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1862 Words
Barão narrando. Dias atuais// Brasil – Rio de Janeiro, RJ. Puxo o edredom para cobrir o meu corpo. Mais uma noite em claro. Eu ainda consigo a imaginar aqui, nos meus braços, mas só imaginar não basta. Eu deveria ter ouvido mais a Pérola no último dia que estivemos juntos na Suíça. Não dei ouvidos, agora estou aqui, a desejando todos os dias. Não vou dar o braço a torcer, porque não quero parecer fraco. Tudo tem que continuar da mesma forma. Eu não tinha que ter me acostumado com as horas boas que passei ao lado dela, porque isso me fez querer mais. A Pérola vive muito bem sim mim, e eu não quero f0der ainda mais a vida dela. Já comeu o pão que o diab0 amassou quando estava comigo. Se eu vivo a minha vida sendo infeliz, isso é problema meu e não dela. Ela merece viver bem, mesmo querendo voltar para o infern0 que passava aqui. Eu nunca fui de ter empatia por ninguém, porque na minha cabeça, ninguém nessa vida é digno disso, mas eu comecei a ter um pouco depois que caí na real e vi o quanto a Pérola é uma pessoa boa e que só sofria na vida. Já faz seis meses da minha viagem. Seis longos meses longe dela. E cinco meses que eu fiz o Amarelão bater as botas e ir fazer companhia para o irmão e o sobrinho idiot@ dele. O Malvadão conseguiu sair da cadeia rapidinho depois que o Amarelão foi mort0, e me manda mensagem todo mês agradecendo a ajuda e perguntando se eu preciso de algo. Neguei todas as vezes. Não estou precisando de ajuda nenhuma, mas quando aceitei a proposta do Coringa de ajudar eles, foi porque no fundo eu sentia que iria precisar deles algum dia. Do Malvadão, em específico. Querendo ou não, somos de favelas diferentes. O que não der para eu fazer aqui, posso fazer lá. Foi mais por uma troca de favores futuros, mas não por bondade. Não tenho nem cara de ser caridoso para ficar fazendo coisas sem esperar algo em troca. Nada é de graça nessa vida. Estou na minha salinha fumando um baseado quando o Mochila bate à porta, perguntando se pode entrar. Confirmo e ele logo se senta na minha frente, está com a listinha dos mais endividados. O mês já está acabando e eu não quero saber de muita gente devendo. Se tem disposição de ir pegar drog@ nas minhas bocas, tem que ter disposição para pagar. Arqueio a sobrancelha quando vejo o nome do Paulo Caçula. Barão: O que esse bost@ tá achando da vida? Ele devia dinheiro pra caralh0 mês retrasado, vendeu o carro pra poder pagar e agora já tá com uma dívida desse tamanho? Put@ que pariu, hein? – Esbravejo. Mochila: Pô, os meninos da boca do bequinho tão liberando todo tipo de drog@ pra ele. Barão: Pede pra cancelarem, então. Não quero mais ninguém vendendo nada pra esse desgraçad0. Ele não vai ter mais dinheiro pra pagar e a gente vai sair no prejuízo. Mochila: Pô, é sobre isso também que eu vim falar contigo. Barão: Solta. Mochila: Desci lá na casa dele com a tropa. O maluco realmente não tem nada, sacou? Já vendeu todos os móveis da casa, só tem dois colchonetes lá dentro. A única coisa que ele tem é uma filha novinha, tá oferecendo ela pra se pr0stituir lá na boate, pra cobrir a dívida. Barão: Ele tá me achando com cara de que? Até pagar a dívida, essa vagabund@ da filha dele já tem morrido de tanto levar p@u na xerec@. Mochila: Ele alega que a mina é v1rgem. Talvez se for mesmo, tem como leiloar essa virg1ndade e conseguir uma grana maior com a pirr@lha. Barão: Trabalho com minas experientes, sacou? Na boate tem que ter mulher que quer dar a bucet@ até cansar pra ganhar dinheiro, e não pirralhas forçadas a se pr0stituir. Mochila: Então o que a gente faz? Apaga ele e fica no prejuízo? Porque ele não tem nada mesmo pra oferecer. Bufo irritado e jogo o papel para longe. Vontade de mat@r esse vagabund0 na porr@da. O valor é muito alto, não tem como deixar passar em branco. De qualquer forma, quero esse i*****l mort0. Ele já anda nos dando muita d0r de cabeça, e eu não tenho paciência para lidar com noiad0 muitas vezes. Talvez a menina seja esperta e dê certo como mula, é melhor do que ser obrigada e vender o próprio corpo. Barão: Quantos anos a pirralha tem? Mochila: Acabou de completar 15, chefe. Barão: Nova demais. Penei em colocar ela como mula, lá no asfalto. Como é de menor, ajuda no disfarce. Mochila: Não acho que ela tenha vocação pra isso. A mina é meio lerda e só sabia chorar quando a gente colou lá. Sem atitude pra ser mula. Talvez tu pudesse colocar ela no bar da boate, acho que vai dar mais certo. Ela só vai servir bebida, qualquer pessoa sabe fazer isso. Barão: Ela teria que trabalhar lá 24 horas por dia até cobrir a dívida. Tr@ficando drog@ arrecadaria o dinheiro bem mais rápido. Mochila: E se eu fosse lá perguntar pra ela? Barão: Não, ela não tem escolha. Nós que vamos escolher o que ela deve fazer. Não podemos dar toda essa moral de deixá-la escolher o que quer. Vai ter que vender drog@ no asfalto, ela querendo ou não. Arruma um disfarce bom e diz que ela começa amanhã – Mochila assente com a cabeça – E fala pra ela também que a gente vai garantir que o pai dela vai ficar vivo, mas nós vamos executá-los hoje de madrugada. Enquanto isso, caça ele e leva pro abatedouro. Deixa um grupo de 5 homens o torturando até meia noite. A partir da meia noite, o deixem amarrado. Uma hora eu estarei lá pra acabar de vez com esse viciado de merd@. Mochila: Beleza, como quiser – Mochila se levanta da cadeira, pronto para sair. Barão: E outro bagulho, antes que eu me esqueça. A Pérola falou contigo essa semana? – Mochila segura o riso e tenta se manter sério – Escutou alguma piada, por acaso? Mochila: Não, não. Foi m@l – Ele coça a garganta e se recompõe – Ela não falou comigo essa semana, então eu também não mandei mensagem. Barão: Jaé, fez certo. Pode vazar agora. Mochila sai da sala e fecha a porta. Semana passada ela falou pouco com ele, e essa semana ainda não deu sinal de vida. Com o que a Pérola anda tão ocupada? Espero que não seja com o que eu estou pensando. Prefiro nem imaginar isso, para não ficar tão put0 da vida. Já tenho meus problemas reais, não preciso de problemas imaginários para me atormentar. Ela comentou com o Mochila que conseguiu o emprego, vai ver está ocupada trabalhando. É isso, Barão, a Pérola está ocupada com o trabalho. Volto a olhar a lista de endividados e risco o nome do Paulo Caçula, porque ele já é praticamente um problema resolvido. Em breve, menos um CPF para a Receita Federal. Essas porr@s ainda fazem o desfavor para o mundo de procriar. Esse tipo de ser humano não deveria nem reproduzir. Eu me incluo nisso, também. Com certeza eu seria um péssimo pai, não consigo nem me imaginar nessa situação. Quando a noite se aproxima, eu parto para a boate. Cada canto daqui me lembra ela, mas eu também não posso deixar de admirar as novatas gostos@s que chegaram de Santa Catarina. Cumprimento de longe alguns conhecidos e vou até o bar. Eu mesmo faço o meu próprio drink. O mesmo de sempre: whisky puro com gelo. Com o copo na mão, vou até a minha mesa exclusivo e assisto as meninas dançando no palco. A Jeniffer, que chegou semana passada, é a estrela do palco hoje. O seu cabelo rosa chama bastante atenção, fora as tatuagens que ela tem espalhadas pelo corpo. A pele branca feito papel deixa bem destacado os desenhos. Daqui a pouco ela vai parecer um gibi. Tomo um pouco da bebida e vejo que agora os seus olhos me cercam. Está doidinha para me dar, e por incrível que pareça, estou doido para comer. Ela é gostos@ pra caralh0, sem contar que já abriu as pernas para mim só para mostrar o seu piercing na xerec@. É atraente, confesso, mas senti vontade de arrancá-lo com um puxão só para sentir pr@zer em vê-la sentir d0r. Espero fazer isso em breve. No meio da apresentação, a Jeniffer insiste em me atiçar e vem até a minha mesa. Barão: Mete o pé, vagabund@! A casa tá cheia de cara com grana querendo te comer, perde tempo aqui não – Meto serinho, e ela logo se levanta, com a maior cara de tacho. Jeniffer: Sim, eu já vou – Dou outro gole no whisky, com a cara fechada – O que achou do meu show? – Ela pergunta, cheia de vida. Na moral, essa mina parece que é retardad@. Barão: Bom – Respondo seco. Jeniffer: Só “bom”? – Ela pergunta, sem graça. Barão: É, só bom. O que mais tinha que ser? Tu não fez nada de diferente das outras, ou fez? Pelo que eu vi, tu rebolou e dançou igual todo mundo. Nada demais. Jeniffer: As meninas gostaram bastante, menos a Platinada. Barão: E daí? Volta logo pro teu trabalho e vai fazer dinheiro, vadi@. Não te chamei aqui. Jeniffer: Ok, Barão. Não tá mais aqui quem falou – Ela ri baixo, se saindo da mesa. Barão: Pra tu é PATRÃO – Berro a última palavra e ela assente com a cabeça. Essa put@ tem sorte de eu não quebrar a cara dela aqui, na frente de todo mundo. Odei0 quem fica se crescendo. A vontade de comer ela diminuiu bastante agora, mas ela que se prepare no dia que eu pegar. Vai ser para deixar até sem andar, de tão dolorida que vai ficar. Eu não costumo brincar em serviço. Fico na boate por bastante tempo, analisando as put@s. A Platinada perdeu o gosto com o passar do tempo. Desde a Pérola, eu não tenho mais nem tocado nela. A última que comi foi a Bombom, que já está aqui há alguns meses. Ela é calada, discreta e aguenta muita d0r. Curti ela, mas nada que me faça querer replay. Por volta de uma e meia da manhã, Mochila me manda uma mensagem dizendo que o serviço já está feito. Jogaram o corpo em um rio um pouco distante daqui. Respondo a sua mensagem e vejo que não tem nenhuma outra. Odei0 estar ligado a essas tecnologias, mas ainda preciso disso no meu dia a dia. Quando me canso do som alto e do cheiro de put@, meto o pé para casa. Tomo banho e me deito na cama, sentindo as minhas costas relaxarem. Isso que dá ser correria. Passo o dia inteiro resolvendo as coisas, mas prefiro assim. Afinal, as coisas só ficam boas quando eu estou no controle de tudo, e não tem nada de errado nisso. Eu sou o chefe, estou exercendo a minha função.
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