Dead tinha acabado de roubar um carro forte e o certo era ele sumir, no entanto ele só conseguia pensar em manter Rebeca longe de Costa, e isso iria colocar todos os seus amigos em perigo novamente, e Romeo detestou essa possibilidade.
— você tem que escolher entre ela ou a gente, se pensar bem é uma escolha sobre você. Ficar atrás dessa mulher desde o início foi um pesadelo para nós. Quando trouxe ela para a nossa casa violentada, quando ajudou ela a ocultar o próprio marido e agora seguindo ela como um cachorro onde ela quer.
Dead encarou Romeo, seu olhar feroz abrandou-se como o de um animal ferido. A verdade golpeava-o mais duramente que qualquer bala poderia. Sabia que sua obsessão por Rebeca era uma espiral descendo para um final que ele não podia - ou não queria - ver. Mas a fidelidade também era sua marca, e seus amigos nunca haviam duvidado dela, até aquele instante.
Romeo estava certo, Dead sabia disso. Era uma questão de sobrevivência, e as escolhas de Dead haviam colocado todos eles na mira. Porém, Rebeca não era apenas uma mulher que ele escolheu proteger; ela havia se tornado seu calcanhar de Aquiles, sua razão fracassada para ser melhor do que um ladrão armado e fugitivo.
"Não é tão simples", Dead finalmente falou, a voz rouca como se as palavras lutassem para sair. "Não é apenas sobre escolher lados. É sobre... é sobre consertar algo que veio quebrado muito antes de Rebeca aparecer."
Romeo cruzou os braços, impaciente. "Exceto que você está quebrando tudo novamente, para todos nós, agora."
Dead olhou para o chão, seus pensamentos corriam selvagens como os motores dos carros que ele sabia pilotar tão bem. Ele podia desaparecer, claro. A cidade grande ou uma casa rústica em algum lugar onde ninguém sabia seu nome ou seus pecados. Mas e Rebeca? Ela era sua tormenta e redenção, tudo em um.
"Eu... vou acertar as coisas," disse ele finalmente, mais para si mesmo do que para Romeo. "Vou manter Rebeca segura, e também a todos nós. Meras palavras não posso oferecer como garantia, então é tempo de ações."
O silêncio pairou no ar até que foi interrompido pelo som do motor de um carro ao longe.
"Tempo de ações, então," Romeo ecoou, sem certeza se era confortado ou mais temeroso por aquelas palavras.
Dead sabia que a linha que separava o heroísmo da loucura era tão fina quanto a lâmina de uma faca. E agora, estava na hora de dançar sobre essa lâmina. Por Rebeca, por ele, por seus amigos. Todos eles, de alguma forma, estavam interconectados nessa rede que tinha Rebeca como o nó central.
E assim, com o motor de um carro roubado roncando e uma decisão que parecia mais um salto no escuro do que uma estratégia, Dead traçava a rota para o próximo capítulo desta história turbulenta.
Dead fixou o olhar em Rebeca, a antecipação pesando no ar como uma nuvem prestes a estourar em tempestade. "Só preciso saber, Rebeca," disse ele com uma voz que carregava um vislumbre de vulnerabilidade, bem escondido sob camadas de aço e determinação.
Rebeca, cujos olhos ainda carregavam o brilho de lágrimas não derramadas, suspirou profundamente. "Estou confusa, Dead... e ferida," ela confessou, as palavras saindo entrecortadas como se estivessem sendo arrancadas das profundezas da sua alma conflituosa.
Naquele momento, algo dentro de Dead se moveu, um ajuste quase imperceptível de sua realidade interna. A epifania cortou a névoa de suas ilusões, deixando claro que em sua vida não existia espaço para a confusão e a vulnerabilidade a qual Rebeca se entregava. Ele abrira mão do luxo das emoções descomplicadas e das relações sem peso muito tempo atrás. Ele tinha batalhas para lutar, e a guerra que conduzia não permitia o luxo de uma vida partilhada cheia de suavidades e calor humano.
O silêncio se estendeu entre eles, uma ponte que nenhum dos dois parecia disposto ou capaz de atravessar. No entanto, em sua mente, Dead se comprometeu com uma nova verdade: ele poderia proteger Rebeca. Não como seu amante, não como aquele que inalava profundamente para se encher do aroma de seus cabelos com cheiro de blueberry ou que compartilhava risadas leves em troca de piadas espontâneas. Ele poderia ser o escudo contra os perigos, ser a figura impassível que garantiria sua segurança, nada mais.
A promessa disso era um conforto frio, uma armadura sobre o coração que ameaçava, vez ou outra, amolecer. Não haveria mais tocá-la com carinho ou partilhar momentos de i********e inadvertidamente revelada. Seria uma existência de distância e dever, onde ele era o guardião silencioso à beira do seu mundo, nunca cruzando a linha para se tornar parte dele.
E assim, com um aceno de cabeça quase imperceptível, Dead selou esse novo voto dentro de si. "Estarei por perto, se precisar," ele disse a ela, a promessa soando não como uma oferta de companhia, mas como a declaração de um sentinela noturno que vigia as sombras.
Então, sem mais palavras, ele se afastou. Cada passo era uma afirmação de sua missão autoimposta, deixando para trás qualquer fantasia de uma vida compartilhada, caminhando em direção à solidão escolhida, à batalha que ele sabia que não podia, não devia, evitar.
Rebeca sentia o luto como um manto escuro, não apenas por uma irmã perdida para um destino trágico, mas agora pelo vazio deixado por Dead. Seu coração, um paradoxo de dor e angústia, palpitava irregularmente ao ritmo da tristeza que tomava sua alma.
Naquele dia nublado, Costa, movido por um senso de justiça e fraternidade perturbada, foi ao encontro de Dead. A intenção era confrontá-lo, desfazer o nó da verdade que insistia em apertar-lhe a garganta. Costa acreditava que Dead era a chave para entender o naufrágio emocional de Rebeca.
Dead, com seus olhos pálidos e uma quietude inesperada, recebeu Costa. Entre explicações e acusações, o inesperado aconteceu. Em meio às coisas esparsas de Dead, Costa encontrou algo nunca imaginado: o diário de sua irmã. A caligrafia, inconfundível, transbordava sentimentos e segredos em cada linha.
Folheando rapidamente as páginas amarelas pelo tempo, Costa descobriu a verdade que o arrepiou até a última vértebra: o homem que despedaçou a alma de sua irmã não era Dead. E essa revelação catapultou Costa para um abismo de perguntas, onde cada resposta possível era mais aterradora que a anterior.
O diário descrevia um amor obsessivo, tóxico, que corrompeu a essência de sua irmã, deixando-a à sombra de si mesma. Um homem sem rosto, sem nome, apenas descrito com detalhes que não remetiam a Dead. Um amor que se tornou âncora, puxando-a para as profundezas de um oceano de desespero.
Com mãos trêmulas, Costa fechou o diário, seus pensamentos voavam selvagemente tentando encaixar as peças de um quebra-cabeça macabro. A descoberta era um fantasma que agora assombrava também a sua existência. O luto que consumia Rebeca não era apenas pelo afastamento de Dead, mas por uma história que ela nunca chegou a conhecer, uma história que culminara no ato mais definitivo e misterioso da irmã do Homem que ela nutria sentimentos que os entrelaçava de formas inimagináveis.
Costa saiu da casa de Dead com mais do que veio buscar. Um fardo de verdade e medo, uma missão para desvendar o passado sombrio que havia envolto sua família. E Rebeca, ainda imersa em sua própria tristeza, estava prestes a mergulhar em águas ainda mais turvas e obscuras, pois sabia tão pouco sobre a história que agora começava a desdobrar-se em sua frente.
A varredura nas memórias de Dead e de Rebeca, agora forçava Costa a observar cada detalhe, cada sombra que a irmã deixou para trás. O amor de Rebeca por Dead era apenas a superfície de um lago cujas profundezas escondiam segredos capazes de mudar tudo o que eles pensavam saber sobre o passado, e talvez, sobre si mesmos.
Costa fixou os olhos em Dead, a dúvida emprestando profundidade a seu olhar antes cansado. A noite parecia comprimir os dois ali, no pequeno círculo de luz abandonado pelo poste lampejante acima.
"Por que não disse a verdade, Dead? Por que me deixou odiá-lo se não era você?" A voz de Costa era mais um sussurro, um fio de esperança perdido no mar de rancores passados.
Dead sentiu o peso daquela pergunta como uma corrente, cada elo forjado pelos momentos que escolhera permanecer em silêncio. Respirando fundo, ele buscou as palavras, aquelas companheiras fieis, agora tão pesadas quanto as correntes que o prendiam.
"Mereço o teu ódio, Costa. Porque, mesmo não tendo sido eu, eu vi... Eu vi tudo se desmoronando e não fiz nada para impedir. Minha culpa não é pela ação, mas pela inação." Dead abaixou o olhar, a vergonha tingindo as bordas de sua confissão.
Costa sentiu como se a verdade fosse uma faca, afiada e cortante, separando as camadas de anos de mágoa acumulada. Ele respirou fundo, uma tempestade iminente dançando em seus pulmões. "Quem foi, então, Dead? Quem foi o homem que quebrou a vida da minha irmã?"
O silêncio se esticou, fino como vidro prestes a quebrar. Dead sabia que ao revelar o nome que Costa tanto ansiava por saber, libertaria mais do que apenas uma verdade; abriria a porta para um labirinto de segredos tão intricados quanto a mais emaranhada das teias.
"Eu tenho receio, Costa..." Dead olhou para o céu, como se procurasse coragem nas estrelas ocultas pelas nuvens. "Receio porque esse segredo não é apenas um nome. É uma chave que abre portas para muitos outros segredos. Segredos que estão... em você também."
Costa sentiu uma onda de frio lhe percorrer a espinha. A revelação de Dead soava como o prelúdio de algo maior, algo que talvez ele não estivesse pronto para encarar. "O que você quer dizer com 'em mim'?"
Dead voltou o olhar para Costa, seus olhos duas tochas acesas pela urgência da verdade. "Há verdades sobre você, Costa, que talvez você não saiba, ou talvez tenha escolhido esquecer. Mas precisa estar pronto para enfrentar cada uma delas se quiser compreender o que realmente aconteceu."
Costa engoliu seco, sua mente girando com a promessa das palavras de Dead. Cada segredo era uma peça de um quebra-cabeça mais complexo, cuja imagem completa ele ainda não podia ver. Mas havia um d****o ardente por respostas, um d****o que superava o medo do desconhecido.
"Eu preciso saber, Dead. Eu preciso." A determinação brilhava em seus olhos, a resolução de enfrentar o passado, por mais tortuoso que fosse.
Dead acenou lentamente, preparando-se para desvelar o passado, para guiar Costa através dos corredores escuros de memórias escondidas. Mas antes de falar, ele sabia que ambos precisavam estar prontos para encarar o que viria à tona.
"Então escute bem, porque a partir do momento em que eu falar, começaremos uma jornada que poderá mudar tudo o que você pensa que sabe sobre você, sobre sua irmã e, principalmente, sobre a verdade."