Amanda 08

2367 Words
Por fim ele me cede um pouco do seu olhar, surpreso e logo depois o desviou. Ficamos em silêncio porque eu não tenho mais o que falar e pelo visto ele também não. Como pode querer ver maldade quando não há? Talvez por estar de fora viu uma situação totalmente diferente de como de fato ela aconteceu. Eu sei que o Erick não aparenta ser gay, quem vê de longe não diz que é, até porque ele é cheio de atitudes e ações totalmente normais para um homem heterossexual. Olho para o Eduardo novamente, esperando uma resposta, uma atitude e nada. Sério, Eduardo? Sério que vai desconfiar de mim assim? Cansada do seu silêncio, lhe dou as costas e vou entrando para dentro de casa porém sou impedida por uma mão, que me puxa e faz eu ir diretamente de encontro com o seu corpo. Eduardo - Desculpa, não estou duvidando de você, só que eu não gosto da ideia de outro cara no lugar onde eu tenho você só pra mim. - Ele é só meu amigo. Eduardo - Poderia ser seu avô. Nossa cama é nossa, me desculpa meu bebê, mais acho que sou bem egoista nesse sentido. Depois de me explicar seu ponto de vista, eu consigo compreendê-lo, mas pedi que ele entendesse o meu também, pois minhas amizades não estão acostumadas a me ver com um companheiro. Isso são pequenas coisas que vão mudando conforme o tempo, enfim depois do m*l entendido, nos resolvemos e acabamos ficando de namorico no sofá da sala. . . Erick - Tu não vai embora não, cara? Tomo um susto, pois estou me deliciando com os beijos do Eduardo e nem percebi o meu amigo entrar na cozinha, que faz divisa com a sala. - Erick! (chamo a sua atenção logo após de sair do colo do Eduardo) Erick - Qual foi? Desde ontem o cara está contigo, não desgruda? Ficar muito tempo juntos é sufocante, desgasta o relacionamento logo de início, fora que não é nada maneiro a mina descobrir os podres do cara assim logo de início. Eduardo - Você de boca fechada engana até um sábio, sabia? Ele vai dormir aqui? Erick - Certo! Então não façam muito barulho, tá? Meus ouvidos puros não estão no clima para ouvir fornicação de ninguém. Aliás, acho que é o que eu estou precisando já que o de ontem furou. Enfim, vou ser a vela de vocês hoje. Posso dormir aqui? Não estou afim de voltar pra casa. Olho para o Eduardo e ele está inexpressivo. - Vou arrumar o quarto da Ceci. Erick - Cara, de boa pra você se eu ficar aqui? (pergunta percebendo o clima desconfortável que se formou) Eduardo - Se a Amanda, disse que sim, é sim. Erick - Valeu, me livrou de ter que voltar para aquele purgatório, a Amanda te contou? Claro que não, a pequena é a melhor pessoa do mundo, ela não vacila com os dela. (diz abrindo a geladeira pegando o suco e dois copos e indo para o sofá onde estávamos agora a pouco) Por segundos até pensei que o Eduardo iria falar, mais por incrível que pareça eles entraram em um papo, Erick contando da doença da mãe é sobre as dificuldades que ele passa por ela não aceitar sua orientação s****l. Do quarto ouço eles conversarem e parece que o clima tenso deu lugar a um diálogo de pessoas amigas, acho que o egoísmo era só com a cama mesmo. Anotarei mentalmente, já que o Maicon também deita na minha cama, quando a Ceci quer ouvir histórias. Depois de terminar de arrumar o quarto para o Erick dormir, eu me junto a eles na sala e entro no assunto. Os dois chegaram até rir juntos, Eduardo contou que está sem memória e Erick sendo a pessoa que eu sei que é compreendeu e não foi inconveniente. Que bom que eles estão se dando bem, pedimos pizza para finalizar a noite já que o assunto rendeu e agora eles parecem velhos amigos, só não entramos no assunto do Eduardo já ter morado na rua e agora está morando aqui em casa, não creio que isso seja pertinente contar a todo mundo, afinal isso só diz respeito a ele. . . Erick passou o domingo inteiro com a gente, só foi embora no fim da tarde, quando a minha princesa chegou dormindo. Com certeza amanhã ela estará cheia de novidades e eu estarei mais que pronta para ouvir tudinho. Ela é um peixinho, ama o mar se fosse fazer a vontade dela moraríamos perto de uma praia. Antes de querer ser a princesa leoa, a princesa unicórnio, a Tiana e a Rapunzel ela era a princesa sereia. Enfim mais uma semana se inicia e com ela vem muitas expectativas também. Passo o dia no trabalho ansiosa pela entrevista que o Eduardo irá fazer, tomara que dê tudo certo. Eu quero muito que ele tenha sua independência, ele merece muito isso. A noite quando chego em casa não demorou muito para o Maicon buzinar e ele sair, lhe desejo toda sorte do mundo, até mesmo para ele poder ir mais confiante. Essa felicidade toda me parece até um sonho. Eu sei que pode parecer ser valores invertidos nesse quesito de eu ir trabalhar e ele ficar em casa, torço muito para que ele consiga o emprego por ele mesmo, até por que bem ou m*l eu consigo manter nosso básico, porém as vezes o sinto incomodado, recebe as coisas que eu lhe dou meio receoso, muitas vezes acho que ele só aceita para não causar nenhum atrito entre a gente. Quando ele chega com a notícia que havia conseguido o emprego e que irá começar amanhã, eu comemoro junto com ele. A felicidade está a mil, graças a Deus está dando tudo certo! Agora vamos correr atrás de um documento para que mais pra frente seja algo fixo. . . Dois Meses Depois … Ceci - Vamos tio, vamos! O ônibus vai passar, mãaaaaeee! Cecília está realmente ansiosa por esse passeio, nós três estamos indo ao parque ibirapuera, o que está se tornando algo corriqueiro para os dois, que amam correr naquela imensidão verde, cercada de tantos prédios e concreto. Eduardo ama, e agora como ele mesmo fala, que pode comprar as besteiras da princesa dele. Lembro bem quando ele chegou em casa com o primeiro salário e com uma boneca enorme para a Ceci. Não preciso nem falar que ela amou e gritou tanto de alegria, agora não temos mais ursinhos dormindo juntos. Outro avanço é que agora ela dorme em seu próprio quarto, claro que eu ou o Eduardo temos que ficar com ela até a mesma agarrar no sono. Na maioria das vezes quem fica é ele, porque as histórias dele são sempre as mais divertidas e cheias de aventuras. Os dois estão cada dia mais apegados, é tio pra lá, é tio pra cá, teve uma apresentação de primavera na escolinha e ele esteve presente, ela toda orgulhosa o apresentou para todos. Não fiquei surpresa por até a tia da merenda ser uma delas, até porque minha filha realmente fala com todo mundo que puder e não puder também. Já o Eduardo por sua vez todo orgulhoso recebendo elogios das tias e das professoras e eu bem de canto só observando. Claro que como o cavalheiro que ele é, não permitiu que eu permanecesse afastada por muito tempo, foi algo tão lindo de se ver. Tentei ir com ele por duas vezes em uma delegacia informar da sua condição, na primeira vez preenchemos uma ficha e na segunda fomos em busca de alguma resposta. Claro que como o sistema brasileiro é “eficiente” pediram para aguardarmos que qualquer novidade nos avisaríamos. Já sobre os seus pesadelos, estão se tornando constantes, ele acorda no meio da noite gemendo de dor e suado. Não dá um grito, porém fica muito agitado, isso me aflige muito, vê-lo nessa situação é como se ele quisesse respostas para o que lhe aconteceu, mas nada, ele só encontra um absoluto vazio onde não obtém resposta alguma. Quando ele não tem pesadelos é todo sorriso, simpatia pura, inclusive seu jeito encantador de ser conquistou meus amigos até mesmo o Maicon. Não vou mentir, pois fiquei extremamente feliz com essa amizade. Maicon até leva o Eduardo para o futebol lá no Jardim Rincão e claro a chaveirinho dos dois vai junto, o grude não larga de jeito nenhum. No meu trabalho as coisas estão indo bem, graças ao meu bom Deus, na minha casa só paz e alegria. Na minha vida tudo indo as mil maravilhas, o Eduardo tem me dado orgasmos maravilhosos durante as madrugadas, enquanto eu … nada pra ele. Recentemente ele passou no médico do posto, um conhecido da dona Lourdes conseguiu agendar pra ele. O médico solicitou exames de sangue e tudo o que tem direito, inclusive esse mesmo médico disse que assim que o Eduardo quiser, ele pedirá exames para sua cabeça pra ele poder investigar sua falta de memória. Estamos aguardando o resultado que o enfermeiro garantiu que essa semana sairia. Minha outra surpresa nesse período foi a ligação da minha mãe, a conversa foi rápida mas pude matar um pouquinho da minha enorme saudade por ela, que me contou que infelizmente meu pai não está nada bem. Chorei muito porque independente do que ele tenha me dito, não guardo mágoa pois ele é o meu pai e eu o amo muito. Pedi para ela me manter informada sobre o seu quadro, já que ele é cabeça dura demais para querer se tratar com um médico. Está convalescendo no sítio e disse que de lá só sai pro cemitério. Que homem! É de solicitar todo estoque de paciência a Deus. . . Eduardo - Meu bebê, vamos? - Sim. Fazemos todo o trajeto de ônibus, já que é mais divertido e a Ceci ama passar por todos esses prédios, ela fica completamente encantada, chegamos no parque depois de meia hora. As vantagens de sair domingo de manhã em São Paulo é não pegar trânsito, não tem quase ninguém na rua. Logo que chegamos damos uma caminhada pelo lugar que minha pequena ama e depois nos instalamos no gramado perto do lago, para ver os patinhos e os pássaros que ficam por perto. Claro que não pode faltar a grande bola, ainda bem que o Eduardo tem disposição para aguentar o pique da Ceci, porque eu depois de dez minutos já estou cansada. Ela é muito hiperativa e eu extremamente sedentária. O sol está uma delícia e depois de comer, me deu uma leve preguiça, como eles estão brincando por perto resolvo deitar na toalha para me queimar um pouco. O Eduardo sempre fala da minha cor, do meu tom de pele, que segundo ele é único, perfeito e eu amo, porque em suas palavras eu sou única e perfeita, eu amo ser isso pra ele. Olho para o lado e vejo a Cecília jogar à bola para o alto e depois dar um chute, a bola voa longe e sapeca ri. Eduardo olhando para a bola que está no alto, corre para pegar e eu sorrio com essa cena, meu coração aquece só de ver o entrosamento desses dois. XXX - Eduardo? (um desconhecido se aproxima) - Eduardo, é você, irmão? O homem vestido de roupas esportivas, aparenta ter a mesma idade que o Eduardo, a diferença é que é moreno, com os olhos claros que eu não consigo ver melhor sua cor exata pro causa do boné que ele usa. XXX - Eu não estou acreditando que é você mesmo. Ele vai se aproximando do Eduardo que segurando a bola fica imóvel, olhando para o homem e pra mim. Percebendo o seu desconforto me levanto e vou até onde eles estão. O homem com os olhos marejados não se importa com o seu silêncio, o puxa para um abraço significativo, repetindo a todo instante não acreditar que é ele mesmo. Ceci - Tio, é o seu amigo? (pergunta correndo até onde nós estamos e fica olhando a cena com curiosidade) XXX - Eduardo, sou eu cara. Nós pensamos que você tinha morrido, insistimos tanto no primeiro ano e não tivemos resposta alguma. Onde você estava todo esse tempo? Eduardo - Quem é você? Seu rosto está sério, ele havia me dito que independente de seu passado, ele não tem mais interesse em descobrir. Agora em um dia lindo no parque me vem esse estranho que parece saber bem quem ele é. XXX - Sou eu Paulo, seu amigo, irmão! Nós sempre estivemos juntos cara, não está me reconhecendo? (sua voz assume um tom desesperado) Eduardo o encara sério não respondendo a sua pergunta, então o estranho que agora sabemos que se chama Paulo. Puxa a sua mão e coloca seus pulsos um do lado do outro, e nos dois há uma âncora desenhada em um n***o vivo. Lembro de ter visto essa tatuagem e achei simples e tão linda ao mesmo tempo. Não achando suficiente ele levanta a própria camisa e mostra a mesma águia no mesmo lugar em que o Eduardo tem porém a dele não tem as montanhas. Paulo - Essa eu não tive coragem de terminar, mamãe descobriu e ameaçou me deserdar, lembra? Eduardo vendo e ouvindo tudo o que o Paulo mostrou e falou permaneceu em silêncio. - Oi, Paulo, prazer … Eu sou Amanda Pires. Ceci - E eu a Ceci. Você é amigo do meu tio? Vai jogar bola com a gente? Paulo - Oi mocinha, acho que vou sim. - Filha, vai lá no celular da mamãe, agora vamos ter uma conversa de adulto. Ceci - O tio aprontou? Tio? Eduardo - O tio não fez nada minha princesa, vai lá que depois vamos correr atrás dos patos. Ceci - É segredo tio a minha mãe não pode saber. (diz rindo sapeca) Todos esperamos a Ceci se afastar e assim que ela chegou na toalha que está forrada na grama com as nossas coisas, olho para o Paulo e seus olhos verdes água me sondam por um momento e logo depois se voltam pra o Eduardo.
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