Bônus #1

1000 Words
OTÁVIO O AMOR É uma escolha e você não precisa concordar com isso, apenas admita o peso dessa frase para o bem ou para o m*l.   Seja quando marcamos um evento, fazemos uma compra, nos matriculamos em uma universidade ou até mudamos o regime tributário de uma empresa, nós escolhemos m*l, na maioria das vezes. Acontece que em situações cotidianas, vivenciadas por muitos, temos algo para nos guiar. Já no amor, não.  Não temos porque ninguém sabe o jeito certo de amar, e se tratando de pessoas com singularidades e seus próprios processos de evolução, haveria mesmo um? Qual o momento em que sabemos que ultrapassamos a linha de amor para a obsessão? Em que momento um sentimento tão bonito se torna dor, sofrimento e lágrimas? Em que momento escolher despertar todos os dias ao lado de alguém já não é mais amor e sim desgaste?  Desculpe. A minha intenção nunca foi uma descoberta surpreendente sobre um fato cotidiano e se você esperava alguma resposta, sinto muito, eu não as tenho. Porque, bem, o amor é uma escolha. E eu sempre escolho m*l.  [...]    — O que faz aqui?     O eco da voz de Pilar ainda soa em minha mente, repetidas vezes, enquanto meus olhos desfocados param na cena a minha frente. Eu me perco na linha do tempo. Imagens passadas de quando nos conhecemos sendo mescladas ao momento atual, até que a voz de Marjorie soa. Desvio meu olhar para ela e dessa vez, não preciso voltar ao passado, pois é como se eu já estivesse nele. Idêntica a ela mais jovem.    Me aproximo para toca-la. A semelhança... não fosse a curvatura de seu cabelo... a curvatura de meu gene. Sorrio internamente, mesmo com sua recusa. É compreensível, eu não esperava nada diferente, e no seu lugar faria o mesmo. Quem não faria?    Depositei a pensão mensalmente como se isso fosse suficiente e esqueci que ser pai é mais do que isso, e não culpo Agnes por isso. Ela não tem obrigação nenhuma com Marjorie, enquanto eu, eu deveria ter sido presente e estado ao seu lado nas melhores e piores horas. Chegar depois que ela se tornou adulta não muda nada, pois se antes ela não precisou de um pai, entendo que não é agora que vai precisar.    — Você não me respondeu o que veio fazer aqui — diz Pilar, e eu recobro a consciência, correndo o olhar pelo cômodo. Nos deixaram a sós.    Caminho até a cama que há próxima a poltrona em que ela está e me sento, observando-a.    — Você está tão linda quanto a última vez em que a vi — comento com sinceridade e sem segundas intenções.    Cobre era a cor de Pilar. De suas sardas, de seus olhos, de seus pelos e cada fio de cabelo. Nada mudou, com exceção de seu novo corte, que apesar de eu saber que não foi porque quis fazer, ressaltou ainda mais a sua beleza.    Ela sorri. E seu sorriso ilumina todo seu rosto.     — Injusto querer comparar, na última vez em que nos vimos eu estava tão arrumada como se fosse me casar.    — Na verdade, esse foi nosso penúltimo encontro, no ultimo você tinha acabado de ter as meninas — lembro-a.    Nós não tivemos uma despedida decente antes de me mudar para Costa Rica. O clima estava bem r**m, Agnes tinha acabado de descobrir a traição, e eu não sabia como lidar com as proporções que aquilo tinha ganhado. Não houve sentimento, apenas legalidades.    Em compensação, nosso último encontro foi magnífico. Sob as estrelas e a certeza de que tudo ia ficar bem. Ela estava linda, como se aquele fosse o dia mais importante da sua vida, e naquele dia, lembro que senti vontade de deixar tudo para trás e pedir que recomeçássemos juntos. E talvez eu o fizesse, se isso não envolvesse duas crianças.    — É verdade. — Ela me envia um olhar triste, que dura poucos segundos, pois logo trata de sorrir. — Ei, você está me enrolando.    — Droga, você tem razão. — Sorri, ladino. — Eu vim para ver como estava.     — Não acredito em você, deixou sua esposa sozinha em outro país para vir ver como estou quando poderia ter me ligado? Até parece.    Pilar percebe as coisas muito rápido, não é à toa que cursou Direito. Assinto mesmo assim. Não quero contar que vim para tentar ajuda-la e dar mais esperanças a ela, sei o quanto isso pode frustra-la.    — É isso mesmo — garanto, e ela me olha desconfiada. — E aí, como você está? Quero detalhes, eu vim só por isso.    — Eu estou cansada e vou morrer, sem detalhes para você.    — Você não vai morrer — digo, com um sorriso fraco, me levantando de sua cama.     — Nem você acredita nisso.    É verdade, ou eu não estaria aqui. Seres humanos e sua péssima mania de só dar valor as coisas quando percebe que pode perder.    — Olha só... — murmuro, abaixando-me ao seu lado e segurando suas mãos. — Eu sei que errei muito com você e...    — Não, não faça isso — pede, com a voz falha.    — Isso o que?     — Você vai falar, me pedir desculpas, vai acender alguma coisa dentro de mim novamente e depois vai embora... e eu... eu vou morrer. Eu não estou pronta para passar por isso novamente.    — Eu não vou embora — comecei, sentindo um nó em minha garganta, devido todas as coisas que vivenciamos em nosso passado. — Eu sei que errei muito com você no passado, mas quero uma chance de recomeçar, de fazer as coisas diferentes agora. Eu quero ficar ao seu lado, se você me permitir.    Eu... — Espero ansioso por sua resposta, ela abre a boca e fecha diversas vezes, quando em um baque a porta se abre, por um furacão chamado Marjorie. Limpo os olhos, molhados de lagrimas que eu nem havia percebido que haviam caído. É, pelo visto essa conversa vai ter que ficar para outro dia.
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