Capítulo 3

2445 Words
Vinícios Ferraz Quando estava voltando da cidade com a caminhonete abarrotada de material para o sítio, vi um carro parado no acostamento da pista. Normalmente teria passado pelo carro sem nenhum ressentimento ou sentimento de culpa, mas, justamente naquele dia, há algumas horas, eu prometi à minha mãe que tentaria ser um cara melhor. Tentaria ser mais gentil com as pessoas, tentaria não ser grosseiro com quem não conhecia e, principalmente, tentaria esquecer o chifre que ganhei do meu melhor amigo com a mulher que eu estava prestes a casar. Hoje de manhã, passei dos limites com minha mãe, que vive tentando me arrumar uma namorada. Fui um verdadeiro monstro com ela e com a garota que ela levou para o sítio, com o pretexto de me mostrar algumas mantas de cavalos bordadas à mão. Fui grosseiro com as duas e decepcionei alguém que amo demais, que é minha mãe. Então, somente por isso, quando vi o carro parado na estrada não pensei duas vezes em parar. Já estava escurecendo, a estrada além de perigosa no escuro, seria ainda mais difícil arrumar alguma ajuda. Quando vi que era uma mulher no volante, sozinha, ainda fez mais sentido eu parar. Já estava formulando a história em minha cabeça para dizer a minha mãe que tinha colocado minha promessa em prática, mas a patricinha não me ajudou a manter a calma. Eu só queria ajudar, fazer meu papel de homem gentil que prometi há algumas horas e p***a, de novo quebrei a cara, porque todo o meu esforço para ser gentil e ajudar foram por água abaixo quando a patricinha fez questão de esnobar minha ajuda. Me perguntei um milhão de vezes se eu precisava mesmo continuar sendo gentil e insistir na ajuda, já que ela mesma rejeitou. Se o pneu dela estava furado e ela não queria minha ajuda, o problema deveria ser só dela, não é? Mas aí eu olhei para dentro do carro e p***a, uma mulher sozinha, linda e gostosa para c****e, usando uma mini roupa de vaqueira... Comecei a achar que o problema também era meu. Fiquei logo pensando que se no dia seguinte aparecesse uma notícia de alguma tragédia com essa patricinha gostosa, eu me sentiria um completo filho de uma p**a, porque, com certeza, se algum bandido visse o carro parado ali, ela não seria só assaltada. Aquele corpo ali não passa despercebido por nem um ser vivo. Digo com muita propriedade isso! Loira dos olhos azuis, cabelos longos lisos, vestida com uma quase fantasia e*****a de vaqueira. Resumindo: bonita, gostosa pra c*****o, mas insuportável e muito m*l-educada. Nem na época em que estava aberto a relacionamentos, uma mulher assim seria capaz de me atrair. Exceto por seus p****s, suas pernas longas, sua b***a empinada..,ok, preciso parar de pensar nisso. Meses na seca com certeza só irá me sabotar. Ainda não consigo entender o problema de aceitar a minha ajuda. p***a, fui gentil, fui tranquilo, só queria ajudar. Não é isso que todo mundo esperaria de alguém que quer ajudar? Ela nem notou quando olhei bem quem estava dentro do carro e como estava se vestindo, fui super discreto, então, sinceramente, ela não tinha motivos para isso. Sei que ela não é daqui, nunca a vi pela redondeza, mas, p***a, você pegar estrada quase a noite, furar um pneu e não perceber todo o perigo que está a sua volta? Se ela não queria minha ajuda, que ficasse no lugar dela no carro, eu a rebocaria e pronto, mas não, ela tinha que me afrontar mesmo; aí explodi, coloquei ela no colo e quando aquela minissaia levantou e vi a p***a da calcinha minúscula, quase desistir do que estava fazendo, mas foquei no horizonte e a coloquei na minha caminhonete. Era o mais seguro e correto a ser feito, mesmo que fosse contra a sua vontade. O resultado disso é que estamos os dois há vários minutos em silêncio, com um clima de muita raiva no ar, que se mistura com o perfume doce dela. Está olhando para a lateral da pista, mas é notório que tudo isso é para evitar algum contato visual comigo. Seu perfume adocicado e forte, praticamente tomam conta da minha caminhonete que costuma feder a suor. Poderia abrir as janelas para amenizar esse cheiro, mas talvez não seja tão r**m sentir esse perfume no lugar do mau cheiro de sempre, além de que, do jeito que ela é maluca, capaz de se jogar pela janela só para ter que sair daqui. Só mais alguns quilômetros e chegarei na borracharia do Júnior e, definitivamente, nunca mais quero ver essa patricinha m*l-agradecida de novo. Eu terei minha história de herói da noite para contar a minha mãe e provar que posso sim mudar e reconstruir minha história, sem ter que estar atrelado a um casamento como ela tanto sonha. — Quanto tempo mais vou ter que aguentar ficar aqui nesse carro fedido? — ela reclama. Tiro uma mão do volante e a mordo ligeiramente, estou com tanta raiva que o que mais quero é falar algumas verdades do meu jeito, mas estou focado na história de gentileza para minha mãe; eu tenho uma promessa a cumprir. Por isso, solto o ar com força rapidamente, ignorando e mantendo o foco no objetivo da noite. Coloco de novo minhas duas mãos no volante, o apertando com força quando ouço ela bufando. Avisto a borracharia e sinto um certo alívio, o momento de tortura com essa patricinha está acabando. — Além de grosseiro, é mudo? — ela insiste. Olho de relance para ela, que está concentrada olhando para as laterais do vidro. Uma sobrancelha irritante levantada. Seu nariz empinado, sua boca delicada, tudo nela me irrita. — Chegamos — falo enquanto estaciono em frente a borracharia que está apagada e silenciosa. — Ah, entendi. — Muita ironia em suas palavras. — Aqui é o lugar que você vai me m***r e finalizar seu plano de roubar o meu carro. — Ela bate palmas. — Entendi agora. Ela se vira na minha direção, encarando com olhos petulantes azuis cristalinos e lindos. Seu cabelo longo estirado na frente do seu corpo, desenhando o seu decote. Estou ofegante e não é de raiva. Dessa vez, não consigo ser discreto e ela percebe o caminho dos meus olhos. — Ai, meu Deus. — Sua ironia vai embora e sua voz soa um tanto assustada. Merda! Desvio os olhos dela, olhando para borracharia. — Calma, moça. Eu realmente achei que essa borracharia estaria aberta e iria te ajudar. — Por favor, me deixa sair daqui. — Ela começa a mexer na maçaneta, querendo abrir a porta. — Calma, não vou te fazer m*l. Só queria mesmo te ajudar — falo e toco em seu braço. Meu toque parece um espinho, ela se encolhe e seus olhos azuis são tomados por uma vermelhidão. Suas mãos entrelaçam seu tórax, tentando se esconder de mim, e nessa hora me sinto um m***a. — De verdade, moça, eu só queria te ajudar — falo muito preocupado. — Não precisa ter medo de mim — insisto. — Eu só quero ir embora. Vejo suas lágrimas descendo pelo seu rosto assustado e quero enxuga-mas tanto quanto quero que ela entenda que não tinha essa intenção de desrespeita-lá. A seca que estou vivendo me sabotou, confesso! Mas jamais machucaria ela. — Tudo bem! Eu troco seu pneu e você vai embora. Ok? — Eu vou trocar meu pneu sozinha. Eu ia fazer antes de você aparecer e… — Não me leve a m*l, mas você trocar pneu sozinha? — Não vou repetir a mesma coisa, você entendeu o que eu disse, não me subestime. — Ela fixa os olhos nos meus, e ver seu olhar assustado me causam uma agonia r**m. — Quero que desamarre o meu carro do seu e me deixe em paz. — Vamos fazer um acordo: eu tiro o carro, troco… — Eu troco o meu pneu! — Ela grita e eu me convenço que não vou conseguir acalmá-la se continuar insistindo. Eu preciso deixar que ela mesma chegue à conclusão que precisa de minha ajuda, assim será melhor. Qualquer coisa será melhor do que tê-la assim assustada, me olhando como se eu fosse um monstro. O monstro que prometi jamais ser, de novo. Meu Deus! — Certo, tudo bem. — Eu destravo a porta da caminhonete.— Você troca o pneu, eu te espero fazer o serviço sozinha. — Ela arregala os olhos com concordância. — Depois, cada um segue seu rumo e você vai enfim, entender que desde o início eu só queria te ajudar. Ela demora um pouco para responder e em seguida abre a porta do carro. — Ok — fala, já descendo da caminhonete. Já é noite e é óbvio que ela não vai saber trocar o pneu. Vou ficar só observando e esperando o momento em que ela vai me pedir ajuda. Não vou mentir, vou adorar esse momento em que vou poder dizer: eu te disse. Faço o prometido e deixo o carro dela livre do meu. — Todo seu — falo, me encostando na traseira do meu carro e esperando ela começar o trabalho. Ela olha ao nosso redor escuro, respira fundo e em seguida segue para o carro dela para fazer o que eu faria sem muito esforço. — Se quiser, ainda posso… — insisto quando ela tenta pegar o pneu pesado do carro. Ela solta o pneu e se aproxima de mim com uma expressão de raiva. Não vou mentir que achei bonitinho ela andando se balançando e bufando. — Vá embora! Eu já te disse que sei trocar a m***a do pneu. Eu reviro os olhos e cruzo os meus braços. — A gente tem um acordo, sou um homem de palavras, vou te esperar acabar e pronto, sigo meu caminho. Ela bufa de novo e volta para junto de seu carro. Sei que da última vez que olhei um pouco mais do que deveria, deu em m***a, mas ela está de costas e bom, não dá para ignorar a b***a dela empinada balançando com sua minissaia. O que me faz pensar: será mesmo que ela acha que vai conseguir trocar o pneu com essa roupa? Enquanto estou pensando nisso, ela já pegou o pneu na mala e colocou ao lado do pneu que será trocado. Como alguém tão miúda pega um pneu desse peso todo sozinha? Ok, ela me surpreendeu. Mas chega a parte que eu estava me perguntando se seria possível. — Olha para o lado, ok? — ela fala já se abaixando. Não é possível, ela com certeza agora vai ser humilde e pedir minha ajuda. Mas não, ela se abaixa e nem se importa com a saia mostrando tudo. Está escuro e não dá para ver tantos detalhes como quando a coloquei no colo, mas o que vejo é suficiente para eu engolir em seco e sentir meu corpo reagir. De novo. Uma preocupação maluca surge na minha cabeça de que alguém pode passar pela estrada e ter uma visão ainda mais privilegiada que a minha. Agora, eu nem mais sei se continuo olhando para ela, se olho para a estrada que pode vir alguém e ver tudo, se faço só o que ela me pediu, ou se continuo achando que ela vai precisar de mim para alguma coisa. Os minutos se passam devagar, mas de fato ela tem uma agilidade fora do comum, além de uma b***a gostosa para c****e. Um farol surge longe na estrada e meu coração acelera, nem sei o motivo direito, mas deve ser a gentileza que ando tentando praticar que está me afetando e fazendo com que eu me preocupe excessivamente com alguém que sequer conheço. Eu corro na direção dela, preciso que ela se levante e ninguém veja o que estou vendo na penumbra. Quanto mais o farol se aproxima, mais vejo detalhes de sua b***a, de sua calcinha. Quando chego perto dela, o farol está bem próximo. Ela se levanta rapidamente, ajustando a saia no lugar que deveria estar para proteger o que eu já tive o privilégio de ver. — Eu disse que sabia, Zagado. — Ela levanta a sobrancelha com tranquilidade. Estou ofegante para c****e, mas não deixo de ouvir a forma com que ela me chama. — Veja você mesmo que consegui trocar o pneu. E como nosso acordo acabou, agora é o momento que eu vou embora e você vai embora para bem longe de mim. — Zangado? — pergunto um tanto confuso. — Vai dizer que ninguém nunca te falou que você tem uma expressão eterna do Zangado dos 7 anões?! — Não, quer dizer… Ela pega o pneu murcho, ainda sem pedir minha ajuda e coloca na mala do carro. — Pois então, eu sou a primeira a dizer: você tem cara do Zangado dos 7 anões. Eu começo a sorrir, porque essa mulher é muito maluca. — Eu sou alto. — Eu estou falando do rosto. — Ela volta andando para a porta do motorista do seu carro. Eu me afasto da porta e ela a abre. — Você é… — Tento achar alguma palavra para defini-la. — Sensacional. Eu me pego sorrindo de novo. — Sensacional? Ela entra no carro com um sorriso no rosto. Ela morde ligeiramente seu lábio inferior, e isso faz meu corpo reagir de novo. Ela liga o carro. — Sabe, Zangado, às vezes a gente só precisa conhecer alguém sensacional para mudar alguns conceitos. — Ela balança as sobrancelhas. — Agora você sabe que mulher também sabe e pode trocar o pneu. Nunca mais me subestime. Ela acelera o carro cantando pneu, me deixando feito um verdadeiro i****a, sorrindo, me lembrando do quanto ela, nesta noite, me surpreendeu. Bonita, gostosa, petulante, arrogante, m*l-agradecida, patricinha e… sensacional. Bom, seriam essas palavras que eu escolheria para definir a mulher que iniciei minha tentativa de ser menos… Me pego sorrindo de novo… Zangado. Entro na minha caminhonete, ainda com um sorriso bobo no rosto, seu perfume doce ainda está em todo lugar no meu carro. Estou mesmo rindo? Pois é, há tempos não faço isso. Minha mãe tinha mesmo razão que a gentileza vai me trazer mais leveza na vida. Fazia tempo que eu não passava minutos sem pensar na Rafaela e na raiva que ainda sinto pelo que ela fez comigo, mas aquela patricinha conseguiu fazer isso. Bom, vou deixar as janelas fechadas por um pouco mais de tempo e curtir um pouco do perfume doce que ficou no ar, assim como as recordações que se atravessam pela minha visão da estrada de volta para casa.
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