Helena Evelyn
Os dias se passaram, e minha ansiedade aumentava à medida que refletia sobre a oferta da senhora chamada Marcela. Depois de longas deliberações, decidi ligar para ela e aceitar o acordo. Enfrentava problemas financeiros e não poderia voltar à minha cidade sem nada.
Com muita cortesia, Marcela me atendeu e, ao concordar com a proposta, perguntou se eu tinha todos os documentos necessários. Respondi que sim, embora não possuísse passaporte e visto para os Estados Unidos. Sem hesitar, ela solicitou meus dados e se comprometeu a providenciar tudo. Perguntei sobre a necessidade de assinatura e foto, e ela me tranquilizou, afirmando que não seriam necessários. Agradeci e encerramos a ligação.
Estava cheia de expectativas para visitar um país diferente; nunca imaginei, nem nos meus sonhos mais otimistas, que teria a oportunidade de conhecer os Estados Unidos. A ansiedade me consumia, mas a vida nos surpreende de maneiras incríveis quando menos esperamos.
Compreendi que deveria informar minha família sobre minha decisão. Conversei sobre isso com Marcela, que me aconselhou a contar apenas quando já estivesse nos Estados Unidos. Ela me tranquilizou, dizendo que eu ficaria em um lugar maravilhoso e confortável. Confiei nela, afinal, ela era muito simpática e estava me oferecendo uma grande oportunidade.
Atualmente, estou ansiosa e indecisa por não informar minha família. Tenho receio de deixá-los preocupados e de enfrentar as consequências quando souberem. Acredito que Leandro será o mais crítico, como costumava ser quando eu cometia falhas.
Algum tempo depois, recebi uma ligação de Marcela informando que todos os preparativos para nossa viagem estavam concluídos. Nossa partida estava agendada para o próximo sábado, rumo aos Estados Unidos. Meu coração batia freneticamente, e uma sensação de apreensão tomava conta de mim.
Será que tomei a decisão certa ao aceitar essa oferta de trabalho?
Estou extremamente assustada e cheia de medo. Sem dúvida, meus pais me repreenderiam severamente se soubessem da situação em que me meti.
Está tudo resolvido, e não quero desapontar Marcela, uma pessoa tão amável. No entanto, estou sem recursos financeiros para me alimentar. Já se passou um dia desde a minha última refeição, e não consigo reunir coragem para pedir à proprietária da pousada um prato de comida. Por isso, estou me contentando com água e alguns biscoitos.
Preciso me alimentar adequadamente, ou minha saúde estará em risco. Não desejo isso neste momento, pois sou jovem demais para enfrentar tal destino. Acabei de completar 18 anos e quero buscar um emprego, economizar dinheiro e proporcionar uma vida melhor para minha família. Esse é o meu maior objetivo, e farei de tudo para alcançá-lo, seja aqui ou em outro país.
Confio na minha capacidade de realização. Desde os 15 anos, tenho experiência em atividades agrícolas, o que me faz encarar qualquer trabalho pesado sem hesitação.
Finalmente, chegou o tão esperado sábado. Despedir-me da proprietária da pousada foi difícil, mas logo avistei um carro luxuoso me aguardando. Partimos diretamente para o aeroporto de Guarulhos, e ao chegar, Marcela já estava lá, elegante como sempre. Devia ser um lugar muito sofisticado onde eu trabalharia; precisaria de roupas mais adequadas, mas só saberia disso ao chegar.
Conheço algumas palavras em inglês, o que não é tão complicado. Recentemente, decidi buscar cursos gratuitos de idiomas na internet e escolhi inglês. Desde então, tenho dedicado grande parte dos meus dias assistindo às aulas e fazendo anotações em uma agenda que a dona Lurdes, da pensão onde estava hospedada, me ofereceu. Mesmo não dominando totalmente o idioma, percebo que consigo aprender com facilidade, o que tem me ajudado bastante.
Não consigo parar de pensar se tomei a decisão certa ao aceitar essa oportunidade de emprego que me renderá seis mil reais. É uma quantia considerável para alguém que nunca teve muito na vida, e isso me deixa radiante. Já estou à procura de uma bela casa com piscina para adquirir, para que meus irmãos possam desfrutar. Eles adoram nadar, e eu nunca tive a oportunidade de nadar no mar, já que moramos muito longe das praias de Salvador.
Refletindo melhor, acredito que seria incrível ter uma residência perto da praia, algo que sempre desejei e agora pretendo concretizar. Ao fazermos o check-in, Marcela me entregou os papéis, mas naquele momento não dei muita importância até que ela disse:
— Mudei seu nome, pois você não pode chegar nos Estados Unidos com seu nome verdadeiro.
— Por quê? Eu gosto do meu nome. Por que tenho que mudar o nome que meus pais me deram?
— Calma, querida. Seu nome será Valentina só por um tempo. Depois, você poderá usar seu nome de novo. Não se preocupe. Pense apenas que ganhará muito dinheiro e poderá fazer tudo o que quiser, minha flor. Você é linda e logo encontrará um namorado. Aposto que vai amar os Estados Unidos, Valentina.
— Será, Marcela? Espero me acostumar. Quando chegarmos lá, você me ajuda a abrir uma conta bancária?
— É claro, minha linda. Pode deixar que vou te ajudar em tudo que precisar. Sempre ajudo. Já arrumei emprego para outras garotas, e elas amam seus trabalhos. Você também vai gostar; é um trabalho tranquilo.
— Que bom, Marcela! Fico tão feliz com tudo isso. Quero um bom emprego e pretendo fazer faculdade de moda.
— Que lindo! Trabalhando conosco, você logo conseguirá fazer uma boa faculdade.
— Mas eu não gostei de mudarem todo o meu nome e também mudaram minha idade. Agora diz que tenho 25 anos, mas eu só tenho 18. Poderia me explicar isso ou não entro nesse avião.
Quando percebi, um homem que estava ao meu lado me puxou à força para dentro do avião, e eu nem percebi. Estava prestes a confrontá-lo e fazer uma grande cena, mas fiquei em silêncio ao ver sua arma.
O homem rude demonstrou comportamento agressivo. Encarei-o diretamente e evitei qualquer reação por causa de sua arma e da minha preocupação com a minha segurança.
Não permito que nenhum homem miserável toque em mim com mãos sujas!
O que estou fazendo aqui?
Infelizmente, a situação é crítica, pois o avião está prestes a decolar e estou sendo intimidada. Se eu causar qualquer alarde, minha vida estará em perigo. Essa mulher maldita agiu como se fosse amigável o tempo todo, mas agora revela sua verdadeira natureza.
— Para onde vamos mesmo? — perguntei.
— Para os Estados Unidos, já te disse. Agora fique quieta.
— Por que mudaram meu nome para Valentina?
— Valentina soa mais chique para o cargo que você vai ter. Calma, querida. Não tem nada demais mudar o nome, e quando voltar para o Brasil, poderá usar seu nome verdadeiro.
A cretina voltou a ser doce, me chamando de querida e sendo educada.
— Não precisa ficar desconfiada — falou, tentando me passar segurança, mas não sei se posso acreditar nela. Olho para trás e o homem atrás de nós me dá arrepios.
Já tive experiências com homens como ele, que desejam me fazer m*l, e até agora, graças a Deus, nenhum conseguiu o que queria.
— Pense no quanto de dinheiro você pode ganhar. Você mesmo disse que deseja proporcionar uma vida melhor para sua família. Então, foque nisso: essa grana permitirá que você dê tudo o que quiser para eles.
Ela estava certa, e eu reflito constantemente sobre isso, buscando sempre o melhor para minha família. Mas será que esse lugar realmente oferece uma boa remuneração? Estou desconfiado e finjo acreditar na boa vontade dessa mulher loira, mas, na verdade, estou com vontade de confrontá-la severamente.
Adormeci sem perceber e, ao despertar, já estava no terminal aéreo dos Estados Unidos. Agradeço por ter alguém ao meu lado, pois, sem dúvida, eu me perderia completamente neste lugar.
— Está tudo pronto, meu amor. Já chegamos.
Ao chegar, deparei-me com um aeroporto imenso. Na saída, um carro sofisticado nos aguardava. Observei atentamente cada detalhe ao longo do percurso, memorizando alguns nomes que chamavam minha atenção; a cidade era verdadeiramente deslumbrante.
Entramos em uma região que parecia um distrito habitado por pessoas de alta classe e nos dirigimos a um estabelecimento noturno, ou pelo menos é o que acredito, já que nunca frequentei um antes.
— Onde estamos?
— Onde você vai morar e fazer a gente ganhar muito dinheiro — respondeu ela com um sorriso cínico.
Assim que ela falou isso, aproveitei a distração de um homem próximo, desferi um tapa no rosto da mulher e corri para escapar. Imediatamente, eles começaram a me perseguir, mas consegui me esconder atrás de um carro estacionado.
Após perceber que os despistei, retomei minha corrida. Um dos seguranças me avistou e começou a me buscar, mas eu já estava longe demais para ser alcançada. Graças a Deus.
Agora, eu me pergunto se vale a pena dedicar meu trabalho a pessoas de caráter duvidoso.
Estou em uma situação extrema, sem dinheiro, sem conhecidos por perto e em uma encrenca complicada. Sinto-me perdida! Como planejar meu futuro em um lugar desconhecido?
Estava exausta e faminta, sem qualquer ideia de onde poderia encontrar algo para comer.
Como posso permanecer em algum lugar sem dinheiro?
E o que é mais preocupante: não sei nem mesmo onde estou…
É uma situação terrível, e para complicar ainda mais, estou sem meus documentos legítimos. Felizmente, tenho minha bolsa e alguns papéis falsificados. Se as autoridades me abordarem e desconfiaram da autenticidade deles, serei detida e estarei em apuros.
Essa mulher vai pagar caro quando eu a encontrar. Vou dar uma surra nela que ela vai se arrepender profundamente de ter vindo ao mundo. Fui enganada com essa história de ser secretária com um salário de seis mil reais…
Como diz o ditado, quando algo parece bom demais para ser verdade, é melhor desconfiar. Eu caminhava sem rumo certo quando, de repente, me deparei com uma linda praça. Decidi sentar ali e aproveitar o momento até o anoitecer. Mas então me ocorreu uma preocupação: e se alguém perturbado aparecer?
Que absurdo!
Por que não permaneci na Bahia?
Acho que todos estão preocupados comigo, e essa situação é um verdadeiro pesadelo! Deitei e acabei adormecendo. Algumas horas depois, acordei confusa, sem saber onde estava. Olhei ao meu redor até finalmente entender a situação. Estou completamente perdida e meu estômago reclama de fome.
Maldição!
Neste lugar, há muitos edifícios. Se eu pedir algo para comer, como café ou pão, será que eles poderiam me oferecer uma porção para saciar minha fome?
De repente, um homem elegante apareceu diante de mim e disse:
— Percebi que você passou a noite aqui.
Ele falava na minha língua, e fiquei alerta. Será que ele pertence ao grupo da Marcela?
— Quem é o senhor?
— Eu sou proprietário de uma agência de modelos.
— Qual é a pegadinha?
Acredito que esse homem deve estar completamente insano. Ele afirma ser o dono de uma agência de modelos. Meu Deus, isso é impossível! Será que estou vivendo um sonho?