Breno Narrando
Mano, cê não faz ideia do que foi quando o Nevado me soltou que a Alice vai pra Sampa. Pior que eu já tava na merda, ligado? Cheirando que nem doido. Aí foi a gota d’água, brother, eu quase passei dessa pra melhor. Quase que rolei uma overdose, sério. Fiquei tão doidão que nem lembro como cheguei em casa. Só sei que, do nada, senti o meu velho me puxando pelas escadas e me jogando no banheiro. Mano, eu tava num nível tão alto que parecia que o chão tinha sumido.
Quando acordei, cê não tem noção da ressaca moral. Aquela dor de cabeça que parece que tão martelando dentro do crânio, sabe? A real é que, mesmo depois do banho frio, a consciência não me deixava em paz. Fiquei refletindo, na moral. A Alice sempre falou que a gente não tem nada sério, que eu não devo nada pra ela, e ela também não deve nada pra mim. Só que, por mais que ela repita isso, eu não consigo tirar essa sensação de traição da cabeça, tá ligado? Parece que eu tô vacilando com ela, que tô traindo algo que nem sei o que é.
Levantei decidido. Já era. Tomei um banho gelado, botei a roupa e fui pegar minha moto. Na minha mente, a única coisa que passava era a Alice. Eu preciso dela, mano. A real é essa. Desci na rua acelerando, o coração a mil. Só queria ver ela, trocar uma ideia, entender o que tá rolando de verdade. Vai que ela mude de ideia, né? Não posso deixar ela ir embora sem fazer nada.
Cheguei na casa dela, buzinei umas três vezes. Coração na boca. Quando o portão abriu, era ela. Mano, cê não tem ideia. A mina tava linda, daquele jeito que sempre foi, mas parecia que tava ainda mais bonita naquela hora. Fiquei ali, parado, encarando ela da cabeça aos pés. Não era só a beleza, tá ligado? Era a parada de ser ela, de ser a Alice. A mulher que mexe com a minha mente e com o meu peito. Quando ela me olhou, meio desconfiada, perguntou:
— O Que você quer aqui, BN?
Aí eu respirei fundo, desci da moto, tentei botar um ar sério, mas por dentro eu tava todo enrolado. Falei:
— Quero trocar uma ideia contigo. Um papo sério, tá ligada?
Ela cruzou os braços, já na defensiva, como se soubesse o que tava vindo. Respondeu meio fria:
— Tô ocupada agora.
Aí eu olhei pra ela, sem nem pensar, perguntei:
— Ocupada com o quê? Fazendo as malas?
Ela ficou parada por um segundo, me encarando, e mandou:
— Tô sim.
Foi aí que eu surtei de vez. Não deu, mano. Desci da moto de uma vez, dei dois passos rápidos na direção dela e puxei ela pela cintura. Na hora, encarei os olhos dela. Tava decidido. Queria beijar, queria mostrar o quanto eu tava na dela, o quanto ela é minha, nem que fosse só naquele momento. Só que, mano, quando fui beijar, ela virou o rosto e me empurrou.
— O Que você tá fazendo, Garoto? — Ela me olhou, meio chocada, mas sem perder a firmeza. — O que você quer comigo?
E aí, mano, não teve jeito. As palavras saíram sem eu nem pensar:
— Quero ficar contigo. Quero você pra mim, Alice. Quero que a gente seja de verdade, tá ligado? Fiel, só eu e você.
Ela deu um passo pra trás, se soltando de mim, e balançou a cabeça.
— BN, eu vou embora. Vou pra São Paulo, tenho planos, minha vida tá indo pra outro rumo. Não adianta você vir aqui e falar essas coisas agora.
Mano, meu coração disparou. Naquela hora, senti um desespero que nunca tinha sentido antes. Era como se eu fosse perder tudo. Tudo que, até então, eu nem sabia que queria tanto. Peguei no braço dela, mais suave dessa vez, olhei nos olhos dela de novo e falei:
— Não faz isso, Alice. Não vai embora, por favor. Cê não entende... Eu não vou conseguir ficar sem você. Não dá. Vai ser föda demais. Eu preciso de você comigo, mano, na moral. Cê não pode me deixar assim.
Ela ficou quieta por uns segundos. Acho que nem ela sabia o que falar. Eu via que ela tava dividida, mas também tava decidida, sabe? Ela respirou fundo, soltou o braço do meu e disse:
— BN, a gente nunca teve nada, você sabe disso. Eu não vou me adaptar ao seu estilo — Ela falou me encarando.
Perguntei que estilo, de traficante? E ela sorriu, Alice é prima do Nevado, e o tio dela também é do movimento. Estranhei ela falar isso. Mas ela explicou, que o meu Estilo é de ficar com várias ao mesmo tempo, de chamar atenção por ser de frente. De dar moral às marmitas. Ela não quer nada com alguém assim.
— Porr@ Gata! Eu não sou assim, quer dizer sou, ou melhor era — Me enrolei todo nesse caralhø.
Alice ficou me encarando, eu respirei fundo e joguei na sinceridade, tá ligado? Essa é a hora de falar a verdade, meu pai sempre diz, que se quiser algo na vida tem que agir com a verdade. Então me joguei de cabeça.
— Alice, eu tô na tua, quero você, e eu sou homem o suficiente para sustentar a palavra. Eu sou da pütaria e geral sabe, mas se você me der uma chance, eu juro gata, juro que vou ser fiel, Juro que só vai ter tu na minha vida. Eu arrumo o trampo que tu quiser aqui no RJ. Até caso, mas por favor! Não me maltrata mais. Não faz assim com esse vagabundo que te quer, mais que tudo.
Maluco, a mina chorou, porr@ mandei muito bem, ela me abraçou. E eu não perdi a Oportunidade, nos beijamos ali mesmo no portão.
— Alice, tu quer ser minha fiel? — perguntei.
— Você vai ser fiel — ela perguntou.
— Sempre minha Gata.
Porr@, minha Alice vai ficar comigo. Nessa hora a Tamires passou, e a Alice me encarou, eu fiz de conta que não tinha ninguém na rua, porque é isso que a Tamires é. Um nada.