Encontro com Bebel

860 Words
Capitão narrando Eu estava descendo o morro, focado nas próximas ações. Tinha acabado de conversar com o X9, e agora faltava só pegar o Marreta. O esquema estava sob controle, e eu já me preparava pra finalizar o dia quando um dos garotos me parou — Capitão, aquela tal de Bebel tá aí de novo. Quer subir e disse que não vai embora sem ver o capitão. O que faço? Franzi a testa, impaciente. De novo essa história? Já era a segunda vez que falavam dessa tal Bebel, e eu não fazia ideia de quem era. — Manda subir — falei, irritado. — Se der problema, resolvo junto com o Marreta. Passo os dois.. Continuei caminhando, mas minha cabeça já estava em outra. Quem era essa garota que insistia em aparecer no meu morro? Me sentei no posto de comando e esperei.. Quando a trouxeram até mim, a primeira coisa que vi foi a mancha de sangue na blusa dela. Me fez pensar. A blusa suja, o olhar perdido... Mas isso não mudava o que eu pensava ,o lugar de uma mulher bonita como aquela não era no meu morro. E logo notei, ela era a mulher da praia. Aquela que vi sendo arrastada por aquele velho de cabelos brancos. Bonita, com aquele ar de patricinha perdida. Parecia uma dessas que acham que podem vir aqui, comprar umas dr.ogas e voltar pro asfalto. Mas essa estava diferente, algo nela era diferente.. mas eu sabia que devia mandá-la sair, antes que me causasse problema.. — O que uma patricinha mimada faz no meu morro? — perguntei, seco. — Seu dono que te arrastou pela praia deve estar atrás de você. Fora. Ela estava tão desesperada que nem processou o que eu disse. — Quero prot.eção. Você pode me proteger dele. Por um segundo, pensei em mandar João ou o meu tenente arrastá-la para baixo.. Mas alguma coisa me fez hesitar, ela fugia de alguém. — Você é amante dele? Daquele velho — perguntei, direto, sem rodeios. Precisava entender com o que estava lidando. Ela hesitou. O silêncio que veio em seguida era quase uma confissão. Nos olhos dela, vi que não havia uma resposta fácil. E então, sem conseguir segurar, ela admitiu a verdade: — Eu... sou — disse, com a voz trêmula. — Mesmo sem querer, sou. Vim pedir ajuda, Hugo. Na hora, parei. Como ela sabia o meu nome? — Como sabe o meu nome? — perguntei, desconfiado. Ela respirou fundo, como se já tivesse ensaiado. — Você foi casado com a minha mãe. Sou filha de Maria Rita, Sou Maria Isabel. Po.rra. A filha de Maria Rita. A última vez que vi essa menina, ela era só uma criança. Agora estava na minha frente, manchada de sangue e me pedindo ajuda. Tentei processar o que estava acontecendo, mas logo voltei ao normal. Não podia deixar isso me desestabilizar. — Que po.rra você quer aqui? — perguntei, irritado. — Só quero passar uns dias longe do asfalto. Preciso de um tempo — ela implorou, tentando manter a postura._ Estou fugindo .. Eu a encarei, desconfiado. Não ia deixar essa menina ficar no meu morro assim, sem mais nem menos. Ia me causar problemas, mas.. — Por que eu te deixaria ficar? — perguntei, cruzando os braços, esperando que ela desse uma explicação convincente. — Só preciso ficar longe do asfalto... por favor — repetiu, e havia algo no jeito dela que me incomodava, que me fazia querer cuidar dela.. Mas eu não podia ceder. Me lembrei da mãe dela, Maria Rita. A mãe só tinha me causado problemas, precisava me livrar daquela menina, precisava de livrar daquela sensação de a proteger.. — Deve ser vagab.unda igual à sua mãe — falei, sem piedade. — Fora do meu morro! Ela congelou. Eu sabia que tinha pegado pesado, mas não me importava. Aqui não era lugar pra ela. Quando eu ia mandar que a tirassem de lá, ela fez algo que eu não esperava. Ela se ajoelhou na minha frente. A voz dela saiu quase inaudível, como se fosse sua última esperança. — Por favor, Hugo... não posso voltar pra lá. Não me faça voltar... Aquilo me fez parar. Porr.a, a filha de Maria Rita, amante de um velho e querendo fugir dele? Era disso que se tratava? E eu sabia o tipo de coisa que Maria Rita fazia. Ela estava tentando me amolecer.. — Sua mãe ao menos arrumava amantes jovens pra ela... — falei com desprezo, incapaz de conter o incômodo. Bebel me olhou, e o que disse a seguir me pegou de jeito. — Ela arrumava amantes jovens pra ela — repetiu, com a voz firme, mas cheia de rancor. — Mas pra mim... ela arrumou um velho. Ela me vendeu. Essa última frase pesou. Maria Rita não só destruiu a própria vida, como também vendeu a filha pra um desgr.açado qualquer. Eu não sabia o que dizer. O olhar de Bebel, cheio de mágoa e desespero, me fez perceber que eu estava metido numa situação muito mais complicada do que qualquer problema comum do morro. E agora, o que eu ia fazer com essa me.rda toda? -
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