—Eu e você, Will. — Falo indo em direção à porta entreaberta.
Abro a porta devagar e Will e eu subimos em silêncio as escadas. À medida que nos aproximamos da sala aberta, consigo ouvir vozes. No começo, é quase impossível identificar as palavras, mas assim que o som fica claro o suficiente, coloco minha mão no peito de Will para ele parar e escutar.
—... de desistir, bonitinha. Somos três contra um e ainda temos que ir atrás dos seus amigos. — Um homem de voz grossa e fria diz.
—Não queremos ter que te m***r, e você sabe que trancar seus amigos no quarto é apenas um contratempo, renda-se, você já está esgotada. — Dessa vez é uma mulher.
Três contra Abby. Eu imagino que ela está fazendo de tudo para segurar eles lá. Se eu tivesse um jeito de falar para ela que estamos aqui...
Mas não temos. Will e eu temos que chegar de surpresa.
Faço sinal de cabeça para Will e ele entende. Hora de ir.
Saio na sua frente e então ele segura minha mão, impedindo-me de me mover. Olho para Will, questionando sua atitude, e ele está me olhando com olhos tão redondos quanto duas bolas de gude.
E eu entendo por que.
Eu consigo sentir Abby. Ela está fraca. Ela está prestes a desmaiar. Eu não estava sentindo antes, mas agora...
—Como? — Sussurro.
—Eu senti um pouco, e quando te toquei... — Ele diz e não termina.
Preciso relatar isso para Adam, com certeza vai ajudar no seu livro. Mas agora não temos tempo, Abby, Mike e Tobi precisam de nós. Principalmente Abby.
Continuamos a andar e então ouvimos a voz de Abby.
—Eu... nunca... vou me render. — Ainda tocando em Will, consigo sentir exatamente o que ela está sentindo.
Oh Abby, você fez um ótimo trabalho, mas agora deixe com a gente!
Assim que chegamos, tomo um susto. Clariss disse que eram muitos, mas tem apenas três. Como três ninjas conseguiram imobilizar todos os três?
Abby está tentando se levantar. Suas pernas estão trêmulas, roupas molhadas e rasgadas. Se ela está molhada, significa que chegou ao seu limite. Os três ninjas estão de costas para nós. No canto, Tobi e Mike estão amarrados aos troncos. A corda que os amarra é quase branca. Um pouco transparente... eu nunca vi isso antes. Eles estão apenas olhando para Abby. Por que não se soltam e vão ajudá-la?
E então Abby nos vê. Sim, eu posso sentir a esperança vindo dela. Não se preocupe, Abby, vai ficar tudo bem!
Eu prometo!
Não sei se ela pode me ouvir, mas sei que ela sentiu. Pois ela nos dá um meio sorriso e desaba no chão novamente.
—Rá! — Um dos ninjas diz. —Ela se rendeu. Você já sabe o que fazer, Ariadna.
A mulher vai em direção a Abby.
Pego uma de minhas Shurikens, deixo toda minha raiva e meu sentimento de proteger Abby fluir por ela e lanço em direção à ninja.
—Ah!... mas que m***a é essa? Isso queima! — Ela diz e então nos vê.
Assim, todos os outros ninjas nos veem também. E a ninja, com uma Shuriken flamejante cravada em suas costas, dá outro grito enquanto tenta tirá-la.
—Vejam só! Nem foi preciso ir atrás deles! — Um homem de preto diz.
—Abby, venha para perto de nós! — Will diz.
Abby se levanta e corre para perto de nós.
—A mulher! Não cheguem perto dela! O veneno dela pode paralisar! Foi o que ela fez com Mike e meu pai. — Abby nos adverte.
Um homem de preto, um homem de branco e a mulher.
—Como você não foi paralisada? — Will pergunta.
—Bom, eu...
—Não importa, Clariss está lá em baixo, você precisa se curar. — Falo.
—Não, não preciso... quer dizer, eu preciso, mas não preciso de Clariss. Eu consegui! Eu aprendi! É por isso que não conseguiram me paralisar, eu posso me curar e curar os outros. Não é nada como Clariss, mas eu posso ajudar meu pai e Mike se eu puder chegar perto deles. — Ela diz sentada no chão com as pernas cruzadas.
Então Abby fecha os olhos e coloca as palmas das mãos sobre suas pernas.
—Abby, isso é incrível! — Will diz.
—Me deem algum tempo para me curar e aí eu posso ajudar meu pai e Mike. — Ela diz.
—Certo. — Eu digo e volto a encarar o trio de ninjas à nossa frente.
O tempo está frio. A lua está linda. As estrelas iluminam o céu, e mesmo sendo madrugada, a noite está quase tão clara quanto o dia.
—O que estamos enfrentando? — Pergunto a Abby.
Os ninjas vão um para o lado do outro.
—A mulher é uma... aranha. Ela tem essa teia impossível de quebrar e o veneno paralisante. O de branco é muito rápido e o de preto pode se multiplicar. — Abby avisa.
O que? Multiplicar? Agilidade? E uma... aranha?
Como Abby ainda está viva?
Talvez o objetivo deles não seja nos m***r. Mas isso explica Abby ter nos trancado. Não foi para nos manter dentro, foi para a mulher aranha ali, não entrar.
—Will, você pega o cara que se multiplica, eu fico com a aranha e o cara que é rápido. — Falo e ele assente ao meu lado.
—Isso vai ser interessante. — O cara de preto diz.
Me preparo para atacar.
—Ah, gente? — Abby diz baixinho e não respondo, esperando-a continuar. — Onde está Adam?
Se Adam estivesse aqui, seria bem mais fácil! Ele é o mais rápido de nós. Poderia fatiar esse apressadinho com sua katana e aí só sobrariam dois.
—Ele está bem. — Digo apenas.
Will ataca. Ele corre até o cara de preto e quando está próximo, enfia seu bastão no chão e quando o puxa... um martelo surge. Ele ataca o homem de preto e de repente, ele é dois. E a pessoa que Will ataca simplesmente some e o homem está ao seu lado.
Isso parece clones, mas é possível tocar clones. Esse “clone” sumiu como se fosse um holograma. Será isso? Ele faz hologramas?
Bom, não tenho tempo de confirmar isso, pois os outros dois ninjas me atacam. A tal da mulher aranha lança uma teia em mim. Seguro minha Yari junto ao meu corpo e enrolo a teia nela. A teia queima como papel.
Ariadna, como o homem de preto havia se referido à mulher, não fica nada feliz com isso. Enquanto isso, o seu parceiro de branco começa a se mover... muito rápido.
Wow! Não sei como, mas ele me atacou e eu consegui defender. Com minha Yari cruzada em frente ao meu corpo, e sua espada arranhando o cabo dela, posso ver que vencer esses dois juntos vai ser impossível.
Então levo um golpe na nuca e caio de joelhos. Minha Yari cai ao meu lado e eu tento me levantar o mais rápido possível. É quando recebo um golpe na barriga que me falta o ar. Recebo uma série de golpes que não consigo ver. Até a dor vem mais devagar do que os golpes. Eu fui avisada que ele é rápido, mas não pensava que seria assim.
Eu não vou conseguir derrotá-los sozinha.
Se Abby se curasse mais rápido... não é culpa dela, ela salvou nossas vidas. Está dando o seu melhor. Eu não posso fazer diferente disso.
Meu pai me ensinou que, quando eu lutar com um inimigo mais forte que eu, eu preciso decorar seu padrão de luta. Acho que vou ter que apanhar um pouco...
—Tara! — Abby grita atrás de mim.
Quando minhas costas tocam o chão, sinto que meus pulmões vão explodir. Eu estou apanhando há alguns minutos, mas acho que tenho uma ideia de como é seu padrão. Ele não é muito habilidoso em luta, apenas é rápido. Ele ataca o que vê.
Me levanto do chão.
Will está ofegante ao meu lado com apenas um joelho no chão. Ele encara o homem de preto como se ele tivesse comido seu almoço.
Na minha frente, o homem de branco tem uma postura vencedora. Ariadna está com Mike e Tobi, tecendo mais uma camada de teia ao redor deles.
Vamos lá!
Seguro minha Yari e ataco o homem de branco. Ele desvia rapidamente e usando o cabo da minha Yari, ataco ele novamente. Dessa vez acerto de raspão. Desvio de um golpe seu e me concentro.
“Ponta explosiva”.
É como vou chamar o golpe que vou desferir no ninja. Eu só preciso...
Ele desvia. Vejo o vulto do seu pé vindo em minha direção e me jogo pra trás e então lanço minha Yari nele. Ele tenta desviar, mas é tarde. A ponta de Yari toca nele e junto uma explosão o joga longe.
Descobri que tenho essa habilidade durante meu treinamento.
Preciso apenas encostar a pontinha da Yari no que pretendo explodir e fazer um selo rápido. Um selo simples. Com uma mão, junto o dedo indicador ao dedo do meio e os outros abaixados. Tobi disse que é um selo simples de liberação de poder e logo nem vou mais precisar dele.
É o mesmo selo que Mike usa para controlar os ventos e voar.
Mike...
Ele está paralisado. Olhando para mim. Consigo sentir um sentimento de aprovação vindo dele.
—Lá vem ele! — Abby grita.
O ninja de preto não está mais no chão. Ele está vindo na minha direção.
Uma vez, meu pai me contou de um momento na vida dele que tudo ficou em câmera lenta. Ele estava em uma missão com a minha mãe, os ninjas adversários estavam prestes a 217eixá-la e ele me contou que tudo ficou mais lento, e assim conseguiu salvá-la.
Eu não acreditei. O elemento do meu pai é a névoa. O tempo não fica lento para a névoa, mas ele me disse que foram os sentidos de ninja dele que ficaram mais perceptíveis quando alguém próximo a ele estava em perigo.
E foi exatamente nisso que pensei quando Will fez uma parede de pedra surgir na minha frente e o ninja de preto não conseguiu me alcançar.
O tempo parou para nós dois.
E isso me deu uma ideia.
Olho para Will agradecida. Ele está um trapo. Deve estar apanhando para todos os clones dos ninjas. Aposto que qualquer outro ninja já teria caído.
Mas não Will.
—Disponha quando quiser. — Will diz após ver meu olhar de agradecimento.
—Will, podemos derrotá-los juntos. Não estamos tendo sucesso sozinhos, então tive uma ideia. — Falo para ele.
—Não precisa dizer mais nada, tive a mesma ideia assim que levantei aquela parede de pedra. — Ele fala levantando o martelo.
Seu bastão agora está envolto de pedra. Consigo ver o buraco no chão de onde a cabeça do martelo saiu. O solo parece ser de areia batida, mas tenho certeza que Will aprendeu a reforçar isso.
O seu adversário está fazendo mais clones. E quando Will martela o chão com toda sua força, uma enorme rachadura se faz no chão, que começa a tremer e a rachadura aumentar tanto, que conseguimos dividir nossos adversários um do outro, e a tempo, pulo para o lado de Will.
Ele reforça a separação com uma parede de pedra e assim conseguimos isolar um adversário.
Agora somos dois contra um.
Não parece justo, mas contra um ninja que pode fazer tantos clones quanto posso contar, a injustiça cai sobre nós. Mas somos um dos 5 elementos puros e temos uma profecia de morte sobre nós. Estamos nos acostumando com essa coisa de injustiça.
Olho para Mike mais uma vez. Seria bom tê-lo aqui gritando instruções, mesmo que eu odeie receber ordens, ele saberia o que fazer. Prefiro pensar que estamos fazendo certo.
E assim vamos derrotar esses ninjas.
Por ele.
Por Tobi.
Por Abby.
E por todos os humanos e heranças que Diana quer exterminar.
Minha Yari queima minha mão com esse pensamento. E aposto que o martelo de Will fica mais pesado quando ele recebe esses sentimentos de mim.
Esses ninjas vão se arrepender do dia que se aliaram a Diana.