Capítulo Seis
**Guilherme**
Continuação do flashback
Me coloco em uma posição de luta, mas Tiago ainda continua parado, apenas me observando. O tatame estava desgastado e coberto por marcas de treinos passados, e a tensão no ar era palpável. O olhar severo de nosso pai parecia incidir sobre nós como um peso invisível.
— Vamos, não tenho o dia todo! — grita nosso pai, sua voz ressoando na sala.
Decido tomar a iniciativa e avanço contra Tiago. No entanto, ele recua, desviando-me com precisão, fazendo-me perder o equilíbrio e cair de barriga no tatame. O chão é duro e frio, e sinto um impacto doloroso no estômago.
— Tiago! O que foi isso? Terá pena dos seus inimigos? Um Petrov não recua! Quero seriedade! Não pode se ter piedade nem mesmo com a família, sabe muito bem disso! — diz nosso pai com uma expressão severa.
— Sim, senhor... — concorda Tiago, sua voz grave e tensa.
Rodamos um pouco pelo tapete, mas ele continua desviando meus ataques com facilidade. Decido avançar novamente, mas Tiago me agarra e puxa meu braço para trás. A dor é aguda, e eu grito.
— Ahhhh... Ahhhh... Certo, você venceu... venceu... irmão... ahhhhh! — grito, tentando aliviar a dor. Seu rosto permanece impassível.
Logo, Tiago afrouxa um pouco o braço, mas o olhar de nosso pai é implacável.
— Vamos, Tiago! Teve alguma luta sequer que ficou inacabada? Termine ou eu termino! — ameaça nosso pai. Sinto o peso do olhar de Tiago sobre mim, e ele coloca pressão em minhas costas, fazendo-me gritar de dor.
A pressão do seu pé nas minhas costas e a dor aguda no ombro são intensas. Eu grito, chamando por nosso pai, desesperado.
— Ahhhhhhh!!!!! Pai!!! — chamo, vendo-o se aproximar com uma expressão severa.
— Levante-se! Você é um Petrov! Por mais que sua mãe tenha te deixado mole! — diz ele com uma postura firme e autoritária. — Me mostre, Guilherme, que você não é um fraco. Ponha-se de pé, p***a!
— Não consigo, pai!!! — exclamo, a dor me fazendo chorar.
Sinto meu pai puxar meus cabelos e me forçar a me levantar.
— EU MANDEI SE COLOCAR DE PÉ!!!! — ele ordena, e logo me solta, fazendo-me bater o queixo no tatame. A dor é intensa, e mordo minha língua.
Olho para Tiago, que está de pé, com uma expressão preocupada.
— Irmão... me ajude...!!! — peço, quase engasgando com meu próprio sangue. Vejo Tiago dar um passo em minha direção, mas nosso pai o impede.
— Se ajudá-lo, sabe muito bem o que irá acontecer com você! Não terei misericórdia — diz nosso pai.
Tiago, apesar de seu olhar preocupado, se afasta e não pode ajudar. Depois disso, sou deixado em meu quarto, com meu braço aparentemente fora do lugar.
— Nunca mais faça isso novamente!!! — diz Tiago, examinando meu braço. — Acho que só saiu do lugar. Se eu tivesse dado mais pressão como de costume, estaria quebrado.
— Você podia muito bem não ter feito isso! — grito, a dor ainda intensa.
— Tive que te dar uma lição para que nunca mais ousasse fazer isso novamente. Sabia muito bem que só sairíamos de lá se um de nós perdesse — diz Tiago, com um olhar sério.
— Morde isso! — ele diz, tentando realinhar meu braço.
— Para que isso, ai! — exclamo, sentindo a dor.
— Querido! Você está bem? — minha mãe entra desesperada.
— Como você pode fazer isso com seu irmão? — diz ela, dando um tapa no rosto de Tiago.
Tiago apenas nos olha e sai novamente, com sua expressão neutra.
— Vamos, vou te levar ao médico, querido — diz minha mãe, tentando acalmar a situação.
**Fim do flashback**
Ele poderia não ter feito mais, escolheu fazer! Eu sei que podia! Aquele desgraçado... ele podia!
Tive medo de lutar novamente, mas não durou muito. As brigas se tornaram mais comuns ao longo dos anos.
**Tiago**
— Maldição! — grito, batendo em minha mesa. A secretária se assusta com o meu surto.
— Algo problema, senhor Petrov? — pergunta, visivelmente nervosa.
A fito com os olhos semicerrados.
— Não, imagina. Só bati por instinto, sabe? i****a! Incipiente! Sabe a quantidade de armas que sumiram? Aqueles desgraçados! — falo, colocando as mãos nas têmporas.
— Chega por hoje para mim! — digo, saindo do escritório. Tudo isso só me fez ter dor de cabeça.
Entro em casa e me deixo cair no sofá, exausto.
— Ahhhhhhh — ouço um choro irritante.
Quem é essa maldita peste que me perturba? — resmungo, tentando respirar fundo e localizar a origem do choro.
Sigo o som e encontro um quarto de hóspedes, onde o bebê chora sem parar. Meu estômago revira ao ver a cena.
— Quem trouxe isso para dentro da minha casa?!! — penso.
— O Noah chegou — diz Guilherme, invadindo minha sala.
— Que diabos é Noah? — pergunto, confuso.
— A criança que você deixou sem família! — responde Guilherme.
— Como é que é? Você trouxe o moleque para nossa casa? Nossa, irmãozinho, eu não sei nem como lhe agradecer! — falo com sarcasmo, e em seguida jogo um jarro em sua direção.
— Você é i****a ou finge? Eu lhe disse que não queria aquela coisa aqui dentro! — exclamo, irritado.
— Cala a boca, peste! — grito, enquanto o choro continua sem cessar.
Coloco as mãos na cabeça, agoniado.
— Que p***a! — grito, saindo do quarto em busca de alguma empregada.
Logo me lembro que é o dia de folga dela.
— Que merda! O que eu faço? — penso, frustrado.
Corro até o escritório, mas não a encontro. Lembro que a liberei mais cedo.
— Luísa! — a palavra surge em minha mente, e corro até a cela dela.
Abro a cela e arrasto Luísa até o quarto onde o bebê está.
— Por favor... Não! Me solta! — ela implora, parando quando percebe o choro.
— De um jeito nisso, ou mato o seu irmão! — a ameaço.
— Faça esse choro calar a boca! Para ontem! — mando, a irritação evidente na minha voz.
A deixo com o bebê e volto para a sala.
— Nada desse choro passar! — penso, massageando as têmporas.
— Se... senhor — gagueja Luísa.
— O que quer? — falo, sem paciência.
— É que... preciso saber... onde fica a cozinha... — diz, receosa, com a cabeça baixa e o bebê aos berros em seu colo, já quase roxo.
Levanto e a levo até a cozinha, me sentando na ilha e observando seus passos. Luísa pega uma panela, coloca no fogão e começa a preparar o leite para o bebê.
— Joga em seu pulso? Pra que fazer isso? — me pergunto mentalmente, frustrado com a situação.
A cena do bebê chorando continua.
— Preciso resolver sobre o roubo! — penso, deixando Luísa com um dos meus soldados e indo para o porão.
Abro a cela onde Eric está.
— Boa noite... confortável? — digo, mas ele apenas me olha, em silêncio.
— Sua mãe não te ensinou que é falta de educação não falar com as pessoas? — alfineto.
— Lave a sua boca para falar da minha mãe — responde Eric, com raiva.
— Você ainda está falando! Ufa, ainda bem que pensei que já tinha mandado arrancar sua língua — digo, mudando a expressão para uma mais fria.
— Agora vamos ao que me interessa. Preciso que faça algo para mim! — digo, sério.
— Nem morto! — responde Eric, desafiador.
— Estou cogitando, mas não me teria serventia alguma. Olha, estou pegando leve. Acredite... mas podemos pensar de outra forma... como... com a sua querida irmãzinha. Muito linda, não? Tenho cinco homens que adorariam conhecê-la. Até mesmo eu não me importaria de me divertir um pouco com ela — digo, provocador.
— Diga o que tenho que fazer! — grita Eric, interrompendo-me.
— Se infiltrar em 'La Casa Nostra'. Simples — vejo seus olhos arregalarem.
— Que!!!??? Eu vou morrer se for!!! — grita, desesperado.
— Isso mesmo. E você irá morrer se não for também... melhor que esteja vivo! Até porque sua irmãzinha se responsabilizou por você, não foi? — falo, colocando a mão no queixo.
— Está bem... — suspira Eric, derrotado. — Meus homens irão te ensinar o básico. Não me decepcione, caso contrário, eu mesmo te mato e quebro aquela coisinha lá em cima! — digo, com uma ameaça latente, antes de me retirar da cela.
Volto para cima e encontro Luísa ainda em pé no meio da sala.
— Se... senhor... seu filho, ele... — Luísa começa, mas não a deixo terminar.
— Aquele bastardo não é meu filho! — exclamo, visivelmente irritado. — Odeio crianças!
— Perdão... o bebê dormiu — diz Luísa, com um alívio visível.
— Supõe-se que você faça o mesmo! Fique no mesmo quarto! Adiante! — grito, e ela pula de medo.
Vou para o meu quarto e tomo um banho longo e demorado, tentando esfriar a cabeça e aliviar a tensão. Enrolo uma toalha na cintura e desço as escadas. Abro a geladeira e pego meu jantar. Quando fecho a porta, vejo Luísa parada, me observando.
— O que quer? — pergunto, despertando-a de seus pensamentos.
— Eu... eu... vou esquentar e deixar a mamadeira do bebê pronta... — diz, ainda nervosa.
Vou até o micro-ondas e vejo Luísa preparar o leite. Ela está visivelmente cansada e tensa, mas cumpre suas tarefas.
— Coma alguma coisa — digo, lembrando que ela não comeu desde que chegou.
— Mas o senhor... — começa Luísa, hesitante.
— Estou mandando! — interrompo, com uma firmeza que não deixa espaço para discussão.
— Sim... — responde Luísa, pegando um prato e começando a comer, ainda com um olhar de preocupação.
Enquanto isso, eu me sento, a cabeça pesada com o peso das responsabilidades e problemas que parecem se acumular. O bebê, agora alimentado, começa a adormecer, e o silêncio volta a reinar na casa. Tento me concentrar no que fazer a seguir, ponderando sobre a situação do roubo e o que mais precisa ser resolvido.
Mas mesmo assim, a tensão não diminui. Cada desafio que enfrento parece apenas adicionar mais um peso ao meu fardo.
Guilherme
Continuação do flashback
Me coloco em uma posição de luta hesitante, mas Tiago permanece parado, seus olhos fixos em mim com uma intensidade fria. O tatame, desgastado e marcado por inúmeros treinos passados, exala um cheiro característico de suor e poeira. A tensão no ar é quase palpável, e o olhar severo de nosso pai paira sobre nós como uma sentença.
— Vamos, Guilherme, não tenho o dia todo para suas hesitações! — grita nosso pai, sua voz grossa ressoando pela sala de treinamento.
Decido tomar a iniciativa, avançando contra Tiago com um movimento desajeitado. No entanto, ele recua com uma precisão quase sobrenatural, desviando do meu ataque com facilidade e me fazendo perder o equilíbrio. Caio de barriga no tatame, o impacto doloroso ecoando pelo meu corpo. O chão duro e frio me atinge com força, e sinto um baque seco no estômago, tirando o ar dos meus pulmões.
— Tiago! O que foi isso? Terá pena dos seus inimigos? Um Petrov não recua! Quero seriedade! Não pode se ter piedade nem mesmo com a família, sabe muito bem disso! — repreende nosso pai com uma expressão dura e severa, o cenho franzido e os olhos faiscando de raiva.
— Sim, senhor... — concorda Tiago, sua voz grave e tensa, sem desviar o olhar do pai.
Rodamos um pouco pelo tatame, uma dança desajeitada onde eu tentava inutilmente acertar um golpe e Tiago desviava de todos com uma facilidade irritante. Decido avançar novamente, com mais determinação, mas Tiago me agarra com firmeza e puxa meu braço para trás em um movimento rápido e preciso. A dor é aguda, lancinante, e um grito escapa da minha garganta.
— Ahhhh... Ahhhh... Certo, você venceu... venceu... irmão... ahhhhh! — grito, tentando desesperadamente aliviar a dor que irradiava pelo meu braço. O rosto de Tiago permanece impassível, seus olhos sem nenhuma emoção.
Logo, Tiago afrouxa um pouco a pressão em meu braço, percebendo talvez a intensidade da minha dor, mas o olhar implacável de nosso pai o impede de me soltar completamente.
— Vamos, Tiago! Teve alguma luta sequer que ficou inacabada em sua vida? Termine o que começou ou eu mesmo termino! — ameaça nosso pai, sua voz carregada de frieza. Sinto o peso do olhar de Tiago sobre mim, um misto de preocupação e resignação, e ele aumenta a pressão em minhas costas com o pé, fazendo-me gritar de dor novamente.
A pressão do seu pé em minhas costas e a dor aguda e latejante no ombro são quase insuportáveis. Eu grito, chamando por nosso pai, implorando por ajuda, desesperado para que aquela tortura acabasse.
— Ahhhhhhh!!!!! Pai!!! — chamo, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto o vejo se aproximar com uma expressão ainda mais severa do que antes.
— Levante-se! Você é um Petrov! Por mais que sua mãe tenha te deixado mole! — diz ele com uma postura firme e autoritária, segurando meu braço com força. — Me mostre, Guilherme, que você não é um fraco como ela. Ponha-se de pé, p***a!
— Não consigo, pai!!! — exclamo entre soluços, a dor me fazendo chorar de forma incontrolável.
Sinto meu pai puxar meus cabelos com brutalidade, forçando-me a me levantar. A dor no couro cabeludo se soma à dor no ombro, tornando tudo ainda mais insuportável.
— EU MANDEI SE COLOCAR DE PÉ!!!! — ele ordena com fúria, e logo me solta bruscamente, sem nenhuma delicadeza, fazendo meu queixo bater com violência no tatame. A dor é lancinante, e mordo minha língua para não gritar mais. O gosto metálico do sangue invade minha boca.
Olho para Tiago, que está de pé, me observando com uma expressão preocupada e culpada.
— Irmão... me ajude...!!! — peço, quase engasgando com meu próprio sangue. Vejo Tiago dar um passo hesitante em minha direção, mas nosso pai o impede com um gesto brusco.
— Se ousar ajudá-lo, sabe muito bem o que irá acontecer com você, Tiago! Não terei misericórdia! — adverte nosso pai, seu olhar gélido fixo em Tiago.
Tiago, apesar do seu olhar preocupado e cheio de remorso, se afasta lentamente, impotente diante da ordem do pai. Depois disso, sou deixado sozinho em meu quarto, com meu braço aparentemente fora do lugar, a dor pulsando intensamente.
— Nunca mais faça isso novamente!!! — diz Tiago, entrando em meu quarto mais tarde e examinando meu braço com cuidado. — Acho que só saiu do lugar. Se eu tivesse dado mais pressão como de costume, estaria quebrado.
— Você podia muito bem não ter feito isso! — grito, a dor e a raiva me consumindo.
— Eu tive que te dar uma lição para que nunca mais ousasse fazer isso novamente. Sabia muito bem que só sairíamos de lá se um de nós perdesse — diz Tiago, com um olhar sério e impassível, como se estivesse apenas cumprindo um dever.
— Morde isso! — ele diz, tentando realinhar meu braço com um movimento brusco.
— Para que isso, ai! — exclamo, sentindo a dor aguda e lancinante percorrer meu corpo.
— Querido! Você está bem? — minha mãe entra no quarto desesperada, seus olhos marejados de preocupação.
— Como você pode fazer isso com seu irmão, Tiago? — repreende ela, dando um tapa forte no rosto de Tiago, que não reage.
Tiago apenas nos olha com sua expressão neutra de sempre e sai do quarto sem dizer uma palavra.
— Vamos, querido, vou te levar ao médico imediatamente — diz minha mãe, tentando me acalmar enquanto me ajudava a me levantar.
Fim do flashback
Ele poderia ter me soltado antes, ele escolheu continuar! Eu sei que ele podia ter evitado aquela dor! Aquele desgraçado… ele podia! A amargura e a raiva retornam com força total.
Depois daquele dia, tive medo de lutar novamente, o trauma da dor e da humilhação me assombrando. Mas esse medo não durou muito. As brigas e as agressões se tornaram mais comuns ao longo dos anos, moldando a relação conturbada que temos até hoje.
Tiago
— Maldição! — grito, batendo com força na minha mesa de mogno. A secretária, que estava organizando alguns documentos, se assusta com o meu surto de raiva e dá um pequeno pulo.
— Algum problema, senhor Petrov? — pergunta, visivelmente nervosa, seus olhos arregalados me encarando com apreensão.
A fito com os olhos semicerrados, tentando controlar a fúria que me domina.
— Não, imagina, Senhorita Orlov. Apenas bati na mesa por puro instinto, sabe? i****a! Incipiente! Sabe a quantidade de armas que sumiram do nosso estoque? Aqueles desgraçados! — falo, colocando as mãos nas têmporas e massageando-as com força, tentando aliviar a dor de cabeça que começava a me atormentar.
— Chega por hoje para mim! — digo, saindo do escritório com passos rápidos e pesados. Tudo isso só me fez ter uma dor de cabeça infernal.
Entro em casa e me deixo cair no sofá de couro preto, exausto física e mentalmente.
— Ahhhhhhh — ouço um choro irritante e persistente vindo de algum lugar da casa.
Quem é essa maldita peste que insiste em me perturbar? — resmungo entre dentes, tentando respirar fundo e localizar a origem do choro incessante.
Sigo o som irritante e encontro um dos quartos de hóspedes, onde encontro a fonte do barulho: um bebê chorando sem para.
Meu estômago revira ao ver a cena. Odeio crianças.
— Quem, em sã consciência, trouxe isso para dentro da minha casa?!! — penso com raiva.
*— O Noah chegou — diz Guilherme, invadindo minha sala com uma expressão desafiadora, como se estivesse me testando.
— Que diabos é Noah? — pergunto, franzindo a testa e desviando o olhar dos papéis sobre a mesa. Aquele nome não me dizia nada.
— A criança que você deixou sem família! O órfão, lembra? — responde Guilherme com sarcasmo, enfatizando as palavras como se eu fosse um monstro sem coração.
— Como é que é? Você trouxe o moleque para nossa casa? Nossa, irmãozinho, eu não sei nem como lhe agradecer por essa brilhante demonstração de… compaixão! — falo com sarcasmo ácido, levantando-me bruscamente e, em seguida, arremessando um pesado jarro de cristal em sua direção. O objeto passa a centímetros de sua cabeça e se espatifa na parede atrás dele, os cacos voando pelo chão.
— Você é i****a ou finge ser? Eu lhe disse claramente que não queria aquela coisa aqui dentro! O que você tem na cabeça? Merda? — exclamo, a raiva pulsando em minhas têmporas.*
O choro do bebê continua inabalável, um som estridente que me penetra os ouvidos como agulhas.
— Cala a boca, peste! — grito para o nada, como se pudesse silenciar a criança com a minha voz.
Coloco as mãos na cabeça, massageando as têmporas com força, tentando em vão afastar a dor lancinante que se instalava ali.
— Que p***a! — grito, saindo do escritório em busca de alguma empregada que pudesse resolver aquele problema.
Logo me lembro que é o dia de folga dela. Uma onda de frustração me invade.
— Que merda! O que eu faço agora com essa criatura? — penso, exasperado.
Corro de volta para o escritório, na vã esperança de encontrar alguma solução, mas a sala está vazia.
— Luísa! — a palavra surge em minha mente como uma epifania distorcida, e corro até a cela dela.
Abro a porta de ferro com um estrondo e, sem nenhuma delicadeza, agarro Luísa pelo braço e a arrasto pelos corredores até o quarto de hóspedes onde o bebê está.
— Por favor... Não! Me solta! Está me machucando! — ela implora, tentando se desvencilhar do meu aperto, mas parando abruptamente ao ouvir o choro alto do bebê.
— Dê um jeito nisso, ou eu juro por Deus que mato o seu irmão! — a ameaço friamente, sem desviar o olhar de seus olhos assustados.
— Faça ele parar! para ontem! — mando, a irritação transbordando em minha voz.
Deixo-a ali, plantada no meio do quarto com o bebê berrando a plenos pulmões, e volto para a sala, batendo a porta com força atrás de mim.
— Nada desse choro passar! — penso, massageando as têmporas com ainda mais força. A dor de cabeça só piorava.
Pouco depois, Luísa aparece na sala, hesitante e com uma expressão nervosa.
— Se... senhor — gagueja ela, com a cabeça baixa.
— O que quer agora? Não vê que estou ocupado? — falo, sem nenhuma paciência.
— É que... preciso saber... onde fica a cozinha...tenho que preparar… o leite para o bebê…ele está com fome....— diz, receosa, com a cabeça baixa e o bebê ainda aos berros em seu colo, já quase roxo de tanto chorar.
Revirei os olhos com impaciência, mas me levantei e a levei até a cozinha, sem dizer uma palavra. Sentei-me na ilha central e observei seus movimentos desajeitados. Luísa pegou uma panela, colocou-a no fogão e começou a preparar o leite para o bebê, seguindo um ritual lento e cuidadoso.
— Joga no pulso? Pra que diabos ela está fazendo isso? — me pergunto mentalmente, ainda mais frustrado com a situação.
A cena do bebê chorando continuava a me irritar profundamente.
— Preciso resolver logo sobre o roubo! Isso é mais importante do que essa… babá improvisada — penso, decidindo deixar Luísa aos cuidados de um dos meus soldados. Saio da cozinha e sigo para o porão, onde Eric estava preso.
Abro a cela onde Eric está trancafiado. A escuridão e o cheiro de mofo impregnado nas paredes criam uma atmosfera ainda mais sombria.
— Boa noite… confortável? — digo com um tom irônico, mas ele apenas me olha com raiva, em silêncio.
— Sua mãe não te ensinou que é falta de educação não falar com as pessoas, principalmente com seus superiores? — alfineto, com um sorriso debochado.
— Lave a sua boca imunda para falar da minha mãe, seu verme! — responde Eric, com os olhos faiscando de raiva.
— Ora, ora, parece que você ainda tem língua! Ufa, ainda bem que pensei que já tinha mandado arrancar essa sua língua suja — digo, mudando a expressão para uma frieza glacial.
— Agora vamos ao que realmente interessa. Preciso que faça um pequeno trabalho para mim! — digo, aproximando-me da cela e falando em um tom sério e ameaçador.
— Nem morto! Prefiro apodrecer aqui! — responde Eric, com um olhar desafiador.
— Estou cogitando essa possibilidade, devo confessar, mas você não me teria serventia alguma morto. Olha, estou pegando leve com você, acredite… mas podemos pensar de outra forma, em algo mais… digamos… persuasivo. Que tal falarmos sobre a sua querida irmãzinha? Muito linda, não é mesmo? Tenho cinco homens que adorariam conhecê-la melhor. Até mesmo eu não me importaria de me divertir um pouco com ela — digo, com um tom provocador e um sorriso sádico nos lábios.
Os olhos de Eric se arregalam em horror e fúria.
— Diga logo o que você quer que eu faça, seu desgraçado! — grita Eric, interrompendo-me antes que eu pudesse continuar com minhas provocações cruéis.
— Simples. Preciso que você se infiltre em ‘La Casa Nostra’. Nada de mais — digo, vendo seus olhos se arregalarem ainda mais em descrença.
— Que!!!??? Você está louco? Eu vou morrer se fizer isso!!! — grita, desesperado.
— Isso mesmo. E você irá morrer se não fizer também… então é melhor que esteja vivo, não acha? Até porque sua irmãzinha se responsabilizou por você, não foi? Seria uma pena se algo acontecesse com ela por sua causa — falo, colocando a mão no queixo em um gesto pensativo, como se estivesse considerando as possibilidades.
— Está bem… eu faço — suspira Eric, derrotado, a cabeça baixa em sinal de rendição.
— Ótimo. Meus homens irão te ensinar o básico para que você não faça papel de i****a por lá. Não me decepcione, Eric, caso contrário, eu mesmo te mato e quebro aquela coisinha preciosa que você tem lá em cima! — digo, com uma ameaça latente em minha voz, antes de me retirar da cela, deixando-o sozinho com seu desespero.
Volto para a parte de cima da casa e encontro Luísa ainda em pé no meio da sala.
— Se… senhor… seu filho, ele… — Luísa começa a falar, mas não a deixo terminar a frase.
— Esse bastardo não é meu filho! — exclamo, visivelmente irritado com a mera menção da criança. — Odeio crianças!
— Perdão… o bebê finalmente dormiu — diz Luísa, com um alívio visível em sua expressão.
— Supõe-se que você faça o mesmo! Fique no mesmo quarto que ele! E não ouse sair de lá sem minha permissão! Adiante! — grito, e ela se encolhe de medo, obedecendo imediatamente minha ordem.
Vou para o meu quarto e tomo um banho longo e demorado, tentando esfriar a cabeça e aliviar a tensão que me consumia. Enrolo uma toalha na cintura e desço as escadas, faminto. Abro a geladeira e pego meu jantar. Quando fecho a porta, vejo Luísa parada ali perto, me observando com cautela.
— O que quer? — pergunto, despertando-a de seus pensamentos. Meu tom é ríspido, sem nenhuma intenção de ser gentil.
— Eu… eu… vou esquentar e deixar a mamadeira do bebê pronta… para quando ele acordar — diz Luísa, ainda nervosa com a minha presença, os olhos fixos em suas mãos, como se estivesse contando os próprios dedos.
Vou até o micro-ondas, observando-a de soslaio enquanto ela prepara o leite com movimentos lentos e cuidadosos. Ela está visivelmente exausta e tensa, as olheiras sob seus olhos denunciando noites m*l dormidas. Mesmo assim, cumpre suas tarefas com uma determinação silenciosa.
— Coma alguma coisa — digo, lembrando-me subitamente de que ela não comeu desde que chegou à minha casa. A ideia de que ela pudesse estar passando fome me causa um breve incômodo, que logo ignoro.
— Mas o senhor… … — começa Luísa, hesitante, desviando o olhar.
— Estou mandando! Não me faça repetir — interrompo, com uma firmeza que não deixa espaço para discussão. Minha voz ecoa pela cozinha silenciosa, fazendo-a encolher os ombros.
— Sim, senhor… — responde Luísa em um sussurro, pegando um prato com as mãos trêmulas e começando a se servir com uma pequena porção de comida. Seus olhos, porém, permanecem fixos no prato, e sua expressão continua preocupada.
Enquanto isso, eu me sento pesadamente em uma das cadeiras da ilha, a cabeça latejando com o peso das responsabilidades e dos problemas que parecem se acumular a cada dia.