Capítulo 15

1832 Words
ESTOU ROLANDO NA cama desde às 6 horas da manhã. Não consegui dormir direito por causa da entrevista que tenho hoje pela tarde. Eu deveria ter tido uma boa noite de sono e acordado disposta para hoje? Deveria, mas quem disse que minha ansiedade sabe disso? Pego meu celular e vejo o horário. Agora são 7:30 da manhã. A entrevista será às 13 horas, então logo trato de me levantar para começar a me organizar. Irei para faculdade e da faculdade irei para a entrevista. Puxo o lençol para o lado, tirando-o de cima do meu corpo e me sento na cama. Coço meus olhos e me levanto, vou até a janela e abro a cortina, deixando a luz matinal entrar no quarto. No quarto em que eu estou na casa de Pilar, há um banheiro dentro o que facilita muito minha vida. Entro no banheiro e tiro minha roupa de dormir, adentro o box e deixo a água cair no meu corpo. Pego o shampoo que eu trouxe de casa para cá e despejo um pouco do líquido em minha mão. Levo até meu couro cabeludo e massageio-o devagar, uma massagem tão boa que me dá até vontade de dormir. [...] Estou sentada no chão do quarto perto da minha mala enquanto encaro as roupas espalhadas pelo chão. Olhei uma por uma, mas nenhuma formal o suficiente para a entrevista. É nessas horas que eu me arrependo de não ter dado ouvidos a Isabel para renovar meu guarda-roupa. — Maitê, que hor... — Marjorie abre a porta do quarto e para de falar quando me vê ali, de toalha, no meio de várias roupas espalhadas. — Que furacão passou aqui? — Um furacão chamado: "Maitê não tem roupa formal" — resmungo, pegando as roupas novamente e enfiando dentro da mala. Quando uma luz brilha em minha mente e eu encaro Marjorie que me olha abismada. — Você, por acaso, teria algo que pudesse me emprestar? Faço biquinho como uma irmã mais nova manhosa pedindo algo da irmã mais velha. — Eu nem uso roupa formal, garota. — Se retira do quarto batendo a porta e eu me desespero. Levanto e saio do quarto indo atrás da ruiva que não tá se importando nem um pouco com a emergência que estou tendo nesse momento. — Marjorie, é sério — grito do corredor e ela para, vira e franze o cenho como se esperasse uma explicação. — Eu tenho uma entrevista depois da faculdade, é verdade que não tem nada que possa me emprestar? — A mamãe tem, vê lá no guarda-roupa dela. Dá de ombros e entra novamente no seu quarto. Reviro os olhos e olho para o lado direito. Havia parado exatamente ao lado do quarto de Pilar. Abro a porta dele e encaro o cômodo organizado, que mostra que ela não o frequenta há dias, por causa do hospital. Fecho a porta atrás de mim e me aproximo do guarda-roupa, abrindo uma porta dele e vejo que ali é o lado das calças sociais. Pego meu celular que estava em minhas mãos e faço vídeo chamada para o meu pai, que está com ela nesse momento, por causa das nossas aulas pela manhã. — Ei, pai. — Abro um sorriso quando ele atende. — Posso falar com a Pilar? — Já me trocou assim, hija? — Não seja dramático, só preciso conversar com ela. Observo uma movimentação e logo o rosto pálido e feliz de Pilar aparecer na tela. — Oi, meu bem. Aconteceu alguma coisa? — Por que quando ligo vocês sempre pensam que aconteceu algo? — Ergo uma sobrancelha. — Marjorie — eles dizem juntos e acabo rindo por isso. — Não, tá tudo bem. Estamos nos entendendo, aos poucos, mas estamos — acalmo-os. — Só queria autorização pra usar alguma roupa sua, Pilar. Tenho uma entrevista depois da aula. Abro um sorriso gigante que mostra o quão contente estou por essa novidade, ao mesmo tempo em que estou nervosa, ansiosa e com medo. — Oh, meu deus. — Ela abre um sorriso tão grande quanto o meu. — Você ouviu isso, Otávio? A nossa menina tem uma entrevista de emprego. — Vira seu rosto rapidamente para o lado e creio que seja para encarar meu pai, e logo retorna a tela do celular. — É claro, querida, não se preocupe com isso, use o que precisar. — Você vai arrasar, filha. Meu pai diz ao fundo e meu coração se aquece por esse momento. Pilar, apesar de doente, tem uma energia imensurável, que alegra qualquer um que esteja próximo. Me despeço rápido deles e desligo o telefone, pois já estava me atrasando para faculdade. Encaro o lado do guarda-roupa das calças sociais e fecho a porta. Eu não usaria aquilo. No lado das blusas, opto em escolher uma branca de tecido fino e suave, de mangas. Saio do quarto de Pilar e entro no meu pra poder me ajudar. Ainda tenho meus cachos pra finalizar. Retiro o roupão do meu corpo e visto uma lingerie branca por causa do tecido da blusa que eu vou vestir. Pego minha calça preta que eu havia comprado quando fui ao shopping e visto, logo pego minha escova de cabelo e trato de desembaraçar meus cachos. Após feito, pego um elástico e prendo-os em um r**o de cavalo baixo, deixando mechas a frente do meu cabelo para trazer uma harmonia. Passo um pouco de creme nas pontas para deixá-los vivos e um fixador no couro cabeludo, para não deixar frises.  Após estar devidamente vestida, calço uma sapatilha preta e vou até o banheiro para poder me maquiar. Passo corretivo nas olheiras enormes graças a falta de bom sono, blush nas minhas maçãs e faço, com muita dificuldade, um delineado gatinho, finalizando com um batom nude com gloss em cima, me dando um ar de mais velha. Ou seria mais nova? Não sei. Saio do banheiro após passar um pouco de perfume e puxo minhas coisas que estavam na cadeira do quarto: bolsa com os materiais da faculdade e o notebook, uma pasta com alguns documentos e currículo, meu celular e fones de ouvido. Desço as escadas sentindo o cheiro forte de bacon frito. Reviro os olhos e adentro a cozinha pegando uma maçã verde da fruteira e lavando. — Vai agora ou não? — pergunto a Marjorie que estava sentada enquanto comia bacon, ovos e pão. — Sim, sim. Isabel e Marcos estão passando daqui a pouc... — Antes de sua fala finalizar, ouço buzinas no lado externo. — Ótimo, eles chegaram.  Comemoro e mordo a maçã, partindo para fora da casa. — Uou, que bicho te mordeu pra você ir assim tão gata e bem arrumada pra uma mera faculdade? — Marcos é o primeiro a perguntar sobre. — Ela tem entrevista depois da aula. — Marjorie responde por mim e eu apenas ignoro-a, entrando no banco de trás do carro sendo seguida pela ruiva, que se senta ao meu lado. — Desculpem não ter contado a vocês, foi muito em cima da hora e não tive tempo. — É, eu mesma soube hoje pela manhã com ela de roupão e toalha no cabelo me pedindo roupa emprestada. Uma visão super maravilhosa que vai me assombrar pelo resto do dia. Marjorie zomba de mim e eu volto a olhar para Isabel e Marcos a minha frente. — Não se preocupa com isso, Ma. Desejos sorte a você e que arrase. Isabel me joga um beijo no ar pelo retrovisor e eu sorrio. Logo ela dá partida no carro e seguimos para a faculdade. [...] — O local de sua entrevista é muito longe daqui? Isabel pergunta após sentarmos na mesa. Nossas aulas já haviam acabado, a minha e de Marcos foi a primeira a se encerrar, então esperamos Marjorie e Isabel para podermos comer, porém somente Isabel apareceu. Estamos sentados no refeitório da faculdade enquanto comemos. Na minha bandeja contém cappuccino com dois pães de queijo. Sim, estou viciada no cappuccino brasileiro. — Ah, parece que não — digo sem muita certeza. Eu não conheço muitos lugares, então seria óbvio que esse eu também não saberia onde fica. — De acordo com você? — Zomba Marcos. — De acordo com o Google Maps. Encolho os ombros e ambos dão risada. — Eu te levo, assim não corre o risco de depois termos que sair pela rua entregando cartazes com você desaparecida — Isa brinca, por sua vez. — Garota não se brinca com coisa séria. — Perdão, amiga, mas é melhor prevenir. [...] Encaro a escola pela janela do carro de Isabel. Respiro fundo algumas vezes e agradeço Bel pela corrida antes de abrir a porta do carro e sair. Adentro o portão do colégio informando que eu tinha uma entrevista. Me encaminham para uma sala e pedem que eu aguardo. Minhas mãos soam em meu colo e minhas pernas tremem repetidamente. Ouço um barulho na porta e a mesma se abre, me levanto automaticamente e encaro a mulher que adentrou a sala. Alta, com o cabelo liso preso em um r**o de cavalo, e usa um óculos redondo que não combina nada com o formato do seu rosto. Me levanto e abro um sorriso falho em sua direção. — Por favor, sente-se. — Indica o lugar em que eu estava e me sento novamente. — Maitê González, correto? — Sim, senhora. — Por favor, me chame de Romênia. — Assenti e coço minha garganta levemente. — Você está realmente interessada ao cargo, Maitê? — Sim, sim. Cem por cento interessada, Romênia. — Ok, você tem alguma experiência? — Não, senhora, mas me vejo tendo um bom futuro com letras, e esse estágio é minha grande oportunidade, é uma porta a se abrir para eu me aperfeiçoar no curso. — Belas palavras, Maitê, mas somente isso não é o suficiente para sua contratação. Você tem algum ponto fraco, ponto forte? — Nesse momento, meu ponto fraco é minha mãe — digo, mas não dou a******a para ela perguntar o porquê, pois logo completo. — E meu ponto forte é que eu sou muito determinada. Sempre dou o meu melhor para algo. — Certo. Por enquanto é só, quero que aguarde lá fora, por favor. Iremos lhe passar uma prova manual e um teste com os alunos, tudo bem? — Sim, tudo bem. Me levanto e abro a porta para sair. Sento em uma cadeira a frente da sala e pego em meu celular para ver se havia alguma mensagem importante. Sorrio para a tela com as mensagens que Isabel e Marcos trocam no grupo por alguns minutos, que não me dou conta dos minutos passados até Romênia aparecer com um homem. Observo os dois se aproximarem e me levanto, ficando a frente deles. — Ele irá te mostrar a sala onde você vai fazer a prova manual. Tenho que voltar ao trabalho. Certo, eu deveria me tranquilizar por não ser ela a passar a prova ou me assustar mais ainda?
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