Caroline Narrando
Eu estava em casa, deitada no tapete da sala. Meu pai cobra, e minha mãe estavam no sofá assistindo e comentando como sempre. Eles não sabem assistir calados, sempre têm um comentário para fazer sobre a cena.
Eu estava mexendo no celular quando bateram no portão, e fui ver quem era. Meu pai, Léo, saiu, e às vezes ele esquece a chave. Na verdade, quase sempre. Assim que abri o portão, dei de cara com a Tamires. Eu não suporto essa garota.
— O que tu quer, mocreia? Vaza, que aqui ninguém quer cota com pïranha não — falei encarando ela.
— Calma, Carol, só vim passar um recado, pô, não precisa dessa ignorância toda — ela falou sorrindo, e eu perguntei se ela tinha virado garota de recados, além de correr para ajudar vapor. — Não, só vim te avisar que você foi promovida a madrasta. Parabéns, a Jeni tá grávida do Lúcifer.
Caralhø, quando ela falou isso, minhas pernas tremeram. Como assim grávida do Oliver? Como ele foi capaz de fazer isso? Não respondi, só virei as costas e fechei o portão. Entrei em casa ainda sem reação, com uma vontade horrível de chorar. Senti um nó na garganta, um aperto no peito.
— Filha, tá tudo bem? — meu pai perguntou. Olhei para ele e me joguei ao seu lado. Coloquei a cabeça no colo dele e comecei a chorar.
Eu não conseguia falar. Meu pai e minha mãe perguntaram quem era e o que tinha acontecido, minha mãe já começou a ficar nervosa.
— O Oliver, ele vai ser pai. A Jennifer tá grávida — falar em voz alta doeu mais do que ouvir.
Minha mãe ficou possessa, mas comigo, por estar chorando por ele. Me mandou criar vergonha na cara e esquecer ele, como se fosse possível. Aquele inferno de macho é o amor da minha vida, mas Oliver vai dançar na minha mão; ele não perde por esperar.
Me levantei, meu pai me abraçou e enxugou as minhas lágrimas, pedindo para eu parar de chorar. Fui para o meu quarto, tomei banho, e meu pai, Léo, chegou e confirmou a história que a própria Jeni tinha falado para ele. Isso eu achei estranho, porque ela nunca falou com ele; com certeza fez isso por pirraça. Vad*ª. Mandei uma mensagem para o Oliver e bloqueei logo em seguida, só para ele saber que eu já sei de tudo.
A Jamile me chamou, e ficamos conversando na frente de casa. Jamile é minha vizinha; a gente cresceu junto, mas agora é muito raro a gente se ver. Ela tá trabalhando em uma loja no asfalto e só tem folga uma vez por semana. A gente tava de boa, conversando sobre futilidades, quando olhei para a esquina e vi o Oliver. Mesmo ele sendo gêmeo idêntico, eu consigo reconhecer de longe quem é quem. Acho que foi os anos de convivência que me fizeram reconhecer o Oliver. Corri para dentro e fechei o portão. Quando cheguei na sala, mandei uma mensagem para a Jamile dizendo que não vou sair mais.
Oliver começou a gritar feito um maluco, me chamando e buzinando. Minha mãe ia sair, mas meu pai não deixou. Meu pai, cobra, saiu, mas entrou logo em seguida e disse que o Oliver já tinha ido embora. Fui para o meu quarto e chorei horrores. Eu tenho que arrancar esse demônio do meu coração e da minha mente, por mais que ele não me deixe me relacionar com mais ninguém. Mas eu também não quero viver assim, chorando por ele.
Eu tava deitada quando a minha mãe me chamou.
— Caroline, a Tamires tá aí insistindo para falar com você — minha mãe disse, parada na porta. Eu me sentei na cama e disse que não queria falar com ela.
— Pode mandar ela ir embora, não tenho papo com essa garota.
— Ela apareceu bem agitada e disse que o assunto é sério. Vai lá escutar o que ela tem a dizer, e se ela vier falar do Oliver e da Jennifer, dá uma coça nela, para ela deixar de ser escrota — minha mãe falou, sorrindo.
Me levantei, me arrastando contra a minha vontade, e fui ver o que ela queria. Se ela vier falar merda novamente, vai levar uma surra. Eu vou arrastar ela pelos becos e só soltar na frente da casa do padrinho, mandando aquele D*abo cuidar dos BO dele.
— Fala o que tu quer?
— Eu vim aqui desmentir o que eu te disse mais cedo — ela falou com os olhos marejados.
— Oliver te mandou vir aqui? Qual foi, pô? Sustenta teu BO, mulher, deixa de ser Maria mijona — falei encarando ela nos olhos.
— Não, Lúcifer nem sabe que eu estou aqui. Eu só vim porque a minha consciência pesou. Eu não deveria ter mentido sobre isso. Desculpa, Carol. Eu me deixei levar pela Jennifer. Olha, ela não sabe quem é o pai, e eu acho que não é o Lúcifer — ela falou, e eu fiquei muda.
Pode ser que não seja ele mesmo, mas tem chances de ser. Eu deveria me sentir aliviada, ou coisa assim? Mas não senti nada. Só mandei a Tamires vazar da minha porta, fechei o portão e entrei para dentro. Conte a meus pais o que ela falou, e, como era de se esperar, meu pai Léo disse que não acreditava que o Oliver é um moleque, e meu pai, cobra, disse que acredita que, se realmente tem uma criança, não é filho dele.
Me joguei na cama e, entre cochilos, acabei adormecendo. Acordei com meu celular vibrando: era mensagem das meninas, um vídeo da Tamires com a cabeça raspada, chorando, descendo o morro. Eu acabei sorrindo com aquilo; tenho certeza que foi ele quem fez isso ou mandou.
Nem tive tempo de me levantar para fazer a minha rotina matinal, quando a porta do meu quarto se abriu, e era ele.
— O que tu tá fazendo aqui? — perguntei, encarando ele nos olhos.
— Vim para a gente conversar. Aquela mensagem que tu me mandou tá entalada aqui na minha garganta. Eu te amo, Caroline, e tu sabe disso, p***a. A gente vai se resolver, vai ser agora.
Fiquei encarando ele e ameacei gritar. Mas seria inútil; nessa hora, meus pais estão trabalhando. Inferno.