Capítulo 2

2131 Words
Tentei me comunicar com meu irmão, mas ele se envolveu com alguma m***a grande, pois o processo é sigiloso e ele está em uma prisão de segurança máxima bem próxima à cidade que fica minha fazenda. Pelo que entendi, ele estava envolvido com uma mulher e essa mulher é envolvida com muita coisa errada, mas a informação ainda é vaga e sem muitas credibilidade. De fato só vou conseguir saber o que aconteceu quando estiver por lá. Lembro-me do Duda ter falado que estava apaixonado há alguns meses, mas jamais imaginei que estaria se envolvendo com alguém perigosa. A única coisa que é fato, é que não há perspectiva de ele sair do presídio, e eu realmente preciso ir presencialmente à fazenda, entender melhor a situação e decidir como farei para organizar toda essa confusão. É um fato que não quero morar no interior, meu lugar é na cidade grande. Saí da fazenda na época em que estudava no ensino médio, para estudar e realizar o meu sonho de ser dentista. Meu pai comprou um pequeno apartamento para nós de ponto de apoio e esse lugar virou minha casa há bastantes anos. Ele sempre me entendeu e me apoiou, então quando meu irmão falou que assumiria sozinho a fazenda, foi tudo muito tranquilo na nossa casa e meu pai apenas o ensinou como dar andamento aos nossos negócios. Mas o fato de apenas meu irmão ter a vocação para dar andamento ao Agronegócio de nossa família e meus pais entenderem que meu sonho era ser dentista, não excluía a nossa obrigação de manter o parque de vaquejada em funcionamento e manter as tradições de nossa família e da Fazenda Além do Horizonte. E é por isso que estou pegando a estrada agora, confusa, com medo do presente e do futuro, mas, principalmente, com muita raiva e decepcionada com a atitude desrespeitosa e irresponsável do meu irmão. Estou indo para lá agora com data de volta. Neste fim de semana, eu pretendo organizar tudo e voltar a minha vida normal e tranquila que envolve meu consultório, que é compartilhado com a minha amiga Luna, minha égua Lancelot e meu relacionamento com o Juliano. A estrada continua a mesma, tantos anos se passaram, mas o cheiro de mato e essa vista de folhagem continuam encantadores. Abro os vidros para respirar um pouco desse ar puro e percebo que está um pouco frio. Acho que a roupa que decidi usar não será muito adequada para a temperatura do local. Eu já tinha me esquecido o quanto o fim do dia e a noite aqui são agradáveis. Em mais alguns quilômetros chegarei à nossa fazenda, está anoitecendo e assim que chegar segura ao meu destino, vou ligar para o Sr. Francisco e falar que estou bem; prometi isso a ele, assim como ele me prometeu achar uma saída para que o Juliano não monte a Lancelot. Não tive coragem de falar que estou indo para a fazenda por conta da prisão do meu irmão, apenas falei que precisava resolver algumas pendências com o Duda. Mas depois de passar por cima de algo na estrada, sinto o volante trepidar e repuxar de forma estranha, o que me dá a certeza de que furei o pneu. Merda! Sei muito bem me virar e trocar o pneu sozinha, aprendi com meu pai assim que tirei minha carteira de motorista. Ele dizia que como morava longe de mim, eu precisava aprender a me salvar das circunstâncias que o carro poderia nos levar. Mas ele também falava para eu não pegar estrada sozinha e muito menos à noite, já que corria mais risco. E essa parte eu não levei em consideração. O Sr. Francisco me alertou, mas eu falei que não teria problema e que iria devagar, que chegaria sã e salva. Solto o ar com força, estacionando o carro no acostamento enquanto ligo o pisca-alerta. Olho minhas pernas de fora com minha mini saia de pregas em couro e minha bota cano alto que fazem uma excelente combinação com meu top sedutor. E era proposital ser assim, já que queria tirar algumas fotos minhas com essa roupa e enviar para o Juliano e, sei lá, gerar interesse nele em continuar com nossos encontros. Eu já transei com ele 2x seguidas, então posso me considerar em vantagem com a multidão de mulheres que ele já se envolveu lá na Hípica. Mas, sinceramente, não contava com essa enrascada de furar o pneu agora. Se eu ligar para o Sr. Francisco, ele demorará horas para chegar aqui, meu irmão imprestável está na cadeia, o seguro do carro também vai demorar horrores e a minha amiga, sequer sabe trocar um parafuso, ou seja, eu mesma vou precisar trocar essa m***a. Olho para minha mala no carro e tenho a ideia de colocar uma calça jeans folgada que uso para montar, que estou trazendo na bolsa, afinal, quanto menos atraente eu tiver ajoelhada na pista trocando o pneu, menos inseguro será. Ai, meu Deus, quem eu quero enganar? É perigoso de toda forma! Confiro se o pisca-alerta está mesmo ligado e olho bem para a estrada, não há carro vindo, preciso ser rápida, sei trocar pneu e tudo vai ficar bem. Engulo em seco o medo que se instala na minha garganta, mas aí vejo um farol surgir na estrada, meu coração acelera, estou com medo. Eu sequer coloquei a p***a da calça. Desligo a luz do meu carro, tiro o alerta e fico parada, sei lá, vai que passo despercebida. Para meu desespero, o carro vai diminuindo a velocidade, liga o pisca-alerta e meu coração acelera em um grau máximo. Pego o celular, mas muito atrapalhada o deixo cair no chão. Uma caminhonete encosta no acostamento, logo atrás de mim e meu coração acelera em um nível máximo quando constato que é um homem que está saindo do veículo. Acompanho os passos dele pelo meu retrovisor. Um homem alto, forte, cabelos castanhos claros bagunçados, tem uma barba disforme que dá um aspecto de descuido. Ai, meu Deus, será que esse será meu fim? Será que é assim que vou aprender a ser menos teimosa e escutar as pessoas? Custava eu esperar amanhecer para pegar estrada? Ou, ao menos, custava ouvir minha amiga e usar uma roupa confortável para dirigir? Certamente agora a roupa confortável serviria para dirigir, trocar pneu e me deixar menos atraente. — Tudo bem, moça? — ele pergunta se apoiando na minha janela que estava aberta, porque feito uma i****a, eu deixei aberta para curtir a temperatura do lugar. De perto, ele é ainda mais forte, mais alto, mais bruto e desleixado. Ele é daqui, ou melhor, ele é do interior, suas roupas sujas de terras, sua bota repleta de lama, entregam tudo. — Está tudo bem! Ele olha para o meu carro com cautela e eu tento acalmar meu coração acelerado. Estou com muito medo dele, embora ele sequer tenha olhado para dentro do carro, ou melhor, para minhas pernas, ou para meu top decotado. Ele dá um leve chute no meu pneu dianteiro furado, identificando o motivo de estar parada ali em meio a um matagal, sozinha, no fim da tarde. Ele volta a encostar-se à janela do meu carro. — Abre a mala que eu vou trocar o pneu para você. — Não precisa, estou esperando o seguro chegar — minto, porque o que estou mesmo esperando é ele ir embora, eu colocar uma calça e sozinha trocar a p***a do pneu. — Você sabia que é perigoso estar por aqui, sozinha, há essa hora? — ele pergunta e um novo carro passa por nós correndo na pista, o farol faz com que eu consiga ver mais detalhes do rosto desse homem, que mesmo com seu rosto escondido atrás de uma barba descuidada, consigo enxergar muita beleza. Uma borboletinha surge no meu estômago em meio a um coração acelerado de medo, porque ele tem olhos que parecem ser tão claros quanto seus cabelos, mas como são muito sombrios e cansados, fico na dúvida. — Fique tranquilo. Obrigada pela preocupação, mas já está tudo resolvido. Pode ir embora? — Vou trocar o pneu para você — ele fala determinando enquanto olha o meu pneu completamente murcho. — Não vai, não — falo com determinação, eu só preciso que ele vá embora e vou conseguir me virar sozinha. — Ah, vou sim, moça. Reviro os olhos e mordo levemente meus lábios com raiva. — Como assim? Você acha que vai trocar um pneu do meu carro sem minha autorização? Você está louco. — Abre a mala — ele ordena. — Abre a mala, um c****e! — Coloco as mãos na boca, arrependida do que acabei de falar. Ai, meu Deus, eu estou muito fodida mesmo. Mas sua expressão não muda. — Não vou deixar mulher nenhuma aqui sozinha. Você sabia que tem um monte de bandido por aí, querendo exatamente essa oportunidade que você está dando? — Eu sei me defender. — Você sabe se defender? Pelo amor de Deus, abre a mala do carro agora. — Não vou abrir. — Eu ligo o carro e ele enruga a testa, confuso. Eu fecho o vidro, tranco o carro e fico olhando para frente, o ignorando. Como se o vidro de um carro que não pode andar significasse segurança! Ele bufa de minha ideia i****a de o ignorar. — Que mulher louca! — O ouço resmungar. — Você prefere ficar aqui sozinha, correndo perigo, enquanto espera o seu seguro chegar? — Escuto um tanto abafado ele falar, mas, ainda assim, consigo entender perfeitamente. Ele tem uma voz grave, forte, bruta como seu rosto, como seu jeito de agir. — O que eu quero não interessa a você, mas envolve você bem longe daqui. — Você é sempre teimosa assim? Outro carro passa por nós e dessa vez o farol está ainda mais intenso, porque está ficando mais escuro. Não o ouço mais falar e quando olho para o para-brisa, vejo o carro dele saindo de trás do meu. Sinto um leve alívio em meu coração e eu solto o ar um pouco mais tranquila. Mas aí ele para na frente do meu carro e desce com voracidade e expressão de... raiva? Não sei explicar, porque não sei se é raiva ou se ele é sempre desse jeito. Nunca o vi na vida, não tenho ideia de quem seja. Não sei nem o seu nome, mas apelidaria facilmente de Bruto, ou, talvez, Zangado. E é com essa brutalidade que ele tira uma corda da caçamba do seu carro e começa a amarrar no meu. Hã? Ele só pode estar de brincadeira! Desligo o carro e desço com raiva. Quem ele acha que é para querer rebocar meu carro sem a minha autorização? — Ei, você está louco? — pergunto me aproximando dele. Mas ele está com uma expressão de serenidade, amarrando meu carro ao dele. — Você está me ouvindo? Ele não responde. — Isso é roubo, viu? Vou te processar! Ele olha para a arte que está fazendo e, sei lá, acho que surge um sorriso em seu rosto bruto. Mas é tão singelo, que nem sei se isso é mesmo um sorriso. Ele volta os olhos para mim. — É o seguinte: ou vai comigo de carona no carro, ou vai sendo carregada no seu. — Eu não vou para canto nenhum. — Cruzo os braços ao longo do corpo como um protesto que notoriamente para ele é insignificante. Ele não muda a expressão e isso me dá tanta raiva. — Eu, do mesmo jeito que carrego o seu carro com minha caminhonete, te carrego no meu colo e decido aonde você vai enquanto acho uma borracharia para consertar seu pneu. Estou te dando a chance de escolher. — Eu — Um... — ele começa a contar com uma expressão de arrogância muito irritante. — Não. — Dois... — ele continua a contagem. — Vou. — Três. — Ele pisca com ironia. — Resposta incorreta. Ele me suspende repentinamente, apoiando meu corpo em seu ombro. Sou carregada igual a um saco de batatas. Me debato, mas seu corpo é rígido demais e sequer consigo que ele sinta cócegas. Minha saia sobe com o vento e eu percebo que não tenho chances mesmo, então vou defender o que me resta, que é que ele não veja de novo a minha calcinha. Coloco as mãos na minha saia, impedindo que ela suba mais uma vez tornando o momento ainda pior ou constrangedor. — Vou te levar na minha caminhonete. Quando a gente parar na borracharia e consertar seu pneu, você volta dirigindo seu carro para o lugar que você pretendia ir. Depois disso, você vai até para o inferno se quiser, mas, até lá, vai se comportar e aceitar minha ajuda.
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