- Não aguento mais ser pressionada pelo Christian. – digo a Reese enquanto caminhamos na calçada da terceira avenida.
Decidimos almoçar no nosso restaurante italiano preferido. Mamãe o odeia, ela costuma dizer que comida italiana de verdade só se come na Itália.
De certa forma ela não está errada, mas a comida do Norma Gastronomia Siciliana é incrível.
- Não entendo por que ainda está com ele, Emma. Se pelo menos o sexo fosse bom, mas nem isso. – ela desdenha.
- Não é que seja r**m, Reese. – o defendo. – Só não é incrível, só isso.
Christian é um homem maravilhoso. Muito carinhoso comigo e atencioso até demais. Na verdade, isso é o que mais me irrita nele. Esse excesso de atenção, chega a ser controlador, pegajoso e eu detesto isso. Acho que é por isso que eu não me apaixono por ele de verdade.
Adoro passar as noites com ele e dividir nosso tempo nos finais de semana, mas falta alguma coisa. Não sinto aquele fogo da paixão, aquelas coisas que os filmes mostram... o coração acelerado, a boca seca, a sensação que o mundo parou e todas essas coisas que sentimos quando estamos apaixonados.
Ele é um homem atraente, chama atenção por onde passa. É alto, seus olhos são extremamente azuis e seus cabelos estão sempre uma bagunça, com os fios jogados para cima. Ele é sexy, mas não tem uma pegada muito, digamos... forte.
Reese costuma dizer que é como um perfume raro, que você paga caro nele e depois descobre que é doce demais, enjoativo.
- Deus me livre ficar com um cara que não dá conta de mim na cama. – ela ri e sacode a cabeça.
- Você precisa parar de dizer isso em voz alta, Reese. – sussurro olhando para os lados. – Se alguém que nos conhece te ouvir, vai ter fofoca para o ano todo na revista.
Nós terminamos de comer em poucos minutos. p**o nossa conta e, quando saímos do Norma, compramos sorvete na barraquinha que sempre está no mesmo lugar da calçada.
- Quando chegarmos em Gangi vou te levar para comer um gelatto de verdade. – eu digo a ela e experimento meu sorvete de pistache.
Esse é o melhor de Nova Iorque.
- Uhmm... – Reese se atrapalha com o sorvete, pelo que vejo ela quer comê-lo e ao mesmo tempo falar. – Achei um evento para irmos no réveillon. – diz com a boca cheia.
- Sério? – pergunto animada e ela assente. – Tem show, bebidas e italianos gostosos?
- Tudo isso e muito mais. – diz com euforia. – Tem uma festa tradicional na praça principal da Catania. Li na internet que pega fogo na virada.
- Reese, a Catania fica há duas horas da casa da minha mãe. – digo desanimada.
- Você que sabe. – ela sacode os ombros com desdém. – É isso ou ir dormir às nove da noite com a sua mãe e o Luigi. Ouvi-lo roncando e ... – ela joga as palavras em mim.
- Você é terrível, Reese. Uma chantagista barata! – ela sorri vitoriosa. – Vou conversar com a minha mãe sobre a Catania, mas não prometo nada.
Fizemos o resto do caminho até a sede da revista enquanto terminávamos o nosso sorvete e Reese fazia um monólogo entusiasmado sobre o seu novo achado, a tal festa na Catania.
Já são quase 14h quando chegamos na empresa e falta pouco para a primeira reunião do dia.
Vou ao banheiro dentro da minha sala e escovo os meus dentes.
Ao chegar na minha mesa, abro o notebook e dou uma olhada no que a equipe de marketing me mandou mais cedo e o que será discutido na reunião daqui a poucos minutos.
A capa da edição de agosto está maravilhosa. Uma modelo com o rosto marcado pelo vitiligo está estampada nela. Teremos uma pauta esse mês sobre os tipos de preconceitos que as pessoas que têm essa doença sofrem ao longo do seu dia a dia.
Passo alguns minutos respondendo e-mails e checando, pessoalmente, alguns currículos para uma vaga de assistente administrativo.
Às 14:20 o telefone em cima da minha mesa toca.
- Sim, Amy?
- Só para te lembrar da reunião às 14:30, Emma. – me avisa.
- Obrigada, Amy.
Assim que desligo a ligação, pego meu celular sobre a mesa, o esboço da capa de agosto e caminho para a sala de reuniões.
Amy se levanta e me segue assim que passo por ela.
No caminho digito uma mensagem para Reese, ela sim deveria ser lembrada das reuniões. Sempre as esquecia.
- Boa tarde a todos. – os cumprimento assim que entro e todos presente me respondem em uníssono.
Devia ter umas 10 pessoas na sala de reuniões. Contando com a minha secretária, o assistente do Christian e algumas pessoas do executivo.
Me sento na cadeira em uma das extremidades da grande mesa da sala. Reese se senta a minha direita e Christian já estava sentado na cadeira a minha esquerda quando entrei.
Adam, o responsável pela equipe de marketing começa a nos apresentar a capa e damos atenção máxima as suas palavras.
- E então, Emma? O que achou? – ele termina a apresentação da sua ideia e me pergunta.
- Simplesmente incrível, Adam. Nem sei o que dizer. – respondo encantada com o que ele acabou de me apresentar. – Christian? Reese? – olho de um para o outro.
- Por mim está perfeita, só mandar imprimir. – Reese destaca. Pelo tom da sua voz está tão animada quanto eu.
- Christian? – o incentivo a falar.
Ele não responde, apenas sorri um sorriso que não chega aos seus olhos e gesticula com uma das mãos como se dissesse "vá em frente".
Sei que ele está chateado e tenho uma grande parcela de culpa nisso. Bom, talvez toda a culpa seja minha, mas ele não pode deixar isso interferir no trabalho dele. No nosso trabalho.
Esse era o meu maior medo.
Christian já trabalha na revista há 3 anos. Ele era noivo quando entrou aqui, eles não estão mais juntos há alguns meses e nas últimas semanas surgiu um interesse mútuo entre nós dois e eu me permiti tentar, mas ele sabia de todos os meus limites. Ele sabe tudo que eu posso dar a ele, nunca menti quanto a isso.
Pelo visto eu nunca poderei dar o que ele quer e isso não é justo com nenhum de nós dois.
Fechamos aquela como sendo a próxima capa da revista e encerramos a reunião. Já passava das 15:30 e eu teria pouco tempo para a próxima.
- Christian, posso falar com você um minuto? – pergunto quando ele se levanta da cadeira e começa a arrumar as folhas de papel a sua frente, que estavam em cima da mesa.
Os outros participantes já estavam se dispersando, cada um voltando a sua função na revista.
Ele não me responde, apenas senta de novo na cadeira e cruza as mãos em cima da mesa.
- Percebe o quanto está sendo infantil? – sacudo a minha cabeça em negativa.
- Eu sendo infantil? – ele ri. Dessa vez com escárnio.
- Christian, não dá mais. – eu digo. – O que eu mais temia aconteceu, afetou nosso trabalho. Você sempre foi proativo, participava com suas ideias e opiniões em todas as reuniões e agora está reativo, calado. Talvez até me punindo por uma coisa que eu sempre deixei bem claro para você.
- Está terminando comigo, é isso? – me pergunta sério. Sua expressão demostra uma certa incredulidade.
- Infelizmente sim. – digo triste. – Infelizmente porque eu realmente gosto de você, gosto de estar com você. – assinto. – Mas não posso arriscar perder o melhor diretor executivo que a minha revista já teve.
Ele olha para suas mãos em cima da mesa por alguns segundos e volta a me olhar.
- Queria que as coisas fossem diferentes. – ele diz. – Mas você não me deixa entrar, Emma. Não me deixa ver quem você é de verdade.
- Eu sinto muito, Christian. De verdade. – falo com sinceridade.
Ele se levanta e dá alguns passos na minha direção. Se inclina para frente e dá um beijo suave na minha testa.
- Vou esperar por você, Emma. – foi a última coisa que ele disse antes de deixar a sala de reuniões.
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