Merlia
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— Já disse para resolver.
...
— Não interessa, nem que tenha que ir até o inferno...
...
Escuto uma voz grossa e logo reconheço. Abro os olhos meio embaçado e sento na cama...
... Espera. Uma cama?
Fico um pouco desesperada sem saber como cheguei até (olho bem) no meu novo quarto. Quando percebo onde estou, vejo na minha frente o mesmo rapaz quem me salvou.
Mais como ele sabe onde moro? Com quem discutia no telefone?
Muitas perguntas rodeavam na minha cabeça. Abraço minhas pernas quando aquele lindo homem sorri novamente ao me ver.
— Você acordou.
— Quem é você? Como sabe onde moro? – Solto um bombardeio de perguntas.
— Acalme-se. – Coloca a mão sobre meu joelho.
Mais o meu medo era tamanho que dou um pulo da cama e grito.
— SAIA DA MINHA CASA!
— Merlia! – Minha tia entra correndo pela porta, aí que fico mais ainda sem entender. — Isso são modos menina, esse jovem lhe salvou devia agradecer ao invés de ficar aos berros.
— Mais... Como...? – Falo.
— Espera, vamos nos acalmar. Acho que começamos errados.
O homem passa a mão novamente em seus cabelos meio constrangido com toda a situação confusa.
— Deixa eu me apresentar. Meu nome é Lucca Salvatore. – Estende a mão em minha direção.
Observo aquele gesto bem desconfiada, olho para minha tia que faz um sinal que pegue na mão dele. E assim faço.
— E o meu é Merlia.
Quando nossas mãos se tocam, é como se eu sentisse uma eletricidade diferente percorrer todo meu corpo. E as sensações que este homem me causa só piora toda a situação.
— Que lindo nome. – Diz sorrindo.
— Como me trouxe até aqui? – Pergunto indiferente desfazendo nosso toque.
— Como não havia ninguém na rua quando você desmaiou, fui correndo, pedi ajuda ao convento que estava próximo e foi quando sua tia abriu o portão e te viu em meus braços e logo sugeriu que a trouxesse aqui.
Sento na cama sem nenhuma resposta para retrucar, olho para o criado mudo e minha caixinha ali intacta. Coloco uma mexa atrás da orelha e apenas digo:
— Obrigada.
— Não há pelo que agradecer.
— Vou terminar o jantar, gostaria de ficar e comer conosco? – Minha tia fala.
— Titia talvez ele tenha...
— Eu adoraria. – Me corta.
Que abusado!
Acho que desconheço dona Alex, sempre disse para ficarmos longe de desconhecidos e agora isso? Sendo gentil com um estranho.
Passamos o jantar o tempo todo calados, menos minha tia que conversa mais que um disco arranhado, e eu não sabia mais para onde olhar se aquele tal de Lucca m*l tirava os seus olhos de cima de mim.
Mais do nada seu celular toca e ele se levanta meio apressado dizendo que precisa ir embora.
— Lia acompanhe o moço até a saída. – E tia Alex sendo mais uma vez inconveniente.
— Sim, claro. – Dou um sorriso amarelo.
Chegamos até a entrada do meu apartamento, coloco minhas mãos para trás e Lucca retira um cigarro do bolso com esqueiro e antes que pudesse ir ele se aproxima de uma forma perigosa.
Meu coração ganha vida própria como se fosse sair, ele pega uma mecha na frente dos meus cabelos entrelaçando em seus nós.
— Nunca esquecerei esses olhos. – Falou baixinho e tão próximo que minha pele sentiu o ar sair dos seus lábios. — Uma pena sermos de mundos tão diferentes.
Como assim?
Pensei no mesmo instante, mais o que isso me importa. É apenas um desconhecido.
Se afasta, ascende seu cigarro dando uma tragada e a fumaça saindo pelas suas narinas e boca. Aproxima-se do seu carro, abre a porta e antes que pudesse entrar olha para trás.
— Se cuida pequena. – Me dá uma piscadela e vai embora.
Dei um sorriso e abaixei a cabeça me sentindo como aquelas protagonistas daqueles livros de romance e entrei de casa flutuando.
》》》
Boston, 2022.
Esse é o dia mais feliz da minha vida. Me olho no espelho e me vejo dentro do vestido mais lindo do mundo qual Lucca me presenteou com todo carinho.
Ele é simples, todo de renda com mangas princesas transparentes com fechos de pérolas, atrás um lindo coração deixando a mostra minhas costas e o tecido modela muito bem meu corpo magro com poucas curvas.
Dou uma rodadinha para poder ver como está tudo, e ok.
Suspiro...
Hora de ir e encontrar o amor da minha vida, penso em como foi tudo rápido demais, mais Lucca disse que não quer perder mais nenhum minuto longe de mim e eu concordei por todos os valores que tia Alex me ensinou durante minha vida.
Pego o buquê e saio do meu quarto e me encontro com minha tia com uma cara muito estranha, mais sei do que se trata. E logo o choro se faz presente naquele pequeno cômodo.
— Não fiquei assim, titia, a gente se ama e vamos ser muito felizes.
— Sua mãe disse o mesmo Lia.
— E ela foi muito feliz, não foi?
Ela suspira.
— Ah, minha menina. – Acaricia meu rosto. — Vamos, seu noivo lhe espera ansiosamente.
Damos as mãos e saiu em direção ao local qual Lucca quis que nos casasse.
...
— Você está linda meu amor.
— Você está como um príncipe.
Sorriu lindamente e passei a mão por seus cabelos e desci para o seu rosto, automaticamente fecha os olhos sentindo o meu toque e beija o meu pulso.
— Vamos começar essa pequena cerimônia. – O padre diz.
— Sim. – Dizemos juntos.
...
— Agora os votos.
Ficamos de frente um pro, outro e começamos a dizer:
— Eu sou seu.
— Eu sou sua.
— Ele é meu
— Eu sou seu a partir de hoje...
— ... E sou sua até os últimos dias da minha vida.
— Nós dois juntos...
— ... Para toda eternidade.
E assim compartilhamos juntos as nossas promessas.
...
Tudo volta a realidade quando percebo que novamente sonhei com este dia qual amaldiçoei. O dia que casei com um mafioso desgraçado.
Levanto e percebo que estou suada, vou até o banheiro, lavo o rosto e vou até à sacada, olhar para o céu e para o meu azar a Lua está tão linda quanto no dia qual ele me deixou e só voltou, para concluir seu maldito serviço.
Lembro bem da sua última frase: "Eu voltarei meu amor eu juro e quando sentir minha falta olhe para a lua e toda vez que fizer estarei lembrando de você e estarei fazendo o mesmo de onde estiver."
Fixo bem meus olhos naquela bola brilhante.
— Em breve estaremos, cara a cara, querido marido.
Falo ironicamente e com muito ódio.
Lucca Salvatore
Faço meus filhos dormirem como todos os dias, passo pelas cortinas esvoaçantes e sento numa cadeira que tem ali na sacada, pego o meu cigarro do bolso e preencho meu copo com uísque, encosto e olho para cima e vejo a Lua brilhando.
Viro pescoço e vejo que meus filhos estão quietinhos, solto a fumaça após uma tragada, dou um gole na minha bebida e volto a olhar a Lua.
— Por que esse maldito vazio não sai de mim? Cadê você que me faz tanta falta? Mais que a odeio na mesma intensidade.
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