Capítulo 4

1500 Words
Assim que ele se retirou, respiro fundo procurando forças para andar, mas de imediato sinto as minhas pernas pesadas e me apoio na parede. Espero um tempo para me recompor e depois caminho em direção a cozinha aonde encontro Marie fazendo café, então busco algumas xícaras, biscoitos, pães, leite e geleia de uva como sempre faço nas manhãs. Estava tão desligada em meu medo que simplesmente cheguei pegando as coisas e nem a cumprimentei. -Bom dia minha filha... – Ela diz com a mão em meu ombro chamando a minha atenção. -Desculpe, Marie..., bom dia! – A abraço e ela beija os meus cabelos. Marie me olha com carinho, atenção e é quando ela percebe as minhas olheiras ficando preocupada na mesma hora. -Pelo jeito não dormiu nada..., como se sente? – Ela é a melhor pessoa que conheci nessa confusão toda, vejo o amor em seus olhos, coisa que não vi em mais ninguém a anos. -Acabada, e o pior é que ele disse que voltará ainda hoje. – Falo envergonhada e com lágrimas nos olhos. -Desgraçado*..., queria tanto poder lhe ajudar! – Ela diz de forma triste. -Eu sei Marie, mas seria capaz dele lhe fazer algum m*l*. – O que é verdade, Kevin sempre fala do que é capaz de fazer, ele sempre falava mais no começo quando me trouxe. - Sabemos que isso seria ir de encontro a morte..., me odiaria se ele a machucasse por tentar me ajudar. – Não posso perdê-la, pois só tenho ela. -Mas ainda acredito que se livrará dele. – Ela diz com uma certa convicção e apenas aceno em concordância. Marie sempre diz palavras de ânimo e esperanças para mim, mas confesso que no começo eu sempre agarrava essas palavras para mim, acreditava realmente que eu iria sair desse lugar o mais rápido possível, mas de um tempo para cá, a verdade é que nem sei mais o que posso de fato esperar. Vivo constantemente presa ao pensamento de que é mais fácil a minha situação piorar do que melhorar de fato. Depois de tudo pronto, nos acomodamos a mesa e tomamos o nosso desjejum juntas. Me sirvo de café, leite, pão, frutas e comemos em silêncio por um tempo. Marie disse que eu poderia ir para a varanda pegar um pouco de sol hoje, o que é novidade para mim, e assim que terminei de comer, a ajudei na cozinha limpando tudo e fui para a varanda, mas no caminho, decido ir para o quarto buscar um livro que ela me deu. É uma das formas de me distrair durante o dia e confesso que adoro ler. É algo que me faz esquecer a minha situação, me faz viajar sem sair do lugar em que estou, me faz de certa forma desejar ter algo na vida da forma mais simples, e quando é de romance, ainda sim me faz imaginar como seria ter uma pessoa amada e ser amada por alguém. Será que um dia poderei viver um amor? Mas a verdade, é que não sei se posso confiar em alguém, pois pelo que vi, homens são cruéis e perversos. Kevin não respeita as minhas vontades e nem questionamentos, ele não gosta de ser contrariado e isso me destrói mais ainda, pois não estou podendo nem proteger meu o próprio corpo, algo que é meu. Não sou nada para ele a não ser um objeto de seu prazer*, somente dele, e tudo o que tenho são dores e grosserias. Com esses pensamentos me controlo para não chorar, e assim, caminho na direção da varanda. Ao contrário da minha vida, o dia está lindo e bem iluminado, sinto um vento delicioso tocar em minha pele, o sol me faz fechar os olhos para apreciar a sensação e acabo até esquecendo um pouco do livro. Os meus cabelos balançam com o vento, fico olhando o jardim vendo as flores lindas que ali contêm, e as admiro. É a única beleza desse lugar! A maioria das vezes, as vejo pela janela de forma muito limitada, e hoje, aproveito que estou mais próxima. Admiro essa vista linda do jardim, pois em pouco tempo, o inverno aqui da Rússia irá começar, onde deixará tudo coberto por várias camadas de neve por bastante tempo, pois o inverno aqui é grotesco. Me levanto indo até elas e as toco sentindo o perfume doce e natural das flores, fico encantada em sentir essa sensação na pele, de tocar, de sentir a textura onde me faz abrir um sorrio bobo pela primeira vez nesse dia, e nessa hora, vejo um homem que nunca tinha visto antes aqui. Mesmo que eu não tenha o hábito de andar pela propriedade, os vejo pela janela, e pelo tempo que estou aqui, já vi todos eles vigiando o local, rondando a propriedade, mas esse homem em específico é a primeira vez que o vejo aqui. Ele olha para mim me encarando friamente, sem expressão alguma, o seu olhar é muito intimidador e sombrio me causando arrepios e um medo enorme domina o meu corpo. O olho por completo, mas de forma disfarçada, de soslaio, mas não fico ali por muito tempo, então, volto para a varanda e abro o meu livro me acomodando numa poltrona. É a primeira vez que de certa forma me aproximo de alguém desde que entrei aqui nessa casa, não foi tão perto, mas ainda sim, é algo que nunca aconteceu antes. Sinto o meu coração bater de forma acelerada sem entender o motivo real, as minhas mãos tremem levemente onde as sinto frias, mas depois com muita luta interna, decido focar no livro. [...] -Quer me ajudar com o almoço? – Marie pergunta se aproximando de mim. -Claro! – Fecho o livro e a acompanho. - Hoje não é dia de faxina? – Pergunto, pois hoje seria o dia da semana. -E é, mas o senhor Miller disse que os funcionários da empresa viriam somente na segunda. – Ela responde dando de ombros. Começo a cortar alguns legumes e verduras, Marie seleciona a carne a temperando e depois, a ajudo com os acompanhamentos. -Marie..., por que eu pude ir a varanda hoje? – Pergunto curiosa, pois desde que cheguei, foi a primeira vez que pude ir até lá. -O senhor Miller disse que você estava cabisbaixa esses dias, então, me comunicou que agora você poderá andar mais pela propriedade..., ele reforçou a segurança e acredito que seja por isso. – Ela diz com cautela largando a faca na pia e olha para os lados como se procurasse alguém e continua. – Poderá explorar o local a vontade, mas lembre-se, sempre será vigiada e por uma pessoa específica que ainda eu não sei..., ele quer garantir que você não tente fugir, então, tome muito cuidado, pois não sei o que ele poderia fazer com você! – Ela diz com a voz baixa e bem próxima a mim. -Tudo bem..., eu não vou fazer nada. – Respondo a vendo balançar a cabeça. – É muito grande o local? -Bem grande, pode andar pelo jardim e tem um banco lá, pode ir para a academia que fica nos fundos, tem uma sala de cinema aqui em baixo e pode usar..., acho que de certa forma, ele quer confiar em você, não sei..., ele não diz os seus motivos, só dá as suas ordens. – Ela explica e decido não perguntar mais nada. Mas a verdade, é que mesmo podendo conhecer tudo, terei que controlar os meus passos, pois tudo o que eu fizer, será relatado a Kevin. Como disse antes, é mais fácil piorar do que melhorar. Continuo a ajudando com o almoço, Marie faz uma carne cozida, salada e fico separando alguns utensílios. Quando estava tudo pronto, Marie foi avisar aos homens que a comida estava pronta e separou tudo para levar a eles, fiquei na cozinha separando o meu prato e o dela onde a esperei. Almoçamos juntas na cozinha na companhia uma da outra, tudo estava uma delícia, e depois de comermos, limpamos tudo e disse que iria para a varanda. Fiquei mais uma vez ali olhando o jardim, a grama verde brilhava com o sol e fiquei olhando para o céu vendo as nuvens perdida em meus pensamentos. Sonho com o dia em que poderei sair desses portões, ficar longe de Kevin e por mais que eu não tenha nada e nem lugar para ir, preciso ao menos tentar. Olho ao redor vendo muros altos cercarem o lugar, cerca elétrica em cima e a cada minuto fica pior, pois não vejo saída em lugar algum por menor que seja. Os homens daqui não se importam comigo, nem tem permissão de falar comigo direito, vejo algumas câmeras espalhadas aqui por fora, mas dentro da casa são poucas, mas ainda tem na sala principal, corredores, mas acredito que na cozinha não tenha e percebo que realmente ele sabe até onde pisei. Quando tento procurar uma saída por mínima que seja, acho outro impedimento acabando com as minhas esperanças.
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