Caroline Narrando
Olá pessoal, me chamo Caroline Pinheiro, tenho 20 anos e faço curso de culinária. Amo cozinhar. Eu sou uma obra do destino, nem a ciência explica. Sou morena de olhos azuis; até aí tudo bem, mas o que ninguém entende é como saí assim, com um pouco de cada pai. É isso mesmo, eu sou filha de um trisal. Tenho dois pais maravilhosos: Cobra e Léo.
Meu pai Cobra é moreno de olhos castanhos, o meu pai Léo é loiro de olhos azuis e a minha mãe, a Patrícia, é ruiva de olhos castanhos. Eu saí morena igual ao meu pai Cobra, com os olhos azuis do meu pai Léo.
Nunca fizemos meu DNA e eu também não pretendo. Para mim, o que importa é o amor deles, o cuidado e tudo de bom que me deram a minha vida toda.
Quando eu completei dez anos, meu pai Cobra me chamou para conversar. A minha mãe sentou do meu lado para participar da conversa. Na minha casa, sempre foi tudo bem democrático e sempre na base da conversa e do diálogo. Meus pais e nem a minha mãe nunca bateram em mim. Já levei algumas beliscões e puxões de cabelo da minha mãe quando era criança e adolescente, mas nunca levei uma surra.
Quando meu pai Léo se recusou a participar da conversa, eu sabia que era algo sério. Ele saiu e deixou apenas nós três sentados na sala. Lembro como se fosse hoje: meu pai suspirou forte, pegou na minha mão e soltou uma bomba na minha cabeça.
— Filha, você já está ficando mocinha e já tá na hora de você saber. Você já tem um pretendente desde que estava na barriga da sua mãe.
Olhei para o meu pai na hora e já sabia o que era pretendente, até porque eu cresci assistindo filmes de princesa. Mas também sabia que a minha realidade na favela estava bem longe de um reino e que o meu pretendente não era nenhum príncipe. E, na maior inocência, eu perguntei quem era o meu pretendente e meu pai respondeu.
— O irmão da sua melhor amiga, o Oliver.
Bia sempre foi a minha melhor amiga, mas os irmãos dela, na minha cabeça, eram casos perdidos, os moleques que davam mais trabalho na escola e no morro. E o Oliver sempre foi o pior de todos. Eu juro que pensei: por que meu pai não escolheu o Bryan, que é o mais legal de todos? Meu pai continuou falando que eu só podia beijar o Oliver, que ele era o meu futuro namorado. Me levantei e saí correndo, me joguei na cama chorando. Na minha cabeça, eu tinha que beijar o Oliver.
Minha mãe entrou no quarto para me consolar e meu pai também veio falar comigo. Eu comecei a gritar dizendo que não queria pretendente nenhum, que eu odiava todo mundo, fazendo aquela birra de menina mimada. Até que meu pai Léo chegou e disse que estava tudo acabado. Foi uma briga horrível entre meus dois pais, mas meu pai Cobra concordou e saiu para falar com o meu padrinho, que eu amo de paixão como se fosse um terceiro pai.
O tempo foi passando e eu evitava olhar para a cara do Oliver. O garoto não saía do meu pé na escola ou em qualquer lugar que eu estivesse. Nenhum garoto falava comigo, a não ser os irmãos dele. Ninguém queria chegar perto de mim porque tinha medo do Oliver, e assim fui crescendo. Só que teve um tempo que ele parou de tentar conversar comigo, de vir atrás de mim, de me acompanhar até na frente de casa. Ele começou a conversar com outras meninas. Eu sentia ciúmes e chorava para a Bia, até que um dia o Oliver voltou a falar comigo e a gente acabou ficando.
Se eu soubesse que beijar era tão bom, teria beijado ele antes. Conte I para minha mãe e ela contou para os meus pais. Eu e o Oliver começamos a namorar quando a gente tinha 14 anos. Pouco tempo de namoro, ele me convenceu a transär. A primeira vez foi horrível, mas no outro dia a gente fez de novo, e depois disso transamos quase todos os dias. É claro que, na primeira vez, eu fiquei muito preocupada porque a gente não se preveniu, Contei para minha mãe que me levou no Ginecologista e deu tudo certo, Começamos a usar preservativo. As vezes fazemos sem, mas tomo a pílula do dia Seguinte.
Nosso relacionamento nunca foi fácil, Morremos de ciúmes um do outro, e brigamos por isso o tempo todo. Toda vez que a gente termina, ele some por um tempo e depois volta com o rabø entre as pernas e eu aceito. Minhas amigas sempre disseram que ele fica com outras, toda vez que a gente briga e termina. Mas eu cega de Amor e Saudades, passo por cima de tudo. Vivo naquele ditado; O que os olhos não vêem, o coração não sente.
Eu nunca tinha visto ele ficar com ninguém, mesmo as meninas me dizendo que toda vez que a gente termina, ele fica com as marmitas. Só que, dessa última vez que a gente terminou, o Oliver tava com a Jeni na garupa da moto para cima e para baixo. Aquilo foi só uma confirmação do que as pessoas sempre me disseram e eu nunca acreditei. Então, ele não vai se importar se eu ficar com outro. Tenho várias amigas que moram no asfalto e fazem curso comigo. O irmão de uma delas sempre quis me conhecer, mas eu sempre dizia para ela que não queria conhecer ninguém porque tenho namorado, mesmo estando solteira. Mas, dessa vez, eu perguntei quem era o irmão dela e ela levou ele para o cursinho. Claro que eu fiquei com ele, um gato. A gente começou a ficar, fomos para o motel várias vezes. Quando o Oliver descobriu, ele surtou. Ele quase me bateu, foi uma briga horrível; ele apertou o meu pescoço. A minha sorte foi o Breno que chegou na hora e me defendeu.
A gente tava numa festa, cada um para o seu lado, quando o Elias chegou para me buscar, que a gente tinha combinado de dormir juntos. O Oliver viu ele e atirou nele. O Oliver matou o Elias dentro do carro. Eu fiquei desesperada; meus pais me levaram para casa. Meu pai, Léo, queria me tirar do morro, mas veio a ordem de que eu não posso sair. Agora estou presa na Rocinha. Mas eu sei o que o Oliver quer: ele quer que eu vá me arrastando atrás dele. Vai ficar querendo. Quero mais que ele se føda, ele e quem estiver dando pra ele.