Capítulo 3

1913 Words
Helena Evelyn Ao chegar à pensão durante a noite, estava tão exausta que só conseguia pensar em descansar. A aparência do lugar não era das mais agradáveis, mas como já me acostumei, não me importei muito com o ambiente. Aqui, pelo menos, tenho a vantagem de ter uma cama, algo que nunca tive antes. Após um banho revitalizante, deitei-me e logo adormeci profundamente. No início da semana, parti em busca do meu primeiro emprego antes de visitar as agências de modelos com minha coleção de fotografias. Fiz algumas buscas online, mas não consegui encontrar nenhuma dessas agências nas proximidades, o que me intrigou, já que São Paulo deveria abrigar inúmeras delas. Talvez eu devesse ter feito uma pesquisa mais detalhada sobre a cidade e escolhido um lugar com mais oportunidades para aspirantes a modelo como eu. Após um banho rápido, escovei os dentes e vesti um vestido leve. Agradeci a Deus pelo calor intenso de São Paulo. Na verdade, o calor era sufocante e sem brisa. O calor aqui não se compara ao da Bahia, que, apesar de ser bastante quente, conta com uma brisa agradável que torna o clima mais suportável. Depois de me maquiar e calçar meus sapatos de salto, travei a porta e me despedi da senhora Lúcia. Ela me disse: — Minha querida, que Deus te acompanhe. Agradeci e parti em busca do trabalho perfeito, confiante de que iria encontrá-lo. “Tenha uma mentalidade otimista, garota, você consegue!” Ao percorrer diversos locais, notei a frequência com que as pessoas fumavam nesta região. O que explicaria essa alta taxa de tabagismo? Era lamentável. Enquanto contemplava os edifícios, parques, estabelecimentos comerciais e cafeterias, refleti sobre a beleza do lugar. Visitei várias opções, mas não encontrei nenhum espaço disponível. A situação estava complicada! Felizmente, antecipei o p*******o, inclusive da refeição na pousada, que, aliás, estava em péssimas condições. Não consigo imaginar como ainda conseguem servir o almoço. Torço para que a comida seja preparada em um ambiente higiênico; caso contrário, terei que comer de qualquer jeito, já que não tenho dinheiro para me alimentar fora. Preciso economizar... Poupar é minha prioridade no momento, e não posso me dar ao luxo de desperdiçar o pouco dinheiro que tenho! Não consigo comprar nem uma garrafa de água. Se possível, prefiro beber diretamente da torneira. Sempre tomei água da torneira e mantive uma saúde excelente. Lembro-me até de consumir água da chuva, enchendo recipientes com uma bica de alumínio que tinha no telhado. Quando a água acabava, tínhamos que buscar em longas distâncias ou até mesmo passar sem tomar banho, sofrendo com a sede. Refletindo sobre essas questões, tentava não sucumbir à angústia, já que as opções de trabalho pareciam se esvair. O que faria se não conseguisse encontrar um emprego? A noite chegou, e eu ainda não tinha conseguido uma colocação, nem mesmo uma oportunidade para tarefas de limpeza. Retornei à pensão e fui direto para o meu quarto. “Amanhã será um novo dia!”, repetia para me motivar. Tomei um banho refrescante, vesti meu pijama, peguei um biscoito de água e sal para comer, já que passei o dia sem me alimentar e, ao chegar para a refeição, descobri que já havia acabado. Ou será que não havia mais e apenas colocaram o aviso de esgotado para se justificar? O local não parece ter uma cozinha, muito menos alimentos. Felizmente, já estou acostumada a passar fome. Muitas vezes, em casa, enfrentamos a falta de comida devido à negligência dos responsáveis, que não usavam o pouco que ganhávamos para nos alimentar. Contudo, por morarmos no campo, sempre havia alguma fruta ou vegetal disponível. Deitei-me e percebi que o quarto não tinha televisão. Fiquei pensando em como poderia encontrar algo para comer ali. Como fui ingênua ao me deixar enganar dessa forma! Dado o valor que paguei, é claro que não poderia esperar encontrar comida nesse lugar precário onde estou hospedada. A cama é ainda mais dura do que a que deixei na Bahia, algo que jamais imaginei ser possível. Assim, minha única opção era descansar, já que estou exausta, e nem sob tortura me arriscaria a sair em busca de emprego novamente usando saltos. Quem já tentou caminhar com um calçado tão alto, apenas para fracassar e ainda assim não encontrar nada? Tudo está tranquilo. Preciso ser persistente e manter a motivação; do contrário, não alcançarei minha tão sonhada carreira. Estou certa de que conseguirei essa oportunidade de qualquer maneira e não vou desistir. Afinal, sou brasileira e não desisto nunca... Oxe, de jeito nenhum! Com muitas ideias em mente, deixei-me levar pelo cansaço e adormeci profundamente. Na manhã seguinte, antes de sair, decidi conversar com a mulher responsável pela recepção. Ela disse, de forma enganosa, que a cozinha estava em reformas e que não havia comida disponível. Era claramente uma mentira, já que não há sinal de qualquer obra nesse lugar. Decidi sair antes de ser rude e insultá-la. Ela parecia ser uma pessoa simpática, e imagino que não seja a responsável por isso. Não quero começar meu dia com raiva; sinto que hoje será diferente. Preparei-me e saí em busca de uma oportunidade de trabalho. Desta vez, optei por usar um par de tênis confortáveis, pois não quero voltar a caminhar tanto tempo usando salto alto. Sinto dor e tenho calos nos pés, mas não deixarei que isso me desanime. Hoje, planejei visitar várias empresas, mas, mais uma vez, não consegui encontrar trabalho. Decidi seguir o conselho da proprietária da pousada e comprei um jornal com anúncios, mas voltei desmotivada, pois não havia encontrado nada. Parece que será mais um dia em que precisarei economizar para não passar fome. Sempre ouvi que encontrar emprego aqui seria fácil, mas a realidade tem mostrado o contrário. Já se passaram vários dias, e mesmo com os classificados do jornal, não tive sucesso. O prazo do aluguel da hospedagem está se aproximando, e só tenho recursos para cobri-lo por mais alguns dias. Sinto-me em desespero, e as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Chorei tanto que acabei adormecendo. Mais de trinta dias se passaram, mas nada foi conquistado. Enquanto olhava o jornal, deparei-me com um anúncio chamativo buscando uma assistente. Anotei o endereço e fui até o local. Ao chegar, estacionei em frente a um edifício bonito e usei o elevador para subir ao escritório. Entrei e perguntei a uma jovem simpática sobre a vaga de secretária. Ela me respondeu com pesar: — Sinto muito, mas essa vaga já foi preenchida. Senti-me desanimada e refleti sobre o meu fracasso. Tive que considerar retornar para o lugar onde nasci. A mulher gentil olhou para mim e disse: — Não fique assim, você logo encontrará algo. Se quiser, pode se servir de biscoitos e café. Agradeci e fui até a mesa do café. Enquanto saboreava alguns biscoitos, percebi que a jovem não estava prestando atenção em mim. Aproveitei a oportunidade e discretamente coloquei várias embalagens de biscoitos na bolsa, pois estava faminta e sem recursos. De repente, uma mulher deslumbrante e elegante se sentou ao meu lado e iniciou uma conversa: — Lamento que a vaga já tenha sido preenchida. Pensei: "Não estou com sorte nenhuma. Devia ter ouvido minha mãe e ficado em casa." — No entanto, tenho uma vaga melhor para você, também como secretária. Fiquei animada e perguntei: — É verdade? Você tem outra vaga para mim? Aqui neste prédio bonito? — Sim, mas não é aqui e muito menos no Brasil. — O que quer dizer? Não é no Brasil? Onde é? — Nos Estados Unidos. — Como assim? É no fim do mundo! Não posso ir para tão longe. — Veja as vantagens: você ganhará o triplo do que ganharia aqui, além da moradia. O que acha de R$6.000 por mês? Fiquei surpresa com a oferta. Ela me entregou um cartão e continuou: — Ficarei aqui até sábado. Se decidir, é só me ligar. Agradeci, levantei-me e disse: — Com certeza, vou ligar e estou considerando aceitar. Ao sair, refleti sobre como poderia melhorar minha situação financeira. Em apenas seis meses de trabalho, conseguiria comprar a tão sonhada casa para meus pais, sem precisar esperar dois anos para realizar esse desejo. Senti uma alegria imensa, pois agora tudo parecia progredir a meu favor. Poderia até presentear meus três irmãos com celulares e atender ao desejo de Renato por uma bicicleta. Eles nunca tiveram brinquedos e, se eu aceitasse essa oferta, poderia proporcionar a eles essas oportunidades e muito mais. Além disso, poderia matriculá-los em um curso profissionalizante, garantindo um futuro promissor. É angustiante vê-los trabalhando na colheita, em vez de se prepararem para o futuro. Isso me pesa e não quero que meus irmãos enfrentem essa realidade. Desejo que tenham perspectivas melhores para uma vida mais próspera do que a que vivem atualmente. Por causa da minha família, estou disposta a aceitar essa oportunidade de trabalho no exterior, que parece ser muito satisfatória, especialmente em relação ao salário. Nunca experimentei a sensação de ter mil reais. Essa chance única me deixou radiante, pois teria a possibilidade de viver essa experiência por apenas seis meses e depois voltar para casa. Nunca recebi mil reais antes; estou empolgada e só pretendo ficar seis meses. Não pretendo contar aos meus pais, pois sei que não me deixariam ir tão longe. Terei a oportunidade de ganhar bastante, já que nunca recebi sequer 500 reais na vida, e agora posso ganhar R$6.000. Essa mulher apareceu na hora certa! Apesar de ter dito que vou pensar mais antes de dar uma resposta definitiva, a proposta financeira é muito tentadora, especialmente porque inclui moradia. Isso significa que quase não precisarei gastar do que vou ganhar. É um trabalho dos sonhos ir para o exterior, especialmente para os Estados Unidos, um destino que nunca imaginei que conseguiria alcançar. No entanto, sinto um pouco de apreensão, mas estou confiante de que tudo dará certo. É importante manter uma mentalidade positiva. Sei que os Estados Unidos têm uma realidade diferente, com uma diversidade cultural, tradições e idiomas variados. Como poderei me comunicar com os nativos sem dominar totalmente a língua? Tenho um conhecimento básico de inglês, adquirido por conta própria, sem cursos formais. Por ser curiosa, ganhei alguns livros em inglês e sempre os levava para a escola, fazendo perguntas à minha professora, que muitas vezes parecia cansada da minha insistência. — Você não precisa aprender outra língua, Helena. Você nunca vai precisar, e certamente não vai para outro lugar; vai continuar aqui, nesse buraco. Não é minha responsabilidade ensinar inglês a vocês, então busque um curso que ensine o básico para todos aqui. Entendeu? Alguns professores parecem ter esquecido por que escolheram essa carreira. Eles não conseguem orientar ou motivar os alunos a se desenvolverem e ainda são rudes. Essa situação é alarmante: lecionar por obrigação e não por amor à profissão. Será que os americanos são receptivos ou não apreciam os brasileiros em seu país? Minha situação é delicada, pois a mulher incrível que me ofereceu essa oportunidade foi extremamente generosa ao garantir um salário tão atrativo. Quem recusaria uma proposta dessas? É realmente uma quantia significativa. Nunca imaginei, em toda a minha vida, ter a chance de receber tanto e ainda ter moradia sem precisar gastar nada. Para mim, isso parece um sonho, e estou verdadeiramente feliz, apesar de não ter muita clareza sobre o que fazer agora. Ainda estou perplexa, mas preciso acatar essa sugestão. Não tenho outra escolha a não ser embarcar rumo aos Estados Unidos...
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