A volta para casa

1991 Words
— Claro que ela não pode ficar presa. Eu liguei para minha mãe faz um tempo, tenho certeza que ela já está a caminho. Eu expliquei a situação. Tenho certeza que vou levar um sermão lindo e cortar a minha mesada, mas ela deve resolver em um piscar de olhos isso. Você não fez ideia como a minha mãe é boa em criar problemas e também em resolver eles. — Isis tinha muito orgulho e respeito por sua mãe, afinal, ela havia dado uma nova vida e mostrado o que realmente era uma família. Antes de ser adotada por Maitê, Isis sofreu muito nas mãos de sua mãe biológica. — Você não entende. Há algumas coisas que você não sabe da Ruby. E pode ser realmente perigoso para segurança dela está lá. — Lisa não sabia se podia confiar na Isis para contar aquela história, mas não daria tempo de chamar Verônica ou Vitor naquele ponto. Talvez a única chance era confiar na Isis, afinal, na noite anterior ela parecia conhecer muito bem do mundo do crime e ter bons contatos. — Ruby tem alguma doença? Isso é melhor ainda. O advogado pode usar isso aí seu favor para livrar ela mais fácil. — Isis entendeu completamente errado sobre o que Lisa estava dizendo. — Não. Vem. Vamos procurar a delegacia. Eu te conto tudo no meio do caminho. Temos que evitar que descubram quem é a Ruby e que ela está aqui. Ou tudo que fizeram até agora para proteger ela será em vão. — Lisa não sabia o que a sua amiga estava planejando para o futuro, mas por agora, quer proteger ela. Imaginando que tudo que fez for apenas uma consequência da dor de perder o seu pai. Aquelas duas rodaram um pouco antes de conseguir encontrar a delegacia que ficava praticamente no final da cidade. O tempo foi o suficiente para Lisa contar tudo que sabia sobre a máfia e a relação de Ruby com ela. Isis ligou na mesma hora para sua mãe, contando todos os detalhes. Quando chegaram na delegacia as duas estavam completamente ofegantes. — Todas as vezes que eu acabei em uma delegacia Ruby estava comigo. Separadas nunca aconteceu nada assim com nenhuma das duas. Acho que o problema é juntar as duas. Tenho certeza. — Lisa murmurava enquanto subia as escadas de cabeça baixa pensando como iria explicar tudo isso para Verônica e para sua mãe. As duas não iriam ficar nada felizes com a situação. — Ruby? — Isis gritou vendo a amiga saindo da delegacia acompanhada de um homem por volta dos seus quarenta anos. — Graças a Deus! Você está bem! Eu fiquei tão preocupada. Fiquei aflita com medo que foi tivesse acontecido com você. — Ruby correu abraçando Lisa, as duas choraram abraçadas. Elas estavam bastante preocupadas uma com a outra. — Você deve ser a Isis, filha da Maitê. Eu me chamo Jean, sou advogado. A sua mãe me pediu para resolver isso, já que eu moro mais perto. Consegui evitar que fosse criada uma ficha criminal, mas Ruby está proibida de pisar em Las Vegas para sempre. E talvez tenha dificuldade de entrar nos Estados Unidos futuramente. — Jean disse entregando alguns papéis para Isis — Sua mãe está esperando vocês três em um restaurante. Ela me pediu para dar uma carona para vocês. Parece que Maitê acha que vocês apontaram muito e é melhor ter alguém de olho em vocês. — Ela está bem brava, né? — Isis suspirou. Ao menos, todas estavam seguras. Era o que importava. Só ter que ouvir um pouco de sermão da sua mãe. Menos m*l, ela pensou. — Bem, ela estava falando algumas coisas confusas no celular, algo como você ter sorte de ser filha dela ou teria virado churrasco. — Jean disse abrindo a porta do carro para todas entrarem. — Você é casado? — Lisa perguntou confusa ao ver como Jean era cavaleiro. — Sim, tive a sorte de casar com o amor da minha vida. — Jean mostrou uma foto da sua família — Aqui são meus filhos, meus netos, minhas cunhadas e os meus irmãos além dos meus sobrinhos. No fim, eu tive muita sorte. Ganhei o amor da minha vida e uma família enorme. Isis, você me lembra minha filha mais velha. Ela adora enlouquecer a mãe. — Obrigada, parece que eu tenho um dom. — Isis brincou, mas, na verdade, nunca foi de dar trabalho, muito pelo contrário, mas depois que entrou na faculdade, tinha cometido alguns erros. Jean conversou um pouco com as meninas no caminho, deixou claro os riscos de tudo que fizeram e as implicações. Não haveria uma segunda chance caso Ruby voltasse a criar problemas nos Estados Unidos. Mesmo sob efeito de álcool ou entorpecentes, ainda assim, era um crime. Uma segunda vez não seria defensável. — Se cuidem. E não roubem ou explodam mais nada. Vocês tem uma vida linda pela frente. Não estraguem dessa forma. E Ruby, a vida é o que você faz dela. Não o que decidem por você. A vida é sua e você deve estragar ela como quiser. Espero que tome a melhor escolha. — Jean disse antes de se afastar com o carro, sua família o esperava para um dos seus encontros tradicionais em uma cabana da família. As três entraram no restaurante vazio em silêncio, havia apenas uma mesa servida com uma mulher sentada. As três se aproximaram sem conseguir dizer nada, estavam envergonhadas da situação que se meteram. — Sentem e comam. Depois disso, passaremos no hotel para pegar tudo de vocês e voltar. Jean disse que Ruby tem menos de duas horas para deixar Las Vegas. Se passar disso e a polícia pegar. Não será fácil te tirar da prisão como dessa vez. Coma rápido. Não podemos arriscar passar da hora e sermos pegas aqui. — Maitê orientou enquanto olhava para Ruby pensativa, antes de sussurrar para si — Ainda está verde demais para conseguir lidar com tanta coisa... As três ficaram esperando um sermão que não veio, na mesa. Assim como havia dito, elas almoçaram em silêncio. Passaram no hotel rapidamente para pegar tudo que haviam deixado no quarto, Isis subiu para pegar a sua pelúcia e preferiu que a mãe desse cabo do material explosivo que haviam conseguido, Lisa já havia guardado a sua lhama na mala. Em poucos instantes, já estavam no aeroporto esperando organizarem o jatinho para partir de volta ao Brasil. — Mãe, não vai dizer nada? — Isis perguntou confusa com a reação da sua mãe. Maitê não costumava ser do tipo que passava mão nos erros. Maitê olhou sério para a filha e as duas amigas que estavam esperando um sermão, afinal, todas foram criadas com regras rígidas e limites. Aquele dia em Las Vegas tinha ultrapassado tudo. Era óbvio que os pais não iriam aceitar de forma alguma aquele comportamento, mas a resposta de Maitê iria surpreender as três. — Tenho algo para dizer que vocês não entenderam ainda. Agora as três já são de maior. São responsáveis por seus atos. O que fizeram hoje não teve consequências e conseguiram se livrar pedindo ajuda, mas deveria ser um aprendizado. Nem sempre vão ter a mesma sorte. Eu não preciso dizer nada, porque a minha função como mãe eu fiz por dezessete anos. Agora se tu escolhe fazer besteira, não sou eu fazendo um sermão diário que vai mudar isso, tu com esses anos na cara, né? A vida é de vocês, podem estragar como quiserem, mas lembrem, os seus pais não vão estar para sempre com você para limparem a bagunça. — Maitê disse andando em direção da escada para entrar na aeronave. — Espero que entendam o que eu quis dizer. Ah, Isis, minha querida! Acho melhor você procurar um estágio. Os seus cartões estão todos bloqueados. Terá apenas o apartamento e uma cesta básica até a minha raiva passar. E juro, vai demorar muito. — Eu preferia comer brócolis e ouvir todo dia um sermão. Não sei lidar com a responsabilidade de me colocar de castigo. E onde eu vou conseguir um estágio? Eu nem sei como faz isso. — Isis gargalhou sabendo que passaria uns seis meses no mínimo sem acesso ao cartão. — Oh, mãe! Eu sou mimada demais para trabalhar. Meu pai me criou como uma princesa. Não está certo isso. Podemos negociar algo mais fácil? — Sério? Então vou deixar ele fazer a mesma coisa que os pais fazem com as princesas. Prender em um castelo distante ou em uma torre alta para que não possa acabar em problemas. Parece bom, não é? Já que você quer mesmo ser uma princesa. Acho justo. — Maitê respondeu antes de entrar no avião bastante irritada com a situação. Nunca pensei que teria que viajar ao outro lado do mundo apenas para limpar a bagunça da sua filha. — Antigamente, quando eu fazia besteira, arrumava meu quarto ou escrevia uma cartinha bonitinha. Acho que não funciona mais, não é? — Isis perguntou para as amigas ao perceber que tinha realmente deixado sua mãe chateada com aquela situação. — Eu te p**o uma cerveja todo final de semana, até que o castigo passei, a bagunça foi por minha causa. Vocês só virem e fizeram tudo por conta da minha ideia. Desculpa colocar vocês nessa bagunça — Ruby se sentia um pouco culpada. Sabia que sua vida estava uma bagunça, mas não esperava transformar a fãs amigas em um caos completo. — Eita! Esqueci de dizer. A tia ficou p**a por saber que você usou o jato para vir para cá. Me ligou várias vezes. Na última ligação, disse que iria cortar todos seus privilégios. Que se virasse para pagar a comida e a energia do apartamento esse mês. E nem ligasse para Vitor tentando acabar com o castigo. E disse que era o segundo Strike. Mais um erro e você vai se arrastada para casa. — Lisa disse olhando para o celular, ansiosa esperando como sua mãe iria reagir ao descobrir tudo aquilo — Espero que ela não conte aos meus pais. Vai ficar complicado se eles quiserem tirar as minhas regalias. Eu não posso estagiar ainda. Meu curso é integral. Será que eles ficam com pena se eu disser que fiquei presa em um cofre mega seguro? — Como é? Eu estou de luto. Será que não pode dar uma colher de chá? — Ruby perguntou sem acreditar que haviam jeito aquilo. Pensou que Verônica brigaria, mas iria compreender a sua confusão. — Realmente a tia te conhece. Ela disse que você falaria isso e respondeu: " Antes de ser seu pai, ele era irmão de Vitor. Não quero ouvir uma palavra sobre isso. Não é só você que está sofrendo. Não cause mais problemas." Acho que ela não vai querer te dar nenhuma colher de chá. — Lisa gargalhou lembrando da ligação com Verônica. — Vamos dar um jeito. Por enquanto, vamos subir antes de que eu acabe arrumando mais problemas. — Ruby não podia atrasar sua saída de Las Vegas ou acabaria presa novamente. Todas subiram em silêncio preocupadas como ficaria a situação diante da retirada de seus privilégios. Com todas devidamente sentadas, o jato decolou, em alguns horas de voo, todas já estavam dormindo, exceto Maitê que estava pensativa em relação a nova amiga de dia filha e Ruby, que sentiu a realidade batendo na porta ao lembrar que estava voltando para casa. — Posso sentar aqui? Eu queria ter uma conversinha com você. — Maitê disse sorrindo para Ruby. Estava preocupada depois de ouvir toda a história sobre ela. Afinal, no passado, ela também se envolveu na máfia apenas por vingança. E sabia melhor que ninguém quão foi doloroso e difícil, mas bastante satisfatório. Mesmo assim, não é algo que qualquer um poderia fazer. — Ahhn? Claro. — Ruby olhou confusa. Não sabia uma razão para Maitê ter um conversa com ela a sós.
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