Nem vi a hora que peguei no sono, tomei um banho e apaguei totalmente.
Espreguiço-me na cama, sinto um desconforto no meio das minhas pernas e faço uma careta de desgosto.
Me entreguei a aquele crápula sem nenhum pudor.
— Você é mesmo uma desavergonhada, Martina — minha consciência me acusa.
Levanto da cama, ignorando-a e vou tomar outro banho relaxante. Faço a minha higiene matinal, termino o meu banho e vou vestir uma cueca e camisa daquele tosco.
Não me conformo que esse cheiro não sai das roupas mesmo após tantas lavadas, isso só pode ser castigo.
O que eu fiz de errado, meu Deus?
Paro para pensar um pouco e talvez tenha sido as flores que arranquei do jardim quando criança? Ou será que foi porque acordava no meio da noite para comer doces escondidos da minha mãe? Ou então aquela vez que colei chiclete no cabelo da amiguinha que brincava comigo?
Pensando bem, é melhor eu não ficar procurando o que eu fiz de errado.
Vou direto para a cozinha, orando, implorando para não encontrar Matteo, não suportaria olhar para sua cara e ouvir os seus deboches tão cedo.
— Bom dia, Ma! — Bertani me cumprimenta.
— Bom dia, Be! — devolvo o cumprimento com carinho — Trabalhando no domingo? A casa nem está suja. — começo a preparar um sanduíche para comer.
— Matteo pediu que eu viesse, arrumar o quarto dele, preparar a sua comida e lavar as roupas de cama.
Meu rosto fica quente. Se ela vai trocar as roupas de cama, então quer dizer que vai ver o sangue? Vai saber o que eu fiz ontem?
— Deixe-me ajudá-la.
— Não precisa, pode descansar, casou ontem, deve estar cansada.
— Não estou, cheguei da cerimônia e logo fui dormir — minto.
Bertani me olha, parecendo confusa.
— Ah, tem certeza?
— O que? Que fui dormir? Claro que tenho!
Ela ri.
— Não, menina, que quer me ajudar.
— Ahn, que cabeça a minha — forço um sorriso, morrendo de vergonha — Sim, claro que tenho certeza, vou recolher a roupa do quarto e eu mesma coloco para lavar.
— Tudo bem, mas coma primeiro.
Balanço a cabeça concordando. Como o meu sanduíche e bebo o suco.
— Já terminei, vou começar a te ajudar — vou indo em direção a escada, mas antes eu volto para perguntar — Por acaso o Matteo está em casa?
— Não, disse que não voltaria hoje.
— Claro que não voltaria — resmungo.
— Vocês brigaram? — encaro Bertani — Desculpe, não deveria me intrometer nisso, mas é que você ficou chateada com o fato de ele não voltar para casa hoje.
— O quê?! — praticamente grito e começo a rir feito uma louca — Eu chateada? — bato palmas, parecendo uma histérica — Estou agradecendo, por mim não o veria nunca mais.
— Não é isso que os seus olhos dizem.
— Ah Bertani, vamos deixar de conversa fiada e arrumar a casa.
Começo a subir as escadas e escuto sua risada.
— Bertani está ficando louca — começo a resmungar sozinha — Como assim meus olhos dizem outra coisa? — entro no quarto de Matteo e vou direto no espelho, fico me olhando — Seus traidores — converso com os meus olhos — Vocês têm que demonstrar o que eu sinto. Raiva, repulsa, antipatia, asco e tudo de r**m* por esse homem, vocês entenderam?
— Martina, está tudo bem com você?
Dou um pulo e coloco a mão no coração.
— Caramba, Bertani! Você me assustou!
— Ia te falar onde fica guardado as roupas de cama que você vai trocar, aí te encontrei falando sozinha na frente do espelho — se explica.
— Tenho esse m*l-costume, não liga não. Vamos, me mostre aonde fica.
Não quero prolongar esse assunto e nem dar a******a para ela me perguntar nada. Chega de Matteo e de olhos traidores por hoje.
Depois que Bertani me mostrou onde fica as roupas de cama, ela desceu para ajeitar a cozinha. Abro as cortinas desse quarto escuro — igual o coração de Matteo.
— Meu Jesus amado, tome vergonha Martina, pare de pensar nesse crápula! — brigo comigo mesma.
O lençol da cama foi trocado, Matteo deve ter trocado. Vou ao banheiro e vejo o lençol dentro do cesto, levo tudo para a lavanderia e começo a separar as roupas. Coloco em uma lavadora as roupas de cama e na outra algumas roupas de Matteo — sim, casa de rico é assim, tem mais de um utensílio doméstico.
Quando estou separando as camisas de Matteo, vejo que uma está suja de batom, a mesma que ele usou na noite em que me disse sobre o casamento. Já sabia que ele ia encontrar com aquela lambisgoia, mas não precisava ser tão descarado, não é mesmo?
Não, eu não estou com ciúmes!
De repente, uma coisa muito louca passa pela minha cabeça e um sorriso maquiavélico começa a se formar em meus lábios.
Junto todas as camisas, cuecas, calças e bermudas brancas ou de cor clara e coloco dentro da lavadora e junto delas coloco uma de cor vermelha e uma azul, coloco tudo para bater junto.
Satisfeita e me sentindo muito bem, volto para ajudar Bertani na cozinha.
É pecado me sentir tão feliz com isso? Tomara que não!
— Colocou as roupas para lavar?
— Sim, coloquei!
— Separou elas? Você sabe fazer isso, não sabe?
— Claro que sim, mulher, não se preocupe.
— E essa felicidade toda é por ter colocado as roupas para lavar?
— Não, Bertani, minha querida — aperto suas bochechas — Essa felicidade toda é porque o dia está lindo!
— Você é uma moleca mesmo. Vai terminar de arrumar o quarto dele?
— Quer terminar? Eu fico com a cozinha, sei lá, aquele quarto tem uma energia pesada.
— Ai menina, só você mesmo! — Bertani sai da cozinha rindo.
Matteo pode até ter ganho uma ontem, mas se ele está pensando que vai ganhar todos os dias está redondamente enganado, não vou facilitar, nunca!
Depois de tudo pronto, estamos sentadas almoçando. A princípio Bertani não queria comer comigo, mas eu a obriguei.
— Bertani, você conhece Donatella? — aproveito o momento para sondar.
— Sim — ela me encara séria, mas logo desvia o olhar para o prato.
— Ah é, me esqueci que você trabalha muitos anos para o Matteo — Bertani só balança a cabeça concordando — A conheci no dia do casamento e gostei muito dela.
— Olha Ma, quer um conselho?
— Sim.
— Não se meta nisso, a relação de Matteo com Donatella é complicada, melhor deixarmos isso pra lá.
— Sabe me dizer o porquê?
— Não posso me meter nisso e também não sei muita coisa, deixe que o próprio lhe conte.
— Ele nunca vai me contar.
— Nunca diga nunca. Bom, vou estender as roupas.
— Não! — respondo afobada — Pode deixar que eu estendo e guardo-as depois, tá bom?
— Tem certeza?
— Claro. Deixe que eu lave os pratos também, você já fez muito por hoje.
— Agradeço muito. Vou embora então. Obrigada por hoje, Ma, você é uma garota especial! — sorri docemente.
Por milésimos de segundos me sinto a pior pessoa do mundo por ter feito aquilo, mas logo passa. Não irei culpar Bertani, claro que não, quero que Matteo saiba quem fez isso. Quando ele vier espumando para o meu lado, farei o meu melhor papel de vítima.