Um hospital movimentado

1897 Words
Ruby não conseguia deixar de olhar para aquele rosto que era tão familiar para ela, mas ao mesmo tempo completamente desconhecido. Quanto mais ele olhava, mais triste ela se sentia por alguma razão. — Droga. Quebrou a tela. — Beatriz disse ao pegar o celular do chão, fazendo Ruby voltar a si. — Me desculpe. Não dormi direito. Estou um pouco desorientada. Aliás, eu me chamo Ruby. Estava indo lanchar agora. Que tal você me acompanhar? Podemos ir ao shopping lanchar enquanto deixamos o celular no conserto, eu p**o, óbvio. Não costuma demorar. Já quebrei a tela do mesmo jeito. — Ruby tinha aprendido com Verônica a admitir seu erro e tentar resolver da melhor forma possível a situação. — Vou agora, mas o shopping fica distante daqui. — Beatriz respondeu fazendo um semblante chateado. — Podemos ir no meu carro. Só precisamos andar um pouco até o apartamento. Não deve demorar nem cinco minutos. Quer dizer, isso se você for faltar a próxima aula também...Sabe se uma coisa. Não precisa. Se você me der seu endereço vou na sua casa deixar um celular igual. Mesmo modelo. Não precisa ir comigo. Assim será melhor. — Ruby mudou de ideia ao se dar conta que a sensação r**m não passava perto de Beatriz, como se todo seu corpo alertasse sobre período eminente. — Que? Não. Não é necessário um celular novo. E não tem problema faltar a próxima aula. O professor não deve fazer nada de importante. Podemos ir sem problemas. — Beatriz tentou fazer com que Ruby continuasse com seu plano inicial. — Não. Tudo bem. Eu faço questão. Antes de acabar as aulas eu estarei aqui nesse mesmo lugar para te entregar o celular. Prometo. Como garantia, saiba que sou caloura de médico veterinária no turno da tarde, mas não será necessário. — Ruby disse antes de começar a se afastar, mas sentiu Beatriz segurando sua bolsa. — Se eu disser que quero falar aula e dar uma volta no shopping? Sendo sincera, eu só vim estudar porque meus pais instiram. Minha vontade mesmo era me tornar uma influenciadora famosa. Se é que me entende, mas pais são irritantes e querem decidir a vida por nós. — Beatriz tentou se explicar, Ruby olhou bastante sério para garota, deixando ela confusa. — Deveria agradecer por ter pais que se preocupam com vocês. Sabe quantas crianças vivem sem a presença dos seus pais a vida inteira? De toda forma, você não deveria está né dizendo isso, mas para seus pais. Eu saber do seu desconforto e frustração não vai mudar sua vida. E aliás, você é de maior, não deveria precisar obedecer seus pais. Está muito gradinha para saber o que precisa ou quer fazer. — Ruby se afastou ainda mais dela, para evitar que ela voltasse a se aproximar. — Tenho que ir. Estarei de volta antes do fim do horário. Tenha uma boa aula. Ruby sentia um nó estranho na garganta. Tudo em Beatriz lembrava alguém do passado, que havia desaparecido há muito tempo de sua vida, a semelhança era tanto que incomodou suas emoções. Ruby foi correndo para casa, entrou no carro e foi direto para o shopping. Comprou o celular na primeira loja que encontrou. Quando estava voltando para universidade, um pouco mais calma do que antes. Se deu conta que precisava saber o que incomodava ela. Era um sentimento desagradável o suficiente para ser ignorado, mas ela iria precisar de ajuda se quisesse saber sobre ela. Parou o carro no acostamento, próximo ao campus já. Tirou o celular da bolsa e enviou uma mensagem. Ruby: Mano, eu preciso que você investigue alguém para mim, mas a mamãe não pode saber de nada por enquanto. Mattias: Ok. Quem é? Ruby: Só sei que o nome dela é Beatriz. Não tenho mais nenhuma informação. Ela tem cara de ser caloura, assim como eu. E estava no mesmo setor. Se eu descobrir algo mais te aviso. Mattias: Ok. Ruby: Está tudo bem? Mattias: Você não viu as notícias? Ruby na mesma hora abriu o site de notícias, ela não precisou nem perguntar qual notícia se tratava, estava estampada na cama do jornal com direito até a fotos. — Como assim explodiram todos os restaurantes de Vitor ao mesmo tempo? O que diabos está acontecendo? — Ruby pensou alto enquanto lia a matéria que deixava claro o número de feridos e havia acontecido na madrugada do dia que ela partiu da ilha. — Será que tem alguma relação com meu sequestro? Ou com a ameaça que eu sofri? Acho que preciso falar com MB para confirmar o que está acontecendo. Ruby ligou o carro, foi direto para a seu setor. Chegou alguns minutos antes de liberar. Enquanto isso, mandou mensagem para o celular de MB, marcando de se encontrar. Ruby: Podemos nos encontrar hoje a noite na sua casa? MB: Que rápida. Eu iria adorar, mas não tem estarei no campus de noite. Tenho que resolver uma coisa na casa principal. Parece que as coisas já estão saindo do lugar. Amanhã quando eu chegar te aviso. Estou ansioso para saber porque me procurou. Ruby: Não crie expectativas. Apenas quero que me explique algumas coisas. Ruby colocou o celular no bolso e desceu do carro ao ouvir o sinal de fim da aula. Foi para o mesmo lugar que encontro com Beatriz e esperou por ela. Cerca de cinco minutos depois ela surgiu com a cara de poucos amigos, mas forçou um sorriso ao se aproximar de Ruby. Ruby tentou evitar o assusto várias vezes e sair mais cedo, mas sempre era impedida por Beatriz que não parava de falar. Quando finalmente conseguiu escapar, ela foi direto para o carro. Assim que apertou para destravar, ouviu uma grande explosão, fazendo ela ser arremessada para o outro lado da rua inconsciente. — Eu não lembro dele me falando sobre conhecer alguém como você. Peço que se retire agora mesmo. Quando ela acordar, direi que esteve aqui, mas até lá, ninguém além de mim e família dela vai entrar na porcaria desse quarto. Você me entende? — Lisa disse empurrando Beatriz para fora do quarto sem receio algum, cada parte do seu corpo se sentia desconfortável perto daquela mulher, como se a presença dela fosse um risco. — Que desnecessário. Você por acaso é dona dela ou namorada? Quer monopolizar Ruby. Eu sou amiga do curso dela. Estava por perto quando o carro dela explodiu. Fui eu que liguei para a emergência. Ainda assim, você não quer me deixar nem ver a cara da pessoa que eu salvei? Isso não é ridículo? — Beatriz cruzou os braços sem acreditar que estava sendo mandada embora sem qualquer justificativa plausível. — Quer um prêmio por fazer o mínimo? Sabe que se você não tivesse ligado depois de ver ela, sendo que só tinha você por perto, contaria como crime, não é? E se pensar bem, não é estranho que em uma universidade que passa gente a todo momento, apenas você esteja por perto? Se eu fosse a polícia, começaria investigando você. Afinal, só havia você no local, certo? — Lisa não havia ido com a cara de Beatriz desde que chegou no hospital. Ela lembrava muito alguém que nunca mais deveria aparecer na vida de Ruby. — Você está sendo ridícula. Não vou continuar com esse bate-boca em um hospital, não é lugar para isso. Virei em outro momento. Desejo melhoras para Ruby. — Beatriz disse antes de sair pelo corredor do hospital em velocidade enquanto falava no telefone com cara de poucos amigos. Lisa voltou para dentro do quarto, olhando para Ruby desacordada ficou pensando se deveria ou não ligar para família dela, afinal, aquilo poderia ser o fim de todos os planos de morar sozinha. — Será que ser adulta é sempre ter que tomar esse tipo de decisão? — Lisa pensou alto segurando a mão da amiga. Em outro momento, ela ligaria para sua tia Verônica na mesma hora pra resolver aquilo, mas agora não era tão simples, afinal, Verônica havia se tornando mãe de Ruby. — A vida adulta anda me quebrando — Ruby murmurou colocando a mão nos olhos, para evitar a luz forte. — Onde eu estou? — Graças a Deus você acordou. Estamos em um hospital. Seu carro explodiu. A polícia está investigando, mas ainda não temos nenhum suspeito. Os médicos examinaram e disseram que você estava bem. O corpo só precisava de um tempo para se recuperar do trauma que havia acontecido. Ahhh! Graças a Deus você acordou. Me ligaram porque eu era sua última ligação, mas eu não sabia de ligava para a tia ou não. — Lisa se jogou nos braços de Ruby, abraçando ela com força. Tinha ficado bastante preocupada pelo que havia acontecido. Não é sempre que um carro explode. — Acho melhor não ligar. Não sei o que está acontecendo, mas estão atacando as empresas de Vitor, seus restaurantes. Deve está um caos lá em casa. — Ruby respondeu lembrando dos últimos acontecimentos. — Sério? Ruby, o que aconteceu com você pode não ter sido um acidente, mas alguém querendo machucar você. Se estão atacando a empresa do seus pais, podem muito bem fazer isso com você. Temos que ligar para tia. Talvez não seja seguro para você fora da ilha ainda. — Lisa tirou o celular do bolso, mas Ruby tomou na mesma hora. — Eu sei, mas... Eu quero descobrir quem está fazendo isso. Estou cansada de ser protegida. Não posso viver a vida toda presa em uma ilha como uma princesa. Quero ter uma vida. Não sou mais uma criança, mesmo quando eu era, ainda assim, não iria me assustar com ameaças. Estão querendo nos assustar. Pense bem. Os restaurantes foram atacados na madrugada, justamente quando não tinha ninguém. O meu carro explodiu antes que eu entrasse. Não estão tentando matar ninguém, mas querem mandar um aviso. Só não faço ideia o que querem de nós. — Ruby não pode deixar de lembrar do seu sonho de mais cedo, quando aquele homem dizia que ela não podia ser descoberta. — Será que não foi um sonho? Mas uma memória? — Do que você está falando? — Lisa perguntou ao notar o olhar vago de Ruby enquanto falava. — Essa noite sonhei com um homem, não conseguia ver direito o rosto dele, mas parecia bastante machucado. O tempo inteiro ele me dizia para fazer silêncio e repetia a mesma frase: "Ninguém pode saber da sua existência. Você é o meu maior segredo. Nunca poderá ser revelado". Estou me questionando se realmente foi um pesadelo... — Ruby não conseguia esquecer aquele sonho de forma alguma. Todo momento, ele voltava como um aviso constante em sua mente. — Ruby, mas eu também tenho essa lembrança. Foi no dia que nos conhecemos. Fomos atrás do meu pai. Ele estava desaparecido. Fugimos por uma janelinha no banheiro. Andamos até um bar que havia sido o último lugar que ele foi visto. Entramos em um carro de entrega e de alguma forma chegamos naquele lugar. Lá encontramos esse homem que você dizia ser seu pai, ele era idêntico ao tio Vitor. Também tinha aquela mulher que... — Antes que Lisa pudesse terminar, a porta se abriu, surpreendendo as duas. — O que você está fazendo aqui? — Ruby não esperava receber aquela visita. Afinal, quem poderia ter dito que ela estava ali?
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