A festa seguia, e Clara mantinha sua máscara de Isabella intacta. Ela dançou, riu, e até fez um brinde ao lado de Dante, Helena e outros membros da elite da cidade. Tudo parecia estar indo conforme o plano, até que um som alto chamou a atenção de todos.
As portas principais do salão se abriram com força, e uma figura entrou apressada. Clara sentiu o sangue gelar ao ver a mulher que parava no meio do salão, com o rosto pálido e os olhos arregalados de raiva.
“Então é aqui que você está, usurpadora!”
O silêncio tomou conta do salão. Clara percebeu que todos os olhares agora estavam sobre ela – e sobre a mulher que acabara de chegar.
Era Isabella Moretti.
Clara sentiu o coração martelar no peito, mas forçou-se a permanecer imóvel. A verdadeira Isabella estava à sua frente, ofegante, com os olhos faiscando de ódio. Ela usava um vestido simples, bem diferente do que se esperava da herdeira dos Moretti, mas a confiança em sua postura não deixava dúvidas de quem era.
“Isabella…” a voz de Helena quebrou o silêncio, tremendo de incredulidade. “O que está acontecendo? Você voltou?”
“Eu nunca fui embora de verdade, mamãe.” Isabella deu um passo à frente, apontando um dedo acusador para Clara. “Mas parece que, enquanto eu estava fora, uma impostora decidiu roubar meu lugar.”
O murmúrio dos convidados aumentou, e Clara soube que precisava agir rápido. Ela se aproximou de Isabella com calma, mantendo o rosto sereno, embora sua mente trabalhasse freneticamente.
“Isabella”, disse Clara, a voz firme. “Você deve estar confusa. Talvez esteja passando por algo, mas não há necessidade de causar essa cena. Todos aqui sabem quem eu sou.”
“Confusa?” Isabella deu uma risada amarga. “Eu não estou confusa, sua farsante. Você está no meu lugar, usando o meu nome, enganando a minha família!”
Dante interveio, o rosto carregado de surpresa e dúvida. “Espere um momento! Isabella, o que você está dizendo? Você desapareceu por meses sem explicação! E agora aparece aqui acusando sua própria irmã?”
“Ela não é minha irmã!” gritou Isabella, a voz carregada de emoção. “Vocês estão cegos? Isso é um teatro, e ela é uma atriz.”
Clara percebeu que o momento estava escapando de seu controle. Ela precisava virar o jogo imediatamente. Olhou ao redor, encontrando os olhares desconfiados dos convidados. Muitos já murmuravam entre si, enquanto outros aguardavam a resposta de Helena.
“Isabella”, Clara começou novamente, agora com um tom mais suave, “eu entendo que você está magoada e confusa. Todos aqui estavam preocupados com você. Mas o que você está fazendo agora só vai machucar a nossa família.”
Isabella parecia prestes a responder, mas foi Helena quem quebrou o impasse.
“Chega!” A voz de Helena cortou o ar como um chicote. Ela olhou de uma para a outra, claramente dividida entre a surpresa e a desconfiança. “Se você é realmente Isabella, como diz, prove. Porque, até onde sei, Isabella Moretti está bem aqui.”
Helena gesticulou para Clara, que manteve a postura firme, como se fosse realmente a dona daquele lugar.
Isabella franziu o rosto, a raiva agora misturada com frustração. “Provar? Quer que eu prove quem eu sou? Que tipo de mãe sequer questiona a identidade da própria filha?”
“O tipo que teve que lidar com desaparecimentos inexplicáveis e escândalos que ameaçam nossa reputação!” rebateu Helena.
Dante, sempre o pacificador, levantou as mãos. “Basta! Isso não é lugar para resolver esse tipo de coisa.” Ele se virou para um dos seguranças próximos. “Leve… esta mulher para fora até resolvermos o que está acontecendo.”
Os seguranças hesitaram, claramente desconfortáveis. Isabella, percebendo o que aconteceria, deu um passo para trás.
“Vocês estão cometendo um erro enorme. Mas isso não vai ficar assim.” Ela olhou diretamente para Clara, os olhos estreitados. “Eu vou provar quem você realmente é. E quando isso acontecer, você vai desejar nunca ter pisado aqui.”
Com isso, Isabella virou-se e saiu, deixando um silêncio pesado no salão.Capítulo 3 – O Confronto Surpresa (continuação)
Assim que Isabella saiu da festa, os murmúrios começaram a encher o salão. Os convidados, chocados e intrigados, se agrupavam em pequenos círculos, discutindo o que acabaram de presenciar.
Clara permaneceu imóvel por um momento, tentando parecer calma enquanto sua mente trabalhava freneticamente. A presença inesperada de Isabella havia virado seu plano de cabeça para baixo.
“Por favor, voltem a aproveitar a noite!” Helena interveio, erguendo as mãos em um gesto para acalmar a multidão. “Isso foi apenas… um m*l-entendido.”
Helena olhou para Clara, com um misto de preocupação e autoridade no olhar. “Precisamos conversar agora.”
Dante se aproximou, com uma expressão dura e inquisitiva. “Helena, deixe isso para amanhã. Hoje, temos uma imagem a proteger.”
Clara aproveitou o comentário de Dante para se recompor. “Ele tem razão, mamãe. Não quero estragar a noite de ninguém. Vamos resolver isso mais tarde.”
Helena hesitou, mas acabou assentindo. “Certo. Mas não pense que vai escapar dessa conversa.”
Clara respirou fundo e forçou um sorriso enquanto os convidados aos poucos voltavam a se dispersar. Ela sabia que não teria muito tempo antes que Isabella agisse novamente.
Mais tarde naquela noite
De volta ao quarto, Clara trancou a porta e deixou-se cair na cadeira em frente à penteadeira. A máscara que usara durante a festa parecia pesar toneladas.
Pegou o diário de Isabella que escondia entre as gavetas. Estava na hora de revisar cada detalhe novamente, procurando qualquer informação que pudesse ajudá-la a se manter um passo à frente.
Mas antes que pudesse começar, ouviu um som vindo da varanda. Um calafrio percorreu sua espinha. Lentamente, ela se levantou e caminhou até a porta de vidro. Ao abrir, deparou-se com Isabella, de pé no parapeito.
“Surpresa.” Isabella cruzou os braços, com um sorriso frio nos lábios.
Clara deu um passo para trás, tentando controlar o pânico. “O que você quer?”
“Quero o que é meu.” Isabella entrou no quarto sem ser convidada, fechando a porta de vidro atrás de si. “Quero minha vida de volta, e quero você fora dela.”
“Você desapareceu,” Clara respondeu, com a voz firme. “Abandonou tudo e todos. Eu só fiz o que era necessário para proteger essa família.”
“Não me venha com essa baboseira altruísta,” Isabella rebateu, aproximando-se dela. “Você sabia exatamente o que estava fazendo. Entrou aqui porque queria, não porque alguém te obrigou.”
“Você está certa,” Clara admitiu, tentando mudar a dinâmica da conversa. “Eu entrei porque vi uma oportunidade. Mas a diferença entre nós, Isabella, é que eu sei cuidar das pessoas que confiam em mim. Você só cuida de si mesma.”
Isabella riu, mas seus olhos brilharam de raiva. “Você é boa. Admito. Conseguiu enganar todos, até mesmo a minha mãe. Mas não pense que vai durar. Eu já tenho provas suficientes para acabar com essa farsa.”
“Se já tem provas, por que está aqui? Por que não me desmascarou na frente de todos?” Clara arqueou as sobrancelhas, desafiadora.
Isabella hesitou por um momento, o que deu a Clara a confirmação de que ela ainda não estava pronta para agir publicamente.
“Porque eu quero que você sofra antes de cair,” Isabella sussurrou. “Quero que sinta o que é perder tudo.”
Antes que Clara pudesse responder, Isabella virou-se e saiu pela porta da varanda, deixando-a sozinha.
Na manhã seguinte
Clara desceu para o café da manhã sentindo o peso da conversa com Isabella. O salão estava mais silencioso do que o normal, mas Helena e Dante estavam à mesa, acompanhados por Rafael Duarte.
“Bom dia,” Clara disse, forçando um tom leve.
Helena olhou para ela com uma expressão tensa. “Sente-se, Isabella. Precisamos falar sobre o que aconteceu ontem à noite.”
Antes que Clara pudesse se sentar, Rafael levantou-se, puxando a cadeira para ela com um sorriso. “Você foi o centro das atenções ontem, não é? Admiro como lidou com aquilo.”
Clara apenas assentiu, ciente de que Rafael provavelmente sabia mais do que deixava transparecer.
Dante pigarreou, trazendo a atenção de todos de volta para si. “Não vamos ignorar o que aconteceu. Isabella, sua irmã—ou quem quer que aquela mulher seja—está tentando abalar nossa família. Quero que me diga exatamente o que está acontecendo.”
Clara hesitou por um momento, mas sabia que precisava controlar a narrativa.
“Ela está confusa,” começou, com a voz calma. “Provavelmente está magoada por ter ficado tanto tempo longe. Talvez tenha voltado esperando… algo diferente. Mas posso garantir que não há nada com o que se preocupar. Eu só quero o melhor para a nossa família.”
“Confusa?” Dante franziu a testa, claramente insatisfeito. “Isso não é desculpa para o que ela fez ontem.”
Helena interveio, colocando uma mão sobre o braço de Dante. “Dante, talvez devêssemos procurar ajuda para ela. Isabella tem razão. Algo aconteceu com sua irmã durante o tempo em que esteve fora.”
Enquanto o casal discutia, Clara percebeu que Rafael observava atentamente, como se estivesse anotando cada palavra.
Quando a conversa terminou, Clara se retirou, mas Rafael a seguiu pelo corredor.
“Você é realmente uma peça intrigante, Isabella,” ele disse, encostando-se à parede.
“Já disse isso ontem à noite. Vai repetir todos os dias?” Clara retrucou, tentando parecer despreocupada.
Rafael deu um sorriso enigmático. “Ontem, eu só estava jogando. Hoje, estou mais… decidido. Sei que há algo estranho acontecendo aqui. E vou descobrir o que é.”
Clara deu um passo à frente, encarando-o. “Boa sorte com isso. Mas eu sugiro que você não se meta onde não foi chamado.”
Ele apenas sorriu novamente e saiu, deixando Clara com a sensação de que a batalha estava apenas começando.