Lutar com a Yari é difícil. Requer um nível de habilidade que eu não tenho. Ou tinha. Não sei ao certo. Essa semana foi a semana mais longa da minha vida. Eu não me lembro a última vez que fechei os olhos e dormi. Ou comi alguma coisa em um prato.
Amanhã é o dia escolhido para cumprirmos a aposta e eu sei que preciso estar descansada, então hoje eu irei dormir.
E comer. Mas apenas depois de praticar mais uma vez.
Ouço um assobio atrás de mim. Além de não comer e não dormir, faz um tempo que eu não tenho contato com alguém. Will, Abby e eu resolvemos treinar escondido, apenas para fazer uma surpresa. Ser mais emocionante.
Will está treinando numa sala no subsolo que eu nem se quer sabia que existia. Na verdade, eu achava que nossa arena de treinamento era a sala no subsolo. Mas ele faz muito barulho então achou melhor ir para lá. Abby quis treinar com água por perto e além disso ela precisa de espaço para seu arco. Tobi a levou para um acampamento abandonado perto de um lago. Ela está lá há uma semana com nosso curandeiro.
E eu queria treinar ao ar livre pelo meu elemento ser fogo e tal. Então vim para a sala de treinamento que Mike me trouxe com Will nos nossos primeiros dias aqui.
Talvez o assobio que eu ouvi seja de algum pássaro. Eles têm me feito companhia aqui.
Seguro minha Yari com as duas mãos e me concentro na transformação.
De repente uma brisa passa levantando meu cabelo e roçando meu pescoço. Sinto minha pele se arrepiando e eu posso estar ficando doida por não dormir e não comer direito há uma semana, mas é como se o vento me abraçasse. E é tão gostoso.
—O que eu preciso fazer para chamar sua atenção? —Uma voz fala atrás de mim e eu não preciso nem me virar para saber que Mike está parado atrás de mim controlando os ventos.
Me viro para ele.
—Que tal dizer “Ei, olhe para mim!”
Ele abre um pequeno sorriso. Minúsculo. Quase imperceptível. É quase possível ver uma de suas covinhas.
—Abby está aqui. Nós pensamos em dividir uma pizza, todos nós. Tome um banho e vá para o quarto dela. —Ele diz e se vira desaparecendo pelas escadas.
Mike tem essa coisa de ser mandão. Eu não gosto quando me dizem o que fazer. Queria poder contrariá-lo de alguma forma, mas apesar do seu tom, ele apenas me convidou para jantar com todos.
Junto minhas coisas, limpo a sala e vou para meu quarto.
Eu pensei que Mike não fosse do tipo que comia pizza com os amigos. Na verdade, é difícil imaginar ele considerar alguém como amigo. Esse g***o, pessoas completamente
diferentes unidos por uma causa, com o objetivo de derrotar Diana, não está fazendo o bem apenas para a humanidade, mas para nós mesmos. Estamos ficando melhores com nossas habilidades e também como pessoas.
Largo minha Yari ao lado da cama e vou tirando a roupa até o banheiro. Assim que ligo o chuveiro e a água quente toca minha pele, consigo sentir meus poros se abrirem. Meus músculos relaxarem e o cansaço aparecer.
É tão relaxante e gostoso. Mantenho a temperatura da água em 40°. Foi o máximo que consegui.
Comecei aperceber que após atransformação,eu não suo. Não me queimo. Na verdade, do jeito que a água faz Abby se regenerar, o calor me faz mais obstinada.
Termino o banho, visto uma roupa confortável e vou para o quarto de Abby. Eu nunca estive lá antes, na verdade eu nunca estive no quarto de ninguém aqui. Com exceção do quarto de Will no seu primeiro dia aqui, mas eu estava tão cansada que m*l me lembro.
De frente com a porta, ouço murmúrios. Bato na porta devagar.
—Ta aberta! —É a voz de Abby.
Giro a maçaneta fria e abro a porta.
A primeira coisa que notei ao entrar no quarto de Abby, foi a decoração. Ela tem um bom gosto que eu nunca terei. Seu quarto é maior que o meu, tem uma cama de casal, como as de princesas nos filmes, com uma roupa de cama branca, as paredes são brancas e todas pintadas a mão. Desenhos que acredito ter sido ela mesma que fez. Um
pequeno lustre ilumina o quarto, perto da porta, tem um sofáde três lugares,umamesa e centro, um divã azul bebê e uma poltrona combinando com o sofá.
—Ela chegou! —Abby grita.
Ela, Will, Adam e Clariss estão jogando banco imobiliário. Mike está apenas observando da poltrona.
—Ah, ótimo. Assim já posso sair e ela fica no meu lugar no jogo. —Clariss fala se levantando.
Abby o puxa pela gravata borboleta e ele cai de b***a no sofá.
—Calma aí, você precisa terminar a partida. —Ela diz.
Clariss revira os olhos.
—Eu estou com sono, se não lembram, amanhã é o dia que vocês vãosemachucartentandousaressas armas que todo mundo sabe que leva tempo para aprender, eu, mais que todos aqui, preciso descansar. —Ele explica como um diplomático, se levanta e passa por mim acenando com a cabeça.
—Ah, não precisamos dele. Senta aí, Tara. —Abby diz.
Passo por todos e me sento no lugar de Clariss.
Antes mesmo de eu sentar, Abby e Will engataram uma conversa sobre o acampamento que Abby ficou.
—Laerabonito,sabe? Tinhamuitoespaço,pareciaseguro. Eu acredito que aquele seja o plano B.—Abby diz.
—Como assim plano B? —Pergunto. —Ora, Tara! Nós somos a esperança da humanidade! Se souberem onde nós estamos, não poderemos mais ficar aqui. Acredito que o acampamento seja o lugar pra onde meu pai nos levaria caso isso acontecesse. —Ela explica.
Faz sentido.
—Acho que iremos para lá. Em algum momento, vamos precisar. —Adam diz pensante.
—Isso vai demorar. —Will diz a ele. —Quero dizer, nós m*l saímos daqui, essa Diana vai demorar para nos encontrar.
Abby sorri para ele.
—Você tem razão. —Ela diz.
Essa é a primeira vez desde o dia que escutamos sobre a profecia, que todos parecem estar mais leves. Tem sido cada um para seu lado esse tempo todo, mas todos nós juntos aqui me fazem sentir confiante e acredito que não seja só eu.
—Vamos precisar falar sobre a profecia. —Mike comenta.
Todos nós nos olhamos. Ele tem razão. Não seria o melhor momento, mas uma hora teríamos que falar.
—Eu entendi o que Tobi quis dizer com contar quando chegarahoracerta.—Faloe sintotodos olhandoparamim.
—Como assim? —Abby pergunta.
—Ser um ninja não é apenas ter habilidades e tal, é lutar por uma causa, é cuidar dos outros e entender que devemos fazer o que for para cumprir a missão. —Falo.
Todos pensam por um momento.
—Até mesmo m***r um amigo? —Will pergunta.
—Não. Não importa o que esteja acontecendo, nunca devemos ferir nossos amigos. —Abby diz e nos dar um sorriso. —Então, estão com fome?
Sem nos deixar ninguém responder, Abby se levanta e sai do quarto. Provavelmente conferir se as pizzas chegaram. Abby está certa, eu não vou m***r Mike. Não vou m***r nenhum dos meus amigos.
Mike se levanta e senta ao meu lado, no lugar de Abby. Olho para ele com uma expressão interrogativa e ele apenas me dá um sorriso presunçoso sem mostrar os dentes.
—O que? —Finalmente pergunto.
—Nada. Mas me diga, como anda o treinamento? Eu tenho algumas ideias do que pedir quando ganhar aaposta.—Ele diz ainda com seu sorriso presunçoso.
Oh Deus. Ele não está falando de...? Ele está flertando? Mike está flertando? Quem diria, o carrancudo sabe brincar.
—Me diga, preciso de umas ideias para quando eu ganhar. —Falo.
Ele levanta as sobrancelhas. Eu consigo sentir a surpresa vindo dele.
—Achei vocês. —Tobi diz da porta do quarto. Eu nem havia percebido que ele tinha aberto. —Juntos? No quarto de Abby? O que é isso, um complô contra mim?
Todos soltamos uma risada discreta. Tobi tem esse lado divertido que eu gosto. Torna essa missão mais fácil.
Missão. Eu numa havia me referido ao que estamos fazendo como uma missão, mas agora parece claro para mim. Minha primeira missão não foi o resgate de Rachel Wells, e sim essa.
A missão da minha vida.
—Pai, se não for entrar, saia do meio ou eu vou derrubar essas pizzas. —Abby diz atrás de Tobi.
Ele dá um salto deixando Abby passar e entra fechando a porta atrás de si.
—Wow, seis pizzas? Não é demais, filha? —Tobi pergunta ao ver a quantidade de caixas que Abby carrega.
—Ah, pai, desde que o Will despertou o elemento ele tem comido mais e mais. Inclusive, Clariss e eu estamos tentando algo, sabe, se tivermos que viajar ou algo assim, não podemos levar tanta comida para ele. —Abby fala colocando as pizzas na mesa.
—O que estão fazendo? —Tobi pergunta.
Abby dá de ombros.
—Pílulas de comida. —Ela diz como se fosse nada. É a ideia mais incrível que eu ouvi na vida. Pílulas são pequenas, podemos levar uma quantidade absurda apenas nos bolsos e sobreviver por meses.
Sinto uma admiração fluindo dentro de mim. Vem de Adam. Olho para ele e ele está maravilhado. Abby parece ter sentido também, pois olha para ele um pouco assustada, então solta o ar pelo nariz balançando a cabeça e revira os olhos.
Aconteceu algo a mais com Abby e Adam que nenhum de nós sabe.
—Então...as pizzas! Nossa, eu estou morrendo de fome! — Will diz quebrando o gelo.
Ninguém fala nada. Apenas pegamos um pedaço de pizza e saboreamos. Eu não me lembro a última vez que comi pizza, ninjas tem que manter a boa forma e uma alimentação saudável é o primeiro passo. A não ser que você seja como Will e seu corpo use toda gordura e todo o lixo que
Está muito boa.
—Sabe, Abby...talvez você possa criar pílulas de comida sabor pizza. —Will comenta.
Abby solta uma risada baixa.
—Garanto que tentarei. —Ela diz para Will.
É muito bom ver o quanto Will e Abby se dão bem. Eles parecem dois irmãos, algumas horas estão se matando, mas em momentos como esse, apenas Will consegue arrancar um sorriso dela.
E ela parece bem mais calma agora.
Talvez seja por causa dos elementos opostos. Minha ligaçãocomAbby e Mike,semdúvidas,parece serdiferente do que com a dos outros. Talvez ela se sinta assim com Will.
Após alguns minutos, todos terminamos de comer. Por incrível que pareça, Will comeu o triplo que nos todos e ele terminou junto conosco.
Adam bate na barriga e suspira.
—Cara, eu estou cheio. —Ele diz e solta um arroto.
Abby murmura “porco” enquanto junta as caixas de pizza.
—Eu também..., mas sei lá, poderíamos ter pedido uma sobremesa. —Will acrescenta.
—Ah, Will, acho que ainda tem um pedaço de pudim na minha geladeira, se você for jogar essas caixas no lixo, é todo seu. —Abby fala jogando as caixas em cima de Will e se jogando de volta no sofá.
Eu deveria ter tido a ideia de botar uma geladeira no meu quarto. Talvez eu faça isso amanhã ou depois.
—Deixa comigo! —Will sai levando todas as caixas.
Tobi, que passou o tempo todo calado, se levanta.
—Estou indo pra cama. Amanhã será um grande dia. —Ele diz antes de bater à porta.
Depois do dia exaustivo de hoje...e todos os outros dias que eu não tenho dormido, minha cama não parece uma má ideia. E pelo visto todos concordam comigo.
—Também já vou. —Mike fala.
—Nem fecha a porta, eu não teria forças para abrir. — Adam diz se levantando.
—Bom...confesso que se eu não for me deitar agora, desabo no seu sofá —Digo para Abby.
Ela assente e suspira.
—Ta tudo bem, podem ir.
Mas...não estava tudo bem. Abby parece triste. Eu não tive muitas amigas, não sei como funciona essa coisa de amizade, mas algo me diz que eu devia ajudar. Amanhã, logo após mostrarmos nossas novas habilidades, vou tentar ajudar Abby.
Acordo com um barulho na minha porta. Rapidamente sento na cama e olho em volta. Está tudo completamente escuro, do jeito que deixei antes do dormir. Ainda deve ser de madrugada.
Algo não está certo. Eu consigo sentir.
Me levanto, calço minhas botas, pego minha Yari e acendo a luz. Tem uma ponta de uma flecha atravessada na minha fechadura. Sei que é matematicamente impossível alguém lançar uma flecha assim, mas ela está de um jeito que torna impossível de abrir a porta.
Toco na flecha. Está estranhamente molhada. A flecha é prateada, assim como as flechas de Abby.
Tento forçar a porta nas o único jeito de sair seria quebrar a flecha. Uso minha Yari para tentar tirar a porta do lugar, mas não faz efeito. Começo a bater meu ombro contra a porta, mas não tenho força suficiente para atravessar a porta.
Merda. Está acontecendo algo lá fora.
Por que Abby fez isso? Por que ela me trancou aqui?
Eu posso não ser forte o suficiente pra quebrar essa porta, mas sei de alguém que pode. E graças a Deus ele dorme no quarto ao lado do meu.
Vou para a parede do lado do quarto de Will e esmurro. —Will! Você está aí?!—Falo alto suficiente apenas para ele escutar. Não sei os motivos de Abby para fazer isso, mas algo me diz que não é para fazermos alvoroço.
—Tara? Tem duas flechas na minha fechadura. Não consigo abrir. —Ele responde. —O que está acontecendo?
—Foi Abby. Tem apenas uma na minha...droga, eu contava que você estivesse livre para quebrar minha porta pelo lado de fora. —Falo.
Will não fala nada por um tempo. Consigo sentir minha perna tremendo de ansiedade para sair daqui. Cada segundo que passa parece horas.
—Will! Você ainda está aí? —Falo.
—Tara, se afaste da parede. —Ele diz um pouco baixo.
Faço o que ele me manda e dou três passos para trás. De repente, o punho fechado de Will atravessa minha parede. E aos poucos, Will consegue fazer um buraco. Percebo que ele teve que se transformar para isso.
Ele passa pelo buraco trazendo junto com si, seu bastão. Vai até a porta e tenta retirar a flecha.
Em alguns segundos, Will quebra minha fechadura e abre a porta.
—Espere. Me deixe ir primeiro. —Digo.
Ele assente e se afasta para eu passar. O lado de fora está calmo, escuro e normal. Mas eu sei que algo está errado.
Vou até a porta de Mike e ela está aberta.
—Vá checar os outros quartos. —Digo para Will e entro no quarto de Mike em busca de alguma pista. Eu nunca estive aqui antes. O quarto é bem parecido com o meu, exceto pela cor verde nas paredes que deixam o quarto mais vivo. Para um cara do elemento vento, deve ser difícil viver no subsolo.
Claramente não tem ninguém aqui. Não vejo as espadas de Mike, ele saiu daqui armado.
Saio para ver Will. Ele está quebrando a porta de Adam. Vou até lá e vejo a flecha de Abby, como na minha porta.
O quarto do Tobi está aberto e não tem ninguém, assim como o quarto de Abby. Assim que saio do quarto de Abby, vejo Adam conversando com Will e vou até eles.
—...como assim Abby me trancou? Eu estava dormindo! — Adam diz coçando a cabeça.
—Pegue sua a**a e nos encontre lá embaixo, temos que descobrir onde está o resto do pessoal e o que está acontecendo. —Falo para Adam e ele nem me dá tempo de terminar e volta para seu quarto.
Wil e eu descemos as escadas devagar. A essa altura, qualquer pessoa que estiver perto de nós, nos ouviu. Mas todo cuidado é pouco.
A arena está vazia. —Will, vá ver se está faltando alguma a**a no arsenal. — Digo e ele assente rumo ao arsenal.
Logo Adam se junta a mim segurando sua katana.
—O que faremos? —Ele pergunta
.
—Claramente algo está errado, precisamos checar todo o lugar é achar os outros. Vamos começar pelas salas de treinamento. —Falo.
—Entãovamosnasalaforte.—Elediz indorumo àsala que Will treinou nesses dias.
Geralmente as salas são trancadas, mas essa está aberta. Entramos e descemos as longas escadas que m*l conseguimos ver os degraus.
—Está muito escuro. —Sussurro.
—Tem um interruptor logo a frente.... m***a, não funciona. —Ele fala.
—Está impossível enxergar, vamos voltar e pegar uma lanterna. —Falo já dando meia volta.
—Não precisa. —Adam diz me puxando. Olho para ele com um olhar de interrogação que sei que ele n******e ver por conta da falta de luz, mas meu silêncio foi um bom sinal para ele continuar a falar. —Lembra quando eu me transformei? Virei uma lâmpada e quase ceguei a Abby?
—Mais ou menos, mas era impossível olhar para você. — Falo.
—Bom, eu descobri um jeito de...brilhar de novo, mas bem mais fraco. —Ele diz.
—Va em frente. —Digo.
Adam se transforma.
—Super luz. —Ele diz e então, aos poucos,seucorpo inteiro começa a brilhar. Ele fica um pouco...azul. suas maçãs do
rosto está roxas e então percebo que é rubor. Ele está com vergonha de brilhar como...bom, como uma fada.
É fascinante. E agora podemos ver tudo na nossa frente.
—O que foi isso? —Pergunto.
—Isso o que?
—Você falou. Super luz. —Digo.
Ele coça a cabeça e consigo ver suas bochechas ficando ainda mais roxas. Tento não olhar muito para elas, algo me diz que ele vai ficar ainda mais embaraçado quando souber que muda de cor.
—Bom...eu fiquei pensando sobre essa coisa de não sabermos do que éramos capazes. Tivemos a sorte de alguém da geração passada estar vivo, mas talvez isso não aconteçano futuro, então pensei em escrever um livro com todas nossas habilidades. E bom...precisei dar um nome a elas, para o livro não ficar confuso.
É uma excelente ideia! Assim como a ideia de Abby. Ele e Abby estão tendo ideias incríveis que vão mudar o mundo ninja para melhor.
—É uma ótima ideia, Adam. Vamos, já perdemos muito tempo. —Digo e ele assente.
Até o final dos degraus, não vimos uma alma viva sequer. Com essa nova habilidade de Adam, conseguimos ver quase a sala inteira. Ele teve uma boa ideia e boas ideias devem ser incentivadas. Eu vou ajudá-lo.
—Parece que está vazia. —Ele sussurra.
Eu nunca havia descido aqui embaixo. Will fez uma completa bagunça aqui. O chão está todo esburacado, a parede está rachada, além da bagunça que o brilho de Adam nos permite enxergar.
Mas...
Cutuco Adam.
—Tem alguém ali. —Falo mexendo os lábios sem emitir som algum e apontando para algo quase verde atrás de algumas caixas de madeira.
Adam assente.
Sem fazer barulho, conseguimos concordar que Adam vai sair devagar, para quem estiver ali pensar que fomos embora e eu o pego de surpresa.
Adam se afasta devagar.
—Ei cara, eu estava procurando vocês...WOW! Você brilha!!—Will aparece falando alto.
Olhoparaos caixotes e apenas vejoumapessoaempé com as mãos apontadas para os garotos. Sem pensar, me transformo e junto, minha raiva aumenta sobre a pessoa atacando meus amigos.
Corro para cima da pessoa e dou uma joelhada nas suas costas. Antes dele cair, consigo ver um lampejo de algo saindo dele. Assim que o ninja cai no chão, passo minha Yari pelo seu pescoço, imprensando-o contra mim.
—Clariss? —Will diz olhando para o ninja que estou prendendo.
Clariss?
Agora,minhavisão é do topo de suacabeçae esses cabelos verdes são inconfundíveis.
—Quente! —Clariss grita e solto ele.
Me afasto enquanto ele põe as mãos em volta do pescoço murmurando alguns palavrões. Imediatamente olho para Will e Adam para saber se algum deles está ferido. Clariss pode ser um ninja curandeiro, mas a medicina também pode ser perigosa.
Will parece bem, apenas nos observa com muita atenção. Aoseulado,Adamestácomamãonacabeçae oseubrilho está se apagando.
—Will, o que Adam tem? —Falo e Will consegue segurar Adam antes que ele alcance o chão.
Olho para Clariss. Sem pensar, vou até ele e seguro o colarinho da sua camisa levantando-o do chão e o fazendo ficar cara a cara comigo.
—O que você fez? —Pergunto com toda raiva que estou sentindo.
Clariss parece assustado. Só agora consigo ver uma queimadura f**a no seu pescoço causada pela minha Yari.
—Eu pensei que fossem os invasores! Apenas quis me defender, lancei um anestésico forte em Adam, ele vai dormir por algumas horas. —Clariss diz tentando não se engasgar.
Solto ele.
—Que invasores? —Pergunto.
—Aconteceu tudo muito rápido. Invadiram meu quarto e pegaram Tobi. Nem notaram que eu estava lá. Quando fui ver, eles estavam levando Mike e Abby. Mike parecia desacordado, mas a Abby estava lutando com seu arco, mas eram muitos e conseguiram imobilizar até Tobi. Eu corri para cá assim que pôde.
—Você não viu para onde os levaram? —Will pergunta.
—Apenas sei que não saíram daqui. Abby ainda estava lutando com eles quando vim para cá. —Clariss fala.
Eu consigo sentir e sei que Will também. Eles estão em perigo. Olho para Clariss. Assim, com o cabelo bagunçado, o pescoço em carne viva e roupas emaranhadas, ele não parece o curandeiro que eu admirava por suas habilidades.
—Clariss, você é a pessoa mais covarde que eu já conheci. Preste bem atenção, você vai ficar aqui com Adam e vai cuidar dele como se estivesse cuidando desse seu ego gigante, esse lugar foi comprometido, não é mais seguro, então eu e Will vamos pegar Tobi, Abby e Mike enquanto você encontra um jeito de sairmos todos daqui.
Não espero ele responder. Viro as costas e saio puxando Will pelo braço. Subimos as escadas rapidamente e voltamos a arena de treinamento.
—Está por nossa conta, acho bom esse seu martelo funcionar bem. —Digo para Will.
—Eu garanto 90% de precisão, mas não vai adiantar nada se não soubermos onde estão os outros.
Respiro fundo. Clariss estava certo quando disse que eles não saíram daqui. Afinal, não pegaram todos. E agora, consigo ver a luz no final do túnel.
Literalmente.
—Ainda falta mais um lance de escadas para o investigar. —Digo para Will olhando para a pequena fresta de luz vindo da sala de treinamento aberta.
Seguro forte minha Yari e mesmo que meu corpo aguente altas temperaturas, eu consigo sentir a Yari queimando a palma da minha mão. Isso é a mais pura e verdadeira raiva. Talvez o metal da Yari não apenas amplifique as temperaturas, mas talvez até os sentimentos.