eu sei que você extrapola às vezes, mas isso também pode mudar. É só questão de querer. Ninguém é o mesmo pra sempre, você sabe disso. A gente poderia tentar dar certo. Não vai ser fácil, mas no final vai valer a pena. Eu me sacrifico por você. Barão: Eu não preciso que você para de viver por mim. Segue a sua vida, igual você tava fazendo até há algumas horas – Engulo em seco – Foi eu que trouxe todas as coisas ru1ns pra tua vida. Se tu passou pelo infern0, foi por minha causa. Eu não quero te causar mais d0r. Por mais que também me sinta bem com você, sei que a qualquer momento eu posso surtar e isso muda tudo, completamente tudo. Tenho certeza que você tá vivendo momentos melhores aqui, e eu não vou atrapalhar isso. Não quero nem sonhar em te ver no Brasil, demorou? Nem sonhar. Lá não é mais lugar pra você, e eu não sou a pessoa certa pra tua vida, nunca fui. Pérola: Você ainda não entendeu que se houver esforço dos dois lados, nós podemos mudar isso? Você pode se tratar, eu posso te ajudar nisso. Você não tá sozinho nessa. Eu não tô aqui de enfeite. Tô disposta a te ajudar, a ajudar nós dois a ter uma boa convivência. Isso não é coisa de outro mundo, é algo que nós dois podemos mudar. O seu temperamento não é nada fácil de lidar, mas ele também pode ser controlado. Só porque você desenvolveu isso, não quer dizer que vai ter que viver assim pra sempre. Tem jeito pra tudo nessa vida. Barão: E você ainda não entendeu que eu não quero ser mudado? Tá bom do jeito que tá, Pérola. Eu não preciso de mulher nenhuma no meu pé me dizendo o que é certo ou o que é errado. Se eu devo fazer de um jeito ou do outro. Eu nunca tive isso, não por falta de opção, mas sim por vontade própria. E não, por mais que eu curta você, por mais que eu goste de ficar com você, eu não tô a fim de mudar. Nem por você, nem por mim e nem por ninguém, entendeu? Você sabe que passava o maior sufoco comigo, em todo lugar. Eu te deixava de cama por dias, semanas. Quantas vezes você foi parar no hospital por minha causa? Mil vezes? Nem lembro mais, perdi até a conta de quantas vezes você se prejudicou fisicamente e emocionalmente por mim. Se eu quisesse te machucar, eu te arrastaria de volta pro Brasil e todo aquele infern0 iria se repetir. Como não é isso que eu quero, prefiro manter distância. Eu sou o culpado da maioria das coisas ru1ns que aconteceu com você, e não quero ser mais ainda. Pérola: Você não foi o culpado de tudo. Existiam pessoas no nosso convívio que faziam tudo ficar bem mais complicado. Essas pessoas não estão mais aqui. Restou eu, e você, também. Só nós dois. As coisas seriam bem diferentes. Tudo ficaria bem mais fácil, já que agora não tem mais ninguém pra nos atrapalhar. Barão: Sou eu que atrapalho nós dois, será que você ainda não percebeu? Pérola: Não é. Barão: Porr@! Será que vai ser preciso eu te encher de porr@da de novo pra você entender que eu não te faço bem? – O tom da sua voz aumenta, e eu estremeço com as suas palavras. Começo a chorar, silenciosamente. Eu não sei o motivo de tudo ser assim. Ele é um monstr0, às vezes, mas não quer dizer que não pode mudar. Eu só tenho que tirar da minha cabeça a ideia de que posso mudá-lo. O Barão não se esforça para mudar nem por ele mesmo, imagine por mim. É mesmo uma burr1ce achar que ele mudaria assim tão fácil. Meu chá é bom, mas eu tenho que aceitar que a minha bucet@ não é de ouro. Barão: Ah, Pérola, não f0de, mano! – Ele diz, se movendo e se aproximando ainda mais de mim – Isso não é motivo pra chorar. Tu tá tendo a chance de viver tua vida bem, longe de mim, com bastante grana no bolso. Pérola: Não é isso que eu quero – Respondo, limpando as minhas lágrimas – Inclusive, agradeço por tudo que você tá fazendo por mim, mas eu prefiro que pare de mandar rios de dinheiro pra minha conta. Eu tô a um passo de ser aceitar em um emprego aqui. Barão: Pra que isso? Já te mando tudo que tu precisa, justamente pra que não precise trabalhar, só curtir a tua vida que já foi tão f0dida lá atrás. Pérola: Se eu fui atrás de emprego, é porque eu quero. Eu estou bem, minha mãe está bem, nós duas estamos em ótimas condições. Graças a você, é claro. Não quero ser ingrata, mas também não quero que você se preocupe comigo financeiramente. Barão: Não vejo problema nenhuma em te mandar uma grana, mas se tu prefere assim, vai ser feito. Pérola: Obrigada – Sorrio bem fraco – Bom, eu vou colocar o meu vestido e vou voltar pra casa. Não quero criar falsas esperanças de um casal feliz por um dia. Quanto antes eu aceitar a realidade, melhor. – Dito isso, eu me levanto, mas o Barão me puxa pelo braço. Barão: Calma aí! – Ele fala, um pouco apreensivo – Nós já estamos aqui, juntos... Para de pensar se no futuro vamos estar juntos ou não, pensa no agora. Eu só tenho essa noite aqui, e quero que pelo menos seja com você. Eu tô de boa, como você mesmo disse. Quero a tua presença, só por essa noite. Fica. Ouvindo essas palavras saindo de sua boca, eu amoleço por completo em seus braços. Já estou em seu colo, sendo consolada pelas carícias que ele está fazendo na minha coxa. Barão devora os meus lábios e eu simplesmente aproveito o momento. Faz mais de um ano que eu não sinto o calor do seu corpo e o gosto delicioso da sua boca. Eu ia dormir todos os dias desejando isso, o desejando comigo novamente. Agora que o tenho aqui, não posso deixar de aproveitar. Vou desfrutar do Barão o máximo que eu puder, até o fim desse digníssimo dia.
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