Capítulo 6

1267 Words
Quando cheguei no quarto onde fico, me deitei me cobrindo toda com o lençol, e aos poucos, sentia a minha respiração voltar ao normal junto com os meus batimentos, mas a imagem daquele homem começa a dominar a minha mente. Não sei descrever bem aquele momento. O seu olhar profundo em mim era bastante notório, o olhar n***o* e sério me causava medo, o seu semblante neutro novamente se fazia presente, e quando ouvi a sua voz grossa, o meu corpo inteiro se estremeceu de medo. Não sei descrever realmente, pois o olhei brevemente e as minhas reações imediatas me impediram de observar mais alguma coisa, mas pude ver o quão forte ele é e que os seus cabelos são um pouco grandes onde estavam amarrados. Eu tento tirar isso da minha cabeça, e depois de muita luta interna, acabo dormindo. [...] -Minha filha..., acorde, precisa tomar um remédio. – Ouço a voz da Marie enquanto ela toca o meu ombro. -Oi... – Falo com dificuldade sentindo um nó na garganta. Ela me entrega um copo com água e um comprimido, tomo ele e ela coloca um termômetro na minha axila. -Preciso saber se está com febre. – Aceno em concordância e volto a me deitar. – Comeu alguma coisa? Posso fazer uma sopa de frango com legumes se quiser. -Obrigada..., mas comi bolo com leite. – Explico e ela acena em concordância. Um tempo depois, ela retira o termômetro e verifica, Marie me diz que estou febril e que o remédio que tomei vai ajudar a combater. Ela passa uma toalhinha molhada em minha testa e diz que se eu precisar de algo, posso chamá-la, e assim, ela sai deixando um beijo em meus cabelos. Me viro ficando deitada de lado e fecho os olhos na tentativa de dormir novamente, e por mais cansada que me sinto, demoro um pouco a dormir. A cama que sempre durmo fica de frente a janela do quarto, então, me levanto abrindo as cortinas para poder apreciar o céu que para a minha sorte, é noite de lua cheia onde ela está perfeitamente alinhada em minha visão quando me deito. Vejo o céu limpo e com muitas estrelas bastante brilhantes, fico ali bem enrolada apreciando o céu que pela janela parece bem pequeno, mas no momento basta para me tranquilizar, e é nessa hora que a saudade dos meus pais me invade. -Eu sinto tanta saudade de vocês..., queria muito um abraço agora, porque me sinto fraca e sem forças para suportar. – Sussurro fechando os olhos e nessa hora, ouço a porta do quarto ser aberta. -Julya? Você está acordada? – A voz é de Kevin e fico bem paradinha fingindo que estou dormindo. Peço internamente que ele vá embora, mas como nada acontece ao meu favor, sinto a cama afundar e fico incrédula que ele se deitou ao meu lado. Deixo a minha respiração leve e tento não me mexer de forma alguma, mas para complicar mais ainda, sinto ele me abraçar enquanto alisa os meus cabelos. Ele nunca foi de vir aqui, sempre era eu que o esperava no outro quarto como ele sempre ordenou, e o pior, ele nunca me abraçou. -Pensei que ainda estivesse acordada... – Ele se aconchega mais e o sinto o seu rosto em meu pescoço com a sua mão em minha cintura onde sinto um leve aperto. – O seu perfume é viciante Julya... – Sinto vontade de chorar, por mais que a sua voz seja calma, ela não me traz conforto nenhum. Kevin fica na cama comigo por alguns minutos alisando os meus cabelos, cheirando o meu pescoço, e quando ele sai, choro em silêncio por sentir um medo imenso e um alívio enquanto afundo o meu rosto no travesseiro, estava com medo dele me acordar para me forçar a algo, mas graças aos céus ele foi embora. Ainda não consigo acreditar, nunca desde que cheguei aqui ele foi de me abraçar e muito menos de entrar nesse quarto. Pensei que ele nem pisaria aqui hoje por eu estar praticamente doente e estava aliviada por isso, estaria livre dele por uns dias e assim, teria um pouco de paz e descanso bem longe dele, mas pelo jeito, nem isso o afasta de mim. As minhas lágrimas logo se tornam inexistentes, já chorei tanto que muitas vezes nem lágrimas tenho e a sensação de ter algo preso na garganta só aumenta. Começo a rolar na cama sem conseguir dormir e acredito que será uma noite longa. [...] -Não está com febre, mas sente mais alguma coisa? – Marie pergunta retirando o termômetro. -Só dor no corpo e uma enxaqueca. – Respondo sentindo a minha cabeça latejar. -Melhor ficar na cama, vou preparar o seu café e trago num instante. – Ela diz com preocupação e carinho alisando os meus cabelos. -Posso descer, não é nenhum... – Tento falar, mas ela me corta na mesma hora. -Melhor ficar, o senhor Miller ainda está na casa. – Ela diz sussurrando e aceno em concordância. – Eu já volto. Marie sai do quarto e me levanto da cama, tranco a porta e entro no banheiro para fazer a minha higiene e tomar o meu banho. Me visto de um vestido longo que a Marie me deu, ele é bem folgado não me marcando em nada me trazendo uma leveza no corpo, penteio os meus cabelos e é nessa hora que ouço batidas na porta. -Julya..., abre porta! – É o Kevin. Respiro fundo e caminho em direção a ela onde a destranco e abro vendo-o parado me olhando dos pés a cabeça e cruzo os braços na tentativa de me esconder, pois odeio a forma como ele me olha. -Como se sente? – Kevin leva a sua mão ao meu queixo elevando o meu olhar a ele. -Eu..., é, um pouco melhor, mas ainda sinto dor de cabeça e no corpo. – Respondo com dificuldade e ele parece me analisar. -Descanse por hoje, irei resolver umas pendências, e quando eu voltar, iremos ter uma bela conversa, e claro, irei aproveitar muito você! – Ele diz seriamente alisando o meu queixo. Kevin me olha de forma possessa, as suas pupilas dilatadas e escuras me dão arrepio e não consigo dizer nada, pois o medo de imaginar o que poderá vir é enorme. -Entendeu, Julya? – Ele pergunta arqueando a sua sobrancelha mostrando uma leve irritação. Muitas vezes ele não gosta quando fico calada. -Entendi. – Respondo quase sussurrando sentindo um nó na garganta. -Ótimo, agora desça e vá tomar o seu café..., quero você bem forte e saudável para mim! – Aceno em concordância lentamente e ele me dá espaço para passar. Saio em passos largos indo diretamente para a escada e quase corro para a cozinha onde encontro Marie montando uma bandeja. -O que foi minha filha? – A olho e corro para abraçá-la sem aviso. – Está tudo bem, estou aqui! – Marie alisa os meus cabelos me apertando forte em seus braços e é quando sinto uma sensação de proteção que tanto precisava ontem a noite. – Isso vai acabar logo, eu prometo. – Ela sussurra em meu ouvido e a olho confusa. – Vem, você precisa comer! Ela me leva até a mesa e começa a colocar alguns alimentos como, pão, geleia, maçã, suco, leite, e aos poucos, começo a comer com ela me fazendo companhia e não tocamos mais no assunto. Espero mesmo que tudo isso acabe o mais rápido possível, pois tudo que mais quero é viver bem longe daqui. Longe dessa loucura, longe de dor, medo e desespero.
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