Ouço vozes, me dando indicação de que eu estava desacordada.
O que aconteceu?
Abro os olhos assustada, me recordando de tudo repentinamente, me sentando imediatamente, o que faz com que por alguns segundos tudo ficasse escuro outra vez e a minha cabeça pesa.
A minha visão volta gradualmente, voltando a ver com nitidez, paulatinamente sinto a minha cara queimar de medo, assustada e de vergonha com os olhos penetrantes do Tyler que estão nos meus.
Eu engulo em seco sentindo a minha garganta seca, e retiro o meu olhar do dele observando onde eu estava, e reparo que tem mais pessoas no quarto, eu estou com os meus ossos arrepiados, pelo que vi, e com medo, eu não vou mentir e pior, quando o meu olhar desce para mim mesma, e noto que esse vestido subiu e mostrava boa parte das minhas pernas em frente de todos.
- Hey mocinha, calma! - sinto as mãos do homem desconhecido me segurando assim que eu me sentei na cama. - Calma. - o senhor que deve ser médico pela forma em que está vestido diz. - Eu sou o doutor John. - ele apresenta-se e eu nunca fiquei no estado em que estou agora.
Extremamente confusa.
- Como te sentes, querida? - a Katherine pergunta, me encarando preocupada.
Sinto que a minha cabeça vai explodir. Sem contar que agora, está mais do que claro que eu não sonhava.
- Eu estou bem. - respondo completamente atónita. - O que... Por quê? - questiono, me referido ao acontecido.
- Você teve uma queda de pressão. - o doutor John, explica. - Parece que andou vivendo emoções fortes, demasiadas para essa cabecinha. - o médico diz, tentando soar divertido enquanto explica o porquê eu desmaiei.
Mas o que está na minha cabeça, não tem nada de divertido.
Eu nunca desmaiei na minha vida.
Olho para eles, e os vejo encarar-me com a expressão facial preocupada, bem, a do Tyler continua indecifrável, podia dizer indiferente.
Mas eu só quero que eles estejam genuinamente preocupados comigo, não por atenção e sim para eu ter certeza de que eu posso confiar neles.
Não me parece que eu tenha outra opção, para além de confiar neles, o que vi...
A Velázquez não me deixaria sair se não tivesse certeza que eu ficaria bem.
Né?
- Me desculpem. - eu digo. - Não queria causar incómodo algum. - falo.
- Não se desculpe. - a Katherine diz colocando uma madeixa do meu cabelo atrás da minha orelha, subtilmente. - Eu acho que nós não levamos em conta a sua capacidade de assimilar toda essa informação de uma so vez, devíamos ter sido um bocado mais prudentes. - ela diz aparentemente se sentindo culpada, e a minha cabeça está a doer como se fosse explodir a qualquer momento.
- Bem... - o doutor se pronuncia. - A sua receita já foi deixada e bem instruída. - ele diz e eu assinto. - Apenas beba muita água e tente descansar, não queremos que a mocinha tenha outro desmaio. - ele diz sorrindo e eu assinto positivamente com a cabeça, novamente.
- Obrigada. - agradeço e ele assente.
- Eu vou acompanhá-lo. - o Dark se oferece e a Amie, os segue saindo com ambos.
- Bem, eu vou tirar o seu pijama. - a Katherine diz e eu assinto, observando ela ir ao closet me deixando apenas com o Tyler, que estava prestes a retirar-se, então aproveitei para o agradecer.
Ele evitou que eu caísse dura naquele chão, eu lembro-me de ter sentindo ele me segurar quando perdi completamente o equilíbrio.
- Hamn...Tyler? - balbucio sem graça, chamando a sua atenção, e um arrepio se faz sentir por toda a minha extensão corporal, quando o seu olhar se volta para o meu.
.
Por favor, Ashley.
- Eu, só quero agradecer por não ter me deixado cair. - eu agradeço-o, porém, no mesmo instante a Katherine adentra no quarto com outra ‘lingerie’ e duas outras peças de pijama.
Bem assim, as duas pecas visíveis na mão dela, como se nada fosse.
Imaginem a minha cara!
Meu Deus, isso lá é coisa de dormir e para mostrar na frente de um... do Tyler?
O meu olhar vai do dela para o Tyler e de novo para ela sentindo o meu rosto ruborizar de vergonha.
- Aqui está o seu pijama, esse fui eu mesma que comprei para você. - ela diz sorrindo e bom, obrigada né?!
Sorrio retribuindo o seu.
- Eu vou me retirar. - o Tyler diz, olhando de maneira indiscreta para o meu corpo, após olhar para a ‘lingerie’, o que fez, eu me mexer de tão sem jeito que fiquei, puxando discretamente o vestido para baixo.
- Tenha uma boa noite. - ele diz se despedindo da mãe dando-lhe um beijo na testa, o que me pegou de surpresa, na minha cabeça ele não era carinhoso a esse ponto, por conta da frieza que senti dele.
E sem eu esperar, vejo ele vir até mim ainda atónita com o primeiro gesto de carinho que o vi ter até então, minha cintura e tomada por centenas de arrepios indecentes, que alguma vez senti quando sinto ele me dar um beijo que achei que ia para a minha bochecha, mas foi no canto dos meus lábios, a delicadeza, a sua aproximação, fez-me perder a cabeça, me fazendo fechar instintivamente os olhos, sentindo o meu rosto queimar de vergonha e todos os meus pelos do meu pescoço e do corpo estão arrepiados.
Eu abro os meus olhos atónita assim que ele se afasta normalmente, como se ele não tivesse quase me beijado.
Eu tenho certeza que ele fez isso de propósito, ele exala uma energia de que gosta de fazer esse tipo de coisa só para provocar.
Por que ele fez isso?
- Boa noite. - a Katherine o responde, já que eu tentava me entender com a minha mente confusa.
Ele saiu, e eu só percebi que estava com a mão nos lábios quando eu tirei os meus olhos da porta e voltei-os para a Katherine, quando a notei sorrindo, aparentemente sugestiva com o seu olhar, o que me fez tirar a mão dos meus lábios imediatamente, sem graça.
Ashley...
Ajusto-me na cama e ela se senta do meu lado, deixando a roupa na cama do seu lado.
- Me conte querida, o que está se passando nessa cabeça agora? - ela questiona, me olhando com ternura e eu suspiro.
Muita coisa, eu diria.
- Tudo isso é estranho, num momento eu sou uma menina órfã, normal, estudando para viver a minha vida para sair do orfanato com mais oportunidades de ter uma vida decente, e do nada descubro que, na verdade, eu nunca fui abandonada, e sim que os meus pais foram assassinados por minha causa, porque eu sou uma... - que louco. - Uma vampira e tenho um poder sei lá das quantas, e ainda sou descendente da linhagem de vampiros do Conde Drácula, que até então eu achava que era apenas uma história fictícia. - falo e inclino a minha cabeça para a barreira aveludada da cama.
A minha cabeça está pesada.
- Que por acaso, quando eu for a completar vinte anos, vou morrer se não fizer essa tal cerimónia que me torna supostamente uma vampira de verdade e ainda sou obrigada a casar-me, coisa que de certeza não está nos meus planos e visivelmente, do Tyler também, porque existe um monte de coisa que eu não entendi que eu e eles somos responsáveis. - digo suspirando e fechando os olhos querendo pedir socorro.
- Tudo o que eu queria agora, era que tudo isso fosse um sonho sem lógica. - falo com uma vontade enorme de chorar de tão exasperada que estou.
Tem dois cadáveres aqui, nesse quarto, como se nada fosse primeiro ponto, segundo, que são extremamente parecidos comigo de maneira irreal, e terceiro, que são os pais que achei que tinham me abandonado por anos.
- Eu sinto muito. - ela fala me encarando. - Eu sei que é muita coisa para digerir, e não foi isso que nós, muito menos o que a Keathen e o Leonard queriam que acontecesse. - ela lamenta. - E nunca mais repita, que a causa da morte deles foi por sua causa. Eles não aprovariam e não é verdade. A ganância daqueles malditos morcegos é que causou toda essa confusão. - ela diz e é notável o remorso que ela tem.
- Agora vamos! - ela diz se levantando mudando de assunto. - Vamos ver como esse pijama fica em você. - ela diz e eu suspiro.
- Eu tenho mesmo que usar a ‘lingerie’? - não resisto e a questiono para as pecas minúsculas, me levantando a fazendo rir, me esticando a roupa irredutível.
A ‘lingerie’ era de algodão e não de renda, ao menos isso, essa que eu estou a usar é demasiado desconfortável.
O pijama é de cor azul-escuro, tal como os fios do meu cabelo que, são uns calções que ficavam até ao meio das coxas e uma blusa meio cumprida de alça.
E prontos, estava trocada.
- Ficou muito bem! A Keathen estaria tão feliz em ver a filha dela assim, tão crescida. Vocês são idênticas, você viu? - ela questiona emocionada e eu assinto, sentimento uma emoção inexplicável lembrando do que vi a pouco.
Ela olha-me minuciosamente, observando cada estância do pijama no meu corpo.
A porta é aberta pela Amie, com uma enorme bandeja cheia de sumos, batidos e água. Eu e a Katherine a olhámos incrédulas.
Primeiro é muita coisa, e segundo, como ela esta conseguindo carregar uma bandeja dessas?
- O que é tudo isso, filha? - a Katherine pergunta, olhando para a bandeja como eu.
- São todos os líquidos que o doutor disse para a Ashley tomar. - ela fala e eu abano a cabeça negativamente, sorrindo desacreditada com tanto exagero e também com a preocupação dela.
- Amie! - eu exclamo incrédula, a fazendo sorrir e a Katherine rir.
Ela caminhou e foi deixar a bandeja na mesa de estudos.
- Obrigada. - eu agradeço-a. - Mas com tudo isso eu vou achar que quer me ver fazer xixi na cama. - eu lhe digo sorrindo.
- Era para nós ficarmos conversando. - diz se sentando no sofá grande e elegante preto de veludo que tinha ali.
- Acho ótimo, mas a Ashley precisa descansar, Amie. - a Katherine diz.
- Não tem problema, eu estou sem sono. - eu a respondo.
- Que bom, porque eu estava ansiosa para te mostrar a foto do meu noivo. - diz animada e eu quase engasgo com a minha própria saliva.
Essa história de noivados, não estão a entrar na minha cabeça, nem um pouco.
- Vou deixar-vos sozinhas. - a Katherine diz. - Mas lembrem-se que as vossas aulas começam amanhã, logo cedo. - ela avisa.
- Tudo bem! - a Ashley responde. - Não quer ficar mais um pouco? - ela questiona para a mãe.
- Não querida, fiquem apenas vocês. - ela diz piscando o olho, vindo nos dar um abraço. - Tenham uma boa noite! - ela diz e eu assinto.
Não demora muito para ela sair e eu fico aqui com a Amie, eu a conheci hoje, não temos muita i********e para falar sobre várias coisas, e não necessariamente estou feliz com tudo o que ouvi ou com o que ela... é, mas ela parece legal e eu posso tentar ser o mais simpática que eu consigo ser na minha situação.
- Então, você tem um noivo? - questiono vendo-a ir pegar em dois copos de 'milkshakes'.
- Tenho, deixe-me mostrar ele para você. - ela diz toda sorridente, pegando o seu celular e mexendo-o em seguida.
- Olha! - ela diz, me entregando o seu celular e o copo, eu os pego e observo a foto.
Ele é bem bonito, muito bonito mesmo, presumo que também seja um sangue-suga.
Será que todos os vampiros são tão atraentes assim, porque eu sei que no orfanato não tinham rapazes, mas eu já vi e muitos homens.
E nenhum chega a ser tão atraente até ao extremo Tyler, quer dizer, a esse extremo.
- Ele bonito! - afirmo. - Ele tem alguns traços da Velázquez. - comento devolvendo o seu celular.
- Isso é porque ele é filho dela. - ela diz e prontos, lembrei que eu não sei de nada mesmo.
Desde quando ela tem filhos?
- Espera, a Velázquez tem um filho? - pergunto espantada a encarando. - Como? Ela nunca comentou, sequer era casada, que eu me lembre. E olha que eu estou com ela desde que eu era uma bebé! - exclamo desacreditada.
- Sim, você não soube, porque ela não podia deixar que nada interferisse com o local em que você estava. - ela explica e é impressionante, como você é capaz de entender que tudo aquilo que você acreditava, de repente era tudo mentira.
- Tudo bem, pare. - muita coisa por hoje.
A minha cabeça vai explodir.