Guilherme
"O Noah chegou," disse, entrando sem bater e vendo Tiago levantar os olhos para mim, uma expressão de irritação em seu rosto.
"Que diabos é Noah?!" Tiago perguntou, seu tom de voz estava mais áspero e irritado do que o habitual.
"A criança que você deixou sem família!" Respondi, sabendo que aquilo o enfureceria ainda mais, mas eu não me importava. Alguém precisava confrontá-lo. "Você vai soltar os cachorros em cima de mim agora, não é?" Provoquei, cruzando os braços.
"Como é que é? Você trouxe o moleque para a minha casa? Nossa, irmãozinho, eu não sei nem como lhe agradecer!" Ele disse com um tom sarcástico e venenoso, o desprezo evidente em cada palavra.
"Eu acho que vou pedir um chá!" Pensei rapidamente, tentando evitar a fúria crescente que emanava de Tiago. Foi quando vi um jarro de cristal voar em minha direção, passando a centímetros do meu rosto e se espatifando na parede atrás de mim. Os cacos se espalharam pelo chão, o barulho alto ecoando pelo escritório.
"Você é i****a ou finge ser?" Ele gritou, seu rosto contorcido em uma máscara de raiva. As veias de seu pescoço saltavam. "Eu lhe disse que não queria aquela coisa aqui dentro!"
"Você me mandou resolver a situação, então mamãe e eu resolvemos," falei, tentando manter a calma apesar do meu coração estar acelerado. Um sorriso amargo brotou em meus lábios.
"Claro, tinha que ser. A Magda sempre se mete onde não deve!" Tiago se levantou bruscamente da cadeira, sua raiva quase palpável no ar. "A mamãe tem o direito! Ela ainda é a matriarca!" Defendo.
"Por pouco tempo, acredite! Você mais do que ninguém sabe o que eu fiz com o 'papai', e agora, por que não fazer o mesmo com a 'mamãe'?" Ele me encarou, seus olhos antes frios agora carregados de uma fúria contida, a ameaça pairando no ar como uma névoa densa.
Perdi a paciência, a menção à nossa mãe foi a gota d'água. Acertei um soco certeiro em seu olho, a força da raiva me impulsionando. Ele cambaleou para trás, surpreso com a minha ousadia, mas se recompôs rapidamente, um sorriso de escárnio surgindo em seus lábios. "Você acha que pode me desafiar? Não tente!" Sua voz era baixa e ameaçadora.
Tiago se aproximou com passos lentos e calculados, seus olhos fixos nos meus. Em um movimento rápido, ele me acertou um soco no queixo, a dor aguda me fazendo perder o equilíbrio e cair no chão. A sala girava ao meu redor. "Quem é você, Guilherme? Você não pode competir comigo! Então não tente!" Ele vociferou, sua voz ecoando pelo escritório.
"Aprenda uma coisa de uma vez por todas! Nem você, nem ninguém pode me desafiar!" Ele gritou, apontando um dedo acusador para mim, seus olhos faiscando de raiva.
"Eu ainda vou te tirar desse pódio! Você não merece estar onde está!" Gritei de volta, a raiva fervendo em minhas veias. Enquanto me colocava de joelhos com um puxão brusco pelos cabelos, Tiago me acertou um chute forte no queixo, a dor me fazendo cair novamente no chão, a cabeça batendo contra o piso frio.
Coloquei a mão no queixo latejante, sentindo a ardência e o gosto metálico de sangue na boca. Cuspi imediatamente, o sangue tingindo o chão.
"Eu não mereço? Eu não mereço?" Repetia como um louco . "Eu me preparei desde que nasci para isso, e ainda não estou pronto? E quem seria o próximo, já que eu não mereço?" Questiona, a voz carregada de ironia.
"Eu," vi Tiago rir com escárnio, o som ecoando pela sala. "Acha mesmo que não dou conta?" O desafio
Tiago parou de rir abruptamente, seu rosto se tornando inexpressivo, seu olhar frio e calculista. "Peguem ele!" Ordenou aos soldados que estavam presentes na sala, observando a cena em silêncio.
"Mais o que?!" Gritei, a incredulidade e o medo evidentes em minha voz. Não podia acreditar que ele faria isso comigo.
"Vamos ver, irmãozinho, se você dá conta de passar um tempo trancado. Prendam-no na cela!" Tiago ordenou com frieza, ignorando meus protestos.
"VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!" Gritei, a impotência e a raiva se misturando em um turbilhão de emoções.
"Já fiz." Tiago disse simplesmente, dando de ombros com um sorriso c***l enquanto eu era agarrado pelos braços e arrastado para fora de seu escritório. A humilhação era completa. Fui jogado em uma cela escura e fria, a porta de ferro se fechando com um estrondo atrás de mim. O eco do riso de Tiago ainda soava em meus ouvidos....
Tiago
Acordei ainda com a mesma dúvida martelando em minha cabeça sobre Luísa. Tomei um banho rápido, tentando em vão afogar as lembranças da noite anterior, e desci as escadas em direção ao porão. A imagem dela dormindo, com os cachos espalhados e os lábios entreabertos, insistia em permanecer em minha mente.
Quando cheguei perto da cela de Luísa, vi a porta aberta, e a cena dentro me enfureceu. Dois de meus homens, claramente desobedecendo minhas ordens, estavam dentro da cela: um segurando Luísa pelos braços, enquanto o outro estava caído no chão, contorcendo-se de dor.
"Mas que p***a é essa?!" exclamei, aproximando-me da entrada com passos rápidos e furiosos. A visão de Luísa sendo tocada por aqueles vermes me enojou profundamente.
Sem hesitar, mandei executar os dois soldados ali mesmo, por desobediência e por ousarem tocar nela sem minha permissão. A frieza da minha ordem ecoou pelo porão. Saí da cela, deixando seus corpos inertes para trás, e dei uma nova ordem aos outros guardas. Ninguém, absolutamente ninguém, deveria se aproximar da cela de Luísa sem minha expressa autorização.
"Vamos ver se ela se acalma agora," pensei, com um tom de frieza na voz. A raiva ainda borbulhava em minhas veias.
Quebra de Tempo
"Filho da mãe!" rosnei, a raiva me consumindo.
"Que merda ele acha que é para dizer que não mereço estar onde estou?!" gritei, perdendo o controle e lançando um vaso de cristal contra a parede. O objeto se estilhaçou em mil pedaços, o barulho ecoando pela sala.
Desde que nasci, fui destinado a isso, fui preparado para liderar. E aquele... aquele verme acha que tem o direito de questionar meu lugar? Ele não conseguiria suportar nem metade do que eu suportei, nem metade das provações que enfrentei! Vamos ver se ele tem a coragem que tanto alardeia.
"Acho que quebrar o braço dele não foi o bastante!" pensei, com um sorriso frio e c***l nos lábios. A sede de vingança me consumia.
Peguei qualquer bebida que encontrei pela frente, um whisky forte e amargo, precisava urgentemente me acalmar antes que fizesse algo de que me arrependesse - ou talvez não.
Pouco tempo depois de ter levado Guilherme para a cela, ouvi uma movimentação e vozes alteradas do lado de fora da minha sala.
"A senhora não pode entrar assim!" dizia a voz tensa da Senhorita Orlov, minha secretária.
"Quem você pensa que é para me dizer o que devo ou não fazer?!" gritava uma voz feminina familiar, carregada de fúria.
Eu já sei até quem é... pensei, revirando os olhos e inclinando a cabeça para trás, esperando que Magda entrasse na sala, preparado para mais uma de suas cenas.
"Como ousa fazer isso com seu próprio irmão, Tiago?!" gritou Magda, entrando em meu escritório como uma tempestade. Seus olhos estavam vermelhos de raiva e preocupação.
"Foi ele quem começou, querendo me tirar do lugar que é meu por direito... Só quero ver se ele tem tudo isso que diz ter..." respondi calmamente, sorrindo friamente enquanto girava uma caneta entre meus dedos, ignorando sua fúria.
"Você vai tirá-lo de lá agora, Tiago, ou vou ao conselho hoje mesmo!" gritou, batendo com força na minha mesa, fazendo alguns papéis voarem.
"É engraçado, não é?" falei, com um tom de deboche, retirando a arma da minha cintura e colocando-a suavemente sobre a mesa, o som metálico ecoando pelo silêncio tenso.
"Comigo não teve essa frescura! Eu era tratado pior que aquele merdinha e sempre tinha que manter a minha postura desde muito jovem!" continuei, meu olhar fixo em seus olhos, transmitindo toda a frieza e amargura que guardava dentro de mim.
"O filho de um Petrov tinha que ser perfeito em tudo... Quase morri diversas vezes, e você não me deu nem um copo d'água!" cuspi as palavras, a raiva transbordando.
"Você fez alguma coisa? O que você fez com ele, Tiago?" ela perguntou, dando um passo para trás, o medo começando a surgir em seus olhos.
"Só peço que retire o seu irmão daquele lugar imundo..." disse, sua voz agora embargada, abaixando a cabeça em sinal de submissão.
"Ok... porém ele ainda vai arcar com as consequências de sua insubordinação: 24 horas trancado naquela cela e, a cada duas horas, um corretivo! E SEM VISITAS DE NINGUÉM!!!" enfatizei cada palavra para deixar claro que não estava brincando.
"Não acredito que você seja meu filho..." disse, derramando-se em lágrimas, a dor e a decepção estampadas em seu rosto.
"Muito menos eu!" respondi friamente, sem demonstrar nenhuma emoção, observando-a sair do meu escritório e fechar a porta com um estrondo.
Logo em seguida, meu celular tocou.
"Alô!" atendi, sem nenhuma paciência para mais interrupções.
"Sr. Petrov, queria falar comigo?" disse Marcos, meu investigador particular, na outra linha.
"Sim, quero que investigue Luísa Duarte Cooper. Quero saber onde ela estudou, sua data de nascimento, tudo sobre o passado dela, cada detalhe, e o tempo que passou em cada lugar!" ordenei secamente. Assim que terminei de dar as instruções, encerrei a ligação sem me despedir.
"Senhor!" falou um dos soldados que guardavam a porta do meu escritório, sua voz nervosa e hesitante.
"Fala, p***a!!!" gritei, perdendo a paciência novamente.
"Os... os armamentos, senhor... eles... eles não chegaram," disse ele, começando a perder a compostura, o medo transparecendo em seu rosto.
Levantei-me da cadeira bruscamente, ajeitando meu paletó e acenando para que um dos homens que ficavam na porta se aproximasse. Olhei o soldado nervoso de cima a baixo, avaliando seu estado de pânico.
"O que é isso?" perguntei, apontando para o soldado trêmulo.
"Ele é novo, senhor," respondeu o outro soldado, mantendo a cabeça baixa.
Cheguei ainda mais perto do recruta, meu olhar frio e intimidador. "Vê, língua presa?" dei pequenas batidas em seu rosto do lado direito, com os nós dos dedos. "É assim que se fala direito..." encarei-o firme em seus olhos, transmitindo toda a minha autoridade. "Por você ser novo aqui, vou deixar passar dessa vez..." Sua feição, apesar de tentar se manter séria, revelou um grande alívio.
"Mas isso não pode se repetir nunca mais..." me afastei, dando-lhe as costas. "Leve-o para fora e corte a língua dele," ordenei friamente, sem demonstrar nenhuma emoção.
"Senhor, por..." o soldado começou a implorar, o pânico tomando conta de si.
"Não, língua presa... Seja homem e enfrente as consequências de seus erros! Você não me mostrou ser útil falando, mas, por ser novo, estou disposto a reparar esse erro," disse, com um tom de falsa piedade.
"Eu lhe imploro, senhor..." ele suplicou, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
"É a língua ou a vida! Escolha!" rosnei, já perdendo a paciência com tanta enrolação.
O soldado se calou imediatamente, olhando para o chão em sinal de derrota.
"Agora ande logo! Antes que eu mude de ideia e faça com que minha empregada limpe o seu sangue do meu carpete persa!" ameacei, com um tom de desprezo. "Esteja ciente de que, sem mais erros, a próxima punição será um projétil na cabeça, e você perderá muito mais do que a língua..." me retirei do local, indo em direção à sala de reuniões, deixando o soldado tremendo e em choque.
Assim que entrei na sala de reuniões, Filipe me abordou com um olhar preocupado.
"Já soube do ocorrido com senhor?" perguntou.
"Sim, e tenho quase certeza de que foram aqueles italianos desgraçados que estão por trás disso. " digo, sem esconder a raiva, descansando as mãos sobre a mesa de reuniões.
"E está tranquilo com isso?" perguntou, notando minha aparente serenidade.
"Eu tenho um plano em mente! Talvez... colocando outra pessoa sem importância no meio, alguém descartável... vamos jogar o mesmo jogo sujo deles..." respondi, com um sorriso frio e calculista nos lábios, um brilho de malícia em meus olhos.
Luísa
"Maldito homem dos olhos azuis!" murmuro, a raiva fervendo em minhas veias. Aperto a almofada fina e dura contra o peito, como se pudesse sufocar a fúria que me consome. "Me deixou trancada aqui sem nada! Nem me alimenta... eu posso acabar..."
"Vou morrer!!!" penso, o pânico tomando conta de mim. A imagem da minha família, de Luma e Zoe, me invade a mente, aumentando ainda mais o meu desespero.
"Tenho que fugir daqui de qualquer jeito! Por elas."
"Irmão, no que você me meteu?" digo em voz alta, jogando a almofada com força contra a parede de cimento fria e úmida. O impacto seco ecoa pela cela, aumentando a sensação de isolamento.
Nesse instante, ouço o barulho da fechadura da cela se abrindo. O ranger da porta de ferro me faz enrijecer.
"Confortável?" ouço a voz fria e zombeteira do meu sequestrador. Vejo-o encostado no batente da porta, com um sorriso sínico estampado no rosto.
"Desgraçado," penso, virando a cabeça para o lado oposto, tentando ignorá-lo. Não quero dar a ele a satisfação de me ver abalada.
Depois de um momento de silêncio tenso, ouço seus passos se aproximando.
"Você sabe que isso não vai funcionar, né?" fala, segurando meu queixo com os dedos frios e apertando levemente, forçando-me a olhá-lo nos olhos. Mas resisto, mantendo o olhar fixo no chão sujo. Lembro das palavras da minha mãe, que sempre me dizia que eu era teimosa como uma mula quando queria.
"Olhe para mim!" ele ordena, a voz agora carregada de impaciência. Continuo sem obedecer.
"Quando eu falar com você, espero que obedeça. Não se esqueça de que seu querido irmãozinho está em minhas mãos, então pense direito nas suas atitudes..." ele fala, inclinando-se e colando seu nariz perto do meu ouvido. O hálito quente e o cheiro amadeirado de seu perfume me causam um arrepio.
Só de pensar no que ele pode estar fazendo com Eric, meus olhos voltam a arder, as lágrimas ameaçando cair.
Ao levantar o olhar, finalmente cedendo à sua pressão, percebo que ele está com os olhos fixos em minha boca. Um calafrio percorre meu corpo.
"Não! Não era isso que me faltava!" penso, o nojo e o medo se misturando.
Assim que vejo que ele se aproxima mais, com a clara intenção de me beijar, viro meu rosto bruscamente, evitando o contato. No entanto, sinto um aperto doloroso em minha mandíbula inferior, os dedos dele cravando em minha pele.
"Está... me machucando..." consigo dizer entre dentes, colocando minhas mãos sobre as dele, tentando afastá-las, mas ele me prende com a outra mão, segurando meus dois pulsos com uma força brutal. Seu rosto, que antes tinha um semblante de escárnio, agora não contém expressão alguma, o que o torna ainda mais assustador.
"Por favor..." peço, a voz tremendo e as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto.
"Me sinto fraca por dar esse gosto a ele..." penso com amargura.
"Não me machuque... por favor..." imploro, a voz embargada pelo choro.
Mas ele não parece ceder. A pressão em minha mandíbula aumenta, a dor se intensificando. Sinto a frustração e o desespero tomando conta de mim.
Finalmente, depois de um tempo que pareceu uma eternidade, ele me solta bruscamente, me empurrando para trás.
"Vamos!" diz, puxando-me pelo braço com força brutal, sem se importar com a minha fragilidade.
"Para onde?! Vai me matar?! Por favor, não me mate!" grito, tentando me soltar de seu aperto, mas ele me ignora e me empurra contra a parede fria.
"Me desculpe..." peço, sem saber o que mais fazer. Meu cérebro está em frangalhos, e me sinto completamente impotente diante daquele homem.
"Cale essa maldita boca!" ele ordena, trincando os dentes, sua voz um rosnado ameaçador.
Chegamos a outra cela, ainda menor e mais suja do que a anterior, com o chão coberto de detritos e um cheiro nauseabundo. Olho ao redor, desesperada, e meu coração quase para quando vejo algo se movendo no chão.
"Ah, meu Deus... uma cobra!" exclamo, o horror estampado em meu rosto.
"Não! Me tire daqui! Por favor, não me deixe aqui!" grito, o pânico tomando conta de mim e começando a tremer incontrolavelmente. A cobra se aproxima lentamente, deslizando pelo chão imundo.
Depois de um tempo gritando e tentando afastar a cobra com os pés, minha voz se esgota, e eu caio em um canto da cela, soluçando e tentando inutilmente recuperar o fôlego. O medo e a exaustão me paralisam.
A sensação de estar sozinha, sem comida, sem água e cercada por cobras é esmagadora. O medo constante e a fome me debilitam a cada minuto, e eu me sinto fraca, vulnerável e completamente abandonada.
Sento-me no chão frio, abraçando minhas pernas, tentando me manter acordada e alerta, embora o cansaço me envolva como uma névoa densa. O medo constante das cobras e o desespero da situação são quase insuportáveis. Com a mente turva e o corpo enfraquecido, me esforço para pensar em um plano de fuga, em qualquer possibilidade de escapar daquele inferno, mas minha capacidade de raciocínio está diminuindo a cada momento. As lembranças da minha vida com Eric e minha família me invadem, aumentando ainda mais a minha angústia.
Guilherme
"Me arrependo? Não, nem um pouco. Ele tinha que ouvir de alguém, mais cedo ou mais tarde." penso, a dor no queixo latejando.
Sinto o suor misturado com o sangue seco escorrer pelos meus cabelos e cair no chão. Estou acostumado a ser tratado dessa forma por Tiago. Desde criança, as brigas e as agressões físicas eram frequentes entre nós. Sei que nosso pai não pegou leve com ele em nenhum momento, mas sempre lhe disse que ele poderia ser melhor que ele, e não pior! Tiago, no entanto, parece ter escolhido o caminho oposto.
Não é a primeira vez que brigamos fisicamente. As disputas pelo poder e pela atenção do nosso pai sempre foram intensas, e muitas vezes acabavam em violência.
Flashback
Guilherme e Tiago, ambos com 8 anos, estavam no tatame, sob o olhar atento e severo do pai.
"Olha, mãe! Meu irmão é muito forte!" aponto para Tiago com empolgação, puxando minha mãe pela mão para que ela também pudesse ver o treino.
Havia insistido muito para que ela me trouxesse ali, pois queria assistir ao treino de Tiago. "Você também é querido," respondeu ela, sorrindo gentilmente para mim. "A mamãe vai até a cozinha pegar um copo de água e já volta, ok?" disse, levantando-se e saindo do local de treino.
"Também quero lutar!" falo com entusiasmo quando vejo Tiago finalizar a luta com um dos instrutores.
Nosso pai me analisa com o olhar frio e calculista de sempre. "Vá, Guilherme!" responde secamente, sem demonstrar nenhuma emoção.
Chego em frente a Tiago, que mantém sua expressão neutra e impassível de sempre, tanto no tatame quanto fora dele.
Me posiciono timidamente, imitando os movimentos que havia visto os outros fazerem.
"Comecem os dois!" fala nosso pai, dando o sinal para a luta começar.