Amanda 09

2349 Words
- Pedro, há algum tempo eu encontrei o Eduardo perdido na rua, ele estava a dias sem comer e desorientado. Eu cuidei dele e dei abrigo, porém ele está sem memória a única coisa que ele soube me dizer ao seu respeito foi o seu nome. Paulo - E por que não foram a polícia? (diz se exaltando assim que termino de falar) Eduardo - Não grita com a minha namorada. Paulo - Perdão, não foi a minha intenção. Irmão já são quase dois anos de busca, há sete meses sua família decidiu fazer um enterro simbólico por não terem mais esperanças de ter acharem vivo. Já que seu carro foi encontrado em chamas e o relógio que você não tirava do pulso foi encontrado próximo a um penhasco perto da represa de Guarapiranga. - Meu Deus! (digo assustada cobrindo a minha boca) Não consigo me conter, senhor quem fez tamanha maldade com ele? Paulo - Perdão Amanda. Irmão, cara … é tão bom te ver assim, minha nossa a tia Edna vai ficar doida e o tio Luiz … minha nossa, eles vão pirar. Eduardo - Eu não sei quem são essas pessoas. Paulo - Seus pais, são seus pais Eduardo. O que fizeram com você, cara? Não consegue se lembrar de nada mesmo? (Eduardo balança a cabeça em negativo claramente envergonhado) - Vamos la em casa, eles precisam saber que você está vivo, que está bem. Olho para o Eduardo, essa escolha é inteiramente dele e eu quero que ele saiba que apoio ele em qualquer que seja a sua decisão. . . Chegamos no apartamento do Paulo, é a coisa mais chique eu já vi na vida, claro que teve o carro também uma Mercedes, conheci apenas pelo símbolo não sei o modelo. O elevador todo espelhado, esse luxo todo não condiz com a gente tudo aqui grita que não combinamos com esse ambiente, digo isso por mim e por minha filha até porque aparentemente Eduardo é desse mundo. Paulo - Entrem, Maria! Maria! Corre aqui, mais pelo amor de Deus não tenha um treco. (diz gritando por alguém até que aparece uma senhora) Maria - O que foi menino? Achei que ia demorar mais na sua corrida … Minha nossa Senhora de Fátima! É o menino Eduardo? Ah minha nossa senhora, Eduardo meu menino! (diz vindo até o Eduardo chorando, tocando em seu rosto e o abraçando) - É você meu filho, eu não estou acreditando. O tanto que eu vi o meu menino chorar por sua falta, meu filho, agora você está aqui, está vivo! Ah minha nossa senhora. Ela simplesmente se ajoelha no chão e começa a rezar aos prantos, Eduardo mesmo sem entender nada, a puxou para que ela ficasse novamente em pé. Eduardo - Senhora, fique calma. Maria - Senhora? Sou eu menino, oh minha virgenzinha obrigada por trazer ele de volta é vivo. Paulo - Maria, o Eduardo está vivo e com saúde, mas ele não lembra de nada do seu passado. Maria - Como não lembra? Eduardo, sou eu, a babá do Paulo lembra que você ficava na casa do seu Jorge, nos fins de semana e eu cuidava de vocês dois? (o Eduardo nada responde) - Oh, meu filho o tanto que vocês aprontaram juntos e eu acobertando, nem depois de homem feito vocês me deram sossego. Você só parou mesmo quando noivou com a Manuela, ela vai ficar tão feliz quando te ver. O que eu mais temia se confirmou, o Eduardo é comprometido. Noivo! Ele me encara sério, depois olha para o amigo e depois pra mim de novo. Não sei porque, mas mesmo com a Maria segurando em seu rosto ele aperta a minha mão. Ah, Eduardo eu sinto que nós dois, não vai acontecer! Eu senti no momento em que ouvi esse estranho chamar pelo seu nome. Paulo nos convidou para almoçar, mesmo com receio o Eduardo concordou. Percebo que ele não ficou muito a vontade depois de saber da existência de uma noiva, eu também estou desconfortável e mesmo sabendo que não fizemos nada de errado meu lado consciente me acusa. Paulo ligou para os pais do Eduardo e pediu para que eles viessem com urgência, enquanto isso a Maria paparica a Ceci a elogiando por sua boa alimentação e Cecília por sua vez só sabe se gabar. A essa altura ela já conquistou a todos, inclusive foi a única a conseguir arrancar um sorriso do Eduardo, que sempre quando Paulo iniciava um assunto volta a ser o homem sério. Permaneço calada e só respondo aquilo que me é perguntado, nesse momento eu só quero minha casa, a minha segurança de que tudo vai ficar bem. Mas aqui, sabendo de todas essas coisas eu não me sinto dessa forma. Estou brincando com um pedaço de carne e com o pensamento longe,quando sinto a mão do Eduardo buscando a minha. Eduardo - Vai ficar tudo bem, nós já vamos embora. (diz sussurrando pra mim) Em resposta lhe dou um meio sorriso amarelo. Não contente ele puxa a minha nuca e me dá um selinho na frente de todos, e instantaneamente noto o silêncio que se fez presente a nossa frente. Quando eu os olho Maria que ajudava a Cecília com sua comida, nos observa acompanhada de Paulo. Um silêncio esmagador tomou conta de todos, eles ficaram completamente sem assunto ou sem ter o que falar até que a campainha tocou nos salvando desse constrangimento. Maria - Só um momento querida, que eu vou abrir a porta. Assim que a Maria sai sinto o olhar de Paulo sobre nós. Paulo - Acho que são os seus pais, eles são conhecidos do porteiro e normalmente não são anunciados. Eduardo apenas assente com a cabeça, os dois se levantam e eu automaticamente fui ajudar a Cecília a terminar de comer. Se não fosse o momento eu também comeria a minha comida até acabar, porém meu estômago está fechado o nervosismo está consumindo cada célula do meu corpo, e só piorou quando eu os vejo sumindo da sala onde estamos comendo. Ceci - A Maria cozinha gostoso, mamãe. - Sim meu amor, é bom você comer tudinho pra ficar fortinha. Ouço vozes na sala e logo em seguida algo que parece um choro, um homem de voz grossa começa a chamar por Eduardo e a voz feminina embargada pelo choro repete “meu filho”. Talvez seja aqui que o meu papel na vida do Eduardo acabe, o ajudei de todo o meu coração sem esperar nada em troca mais eu não sou sua dona, não posso ficar com ele ainda mais em sua condição. Aqui é o seu lugar, perto de pessoas que sabem do seu passado, da sua vida do que ele foi um dia. Ao constatar a realidade um nó se forma em minha garganta e uma lágrima escorre. Ceci - Mamãe, acabei. Vou ficar com o tio! Sem esperar pela a minha resposta ela sai correndo e vai diretamente para a sala, vou atrás tentando impedir porém foi impossível. Ela já está agarrada na perna do Eduardo, que está sendo abraçado por uma senhora muito bem conservada, eu diria que ela tem uns cinquenta anos. A julgar por seus cabelos loiros bem alisados, vestida em uma saia MIDI e uma blusa com uma estampa floral branca, da forma que a luz reluz no tecido me arrisco dizer que é seda. Já o homem está vestido com uma camisa social e uma calça jeans escura, com barba grisalha e cabelos que um dia já foram foram escuro. Todos estão com os olhos vermelhos e lágrimas. XXX - Paulo eu não sabia que permitia seus empregados trazerem crianças para o trabalho, sem falar que é de tão m*l gosto atrapalhar um momento em família assim, peça que se retirem. - Desculpa senhora, Cecília vamos embora. (digo indo até a minha filha e a pegando) Não dá tempo de eu virar pois sinto uma mão em minha cintura. Eduardo - Peço que a senhora mantenha o respeito, ela não é empregada é a minha namorada. E onde ela não for bem vinda, eu também não serei. Edna - Filho essa dai não pode ser sua namorada, você é noivo da Manuela, você não se lembra? Paulo - Edna o Eduardo não se lembra de nada e foi a Amanda que o ajudou nesse tempo em que ele esteve perdido. Edna - E por que não procurou uma delegacia? A foto do meu filho estava por todos os lugares! Você ao menos sabe quem ele é? (diz me olhando de forma arrogante) Percebo que ela não está nenhum pouco confortável com essa situação. Luiz - Querida se acalme, precisamos entender tudo o que aconteceu. Eduardo - Não há nada para entender. Eu não sei quem foi que vocês perderam, mais eu não sou essa pessoa. A Amanda e a Cecília são a minha família agora e isso pra mim já é o suficiente. Edna - Eduardo, você tem uma vida. Batalhou durante anos para ser o que você é, meu filho. Sofremos tanto quando você desapareceu, como pode dizer que não somos mais a sua família? (diz o questionando) Luiz - Filho por favor! (diz suplicando) - Nos de a oportunidade de entender o que te aconteceu. A mídia noticiou seu desaparecimento por meses, houve uma forte investigação por parte da sua equipe, inclusive amigos de outros setores e se quer obtivemos resultado. Ceci - O senhor estava perdido tio? Mais o senhor estava lá em casa. Ele não estava perdido não, né mamãe? Maria - Ceci, que tal ir comer um bolo chocolatudo que tem lá na cozinha? (diz tentando ajudar) Um convite tentador para uma princesa que ama chocolate, mais mesmo assim ela me olha esperando pelo meu consentimento, ela simplesmente começa a pular de alegria quando fiz que sim. - Senhora, eu o encontrei na rua… Edna - Prefiro que o meu filho, fale comigo. Eduardo - A Amanda está falando, foi ela quem me ajudou, ela sabe de tudo. Edna - Se essa negrinha sabe de tudo, por que não te falou que você é um delegado federal e que sua família ofereceu uma boa recompensa por uma pista do seu paradeiro? Talvez porque queria se aproveitar da sua frágil condição e obter muito mais do que foi oferecido, foi isso não foi? Assume! Que mulher baixa. Luiz - Edna pelo amor de Deus! Ao ouvir suas palavras fico sem reação e se eu tinha alguma coisa para lhes contar sobre o Eduardo desde que o encontrei, a vontade acabou aqui e agora. Peguei a minha bolsa e vou para a cozinha se quer olho para trás. Nunca fui tão humilhada em minha vida, minha cor nunca foi motivo de vergonha, meu caráter nunca foi motivo de vergonha e quem me conhece sabe bem a pessoa que eu sou. Agora me vem essa senhora que acha que tem o rei na barriga e coloca tudo isso a prova, como se eu fosse uma nada. Tentando controlar ao máximo a mágoa que se forma dentro de mim, chego a cozinha e chamo a Ceci pra irmos embora. Não demora muito o Eduardo aparece seguido por Paulo e Luiz. Paulo - Eduardo, por favor irmão, nós sentimos a sua falta. Eduardo - Eu não vou tolerar essa falta de respeito com a pessoa que foi a única que me estendeu as mãos, quando eu mais precisei. Eu passei fome, eu passei frio e quando eu procurei os hospitais eles me escorraçaram como se eu fosse um nada, quando eu fui à delegacia como a senhora lá falou, eles não deram a mínima pra mim, inclusive … foi a Amanda que insistiu pra eu voltar e fazer um novo boletim. Foi a Amanda, a única a me ajudar, foi ela que mesmo tendo pouco dentro da sua casa, dividiu o teto e a comida comigo. E vocês acham mesmo que eu sou obrigado a ouvir a soberba daquela senhora em ofendê-la? Racismo é crime! E se a minha mulher quiser denunciá-la, eu serei testemunha para que ela aprenda a respeitar o próximo. Luiz - Filho por favor… Eduardo - Estou voltando pra casa com a minha família, não esperem quem eu mantenha contato com vocês. Ele simplesmente pega a Ceci do meu colo e segura a minha mão me puxando para a porta de saída da cozinha, achamos o elevador de serviço o que não foi difícil ele me puxa para um abraço e beija a minha testa. A Ceci parece que sente pois mesmo agarrada ao pescoço do Eduardo me dá um beijo no mesmo lugar. Paulo - Irmão … Quer dizer Eduardo. (nos chama e nos viramos) - Deixa eu pelo menos dar uma carona para vocês? Eduardo - Não é necessário, sabemos o caminho de volta, não vamos mais incomodar. Paulo - Você nunca foi um incômodo pra mim Eduardo, sempre foi nós dois, nunca deixou de ser nem quando voce desapareceu. Eduardo - Você está confortável em ir com ele? (pergunta me olhando nos olhos) Olho para o Paulo e vejo seus olhos implorarem para aceitarmos a carona, ele realmente ama o seu amigo e não serei eu a impedir essa reaproximação. Aceno com a cabeça e ele volta rapidamente pra dentro do apartamento, rapidamente ele volta aparentemente mais aliviado e com as chaves do carro nas mãos. Descemos até a garagem em silêncio e assim permanecemos até certo ponto da viagem. De Moema pra Luz é uma boa distância, Ceci de tão encantada com a paisagem acabou dormindo. Paulo - Se serve de consolo, não é a primeira vez que vocês discutem. A tia Edna é impossível com o tempo você percebeu que essa batalha não valia a pena e se afastou. Eduardo faz um som com a boca e passa os dedos na testa, como se quisesse aliviar uma pressão sob a sua cabeça, o que tem me preocupado. Eu acompanho tudo em silêncio na parte de trás onde a Ceci dorme no banco com a cabeça em meu colo.
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