Capítulo 2

2671 Words
-Acha mesmo que não vão me reconhecer?- Perguntou Beatriz, parada de frente para Durkham Hall, a residência do conde.  Embora estivesse com uma máscara do mesmo tom de azul do seu vestido, Beatriz não se sentia completamente anônima. -Esse é o intuito da máscara.- Falou Miguel, saltando de seu cavalo para logo depois ajudar a amiga também a descer.  - Sorte a minha que é um baile de máscaras.-  - Tente não ficar muito perto de Doroteia e de suas primas, lembre-se que elas já te viram com esse vestido.-  Beatriz aquiesceu. Embora tivesse arrancado as rendas de seu vestido e aumentado o decote dele, não estava tão confiante de que a mudança foi muito considerável.  -Precisamos ir embora de meia noite, mais ou menos uma hora antes do que a minha tia costuma voltar.- Beatriz mordeu o lábio, encarando os próprios pés.- Talvez tenha sido uma péssima ideia roubar os sapatos que a duquesa comprou. - Tome cuidado para não quebrá-los, que a duquesa nem irá perceber.-  - Tem certeza que não tem mais nenhuma folha no meu cabelo?- - Não, pode ficar tranquila.- - Nem nenhum galho?- - Não, Beatriz.- - Será que devo fazer um outro penteado?- - Você deve entrar logo e parar de tagarelar tanto. Cadê o convite de sua tia?-  - Aqui.- Beatriz encarou o poderoso papel que segurava com uma das mãos.- Eu terei a minha noite de princesa.- Ela disse para si mesma. Olhar para aquele convite encheu Beatriz de coragem e confiança. Ela envolveu seu braço ao redor do braço de seu melhor amigo, e juntos os dois caminharam na direção da entrada da casa. Adentrar a mansão foi mais fácil do que a garota imaginou. Com a ajuda de um lacaio, Beatriz e Miguel chegaram até o salão de baile, sendo os últimos convidados a chegarem na festa. Beatriz ficou encantada com a beleza do lugar. Mais da metade das pessoas daquele salão usavam um figurino feito pelas mãos de Beatriz, e a outra, usava sapatos que foram vendidos por ela. As pessoas riam, bebiam, comiam e conversavam, e a garota sem berço ou título que acabara de chegar com o amigo, correu para a varanda do salão, observando o majestoso evento de cima, como se fosse uma peça de teatro. Os músicos tocaram os primeiros acordes, e o anfitrião parecia um pouco indeciso sobre quem deveria convidar para valsar. Ao erguer a cabeça um pouco mais, Alexsander Windsor se deparou com a bela dama mascarada de azul. Os olhos de Beatriz se encontraram com o belo par de olhos azuis-turquesa de Alexsander, e ela sentiu o seu coração palpitar quando ele ergueu a mão na sua direção. Involuntariamente, a moça caminhou de encontro com o cavalheiro, segurando delicadamente a mão que estava coberta por uma luva branca. Os dois valsaram no centro do salão, e Beatriz sentiu como se o seu corpo flutuasse. Os outros casais se aproximaram depois, mantendo-se sempre na periferia do espaço do salão de dança, deixando o aniversariante e a sua dama no centro. Alex pressionou os seus dedos na base das costas da garota, e vez ou outra observava mais do que o apropriado os lábios carnudos e avermelhados de sua convidada.  -É nova na cidade? Nunca te vi por aqui.- Comentou o conde, parecendo encantado. - Talvez.- Respondeu a garota. - Como talvez?- Alex ergueu o canto dos lábios em um sorriso discreto.- Qual o seu nome? Com quem veio?- - O senhor faz perguntas demais. Não é conveniente que mantenha conversas tão longas durante uma dança.- - Vai mesmo me ensinar boas maneiras?- - Se o senhor precisar…- Alex abafou uma risada. -Também não é apropriado uma moça chegar desacompanhada em um baile.- - E quem disse que cheguei desacompanhada? Vim com o meu irmão.-  - Diga-me quem é o seu irmão para que eu possa obrigá-lo a me dizer seu nome.-  - O meu irmão jamais diria o meu nome sem o meu consentimento, senhor.- - Eu sou convincente.-  - Aquela jovem não tira os olhos de nós.- Beatriz achou que seria prudente mudar os rumos da conversa, já que não poderia revelar ao conde sua verdadeira identidade. Alex olhou disfarçadamente para um dos cantos do salão, encontrando os olhares furtivos de raiva da senhorita King-Lenox, que os observava. Durkham gemeu ao perceber que teria que lidar com um problema depois. Luciana King-Lenox era sua noiva desde que tinha 10 anos de idade, devido a um arranjo feito entre seus pais e o conde de Bristol – pai de Luciana-. Alex nunca foi apaixonado por Luciana, e por um certo tempo até achou que o casamento arranjado com a moça – muito comum na época- acabaria vindo a calhar em algum momento. Ele gostava da filha de Bristol, e achava que um dia poderia amá-la, mas quando conheceu aquela garota mascarada… Alex sentiu seu coração palpitar como o de um adolescente. Embora só tenha visto os tentadores olhos verdes e a irresistível boca vermelha e carnuda da jovem, Alex sentiu todo o seu corpo incendiar. Ele jamais provou uma sensação como aquela em suas inúmeras paixões, e isso porque nem chegou a tocar a senhorita em questão. Alex tinha certeza de que quando ele a beijasse, a terra seria capaz de girar para o lado contrário. -Está tudo bem, senhor?- Perguntou a moça, inclinando a cabeça de uma forma adorável. - Sim, sim, claro. Aquela jovem… Bem…- Durkham pigarreou.- Não é ninguém importante.- Ele se sentiu um canalha por não revelar a verdade, mas no fundo, Durkham sabia que não era mentira. Prezava por Luciana, mas não dava a ela a devida importância a ponto de interromper um possível romance com a garota da máscara. Há um bom tempo ele pensava em desistir do noivado, mas acabava sempre mudando de ideia quando ouvia sua mãe falar com tanto ânimo sobre o casamento. Desde a morte de seu pai, o antigo conde de Durkham, a condessa Elizabeth não sorria com tanta frequência. O último que Alex queria era dar um forte desgosto para a mãe.  Mas, quem sabe, se sua mãe também não acabasse gostando da garota de máscara? Esse era um risco que Alex, com cautela, iria correr. -O que acha de darmos uma volta? Temos uma belíssima paisagem aqui.- Ela precisava dizer que sim. Seria impossível, diante a todos os encantos do jardim de inverno de Lady Elizabeth, a garota não ceder em revelar sua verdadeira identidade. Alex descobriria quem era aquela mulher encantadoramente misteriosa.   … -O seu vestido é mesmo muito elegante, vossa graça. Comprou em Paris?- Perguntou Filipa, tentando a todo modo puxar assunto com a velha dama de cabelos grisalhas e postura ereta, que estava ao seu lado. A duquesa de Nottinghan olhou Filipa como se ela fosse a mais rebaixada das criaturas, e devido ao sorriso falso da moça, ela de fato acreditava que fosse. -Foi sua mãe quem fez.-  Doroteia, que até então estava pensativa, pareceu sair de seu estado de transe quando ouviu a aristocrata menciona-la. A matrona ainda estava desconcertada devido a ilustre aparição da dama de azul, e Doroteia rezava para que estivesse enganada, mas aquela moça a fazia lembrar de alguém… -Não, não foi a mamãe. Esse vestido quem costurou foi a Beatriz. Eu vi quando ela estava fazendo.- Disse Katherine. - Quem é Beatriz?- Perguntou a duquesa. - A minha ajudante.- Doroteia pigarreou.- Eu sou tão atarefada que preciso dela para… Bem… Para adiantar algumas coisas.-  Doroteia olhou de cara f.e.i.a para a filha caçula.  -Olhe, mamãe. É o filho da mulher da venda! O que esse desclassificado está fazendo aquí?- Filipa destinou ao rapaz um olhar de asco. Miguel estava distraído no canto da festa, bebendo um copo de limonada, e quase engasgou ao virar de lado e se deparar com as três mulheres que ele vinha tentando evitar. - Com certeza veio de penetra.- Falou Doroteia. - Quem é esse rapaz?- Perguntou a duquesa, olhando fixamente para Miguel. - Um simples entregador de uma venda barata.- Respondeu Filipa.  Lady Ursula havia emudecido. Sua boca chegava a abrir, mas ela não conseguia falar. À semelhança entre aquele simples rapaz com o seu falecido filho era surpreendente.  -Milady, a senhora está bem?- Perguntou Doroteia. - Na verdade, eu estou morrendo de dor de cabeça. Acho que vou me recolher mais cedo.- A mulher caminhou apressadamente para o lado oposto ao que estava, e parecia muito aflita ao procurar por alguém. - Estranho…- Comentou Katherine. - Olhe, mamãe. É a garota desconhecida com o conde.- Falou Filipa, apontando para o casal que caminhava praticamente ao lado delas. Doroteia se virou de repente, percebendo que a garota desviou o olhar quando se viu diante dela. Por ser uma mulher muito observadora, ela percebeu que diferente da maioria dos figurinos do baile, aquele nunca tinha passado por seus olhos, exceto…  Doroteia precisou prender a respiração. Quando a jovem mascarada deu um passo para frente, foi possível ver um dos seus sapatos. Aquele delicado sapato de cristal com pedras de safira era o único exemplar em toda Inglaterra, e foi comprado pela duquesa de Birmingham. -Mamãe, a senhora está pálida.- Falou Katherine, preocupada. Mas Doroteia nem sequer ouviu a voz da filha. Ela sabia que conhecia aquela moça. Apesar da máscara esconder uma boa parte do rosto, aqueles olhos eram familiares demais. Assim como os cabelos, como o jeito de andar… -Beatriz.- Sussurrou Doroteia. - O que disse?- Perguntou Filipa. - Nada importante.- Doroteia tentou forçar um sorriso.  - Acha que o conde vai se casar com ela?- Perguntou Filipa, vendo os dois sumirem entre os outros convidados. - O conde está noivo de Lady Luciana King-Lenox. No máximo, essa garota vai ser uma aventura. Agora muito me espanta que ele tenha a insensatez  de exibir essa p.r.o.m.i.s.c.u.a na frente de todos.-  - Aposto que estão indo para os jardins. Todos os casais furtivos vão para o jardim.- Comentou Katherine. - Aonde anda aprendendo essas coisas?- Perguntou a mais velha. - Ora… Eu mesma vi naquele dia em que passei m*l devido ao corset apertado.- - Se não comesse tanto, o corset não pareceria tão apertado.- Provocou Filipa. - Garanto que nada pode ser mais apertado do que o seu cérebro.-Rebateu Katherine. Filipa fez menção em bater na irmã, mas foi detida por Doroteia, que apertou fortemente o seu braço.  -Façam o favor de ficarem quietas, mas que inferno. O mundo está prestes a cair na nossa cabeça e vocês cacarejando feito duas galinhas escandalosas.- - Está nos comparando a galinhas?- Filipa levou a mão ao peito, se sentindo ultrajada. - O que está acontecendo, mamãe?- Perguntou Katherine. - Ainda não está acontecendo nada. Mas em breve irá se eu não interferir. … -O que acha?- Perguntou Alex, assim que os dois adentraram a varanda que dava de frente para o imperioso jardim de inverno de Lady Elizabeth.  Embora não seja uma expert em jardinagem, Beatriz amava admirar os belos lírios que nasciam embaixo da janela de seu quarto. No jardim de Lady Elizabeth, não eram apenas os lírios que Beatriz tinha para admirar. Tinham lindas prímulas que foram importadas da americana do norte, assim como as papoulas, camelias, e gardênias. O perfume que aquele lugar exalava era divino. -Mágico.- Murmurou Beatriz, mas foi o suficiente para Alex ouvir. - Nada como um jardim tão bonito para abrir o coração de uma mulher, não acha?-  - Desista, Alex, eu não vou…- - Você me chamou de Alex?- - Desculpe, conde de Durkham. Eu sei que não foi apropriado.- - Eu não dou a mínima para o que é apropriado, senhorita.- Vagarosamente, o conde se virou de frente para a jovem, encarando cada linha suave do rosto dela.- Ao menos queria sentir a textura de sua pele. Posso tocar seu rosto?- Beatriz pareceu hesitar com o toque íntimo, mas acabou concordando. -Esse será mais um detalhe da série de coisas não apropriadas que eu já fiz essa noite.- Sussurrou o conde, erguendo uma de suas mãos na direção do rosto de Beatriz.  Ele tocou a maçã do rosto da garota com suavidade, e sentiu todos os pêlos de seu corpo arrepiarem quando Beatriz estremeceu. A pele dela era quente e macia, exatamente como ele havia imaginado. Os lábios dela estavam convidativamente entreabertos, e Alex não resistiu ao impulso de tocá-los. Ele passou a ponta do polegar no traço exuberante do lábio inferior, e se sentiu tentado a fazer o mesmo toque com a sua boca. Beatriz suspirou, deixando-se levar pelas inúmeras sensações que Alex a causava. -Deixe-me ver o seu rosto.- Alex sussurrou. Beatriz balançou a cabeça em uma negativa. -Não posso ver o seu rosto, ou saber o seu nome. Será que ao menos posso…- Alex curvou o corpo para frente, aproximando-se perigosamente da jovem que estava com as costas encostada no parapeito da varanda.- Será que posso beijá-la?- Um beijo. O que era um beijo? Provavelmente seria a ruína de Beatriz.  Beatriz nunca foi beijada, e acreditava que não teria uma próxima oportunidade. Aquela noite deveria ser mágica e especial, como ela, há dias, veio planejando.  Além do mais, Alex não havia visto o seu rosto e sequer sabia seu nome, ele jamais se lembraria do ocorrido dias depois. Mas não Beatriz… Beatriz guardaría aquele momento para o resto da vida.  Então, como resposta, ela assentiu, permitindo que o conde a beijasse. Alex levou vagarosamente os seus lábios a tocarem a boca de Beatriz, que arquejou com o toque suave. As duas bocas se moveram com cautela, se explorando, e Alex pediu passagem com a língua, que logo lhe foi cedida. Ele tocou toda a extensão de carne macia da boca de Beatriz, e deslizou a sua língua sobre a dela, em um ardente carinho íntimo. Ele esfregou a ponta de seu nariz na bochecha da jovem, antes de puxar com os dentes a parte inferior da boca de Beatriz. Quando os dois rostos se afastaram, ambos estavam muito ofegantes. Alex, por ser bem mais experiente, sabia que deveria se conter e parar ali, mas ele estava insaciável. O seu corpo ardia pelo dela, embora não soubesse de quem se tratava. Havia algo familiar naquela mulher, e quando a beijou pela segunda vez, Alex teve a sensação de pertencimento. Ele a puxou para si, pressionando os dois corpos de modo que pudesse sentir a curvatura suave do seio dela em seu tórax. O conde escorregou os seus lábios pela linha fina do pescoço de Beatriz, que precisou se agarrar ao parapeito da varanda por sentir as pernas bambas. Os dedos hábeis de Durkham foram parar no decote do vestido - perfeitamente apropriado para á noite, e extremamente extravagante para o dia-. Alex invadiu a área proibida do vestido da garota, tocando-lhe um dos se.ios por cima do corset apertado. Beatriz arfou ao senti-lo tocá-la ali, e sentiu que era a pior das devassas por ter permitido algo como aquilo, ou pior ainda, por ter gostado dos avanços do conde.  - Conde Alexsander, acho que precisamos parar.- Murmurou Beatriz.  - Se você quiser, eu paro.- Alex murmurou com a testa colada á dela, e os lábios próximos.  Beatriz afundou os seus dedos nas mechas grossas e escuras do cabelo do conde, e permitiu que ele continuasse a beijá-la do pescoço até o ponto em que tinha uma de suas clavículas. Ela estava perdida, e sabia disso. Não seria capaz de pará-lo. Para a sua sorte, o relógio do salão principal começou a tocar as badaladas, avisando que já seria meia noite.- - Pare, conde.- Falou Beatriz, ficando satisfeita ao ver que Alex se afastou de imediato.- Eu preciso ir.- A garota deu um passo para frente, mas logo foi detida por uma das mãos do conde, que agarrou o seu cotovelo. - Espere. Eu preciso muito saber quem você é, e onde posso encontrá-la. Por favor, não vá agora.- - Eu sinto muito. Mas o senhor não deve me encontrar.- Respondeu a jovem, que puxou o braço antes de sair correndo para fora da varanda.
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