Clara se misturou facilmente à multidão, cumprimentando rostos desconhecidos que a saudavam com entusiasmo. Todos ali pareciam reverenciá-la, como se ela fosse uma peça central daquele universo luxuoso. Era exatamente o que ela queria – estar no centro de tudo.
De longe, avistou Dante Moretti, o homem que ela acreditava ser responsável pela ruína de sua mãe. Ele estava de pé perto da escadaria, rindo com um g***o de homens de ternos caros. Clara sentiu o estômago revirar. Aquele era o homem que ela planejava destruir.
“Você está ótima, Bella”, uma voz masculina interrompeu seus pensamentos.
Clara se virou e encontrou um homem alto, de cabelos castanhos perfeitamente penteados e um sorriso confiante. Ele segurava um copo de uísque e a observava com interesse.
“Rafael Duarte”, apresentou-se, estendendo a mão. “Espero que ainda se lembre de mim.”
Clara sorriu, apertando a mão dele com firmeza. “Como poderia esquecer?”
Ela não tinha ideia de quem ele era, mas precisava improvisar. Rafael parecia intrigado, mas não disse nada. Em vez disso, inclinou-se levemente e murmurou: “Espero que tenha aproveitado sua viagem. Dizem que foi… inesperada.”
Clara sentiu a tensão aumentar. Era uma insinuação? Ou ele apenas queria provocá-la? Antes que pudesse responder, Rafael continuou: “Talvez possamos conversar mais tarde. Sempre é bom atualizar velhos amigos.”
Ele piscou e se afastou, deixando Clara com a sensação de que ele sabia mais do que aparentava.Clara permaneceu imóvel por alguns segundos após a saída de Rafael, ainda sentindo o peso das palavras dele. “Segredos.” Aquilo ecoava em sua mente como um aviso. Mas antes que pudesse processar o que significava, foi interrompida por Dante Moretti, que se aproximou com passos firmes e uma expressão indecifrável.
“Preciso falar com você, Isabella.”
Ela endireitou a postura, ajustando o sorriso ensaiado. “Claro, papai. Algo errado?”
Ele gesticulou para que o seguisse. Conduziu-a para uma sala privada nos fundos do salão, longe dos olhares curiosos. Era um escritório decorado com tons escuros, cheio de livros e móveis de mogno, onde o cheiro de charuto era ainda mais forte.
Assim que fecharam a porta, Dante virou-se para ela, os olhos fixos em seu rosto. “Você foi muito corajosa em aparecer aqui hoje, depois de tanto tempo desaparecida.”
Clara manteve a compostura, embora sentisse o suor começando a formar em suas palmas. “Eu já disse que queria fazer uma surpresa. Sei que minha ausência foi difícil, mas estou aqui agora, não estou?”
Dante estreitou os olhos, estudando-a como se tentasse decifrar algo oculto. “Não é só isso. Há rumores circulando. Rumores sobre você e… certos comportamentos questionáveis. Helena pode estar disposta a ignorar, mas eu não. Quero garantias de que você está pronta para assumir suas responsabilidades como uma Moretti.”
“Rumores?” Ela arqueou as sobrancelhas, tentando parecer confusa e levemente ofendida. “Você acha que eu me daria ao trabalho de voltar para casa para manchar nosso nome? Eu fui embora para… encontrar equilíbrio. Me preparar para o que vocês esperam de mim. Estou aqui para provar que sou digna do legado dos Moretti.”
Dante cruzou os braços, ainda desconfiado, mas sua expressão suavizou levemente. “Espero que esteja dizendo a verdade, Isabella. Esta família n******e arcar com mais escândalos. Nem com traições.”
“Eu nunca trairia vocês.” Clara olhou diretamente em seus olhos, a mentira deslizando suavemente de seus lábios.
Dante assentiu, mas ainda parecia cauteloso. “Então, mostre que está do nosso lado. Amanhã, vou anunciar alguns projetos importantes para o futuro dos negócios da família. Quero que esteja ao meu lado durante a reunião. Precisamos mostrar união.”
“Estarei lá,” disse Clara, sem hesitar.
Ele deu um último olhar avaliativo antes de sair da sala, deixando-a sozinha. Assim que a porta se fechou, Clara soltou um suspiro pesado.
Mais tarde naquela noite
No silêncio do quarto que agora ocupava na mansão, Clara organizava suas ideias. Sentada na cama, analisava o diário da verdadeira Isabella, que encontrara entre as coisas que pertenciam a ela. Cada página revelava um pouco mais da personalidade da mulher que agora fingia ser. Isabella era egoísta, imprudente e cheia de ambições próprias, o que tornava o disfarce mais difícil e ao mesmo tempo mais fácil de manter.
“Eles já esperam o pior dela. Tudo o que eu preciso fazer é ser um pouco melhor.”
Mas o confronto com Dante e o encontro com Rafael ainda pesavam em sua mente. Clara sabia que os dois eram perigosos à sua maneira. Um passo em falso com Dante e ela poderia ser desmascarada; um deslize com Rafael, e ele poderia usar o que sabia contra ela.
Enquanto refletia, um som vindo do lado de fora chamou sua atenção. Aproximou-se da janela e viu uma figura familiar nos jardins: Isabella.
A verdadeira Isabella Moretti estava de pé perto da fonte central, envolta em um casaco longo, falando ao celular. Clara apertou os olhos, tentando ouvir, mas não conseguiu distinguir as palavras. No entanto, o tom era claro: Isabella estava furiosa.
“Ela não vai desistir,” Clara pensou. “Preciso descobrir o que ela está planejando antes que seja tarde demais.”
Sem pensar duas vezes, Clara pegou seu casaco e desceu silenciosamente pelas escadas. Se queria continuar jogando aquele jogo, precisava estar sempre um passo à frente.
Clara atravessou o jardim com passos leves, mantendo-se nas sombras enquanto seguia Isabella. A verdadeira herdeira dos Moretti parecia completamente alheia à sua presença, gesticulando com veemência enquanto falava ao celular.
“Sim, ela está aqui. Dentro da minha casa,” Isabella disse, a voz carregada de indignação. “E ninguém percebe que é uma impostora! Eu preciso que você consiga os documentos… hoje à noite.”
Clara parou, escondendo-se atrás de uma sebe alta. Seu coração acelerou. Documentos? Isabella estava claramente armando algo para desmascará-la.
“Não importa o quanto vai custar,” Isabella continuou. “Eu quero isso resolvido antes que ela estrague tudo.”
Após encerrar a ligação, Isabella permaneceu ali por alguns segundos, respirando fundo. Quando finalmente se virou e começou a caminhar de volta para a mansão, Clara se afastou rapidamente, certificando-se de que não seria vista.
Ela voltou para o quarto e fechou a porta com cuidado, o cérebro trabalhando a mil. Isabella estava tentando agir rápido, e Clara precisava fazer o mesmo. Seu plano exigia paciência, mas agora cada segundo parecia crucial.
Mais tarde naquela noite
Clara sentou-se na cama, revirando os pensamentos. Precisava saber mais. E, para isso, teria que correr riscos. Decidida, pegou o celular e discou um número que não usava há meses.
“Finalmente,” a voz do outro lado atendeu após o terceiro toque. “Achei que nunca mais ouviria de você.”
“Sem rodeios, Vicente,” Clara disse, a voz firme. “Preciso de informações sobre alguém. Urgente.”
Do outro lado da linha, Vicente riu. “Ainda no jogo, hein? Quem é o alvo desta vez?”
“Isabella Moretti. Quero saber quem está ajudando ela e o que ela pretende fazer nos próximos dias.”
“Isso vai te custar caro,” Vicente advertiu.
“Eu p**o,” respondeu Clara sem hesitar. “Mas preciso de algo concreto. E rápido.”
Vicente fez uma pausa antes de responder: “Considere feito. Te mando algo em 24 horas. Mas cuidado, Clara. Jogar com gente poderosa como os Moretti pode ser perigoso. Você está se metendo com fogo.”
Clara desligou, ignorando o alerta. O fogo já fazia parte de sua vida. Ela só precisava garantir que não seria a única a se queimar.
Na manhã seguinte
O sol m*l havia nascido quando Clara foi acordada por uma batida na porta. Ao abrir, encontrou uma das empregadas da mansão, com a expressão tensa.
“Dona Helena pediu que descesse para a sala de reuniões imediatamente.”
Clara assentiu e fechou a porta. Estava na hora de encarar Dante e o resto da família no encontro que ele mencionara na noite anterior. Era o momento perfeito para se estabelecer como a Isabella que eles esperavam – mas também o mais arriscado.
Quando chegou à sala, Helena, Dante, e alguns membros influentes da família já estavam sentados ao redor de uma imensa mesa de madeira. No centro, um laptop conectado a um projetor exibia gráficos e números que Clara não reconhecia.
“Finalmente,” Dante disse quando ela entrou. “Sente-se, Isabella. Precisamos discutir o futuro dos Moretti – e o papel que você terá nele.”
Clara respirou fundo, ajustou o sorriso e sentou-se. Este era o jogo que ela tinha escolhido jogar.
Mas, enquanto Dante começava a falar sobre os negócios da família, Clara percebeu algo que fez seu estômago revirar.
Sentada na outra extremidade da mesa, com os braços cruzados e um olhar desafiador, estava Isabella.
“Antes de continuarmos,” disse a verdadeira herdeira, com um tom ácido. “Gostaria de fazer algumas perguntas à nossa querida irmã.”
O ar ficou pesado. Todos na sala pararam, esperando pela resposta.
Clara sorriu suavemente, mantendo a postura. “Claro, Isabella. Pergunte o que quiser.”
A verdadeira Isabella inclinou-se levemente para frente, os olhos fixos nos dela. “Ótimo. Então, por que você não nos conta como foi o último evento beneficente em Paris? Afinal, você estava lá, não estava?”
Clara sentiu o impacto da pergunta como um soco. Era um teste, claro. Um que Isabella esperava que ela falhasse.
Mas Clara não planejava perder.
“Ah, foi maravilhoso,” começou ela, inclinando-se para frente, com um brilho despreocupado nos olhos. “O tema foi Luzes da Cidade, e a decoração estava deslumbrante. Fiz questão de conversar com cada doador. Inclusive, adorei conhecer o embaixador italiano. Que homem interessante, não acha?”
Isabella estreitou os olhos, claramente surpresa com a resposta. Clara havia feito o dever de casa – ela sabia exatamente o que acontecera naquele evento, e usara isso para virar o jogo.
“Você tem razão,” Isabella respondeu após uma pausa. “Foi um evento memorável.”
Dante olhou para ambas, visivelmente desconfortável com a tensão entre as duas. “Vamos focar no que importa. Isabella,” ele disse, dirigindo-se a Clara, “precisamos que você esteja totalmente comprometida com as decisões que tomaremos hoje. Entendido?”
Clara assentiu. “Entendido, papai.”
Mas enquanto Dante retomava a reunião, Clara e Isabella continuaram trocando olhares – uma guerra silenciosa que só as duas entendiam.
A batalha havia começado.