Uma carta desperta lágrimas

1727 Words
Ruby reconheceu a letra, parecia a mesma da primeira carta que recebeu, mas dessa vez, parecia um pouco mais trêmula e mais sutil, como se tivesse faltando força para continuar. " Tesouro, eu farei um pedido egoísta da minha parte, ainda mais, depois de ter te deixado para ser criada por meu irmão e não conseguido te proteger até o fim da vida, como jurei para você assim que nasceu, quando estava em meus braços pela primeira vez. Mesmo assim, espero que possa me perdoar e aceitar o meu pedido. Ruby, por favor, lembre de mim. Mesmo que eu tenha sido fraco e tenha partido cedo. Não sei quanto pode te ferir minha partida precoce, mas se esforce para sorrir. O seu sorriso sempre foi a minha prioridade. Independente da distância que houve entre nós nos últimos dez anos. Nunca esqueci de você nenhum dia. O meu amor por você só cresceu. Te assistir de longe crescendo foi minha alegria sem fim. Mesmo que você não me visse. Eu sempre estive por perto te observando. E ainda estarei, como um anjo da guarda nunca mais sairei do seu lado. Filha, acho que a minha morte deve ter te feito entender a realidade. Eu fiz tudo que pude para manter a sua segurança, mas nunca estive ao seu lado dando apoio. Me desculpe. Saiba que não foi por faltar amor. Foi por ter amar demais, a ponto de desejar uma vida perfeita. Eu, você e sua mãe, não fomos uma família por muito tempo, mas eu guardei tantas lembranças valiosas nesses poucos anos. O coração da sua mãe sempre pertenceu a outra pessoa. Eu sabia disso. Mesmo assim, não me arrependo da família que nos tornamos brevemente. Sobre essa história, acho melhor você pedir os detalhes a Verônica. Ela sabe da história melhor do que eu, afinal, foi ela que arrancou todo m*l pela raiz. Em uma dessas lembranças, que guardo comigo é uma música que cantei várias vezes para te colocar para dormir. Todas as noites, mesmo depois de separados. Eu ainda cantei essa música. Desejando que você estivesse em segurança e com bons sonhos. "Promete que não vai crescer distante Promete que vai ser pra sempre assim Promete esse sorriso radiante Todas as vezes que você pensar em mim Promete cuidar bem dos seus cachinhos E sempre me abraçar quando eu chegar Promete sorrir sempre com os olhinhos E cantar cantigas na sala de estar (...) Me lembro quando você chegou nesse mundo Sorrindo aos poucos quando ouviu minha voz E hoje corre pela sala, brinca de existir Giz de cera, pega-pega E eu só sei sorrir Ao imaginar você crescer (...) Promete ser pra sempre o minha princesa Me deixar cantar pra te fazer dormir Que eu prometo que vou te cuidar pra sempre Eu te amo infinito" Se tiver difícil, cante essa música, tente lembrar da vezes que te coloquei para dormir e como eu te amava. Das nossas manhãs fazendo uma vitamina especial que você odiava, mas sempre tomava toda. E até que eu possa te abraçar novamente (o que eu espero que demore muito). Lembre de mim... Ps: Dentro do envelope há um mapa que te levará para o tesouro. Vá sozinha. Não confie em ninguém para ir com você. Lá encontrará as respostas das suas perguntas. Quando tiver suas respostas, escolha seus aliados. E não olhe para trás. Siga em frente com suas decisões de cabeça erguida. Você pode tudo. — Eu não lembro. Não lembro. Nem da música. Nem da nossa família. E nem mesmo do seu rosto. Eu não lembro de nada... Eu não me lembro desse amor... eu não entendo. Eu não lembro, mas está doendo tanto que sinto como se o meu coração fosse partir — Ruby terminou de ler a carta soluçando de tanto chorar. — Eu nunca mais vou ver o meu pai. Ruby não conseguia lidar com aquela dor. Sequer conseguia entender a razão de sentir tanto por alguém que ela não conseguia lembrar. Que não fez parte da maior parte da vida dela. Mesmo assim, Ruby gritou com toda a sua força enquanto chorava apertando os lençóis da sua cama. Aquela carta partiu o coração que antes estava apenas trincado. — Ruby? Ruby! Pode abrir essa porta. Eu estou preocupada. Já faz muito tempo que você entrou. Isis disse que ouviu um grito vindo do apartamento. — Lisa bateu na porta do quarto de Ruby, mas não teve resposta. — Se você não responder, não terei outra opção. Vou entrar a base do chute. — Eu quero ficar sozinha. — Ruby respondeu com a voz rouca. Gritar e chorar não contribuiu com a sua garganta sendo super afetada. — Entendi. Vou fazer algo para gente jantar delicioso. Tenho certeza que você não comeu nada. Que tal uma lasanha? — Lisa ofereceu, mas não teve resposta. — Acho que ela precisa de um tempo. Enquanto estávamos em Las Vegas, ela não precisava lidar com o luto. Agora não tem como fugir. Sabemos que ela está viva. Isso que importa. Ruby parede ser uma mulher forte. Não será derrubada tão fácil. Vamos deixar ela organizar os sentimentos dela. — Isis sugeriu, afinal, arrombar a porta naquela situação poderia apenas criar uma confusão entre elas. — Acho que vou pedir comida. Estou chateada. Será que ainda tem vinho em algum lugar? — Lisa disse procurando algum nível no armário da cozinha. — Você e Muriel brigaram? Ele estava com cara de poucos amigos. — Isis reparou que Lisa chegou muito mais irritada do que havia saído. — Você não vai acreditar. Eu nem sei como lidar com isso. Muriel estava querendo acabar o namoro comigo. — Lisa disse indignada colocando o vinho na taça. — Espera? Vocês namoravam? Pensei que era seu amor platônico de infância. E você vai tomar vinho quente? — Isis perguntou confusa com a situação. Tinha vindo tentar resolver o problema da pelúcia, não espera encontrar Ruby trancada no quarto e Lisa querendo tomar vinho quente depois de um DR com o namorado. — Não. Ao menos, eu não sabia. Como eu saberia? Aí Ruby manda uma foto para Muriel, enquanto eu beijava um policial aleatório na rua. E me transforma em uma infiel sendo que ninguém me contou que eu estava namorado. Isso por acaso faz algum sentido? — Lisa perguntou indignada experimentando o vinho quente e fazendo careta. — Isso está horrível. Quer uma cerveja? — Aceito a cerveja. Então quer dizer que para Muriel vocês estavam namorando, mas vocês nunca conversaram sobre o assunto? — Isis recapitulou enquanto recebia a garrafa de cerveja das mãos da Lisa. — Fica pior. Eu não entendo. Juro. Até um dia desse, ele me tratava como uma desconhecida. Hoje fez um show dizendo que imaginou que eu era diferente. Que iria respeitar a nossa relação. Que já tinha conversado com a mãe dele sobre um futuro noivado entre nós. Velho! Como eu ia saber disso? Eu pensei que nem gostava de mim. Que tinha sido apenas um sexo entre amigos. — Lisa estava confusa. Muriel havia dado um belo sermão nela. — E o que você respondeu? — Isis perguntou curiosa. Lisa gargalhou lembrando.. — Falei que para ser um namoro, ambas as partes precisavam concordar e conversar sobre isso. E ele nunca sequer disse que gostava de mim. Perguntei até para ele se estava se sentindo assim por se responsabilizar por tirar a minha virgindade. — Lisa se sentia confusa. — E ele? — Isis já estava curiosa para conhecer Muriel. — Pasme. Ele me disse que não achou necessário falar. Não tinha intenção de ir para cama com alguém que não amasse ou pensasse em um futuro ao lado da pessoa. Basicamente, ele se declarou para mim, enquanto me fazia sentir culpada de alguma forma. Como eu ia adivinhar que ele pensava totalmente diferente dos outros homens? Que já tinha dito sobre a gente para sua mãe. Que pensava um futuro entre nós dois. Como eu ia adivinhar? — Lisa gritou irritada. Ela sonhou por anos com o momento que Muriel iria se declarar para ela, mas não havia sido como ela imaginou. — Você está irritada porque o cara que você ama pensou que não era necessário dizer que vocês estavam namorando, porque para ele, o simples fato de ter uma relação s****l faz com que a relação se aprofunde? Fazendo ser desnecessária uma conversa? Bem, talvez o erro seja nosso, de ter se acostumado com pessoas confusas que não sabem o que querem. Sexo é realmente i********e. Não parece está errado. Não é melhor em vez de ficar irritada, se acalmar e conversar com ele de cabeça fria? Explica que só entenderá o que passa na cabeça dele, se ele contar. Já sabe que ele quer o mesmo que você. É uma briga bem desnecessária. — Isis não pensava que era o caso de uma briga, mas de um diálogo, para resolver e conectar os dois na mesma vibe. — Eu não sei de mais nada. Vamos beber. Amanhã eu vejo o que faço sobre isso. — Lisa colocou mais cervejas em cima da mesa. — Vamos beber em casa. É mais seguro. E podemos ficar de olho em Ruby. Aquelas duas passaram a noite bebendo e chamando por Ruby, mas não tiveram respostas. Quando o dia estava para amanhecer, adormeceram deitadas no sofá da sala, enquanto vigiavam se Ruby sair do quarto. Algumas horas depois, por volta do meio-dia, Lisa acordou. Nota que Ruby continuava sem responder. Decidiu preparar o almoço e fazer ela comer algo nem que fosse a força. Naquele ritmo ela acabaria adoecendo. Assim que terminou o almoço, voltou a chamar por Ruby, mas não teve resposta, isso deixou ela ainda mais nervosa. — E se ela tiver passado m*l? Não está comendo, dormindo ou bebendo água. — Lisa pensou algo colocando a bandeja com a comida da Ruby na mesa. Aproveitou a distância para correr em direção à porta, dando uma voadora, para que ela se abrisse. Isis que dormia, acordou na mesma hora. — Rubyy!!!! Aí meu deus. O que você fez! — O que aconteceu? — Isis chegou no quarto tropeçando . — A Ruby desapareceu. — Lisa mostrou um bilhete "Não me procurem." — Onde será que ela está?
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