Jennifer Narrando
Me chamo Jennifer, mas a galera me conhece como Jeni. Tenho 19 anos, nascida e criada na Rocinha. Eu não sou de amar ninguém, pra ser sincera, a única pessoa que eu amo sou eu mesma. Gosto de duas coisas nessa vida: sexo e luxo. E quem me proporciona esse luxo? Os playboys babäcas, os ricos velhos que têm lancha, fazem questão de me levar pra Lagoa, me encher de presentes. Eu me aproveito, claro. Se eles querem gastar, quem sou eu pra impedir? A vida é isso, aproveitar o que vem, e eu sei muito bem fazer isso.
Agora, o melhor sexo que eu já tive foi com os gêmeos Lúcifer e BN. A pegada deles é insana, um bagulho surreal mesmo. Só que os dois são bem diferentes. O Lúcifer é mais agressivo, ele me arromba toda sem se importar, é bruto e gosta de me ver submissa. Já o BN, ele também é bruto, mas ele não me machuca, sabe? Com ele, eu só fiquei duas vezes, mas com o Lúcifer, foram várias. A gente se pegava mais ainda depois que ele terminava com a Caroline, a ex dele. Porr@, aguentar ele bêbado chamando por ela era um saco. Dava pra ver que, mesmo comigo, ele não tava ali por mim, ele me usava pra provocar a Carol ou pra tentar esquecer ela, só que nunca conseguiu.
Mas eu aceitava. Ser primeira-dama da Rocinha, nora do chefe, quem não quer? Só uma bürra pra rejeitar isso, e eu não sou bürra. O problema é que sempre que ele voltava pra sonsa da Carol, ele nem olhava na minha cara. Era automático: terminava com ela, me chamava, ficava comigo, depois voltava pra ela e sumia da minha vida. O BN também começou a me dar uns passa-fora, ficou frio. E os outros dois gêmeos? Esses nem me olham. Dei em cima do Bruninho uma vez, e ganhei uma surra da Elayne, a mina dele. Aquela ridícula. Ela me bateu na praça, na frente de todo mundo. E o Bryan? Esse me falou na cara que eu era rodada e que ele não curte mulher assim. Vïadinho, isso sim. Eu posso ser rodada, mas sei fazer o que nem uma dessas santinhas por aí sabe.
Dessa última vez que o Lúcifer terminou com a Carol, ele mandou me chamar. A gente começou a ficar de novo, mas eu sempre soube que nunca passaria disso. Ele nunca me beijou, nem uma vez, e nunca me chupou. Ele disse na minha cara que só faz isso com a Carol. Beleza, eu aceitei, porque pelo menos ele me deixava sentar no colo dele no bar, me levava de moto pra casa, e eu me iludi, achei que dessa vez ia dar certo. Acreditei mesmo. Até parei de ficar com outros caras. Rejeitei convite de playboy pra descer pro asfalto, achando que o Lúcifer ia, sei lá, me assumir. Mas não.
Ele começou a correr atrás da Carol de novo. Começou a rejeitar minhas ligações, a me ignorar nos rolês. E no QG, mulher não pode nem sonhar em ir atrás deles. Se aparece por lá, apanha da Bia. Aquela maluca é pior que o capëta, sai arrastando as mina pelos cabelos, empurrando, fazendo o inferno. No camarote principal é a mesma coisa, ela é dona do pedaço e ninguém mexe com ela.
Aí eu comecei a perceber que meu ciclo tava atrasado. Tava esquisito. Fui fazer um exame de sangue, e adivinha? Positivo. Tô grávida. E agora? Eu não sei quem é o pai. Já teve vez de eu ficar com três caras no mesmo dia, dois de uma vez, nem todos usavam camisinha, né? Eu fiquei sabendo que o Lúcifer foi atrás da Carol lá no Bronze e que ele tá fazendo de tudo pra ela voltar pra ele. E isso me deixou com raiva. Não é que eu ame ele ou algo assim, mas me senti descartada, mais uma vez, Não sou lixo pra ficar sendo descartada quando ele quiser.
Aí, tive uma ideia. Achei um pai temporário pro meu filho. O Dono do Morro. Não sei quem é o pai biológico, nem sei se quero ter essa criança. Mas sei que vou usar essa gravidez pra infernizar a vida da Carol e, de quebra, a do Lúcifer. Ele quer voltar com ela? Beleza. Mas não vai ser em paz, não. Se depender de mim, a Carol vai sofrer tanto que vai pensar duas vezes antes de ficar com ele de novo. Eu vou infernizar a vida dessa sonsa até o último segundo.
Eu sempre joguei o jogo. Nunca me envolvi, nunca deixei de aproveitar as oportunidades. E essa criança? Pode ser mais uma peça nesse tabuleiro. Se eu quiser, vou usar esse bebê pra garantir minha segurança, meu status. Vou me aproximar ainda mais do Dono do Morro, e quem sabe até consigo mais do que o Lúcifer algum dia me ofereceu. Não me importa quem é o pai, e muito menos o que os outros vão pensar. Já tenho tudo esquematizado.
No fundo, eu sei que o Lúcifer nunca vai acreditar, e nem quero que acredite, só quero infernizar mesmo.
Já meti o louco, espalhei pra geral, contei até pro Léo, um dos pais da Carol, ela tem dois pais, a mãe dela é mó vadïa casou logo com dois, depois quem não presta sou eu. Hipocrisia né, vamos ver o que a princesa do Lúcifer vai achar quando descobrir que o Amor dela, está cotado para papai do meu filho.
Agora, o que vem a seguir? Eu não sei. Mas sei: Carol e Lúcifer que se preparem. Porque enquanto eu tiver papel para jogar nesse jogo, eu vou jogar e ninguém vai ter paz. Eu vou causar, e quem não aguenta, que saia da minha frente.
Hoje cedo a Tamires veio procurar, tomou um corretivo, eu queria rir, ela mäl tá conseguindo falar, mas aí eu dei um trato gostoso nela, deixei ela relaxada. Porque aqui eu não dispenso nada.