Capítulo 4

2020 Words
Barbara — Barbara, mais rápido, os clientes estão reclamando! — Régis resmungou. Eu estava tentando, mas o restaurante estava lotado, minhas pernas estavam doloridas, minha cabeça doía, cheguei desde às uma da tarde aqui. Olhei em meu relógio já havia passado da meia noite, estou exausta, tudo que eu mais quero agora é minha cama. — Senhores, boa noite! — Eu disse a todos presentes ali na mesa, incomodada por ter a presença daquele estranho e arrogante aqui. _Boa noite! — Alguns responderam uníssono, outros me ignoraram e um deles foi Eduardo que também estava ali. Não queria vir atender essa mesa que estava justamente ele, mas não tive escolha, Régis me deu uma bronca. Tenho que tentar ser ao menos profissional e não deixar a raiva e vontade de dar na cara dele interferir no meu ambiente de trabalho, não esqueci do jeito grosseiro como me tratou da última vez que esteve aqui. — Boa noite, senhorita. — Um outro homem presente ali respondeu, me analisando de cima abaixo com um olhar malicioso, olhando-me como se quisesse me comer, como se eu fosse um pedaço de carne suculento e gorduroso, pronto para o abate. Queria poder revirar os olhos mediante aos seus olhares nojentos de malícia, porém nada eu poderia fazer, Regis todos os dias fazia-nos repetir a mesma coisa: 1° Nunca debochem, falem com ironias ou tratem mau o cliente, isso pode colocar em risco o emprego de vocês. 2° Nunca discuta com o cliente, ele sempre tem razão. 3° Nunca os contrariem. 4° Obedeçam a todas as regras, caso contrário estão na rua! — Já sabem o que irão pedir? — perguntei educadamente a todos. — O que eu quero não está no cardápio, infelizmente. — O mesmo i****a que faltou me comer com os olhos respondeu, arrancando risadas de alguns na mesa, ele deve estar querendo curtir com a minha cara. — Quanto custa? Abrir a boca incrédula, esse i*****l estava mesmo se referindo a mim dessa maneira? Como se eu fosse uma prostituta que troca sexo por dinheiro? Bom, não que eu tenha algo contra mulheres que são garotas de programa, mas da forma como ele fala, faz isso parecer horrendo, ainda mais por eu estar diante de tantas pessoas. Uma raiva cresceu dentro de mim, me queimou por dentro, queria poder extravasar e dar na cara dele, mas tinha que me controlar. — Você entendeu errado senhor, todos os pratos do restaurante estão no cardápio. — Deus, me dê paciência. — Não o que eu quero! — disse e prosseguiu — Quanto custa? Arqueei as sobrancelhas e o encarei cruzando os braços abaixo dos s***s. Estava furiosa, queria esganar esse p****e por estar tirando sarro da minha cara, tentando me menosprezar e inferiorizar, fitei todos que estavam na mesa e meu olhar se encontrou com o de Eduardo. Ele me fitou do mesmo modo de semanas atrás, com indiferença, outra coisa que me aborrece e incomoda. — E o que você quer senhor? — Perguntei a contragosto imaginando sua resposta. — Quero você na minha cama, de diversas maneiras e posições. Alguns gargalharam, esnobes, egocêntricos, ironicamente Eduardo se manteve sério e impassível. — Daniel, pare de brincadeiras sem graça com a moça, ela está em seu ambiente de trabalho. — Um homem n***o, alto de olhos verdes e muito bonito, disse, ele também estava sério e pelo visto não gosto das palhaçadas do amigo. — Não me importo com isso — respondeu o playboyzinho de merda em um tom rude para o homem ao seu lado. Todos aqueles homens ali pareciam ser ricos, importantes, ter tudo o que queriam, inclusive a mulher que quisessem em sua cama, ou quase todas, e possuíam dinheiro, mas ainda assim não eram donos do querer de ninguém. Por um momento senti arrependimento de ter ficado com Eduardo naquela noite, ele com certeza é do mesmo tipo de seus amigos. — Por favor, traga canard à l'orange e nos sirva um vinho melhor vinho da casa — o mesmo n***o dos olhos esverdeados pediu com um sorriso amigável no rosto. — Pode deixar, irei trazer senhor. Com licença. — Me retiro dali e ando em passos rápidos até a cozinha do restaurante. Queria dar meia voltar e correr para bem longe daquele restaurante, o homem do qual eu tinha transado estava bem ali, e seus amigos tentavam me menosprezar fazendo piadas de mau gosto. Adentro a cozinha e sinto minha boca salivar, um enjoo me toma, me encosto na parede e me sinto tonta, respiro fundo e fecho os olhos tentando voltar ao normal, ouço Regis batendo palmas chamando minha atenção. — Vamos não temos tempo a perder menina, não faça corpo mole a essa hora - disse ele - os clientes estão esperando o vinho. Reviro os olhos sem que ele perceba, e vou em direção a adega, pego o melhor e mais caro vinho que temos no restaurante assim como pediram, os sirvo o Hermitage La Chapelle. Eles falam sobre negócios, algo sobre “diminuir desperdícios e melhorar a eficiência dos processos”, acho que deve ser de uma empresa muito grande, os ouvi citar “milhões para investimentos” e “implantar mudanças”, nem pude ouvir bem pois ao me aproximar, o mesmo i****a me olhou de cima abaixo. — Você tem uma b***a gostosa. — Constatou malicioso, parei o que estava fazendo na mesma hora e o fuzilei com meu olhar. Isso é assédio, parece contraditório que um homem rico, e que com certeza deve ter frequentado ótimas escolas haja de forma tão nojenta, feito um animal. — Você está me desrespeitando. — Reclamei irritada, f**a-se Regis quando as suas regras não vou ficar escutando essas asneiras - Não pense que é porque trabalho servindo as pessoas em um restaurante que não tenho dignidade, eu mereço respeito! Ele somente riu debochado, depois olhou para os amigos na mesa. — É mesmo? — Instigou e completou — conheço bem o seu tipinho, dão uma de difícil, mas são as primeiras a abrir as pernas para qualquer um. Eu sei bem o que ele pretende, como eu não lhe dei confiança ele acha que pode me humilhar, me menosprezar, eu odeio pessoas desse tipo. Ergo a garrafa de vinho em minhas mãos e jogo o líquido em sua cara, deixando todos ali na mesa boquiabertos, segundos depois alguns riram, Daniel me olhou com puro ódio e passou o guardanapo em seu rosto limpando-o e quando ele se levantou recuei um passo, ele está furioso. — Sua vagabunda! — Xinga e fecha os punhos, todas na mesa levantaram-se, e no movimento rápido Eduardo já está em minha frente impedindo o seu amigo cretino de partir pra cima de mim - Saia da frente, Eduardo. Todas as atenções do restaurante estão em nós três, nossas vozes altas, o burburinho dos clientes que olham e comentam. Vejo Regis se aproximando fitando-me com um olhar reprovador. — Você procurou, Daniel, estava cheio de gracinha, não é todo mundo que atura isso — Eduardo falou, mas Daniel ainda me olhava com sangue nos olhos, eu quem deveria estar furiosa, pois foi a mim que ele desrespeitou e assediou. — Cadê o dono desse chiqueiro? Eu só saio daqui quando essa v***a for despedida. — Senhor, mil perdões... — O i****a do Regis pedi, esse covarde interesseiro, só pensa em dinheiro e em puxar o saco de pessoas da classe média alta, ele trabalha como gerente aqui há uns anos e se acha dono do local -Vamos dar um jeito nisso. _Eu não quero que deem jeito em nada, só quero ver essa mulher no olho da rua! — Nossos olhares novamente se cruzam, pura raiva e fecho a cara para ele. — Daniel, você está agindo feito um moleque. A culpa foi sua. — Novamente o seu outro amigo me defendeu, o único ali que parecia ser decente. — Vou pedir que lhe sirvam outro vinho e tragam logo o seu jantar. Vou tomar todas as providências cabíveis. Regis falou e me olhou, de forma indireta me dando um recado somente com o olhar, já sei bem do que se trata, me retirando dali eu o seguir e fomos até o escritório. Eu sabia o que iria acontecer agora, eu sabia que por conta disso iria perder meu emprego, por causa de algo que não foi culpa minha, não fui eu quem provocou a situação. — Eu sinto muito Barbara, mas vou ter que lhe despedir. — Você não pode fazer isso Regis, a culpa não foi minha. — Eu nem preciso mais repetir quais são as regras daqui certo? — Perguntou frio — você sabe muito bem que não se pode contrariar os clientes e muito menos tratá-los m*l e, foi justamente o que você fez hoje. — Ele me desrespeitou, será que você não entende? — Gritei perdendo a paciência. — Se você for atrás disso, nunca irá parar em um trabalho, ou acha que tudo são mil maravilhas? As pessoas xingam, são chatas, m*l-educadas, quem trabalha com o ser humano tem que engolir sapo, isso é, quem quer trabalhar, no Brasil tem milhões de pessoas desempregadas, o que você está achando r**m, outros se matariam para ter. — Lá vem ele com seu papinho de merda, o m*l de gente rico é achar que só porque somos pobres temos que aguentar sermos humilhados e escravizados — pobre não sabe valorizar o que tem! Reviro os olhos tamanha raiva, tenho vontade de esmagar sua traqueia. — Quer saber? Pega o seu diploma de Administração que você tanto fala que tem e enfie no seu cu — esbravejo consumida pelo ódio —, tenho certeza de que não é isso que eles ensinam na faculdade, tratarem os colaboradores feito uns animais. Burro como é certamente deve ter comprado o certificado! Odeio esses machos escrotos com pensamentos machistas, tenho vontade de cuspir na sua cara. Sinto uma raiva, raiva desse medíocre do Daniel, raiva do covarde do Regis e raiva de mim mesma por ser uma i*****l, eu deveria tê-lo ignorado, agora perdi meu emprego. De volta à estaca zero. Ele me demitiu e me pagou o dinheiro da semana. Sai do restaurante de cabeça baixa me sentindo péssima, e agora? Onde irei arrumar um emprego tão rápido? Sai andando pela avenida um pouco mais deserta, poucos carros circulavam por ali. Me abracei e me sentei no ponto de ônibus sozinha, lágrimas quentes desceram na minha face. Estou chorando, um choque de realidade me atinge em cheio, perder meu emprego com certeza foi pior que descobrir que estava sendo traída. Meu Deus, como vou fazer para sobreviver? Com a crise no Brasil está tão difícil arrumar um emprego, m*l comecei a trabalhar e já fui demitida. Cubro meus olhos com as palmas das mãos e soluços escapam pela minha boca, estou cansada dessa minha vida lixo, tudo conspira contra minha felicidade, olho para os lados e de repente sinto um medo por esta em plena duas horas da manhã sozinha em um ponto de ônibus, poucos carros e pessoas vagando, vento gelado bate em minha pele fazendo todo meu corpo arrepiar-se. Mas não posso me dar um privilégio de pagar um táxi dessa vez, não posso gastar dinheiro atoa. Sinto um frio na barriga quando um carro preto de vidros fumê vem em alta velocidade em minha direção, tiro o dinheiro da minha bolsa e ponho dentro do sutiã, pelo menos se me roubarem não levarão meu dinheiro. Todos os meus nervos tencionam quando o carro para na minha frente, um nó na garganta, coração acelerado, o pânico tomando conta de mim, queria poder correr e gritar, mas entro em choque. Não consigo sair do lugar. Segundos que parecem demorar uma vida até que alguém abre a porta lentamente, fecho meus olhos tremendo. O silêncio se instala e ao abrir os olhos novamente toda a tensão de repente abandona meu corpo quando vejo a pessoa sair de dentro do carro. — Entre! — Disse mandão. Eduardo. Não sei se fico aliviada ou ainda mais apavorada.
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