A carta esquecida

1957 Words
Ruby abriu a carta despreocupada, não pensou que nada importante chegaria em uma carta de envelope simples, sem remetente e apenas com o nome dela. Não tinha sequer endereço. O que fez ela questionar se seu pai, Vitor, não tinha aberto para saber se era seguro, afinal, ele nunca deixou ela abrir nenhuma caixa que chegava pelo correio, mesmo sendo algo que ela mesmo pediu. — Quem seria capaz de burlar a segurança do papai e fazer Verônica entregar em minhas mãos? Será que é do Enzo? Não. Impossível. Ela não gostava do nosso relacionamento. — Ruby tentava pensar de quem poderia ser, mas ela não esperava de forma alguma quem estaria por trás daquela carta. " Minha pequena pedra preciosa. Meu maior tesouro. Meu Ruby. O maior tesouro de toda nossa família. Será que você ainda lembra do seu pai? Meu coração gostaria que lembrasse, mas meu lado racional prefere pensar que você me esqueceu, que teve meu irmão como seu verdadeiro pai e que nas suas memórias infantis, as duas figuras se misturaram. Eu pensei que essa seria a forma mais lógica de te proteger. Fingindo que você nunca existiu, mas foi um erro, porque não tinha como apagar a sua existência. Deveria ter ouvido meu irmão quando ele me disse que a máfia não era uma resposta, que um dia eu seria perigoso para você, mas acreditei que poderia cuidar de tudo e tirar esse legado de nossa família, mas fui inocente, quando me dei conta já era tarde demais. O que era mais precioso para mim estava em risco. Como um bom tesouro, eu fiz tudo que pude para te esconder ao máximo. Abrindo mão até mesmo de lhe encontrar. Não por falta de amor, mas por excesso dele. Para mim, bastava saber que você estava feliz e segura. Entretanto, todo tesouro tem um mapa que leva até ele. Meu maior inimigo de alguma forma conseguiu descobrir como chegar até você. Você, Ruby, talvez não saiba, mas precisava te dizer. Você é a herdeira da máfia. Você tem todo poder em sua mão, mas há muitas pessoas tentando roubar isso de você. E aquela pessoa é uma delas. Eu precisava de uma forma de proteger você. Foi então que comecei meu plano. Era arriscado, mas por você valeria a pena. Em desespero, buscando alguém forte que pudesse te proteger, eu causei uma guerra propositalmente com a facção rival. Muitos dos nossos morreram, dos deles também. Eu sabia que ele iria propor uma trégua, se eu colocasse em risco alguém importante. Sabe como você consegue a vitória no xadrez? O rei não pode ser capturado. Então deve se agir para colocar ele em uma situação que não possa se mover. Capturar a rainha é o primeiro passo para a vitória. Afinal, ela pode se mover com facilidade no tabuleiro e é uma das peças mais poderosas. Foi isso que fiz. O rei estava sem movimentos. A única ação que poderia pedir era trégua. Para isso, eu ofereci a paz em nome de um casamento. O seu filho, que deve herdar a facção, se transformaria na rainha do meu rei. Proteger ele de tudo que surgir. Se for preciso, até mesmo, dar a sua vida. Foi esse o juramento feito por ele. Ruby, Matteo foi o noivo que eu consegui para você. Na minha posição, de um pai ausente, deve ser um absurdo, mas não pense dessa forma. Ele é a sua rainha. É seu escudo. Dará a vida para que se mantenha segura. Essa é a razão da vida dele. Assim como foi a minha. Você sempre foi minha peça mais importante e sempre será. Eu te amo mais do que posso por nessa carta. Espero que compreenda o que eu fiz. Não há como negar o sangue ou as raízes. Você é a herdeira, princesa da máfia. Mesmo se tentar negar esse fato, ainda assim, aquela pessoa vai atrás de você e de todos ao seu redor. Essa é a última jogada de um pai que mesmo não sendo presente, tentou te mandar feliz e longe dessa bagunça. Espero que você seja feliz. Ps:. Matteo é um bom menino. Ele valoriza a família e juramentos acima de tudo. Sua palavra é lei para ele. Você é o poder. Lembre disso. Você é a grande herdeira de toda a máfia do país. Use as cartas ao seu favor. Adeus, meu maior e mais amado tesouro. " Ruby terminou de ler a carta soluçando de chorar. Ela sabia exatamente quem era aquela pessoa. Vitor, seu pai de criação, nunca mentiu. Sempre deixou claro que o pai biológico dela era seu irmão gêmeo. Que havia razões para ele ter que deixar ela. Ruby nunca insistiu e com o tempo, apagou da memória aquela lembrança. Entretanto, ao ler aquela carta, foi como abrir o baú de lembrança que ela havia guardado no fundo do seu coração. Logo se deu conta que o homem no sonho era seu pai. Ele tentou proteger ela outras vezes. Desde o começo, sempre tudo foi feito pensado em sua segurança. — Tia Verônica... É que — Lisa entrou no quarto de Ruby, que estava com a porta aberta falando no celular com sua tia, mas ao ouvir o que Verônica dizia do outro lado da linha, seu semblante ficou pálido, como se tivesse visto um fantasma. — ... Como é? Que? E agora? Onde estão todos? Alguém se machucou? Ruby que estava chorando, logo limpou as lágrimas e pulou da cama em direção de onde estava Lisa. Sentia o seu coração batendo tão rápido que podia sair pela boca. m*l sabia ela que o tormento estava apenas começando. Se quisesse vencer aquela tempestade, iria precisar aprender a jogar xadrez. — Sim. Explicaria para ela. Tudo bem. Ela vai entender. Okay. Depois a gente se fala. Se cuidem. — Lisa se despediu desligando o celular completamente pálida. — O que aconteceu? Alguém se machucou? Vou arrumar minhas malas e ir para ilha agora. — Ruby disse antes mesmo de ouvir a resposta da amiga. — Ruby, espera. Senta um pouco. Precisamos conversa. — Lisa puxou a amiga para sentar na cama junto com ela, respirando fundo tentando organizar os pensamentos. — Para com isso. Fala logo. Vai fazer igual no i********: e postar apenas na parte dois? Se algo aconteceu com minha família, você tem que me dizer. Porque Verônica não me ligou? — Ruby estava atordoada. Não havia conseguido nem digerir a carta do seu pai ainda. — Seu telefone está comigo. Como não atendeu, ela ligou para meu celular. Ninguém está ferido. A ligação foi justamente por isso, porque há diversas fake news nas mídias sociais. Há apenas algo de verdadeiro em todas elas. Alguém durante a noite colocou fogo e jogou bombas na ilha. Ninguém saiu ferido, porque havia o sistema de emergência e escape em todas as casas, levando para um túnel subterrâneo seguro. Todos da cidade estão bem, fugiram no submarino para um local seguro. Estão em um hotel, mas a ilha foi completamente destruída. Os seguranças não sabem onde foi a falha ou se há um traidor na equipe. Estão avaliando tudo. A polícia suspeita que a mesma pessoa que fez isso na ilha, está ligada ao que aconteceu com o restaurante. A tia disse que todos estão bem, mas por questão de segurança, vão ficar com o celular desligado e pediram que você fizesse o mesmo. Disse que você não deveria sair do apartamento para nada. Amanhã à tarde liga para meu celular de um outro telefone. — Lisa tentou lembrar de tudo que Verônica havia dito, sua tia falou bem rápido para não ter risco de localizarem o telefone. — Entendi. Antes disso, preciso enviar uma mensagem. Pode pegar meu celular? — Ruby conhecia aquele sistema. Verônica ensinou desde cedo regras para em caso de alguém da família estar em perigo. A primeira delas era se livrar dos telefones. A segunda, ficar em lugar de segurança, que os outros membros da família saibam e possam monitorar. Terceiro, mais importante, desconfiar de todos. Até mesmo daqueles que mais confiamos. — Verônica mandou dizer que a terceira regra não vale para mim. O que isso significa? — Lisa perguntou da porta do quarto ao lembrar da última coisa que Verônica disse antes de desligar. — Que eu posso apenas confiar em você e mais ninguém. — Ruby não entendeu o recado de Verônica completamente, mas havia algo que ela precisava fazer urgentemente para tentar entender aquela bagunça. — Minha tia está louca? Como você poderia desconfiar de mim? — Lisa voltou com o celular e entregou para Ruby. — Lembra que eu recebi uma carta de Verônica quando chegamos aqui? Era essa. — Ruby entrou para amiga que abriu na mesma hora para ler. Enquanto Lisa lia a carta, Ruby mandou a mensagem que queria, antes de desligar seu telefone, quebrar o chip e jogar ele através da janela em cima da caçamba de um caminhão que estava passando na hora. — Você não parece surpresa. — Ruby olhou para amiga que não parecia se surpreender com o conteúdo da carta. — No dia que nos conhecemos, eu também conheci seu pai e sua mãe. Não posso esquecer nunca desse dia. Foi uma felicidade sem tamanho para mim, mas você não parava de chorar. Verônica me contou que seu pai era metido em problemas e queria te proteger, por isso, deixou você como filha de Vitor, seu irmão gêmeo. Para tentar fazer com que ninguém notasse sua existência. Há alguns anos, percebi que você parecia não lembrar, perguntei à tia e ela me disse que talvez tenha sido seu cérebro te protegendo do trauma. Que para sua segurança, era melhor não te lembrar ou trazer esse assunto à tona. Afinal, a ideia era todos esquecerem da ligação que você tinha com esse homem aqui. — Lisa explicou se sentindo um pouco culpada. — Tudo bem. Você e os outros fizeram tudo que podiam para me proteger. Agora é minha vez de fazer o mesmo, afinal, a culpa é minha toda essa bagunça não é. — Ruby respondeu olhando para foto de sua família no porta-retrato. — Tenho que proteger a minha família. — O que pensa em fazer? Não sabemos nem que está atacando. — Lisa olhou confusa para amiga. — Sim. Não sabemos, mas a carta deixa claro que esse homem aqui sabe exatamente tudo que está acontecendo. Se eu preciso aprender a jogar xadrez, ele vai ter que me ensinar primeiro quem são as peças e qual o movimento de cada uma. Só poderei montar uma estratégia quando souber sobre isso. — Ruby havia organizado ao máximo seus pensamentos. Sabia que não era o momento certo para se deixar levar pelas emoções. — E como você vai encontrar ele? Afinal, aqui nessa carta, não tem endereço algum. E você acha mesmo que pode confiar em seu pai? — Lisa não achava segura ir atrás de alguém envolvido com a máfia. — Eu não sei encontrar ele, mas sei exatamente que deve saber. Eu preciso usar todo poder que eu tenho, se quiser mudar esse jogo. Começando, por aprender a usar as minhas peças. — Assim que Ruby terminou de falar, a campainha do apartamento tocou. — Não me diga que você realmente vai pedir ajuda logo para essa pessoa? Ficou maluca de vez? — Lisa disse ao se dar conta de quem poderia ser a pessoa que ajudaria Ruby. — Se há algo que temos que confiar mais do que nas pessoas é em nosso sexto sentido. Você sabe disso. E eu tenho a sensação que ele é o caminho para chegar onde queremos. — Ruby explicou levantando da cama indo em direção à porta.
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