Primeiro de tudo: queria algo que não existe. Hoje eu abri um pacote de fichas que comprei em 2018, continuavam fechadas porque eu esperava o motivo certo para usá-las. Só que não existe motivo certo. E talvez as coisas sejam assim e eu não precise mesmo de salvação.
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Que a vida é um emaranhado de histórias, desencontros, pequenos momentos de alegria e dor profunda todos sabemos. E se era pra ter sido sempre assim? E se esse oásis no meio do deserto que procuramos seja apenas mais uma das nossas múltiplas ilusões? Fomos projetados para ser bestas feras inteligentes complexas e cheias de nuances.
Se eu pensar assim, a culpa vai embora. Gosto quando ela não está presente. Gosto quando cada decisão minha não é analisada sob a ótica de que estou sempre tomando o pior caminho. Gosto de fumar o cigarro do meu amante e não pensar no meu marido. Gosto dessa sensação de ser livre e condenada. Gosto do charme, da intriga, do falatório alto na delegacia de policia.
Tomo dois remédios antidepressivos de manhã e um estabilizador de humor ao anoitecer. De vez em quando, um ansiolítico em doses homeopáticas. De cinco gotas receitadas, tomo dez. Uma receita para cada personalidade. Porque sou duas. O lobo e o cordeiro. O sol e a lua. A benção e a maldição. A degenerada e a regenerada. Duas habitando em um único corpo até que a espada da verdade me separe em dois.
O silêncio. Os pulmões que não alcançam o ar. A chuva batendo na janela. E tudo que eu quero é que o mundo se destrua de uma vez em um fogo tão intenso que apague tudo que você me fez. Eu queria sumir para sempre, abandonar essa consciência de existência, correr de tudo e não ter que enfrentar nada. Porque no final eu sou covarde. Apenas uma p***e menina covarde.