Lúcifer Narrando
Fiquei lá no QG, de bobeira, esperando os moleques. Fui até a mesa e acendi um beck, puxando o fumo com gosto, deixando a fumaça sair lentamente pela boca. O cheiro do beck misturava com o meu perfume, criando um aroma que eu sempre curti. Eu olhava pro teto, tentando relaxar, mas a cabeça não parava.
A brisa entrava pela janela, mas não dava pra refrescar a minha mente. A cada tragada, eu sentia o peso das tretas. Depois de algum tempo e alguns becks queimados, ouvi uns gritos que atravessaram o silêncio do QG. O choro era intenso, e eu sabia que era a Püta da Tamires.
Levantei e fui até a entrada, Não tinha como escapar. A mulher se meteu no B.O errado. A raiva cresceu em mim como um vulcão prestes a entrar em erupção. Peguei ela pelo braço, enquanto ela perguntava o que eu ia fazer. E começou a gritar dizendo que eu já tinha falado a verdade para Caroline. Empurrei ela na Cadeira, e peguei a máquina, e comecei cortar o cabelo dela. Ela gritava, chorando, pedindo pra parar.
— Para! Por favor! — ela gritava, desesperada. Mas eu não tava nem aí.
Depois de passar a zero, enquanto ela chorava escondendo o rosto, segurei uma colher, esquentei.
— Abre a boca! — eu disse, olhando diretamente pra ela.
O Nevado segurou a cabeça dela, enquanto eu pressionava a colher quente contra a língua dela.
— Aaaaaaah! — ela gritou, o som dela ecoando pelo QG. — Por favor! Para! Eu não vou mais mentir, eu prometo!
— Nunca mais tu vai trocar uma palavra com a minha mulher, entendeu, arrombada? — eu gritei, com a voz cheia de raiva. O
Ela balançou a cabeça, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu sabia que aquela dor ia marcar ela de um jeito que ela nunca ia esquecer.
Mandei tirar a roupa dela e dar um rolê pela quebrada pra mostrar o que acontece com quem tenta me tirar de palhaço.
Os caras começaram a rir enquanto Nevado arrastava ela para fora. Meu mandado foi cumprido e eu fiquei satisfeito. Botei um vapor de vigia na porta do barraco da Jennifer e já mandei avisar do morro que ela não saísse até esclarecer essa merda. Tenho certeza de que não é meu, mas também não vou sossegar até descobrir de quem é e botar os dois pra fora da minha quebrada.
Eu voltei pra casa, mas não consegui dormir. A noite toda foi só pensando na Caroline. Porr@, eu tenho que me acertar com ela. Não dá pra ficar assim, sem resolver as coisas. A gente nunca passou tanto tempo longe assim, e já tô surtando. Levantei com o sol na cara e a cabeça cheia de planos, então decidi que hoje eu ia atrás dela, de qualquer jeito.
Falei com o vapor que tá sempre de olho na Caroline. O cara me confirmou que os pais dela saíram. O tio Cobra e o tio Léo têm uma loja de autopeças na entrada do Morro, e a tia Paty, é professora. Quando ela saiu, ele me deu o toque. Na hora, eu tomei um banho rápido, me arrumei e coloquei a pistola na cintura. Desci a ladeira com a adrenalina lá em cima.
Assim que cheguei na casa dela, não pensei duas vezes: pulei o muro. Já fiz isso tantas vezes, principalmente pra gente se pegar no meio da madruga. Os cachorros já me conhecem, então nem latem mais. Entrei na casa, fui direto pro quarto dela, e na hora que a Caroline me viu, ela se assustou, mas logo veio cheia de marra, com aquele jeito dela que eu amo.
— O que você tá fazendo aqui? — ela perguntou, bem desaforada.
— Já dei o papo, Caroline. Nós vamos resolver isso agora — respondi, firme.
Ela logo cortou:
— Não tenho nada pra falar com você.
Dessa vez, dei um passo pra frente e ela recuou. O clima tava pesado, mas eu não ia deixar ela se afastar assim. Caroline sentou na cama e eu sentei do lado dela, tentando encontrar as palavras certas. Comecei falando:
— O filho não é meu, e já tem gente minha quebrando a cabeça pra provar isso.
Ela me olhou com uma expressão que dizia tudo.
— Eu sei que pode ser de qualquer um, já que a Jennifer não passa de uma pïranha rodada — ela disparou, e eu senti a raiva dela.
Mas, porr@, eu precisava ser sincero.
— O fato é que toda vez que a gente terminou, eu fiquei com outras. Pedi perdão, Caroline, admiti que nessa área eu fui moleque. Mas sempre que eu tava com outra, era só pra provocar você. Era em você que eu pensava o tempo todo.
A conversa começou a fluir, e eu percebi que a tensão tava diminuindo. Caroline começou a chorar, e ver aquelas lágrimas escorrendo pelo rosto dela fez eu me sentir um merda. Porr@, como eu consigo fazer tão mäl pra mulher que eu amo? Me ajoelhei nos pés dela, com a alma exposta.
— Me perdoa, princesa. Me deixa fazer tudo diferente. — as palavras saíram desesperadas, e eu senti o peso da minha culpa.
Ela olhou pra mim, a expressão misturada entre raiva e dor. Não tinha como escapar, eu precisava ser real.
— Você me machucou, Oliver — ela falou, a voz embargada. — Cada vez que você ficava com outra, e eu relevei, mas dessa última vez, você não se importa comigo —
Eu sentia cada palavra dela como um golpe.
— Caroline. Eu achei que te provocar assim ia fazer você sentir ciúmes, e voltar pra mim, mas só me afastou mais de você. Eu fui um idïota.
Ela respirou fundo, ainda meio incerta.
— Então por que agora é diferente? O que mudou?
— Eu mudei, eu prometo. Não quero perder você de novo. Não posso. — a sinceridade no meu olhar era tudo que eu tinha pra oferecer. — Eu sei que errei, mas não sei viver sem você.
Caroline se levantou, andou pelo quarto. O silêncio pesava entre nós.
— Como posso confiar em você de novo, Oliver? — a pergunta dela me pegou desprevenido.
— Eu vou provar, pode apostar. Vou fazer o que for preciso pra reconquistar sua confiança.
Ela se virou pra mim, a expressão ainda confusa, mas eu vi uma fração de esperança nos olhos dela.
— E se eu não estiver pronta? E se eu não conseguir esquecer tudo que aconteceu?
— Então eu vou esperar. Eu vou lutar por você, porque você vale a pena. — a determinação na minha voz era sincera.
Caroline olhou pra mim, e eu sabia que dentro dela, uma batalha rolava. A dúvida, a dor, tudo se misturava com uma leve chama de esperança.
— Você fala isso agora, mas e quando a poeira assentar? — ela questionou, e eu sabia que não era só uma dúvida dela, mas um teste.
— Eu não sou mais aquele cara, Caroline. Eu tô aqui, de coração aberto. Quero ser melhor por você.
Ela se aproximou, hesitante, e eu sabia que o momento decisivo estava perto. Eu levantei a mão, e com um gesto delicado, toquei o rosto dela, enxugando as lágrimas que ainda escorriam.
— Me deixa tentar de novo. — pedi, quase num sussurro.
Aquele instante foi eterno. O silêncio falava mais que qualquer palavra, e o ar parecia carregar um novo significado. Eu estou disposto a lutar, e só espero que ela também queira lutar ao meu lado.
— Você tem uma chance, Oliver. Mas só uma. — finalmente, ela falou, e o sorriso que surgiu em seus lábios fez meu coração disparar.
Me levantei, cheio de esperança, sabendo que, havia uma luz no fim do túnel. E eu não vou errar de novo.