Capítulo 2

1398 Words
Helena Evelyn Tenho três irmãos: Mathias, de 10 anos, Renato, de 13, e William, de 16. Todos são incríveis à sua maneira, e nós quatro herdamos uma notável semelhança com nossos pais, que, modéstia à parte, são incrivelmente bonitos. Apesar dos protestos da minha família, estou decidida a partir logo após meu aniversário. Já tenho dinheiro suficiente para me manter em uma pousada simples por algum tempo. Antes de me despedir, fui a uma loja e comprei dois celulares. Não tínhamos condições de bancar esse tipo de luxo, mas como ficarei ausente por um bom tempo, preciso garantir que terei contato diário com minha família. Com os celulares, poderemos até fazer chamadas de vídeo, se houver internet, o que vai me permitir vê-los todos os dias, mesmo à distância. Chegando em casa, guardei os aparelhos, troquei de roupa e fui trabalhar na colheita de pimentas, já que é a época apropriada. Trabalhar sob o sol forte é exaustivo, e o dinheiro que recebemos m*l vale o esforço. Passamos o dia inteiro no campo e, no fim, a recompensa parece ridiculamente pequena. Mas, felizmente, em breve estarei partindo para São Paulo em busca de novas oportunidades como modelo. Estava em dúvida entre São Paulo e o Rio de Janeiro, mas decidi pela primeira. Enquanto trabalho, noto meu amigo Leandro, que, com seu cabelo escuro e olhos castanhos, é um cara bem atraente. Ele está completamente apaixonado por uma garota encantadora, e eu só queria que ele fosse um pouco mais rápido em se aproximar dela. — Leandro, quando você vai finalmente tomar coragem e convidá-la para sair? — digo, rindo. Ele sempre fica nervoso e começa a gaguejar quando a encontra. Embora tenha um ótimo senso de humor, ele fica irritado quando eu rio dessas situações. Afinal, a garota percebe minha risada, o que só deixa tudo mais embaraçoso para ele. Nós somos grandes amigos, mas, infelizmente, há pessoas que parecem não ter o que fazer e ficam comentando sobre a gente, como aquelas velhas fofoqueiras que passam o dia na janela, com as dentaduras soltas, falando da vida alheia. Não me incomodo em tentar entender o que elas insinuam. Elas simplesmente não têm o que fazer. — E aí, já chamou sua garota pra sair ou ainda está enrolando? — pergunto, brincando. — Vai logo, dá aquele beijo de cinema, desses que... deixa ela nas nuvens! Já li algo sobre isso. Leandro me olha perplexo. — Como assim "deixar nas nuvens"? Onde você leu isso? — ele pergunta, confuso. — Relaxa, tô falando só do beijo — caio na risada. — Menos na parte de "deixar nas nuvens" do jeito que você tá pensando, ou a coitada vai morrer de vergonha! — Helena, eu ia te contar! Já estou namorando. Ela aceitou sair comigo ontem. Não é demais? — Ah, que bom, Leandro! Finalmente, hein? Agora você pode parar de pensar nela o tempo todo e aproveitar de verdade. Se precisar de conselhos, te empresto uns livros sobre o assunto — digo, provocando. Ele me lança um olhar que mistura surpresa e descrença, e eu não consigo segurar o riso. Leandro e eu somos amigos desde a infância, inseparáveis e sempre abertos a conversar sobre qualquer assunto. O que me diverte é que, embora eu esteja perto de completar 18 anos, nunca vivi essa tal "paixão arrebatadora" ou dei um beijo que me deixasse assim, como dizem por aí. Na verdade, já tentei me manter longe de alguns caras abusados que tentaram me forçar a algo, mas sempre resolvi isso com um tapa na cara e um chute bem dado. — Você não vale nada, dona Helena — Leandro diz, com um sorriso triste. — Vou sentir muito sua falta. Não sei como vai ser ficar sem você por aqui. O que vou fazer sem você pra me zoar todo dia? — Relaxa, agora você tem a sua garota. E a gente vai se falar sempre, já que agora eu tenho celular, sabia? — Helena, eu não tenho. — Eu sei, comprei dois aparelhos. Um é para os meus pais, e você poderá ir à minha casa e ligar para eles todos os dias. Por favor, cuide deles como se fossem seus. — Claro que vou cuidar deles, minha amiga. E não se esqueça: estarei sempre aqui quando precisar de mim. — Quero falar com você todos os dias! E não ouse se casar sem minha presença, porque quero ser sua madrinha. Nos divertimos bastante. Leandro é a única pessoa em quem confio plenamente. Sempre o admirei como meu melhor amigo, e o vejo como um irmão. Torço profundamente por sua felicidade ao lado da namorada; ele é, acima de tudo, merecedor de coisas maravilhosas. Os pais dele já são idosos, e ele, com apenas 19 anos, é o mais novo entre os filhos. Chegou o momento da minha partida e todos estavam em lágrimas. — Gente, parem com essa choradeira! Logo vamos nos ver novamente. Meus três amores me abraçaram e disseram: — Agora, quem vai te proteger desses marmanjos que não tiram os olhos de você? — Quanto a isso, não se preocupem, maninhos. Se algum i****a tentar algo, dou um soco na cara dele. Vocês sabem que sei me defender, certo? Sou capaz de dar mais socos do que muitos homens por aí... Eles riram. — Sabemos. Já na estação de ônibus, cercada pelos meus amigos, incluindo Leandro e sua namorada, cumprimentei cada um com um abraço caloroso e me dirigi a Leandro. — Fica de olho na minha família e cuida deles para mim. Despedindo-me, entrei no ônibus com destino a São Paulo. Sinto que vou conseguir tudo o que desejo, se Deus quiser. Reservei uma pensão barata pelo celular para os primeiros quinze dias. Depois, procurarei um lugar melhor assim que conseguir um trabalho, seja em uma lanchonete ou como babá. Ouvi dizer que em São Paulo até babás ganham bem. Sinto um aperto no peito, mas não consigo identificar sua origem. Sempre sonhei com essa oportunidade de partir para uma metrópole e buscar novas oportunidades. Talvez minha melancolia venha do fato de deixar minha família e meus irmãos para trás. Nunca passei um único dia sem a presença deles. No entanto, mesmo assim, estou contente! Acredito que posso conquistar o emprego dos meus sonhos. Sempre sonhei em ter um trabalho que me permita receber um salário integral, e prometo não gastar um centavo. Planejo economizar tudo, abrir uma conta bancária e guardar meu dinheiro. Espero que, em cerca de dois anos, eu tenha o suficiente para comprar uma casa. Na Bahia, há opções acessíveis. Se conseguir um salário superior a 1500 reais por mês, em dois anos será possível adquirir uma residência. Com um plano de poupança de 1000 reais e 500 reais para despesas, nunca tive a chance de manter esse valor em um único mês. Nunca cheguei a ganhar 500 reais em um período de trinta dias. Enquanto faço minhas contas, me distancio da família e me aproximo cada vez mais do futuro que desejo. Começo a sentir falta da minha família, do Leandro e das minhas amigas. Será que fiz a escolha certa? Não posso afirmar com certeza, mas estou determinada a seguir em frente e não desistir. No futuro, quero cursar moda na universidade. Essa é a minha verdadeira paixão: o universo da moda. Embora não tenha acesso à televisão, sempre fui apaixonada pela indústria da moda. Minha fonte de conhecimento foram os livros. Imagino como seria incrível desenhar e criar modelos para minha própria marca, especialmente em Salvador, onde poderia vender minhas roupas e criações. No entanto, no interior da Bahia, as oportunidades são escassas, e não vejo um futuro promissor lá. Na cidade, tudo parece possível, e seria um sonho ver meu trabalho exposto nas vitrines. Eu queria ter a companhia do Leandro. Seria incrível tê-lo ao meu lado. Perguntei se ele gostaria de me acompanhar, e ele queria muito, mas, infelizmente, não podia deixar os pais doentes e os irmãos, que só se interessam por mulheres. Se Leandro não estivesse presente, não consigo imaginar o que aconteceria com seu José e Dona Edite. Ele é uma pessoa valiosa, e espero sinceramente que nunca perca sua gentileza e afeto. Para mim, é essencial focar no meu próprio destino, que promete ser incrível. Adormeci e, ao acordar, percebi que já estava na estação rodoviária de São Paulo.
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