Allura terminou suas obrigações no palácio, caminhou até sua casa como de costume.
Morava em uma choupana simples, não tinha luxos.
Seus pais haviam morrido há tanto tempo que ele nem se lembrava de como era a vida sendo cuidada de fato por alguém.
Os aldeões a conheciam bem, e ela era amada por todos.
E principalmente pelo ferreiro, seu nome era Valentin.
Não tinha posses, muito menos ouro a oferecer. Mas era dotado de bravura e coragem.
Cresceu com Allura no povoado e nutria por ela uma paixonite de infância, sonhava toma la como esposa, mas Allura não era um espirito a ser domado. Ela era livre, e assim permaneceria. A ideia de esposa de Valentin soava para ela tão ultrapassada que ela tinha vontade de vomita.
Ele não a entendia como poderia ficar por aí lendo livros? Como não se importava com o que falavam dela ser uma garota solteira vivendo sozinha? Isso simplesmente deixava Valentin maluco. Mas ao mesmo tempo, ele sentia necessidade de domar Allura, como uma fera que vocifera ferozmente.
O jogo de poder o encantava, poder doma La em sua liberdade exacerbada fascinava os seus sonhos e mexia com seus instintos.
- Allura, chegou cedo hoje! – Disse Valentin
- O que faz aqui na frente da minha casa Valentin? Não tem outras responsabilidades a cumprir?
- Só quis lhe fazer uma surpresa, perguntar se vai hoje à festa no vilarejo.
- Não irei, amanhã cedo partirei para a propriedade dos Guisé, como eu já havia lhe falado antes.
- E quando será o seu retorno?
- Ainda não sei ao certo, mas acredito que estarei de volta no fim do verão.
- Eu estarei te esperando!
- Valentin, deite se enquanto espera. Para não se cansar tanto.
Allura entrou para sua casa e deixou Valentin na porta.
Para ele cada “Não” que ouvia de Allura soava como um “Talvez” a brutalidade com a qual se comportava deixava Allura com raiva.
Valentin já tinha se deitado com várias meninas do campo, tinha a sua fama de garanhão. Todas caiam aos seus pés, imaginavam como seria ser oficialmente esposa e provar de sua brutalidade no quarto conjugal, de maneira oficial e não vergonhosa.
Mas a única mulher que interessava a Valentin era a única que nutria por ele desprezo. Sua forma animalesca de tratar as mulheres lhe subia o sangue.
Allura aprendeu com seus pais que o seu valor não era medido em posses, e muito menos com títulos ou casamentos arranjados. O seu valor estava em seu cérebro, em seu vocabulário e em sua forma de encarar os seus sonhos.
Deixaram a ela um legado importante, que ela levou em seu coração todos os dias de sua vida.
Allura entrou em sua casa, banhou se e cantarolou algumas canções.
Deitou se em sua cama e se pegou pensando em Adam.
Resolveu pegar o seu caderno e escrever um poema.
Pensou e Adam enquanto escrevia , mais do que ela gostaria, a ideia de pensar nele a incomodava.
Não queria se prender emocionalmente a alguém, especialmente alguém da realeza.
“Qual seu problema Allura, não o viu com a noiva?” – Pensou ela.
Decidiu então exorcizar os seus demônios escrevendo uma carta, guardaria com sua vida e ele jamais leria mesmo não é?
Querido Adam,
Olho em seus olhos e enxergo um pássaro preso em uma gaiola de ouro.
Mas também posso ver através de seus olhos a ânsia que você sente por viver, isso me fascina de uma forma tão gigantesca que tenho dificuldades em colocar em palavras. Amo o seu sorriso, e apesar de não admitir amei cada segundo de sua atenção.
Eu não sei se conseguiria liberta lo do destino que parece te incomodar tanto, mas certamente valeria tentar.
Sinto-me tão boba, e tão vulnerável.
Eu não deveria perder o meu tempo com nada disso, sei que no fundo prendo sua atenção apenas por algum desejo carnal, mas em meu interior eu desejo que seja algo mais do que isso.
Gostaria que você me visse através da minha alma, como realmente sou.
Uma mulher forte e destemida pareço por vezes arrogante, mas não sou.
Sou apenas consciente de meus valores.
Gostaria que você me enxergasse através de minha falta de título ou de minha posição social.
Assim como eu o enxergo.
Com talvez amor,
Allura
Allura dobrou a carta e colocou em seu baú de poemas, enterrou fundas suas emoções.
Apagou a vela acesa ao seu lado, e tentou dormir, amanhã seria um dia longo de adaptação.
O outro dia chegou logo, e Allura se preparou a viagem que enfrentaria a seguir, partiu para seu novo local de trabalho junto aos outros criados designados para a tarefa.
Victória entrou no quarto de Adam que já estava de pé, energizado ele já havia cumprido algumas de suas obrigações sem que sua mãe tivesse que lhe cobrar.
- Ah, que animação contagiante Adam, está doente? – Disse Victoria debochando.
- Não deboche minha mãe, preciso de sua ajuda. Alguns empregados foram movidos para alguma propriedade aqui perto, eu gostaria de saber para onde.
- E qual seu interesse na criadagem Adam?
- Nada demais, apenas curiosidade.
- Bem, eu não sei. Mas não devemos nem perder tempo com isso. Vamos até nosso anexo, precisamos ter uma conversa em família.
Caminharam até o anexo, lá estavam Raul e Maria Catarina comendo pães.
- Estamos todos juntos, e temos assuntos a discutir.
- Solte a grande bomba pai, nós dois sabemos que vai explodir no meu rosto... – Disse Adam
- Bem, nós avançamos nas negociações sobre o seu casamento, então, gostaria que você tirasse um tempo, em nossa propriedade nos arredores do palácio, logo será o seu lar e da sua esposa logo após o casamento. Pelo menos por um ano para se adaptarem ao casamento. Porém, não tenho tempo de supervisionar o serviço par recebe los, então você irá.
Adam não protestou, o que causou uma certa estranheza em sua família.
- O que está havendo? Temos um milagre? – Disse Raul
- Se eu reclamo é um problema, se não reclamo também, decidam se!
A verdade é que Adam sabia que teria mais liberdade em Bourbon de Guisé, e lá não seria incomodado por ninguém.
Sua busca por Allura ficaria mais próxima, e teria ao menos um tempo para se livrar de seu casamento arranjado.
- Você partirá amanhã para Bourbon, de acordo?
- Sim pai, estou de acordo.
Adam saiu da sala satisfeita, seus pais desconfiaram, é claro que ele estava tramando alguma coisa. Mas ao menos, estava seguindo ordens sem questionar, o que para eles, já era um avanço.
Ele passou a tarde empacotando suas coisas preferidas.
Sua irmã entrou no quarto para questiona lo sobre sua recente falta de vontade de questionar tudo.
- Adam...
- Oi Cata, o que está havendo?
- O que você está tramando?
- Por que é tão difícil acreditar que estou perfeitamente bem com as ordens de nosso pai?
- Por que te conheço?
Adam deu um sorriso maquiavélico para a irmã.
- Tem algo a ver com a criada que você vive atrás?
- Fale baixo Maria Catarina, e se nossa mãe está atrás da porta como sempre está?
- Relaxe, a mãe está fofocando com algumas criadas agora. Não liga para suas aventuras com a criada.
- Não fale dela nesses termos Maria Catarina!
- Ah, então você gosta dela... E por que aceitou de bom grado ir para longe do palácio?
- Ela foi alocada em outro posto de trabalho...
- E em Bourbon você terá mais liberdade, é Adam, você de fato é genial.
- Obrigada Cata, você vem comigo a Bourbon?
- Eu gostaria, mas não posso. Ao que parece terei uma agenda social a cumprir com as mulheres horríveis de Versalhes.
- E eu não posso nem conforta La dizendo que isso passará.
- De fato, só espero não acabar como Jeanne.
- A minha futura Ex-noiva?
- Sim.
- E por quê?
- Não gostaria de ficar com um homem que eu não consiga prender a atenção nem enquanto ando alguns metros em um jardim.
Adam sorriu para sua irmã mais uma vez, Maria Cataria sempre um passo a frente de todos, sua percepção era felina.
- Bem deixarei você terminar de aprontar suas coisas, venho me despedir pela manhã meu irmão.
- Certo Cata, amo você.
- Bem, você já sabe não é? Até amanhã.
Maria Catarina voltou aos seus aposentos, e deixou Adam com seus pensamentos.