Bryan Narrando
Breno veio atrás de mim pra saber o que tava pegando, mas eu não tava afim de falar na frente dela, tá ligado? A mina tá vivenciando um trauma do caralhø, não dá pra ficar explanando essa porr@ assim.
— Depois a gente troca essa ideia, irmão. Agora eu vou levar ela pro meu barraco — Breno sorriu, não sei qual é a graça.
Levei a garota pro carro, coloquei ela no chão com cuidado, como quem não quer assustar. Abri a porta devagar, ela entrou, e eu dei a volta pra sentar no banco do motorista. Liguei a máquina. Acelerei sem perder tempo, jogando ela direto pro meu barraco.
A real é que, além da casa do pai, onde mora todo mundo junto e misturado, cada um de nós tem o seu canto. O meu é diferente. Enquanto meus irmãos levam as mulheres deles pro barraco deles, eu, como não tenho mulher fixa, uso o meu só pra marolar mesmo. Um lugar pra fumar um, ouvir um som e ficar de boa sem ninguém pra encher o saco.
Pego umas gostosas por aí, mas não trago para o meu Barraco, tá ligado? Eu levo pro matadouro. Pro Motel, já comi Mina por aí, nos beco, mas no meu santuário não, meu barraco é limpo e Organizando, mó da hora mesmo. Só tem papo granfino lá dentro, sacou? Não economizei.
Cheguei na frente do barraco, joguei o carro na calçada de qualquer jeito e desliguei o motor. Virei pra ela. O rosto dela tava vermelho de tanto chorar, a cabeça baixa.
— Pode descer. — Falei, esperando a reação.
Ela desceu devagar, quase como se tivesse com medo de dar um passo em falso e acabar caindo. Abaixou a cabeça, dei uma olhada básica e ficou claro: essa mina não é daqui. Tá perdida na favela, é paty até a última ponta do cabelo.
— Qual é, tu não é daqui, né? — Soltei, meio no automático, só pra ver se ela se abria.
Ela respirou fundo, sem me encarar ainda. Fez que não com a cabeça, como se estivesse confirmando o que eu já tinha sacado. Dei uma risada baixa.
— Vai ficar quieta? — Perguntei, encostando no carro e cruzando os braços. Ela me olhou de canto de olho, mas nada além disso.
Entrei no barraco primeiro, deixando a porta aberta pra ela. Não demorou muito e ela me seguiu, com os passos curtos, olhando ao redor. Claramente assustada.
— Não precisa ficar com medo, mina. Ninguém vai te fazer mäl. — Falei, me jogando no sofá — Relaxa, senta aí. Quer uma água, alguma coisa?
Ela hesitou, mas acabou se sentando no canto do sofá, bem devagar, quase como se o sofá fosse morder. Não tirei os olhos dela, a Garota é linda e tava assustada, quando ela me olhou nos olhos, me perdi legal na beleza dela, olhos azuis, boquinha pequena, ar de inocência.
— Por que eu tô aqui? — Ela finalmente abriu a boca. A voz dela era baixa, suave, nada a ver com as minas que eu tô acostumado a ouvir por aí.
— Pra descansar, mas primeiro você vai me dizer o seu nome e me contar o que pegou, antes de eu ouvir os seus gritos — Falei, sem tirar os olhos do dela.
Eu fiquei ali, parado, encarando a garota, meus olhos fixos nos dela. Tava esperando ela se apresentar, mas ela demorou um pouco, tava nervosa. Finalmente, ela soltou:
— Meu nome é Luma, eu moro no Leblon. Essa é a primeira vez em um baile, e em uma comunidade.
— Satisfação Luma, me chamo Bryan, Sou irmão do dono da quebrada.
Ela deu uma pausa, olhando pro chão como se estivesse revivendo tudo novamente, e depois começou a contar como veio parar na Rocinha. Disse que tinha vindo com uma amiga, mas essa amiga acabou saindo com um moleque e largou ela sozinha. Eu fiquei escutando quieto, sem cortar.
— Eu tava tentando mandar mensagem pra minha amiga avisando que ia embora, mas foi aí que aquele cara apareceu — a voz dela começou a tremer — Ele já chegou todo sem nöção, cheirando o meu cabelo. Eu me afastei, mas ele veio atrás de mim, me puxou pelo braço. Eu pedi pra ele parar, mas ele ignorou e começou a me agarrar pela cintura, beijando o meu pescoço. E o pior... ninguém nem reparava no que tava acontecendo.
Eu senti meu sangue esquentar enquanto ela falava, já imaginando a cena na minha cabeça. Aquela sensação de impotência, de querer ajudar mas ser tarde demais, começou a me tomar. Mas eu tava ali. Eu ajudei.
Ela continuou, a voz ficando mais baixa, mais pesada.
— No desespero, ele me arrastou pra um canto. Uma mão puxava meu cabelo, e com a outra ele começou a rasgar minhas roupas. Foi aí que você chegou. Você me salvou.
Eu não sabia bem como reagir a isso. "Me salvou" parecia pesado, mas ao mesmo tempo, era verdade. E o jeito que ela disse, com tanta sinceridade, me pegou. Eu respirei fundo, segurando aquela sensação de que o negócio foi por um triz.
— Mas — ela continuou — No meio da confusão, eu perdi meu celular, perdi minha bolsa, e agora eu não sei o que fazer.
Ela abaixou a cabeça e começou a chorar de novo. Meu peito apertou, eu odeio ver alguém assim, ainda mais depois de passar por uma parada tão sinistra.
Eu me aproximei devagar, abracei ela sem pensar muito, tentando passar alguma segurança, alguma calma. Ela devolveu o abraço, e eu senti o corpo dela tremendo. Era tipo uma descarga de adrenalina, só que pra ela, e tudo que eu conseguia fazer era ficar ali, tentando ser um ponto de apoio no meio daquele caos todo.
Passei a mão pelos cabelos dela, tentando acalmar. Aos poucos, o choro dela foi diminuindo. Eu me levantei, fui até a geladeira e peguei um copo d'água. Quando voltei, entreguei pra ela, que bebeu devagar, como se cada gole fosse difícil de engolir. Tava óbvio que o susto ainda não tinha passado.
— Fica tranquila, Luma. Eu vou te ajudar a ir embora, mas só amanhã, beleza? — falei num tom mais calmo, sem querer assustar ela mais ainda. — Vou te mostrar onde é o quarto, o banheiro. Pode deitar e descansar tranquila, que eu vou ficar na sala. Quando o dia amanhecer, eu te levo pra casa.
Ela me olhou, com um olhar que eu não consegui entender de primeira, mas parecia mais perdida do que tudo. E então, meio tímida, ela perguntou:
— Será que eu posso ficar com você aqui na sala?
Eu fiquei meio surpreso, mas não queria deixar ela mais desconfortável do que já tava, então respondi tranquilo:
— Pode, claro.
Luma se sentou praticamente em cima de mim, como se quisesse se proteger de tudo, até da própria Sombra. Eu sorri de leve, sem jeito, e levantei o braço, passando pelo ombro dela, tentando não fazer ela se sentir pressionada, mas ao mesmo tempo querendo que ela soubesse que eu tava ali. Ela encostou a cabeça no meu peito, e eu senti o cheiro do perfume no cabelo dela, uma mistura doce e suave que parecia esquentar meu corpo todo.
Fiquei ali, sentindo o calor dela, tentando ignorar o quanto aquilo mexia comigo. Não era hora pra ficar pensando besteira, mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia controlar tudo o que tava sentindo. Era como se, por um momento, o mundo inteiro sumisse e só sobrasse nos dois, ali, no meio daquela confusão toda.
— Obrigada por tudo, Bryan — ela sussurrou, como se fosse difícil falar aquilo.
Eu não sabia bem o que responder, então só continuei fazendo carinho nos cabelos dela, esperando que isso fosse o suficiente. Acho que, às vezes, a gente não precisa de palavras, só de estar presente. Ela se mexia devagar, ajeitando a cabeça mais no meu peito, e eu sentia a respiração dela acalmando.
— Eu tava apavorada — ela confessou, mais uma vez, a voz tão baixa que parecia que só eu podia ouvir. — Achei que ninguém fosse me ajudar.
— Tá tudo bem agora. Ninguém vai te machucar mais — falei, meio automático, mas acreditando em cada palavra.
Luma ficou em silêncio depois disso, e eu também. Depois de um tempo, eu senti ela relaxando de verdade, e quando olhei ela estava dormindo, sentada e escorada em mim.