Capítulo 13

1809 Words
JÁ VI NOVELAS  e filmes que retrataram cânceres, em como ele age agressivamente no corpo do paciente, e como a família se sente com as sessões de quimioterapia. Por vezes eu pensei, bom, ninguém sente mais que o paciente, mas agora, aqui, vendo o quão minha mãe tá sofrendo e ficando fraca somente com a primeira sessão, eu volto atrás com meu pensamento. A família realmente sente, sente como o paciente, mas não sente mais que ele. Quando sai do apartamento, meu pai decidiu vir comigo e aqui estamos, bem, eu e Marjorie, já que ele decidiu ficar na sala de espera, e foi melhor assim. Mar disse que mais ou menos 1 hora depois do inicio da quimioterapia, Pilar começou a se sentir fraca e quando tentou levantar-se, quase caiu ao chão. Foi quando ela me ligou, desesperada, pois não queria ficar sozinha no quarto, para não desabar em frente a nossa mãe. Estamos nós duas sentadas na cama, lado a lado, enquanto observamos Pilar na sua sessão. No soro, vejo que ainda falta metade da medicação. A quimioterapia deve durar em volta de 2 a 5 horas. — Onde está seu pai, Maitê? — pergunta, e volto a colocar meus pés na terra, já que meus pensamentos estavam avoados. Passo a mão sobre meu rosto, limpando as lágrimas. Sua voz é quase irreconhecível. Fraca e rouca. — Ele preferiu ficar lá fora. — Seguro em sua mão, e lhe mostro um sorriso que se vai assim que uma lágrima desliza por meu rosto, sua mão fria encontra minha pele e limpa. — Obrigada, Pilar. — Está agradecendo pelo o quê, querida? — Por tentar! [...] — Eu vou tomar um ar — Marjorie, que até estão se mantinha calada, se pronuncia.  Ela sai do quarto e eu viro de frente pra Pilar. O soro havia terminado, e a enfermeira retira a agulha que leva o medicamento para sua veia de seu braço. — Vamos, vou te ajudar a se deitar. — Ando até ela e lhe ajudo a ficar de pé. Ela está tonta e por isso seguro em sua cintura e vou lhe guiando até a cama. Faço-a sentar, e aos poucos ajudo ela a colocar as costas sobre o colchão. Ajeito os travesseiros abaixo dela, e puxo o cobertor para cima, em sua cintura. Pego meu celular após ajeita-la na cama e visualizo as horas.  19:45. — Querida, leve sua irmã pra casa pra ela descansar, e você também. Não aguento ver as duas chorando enquanto faço a quimio — a voz dela, fraca como mais cedo, diz. — Não podemos deixar a senhora sozinha — digo, acariciando sua mão. — Não ficarei. Otávio pode ficar comigo enquanto vocês descansam. Vocês tem a faculdade, vão ficar sobrecarregadas. — Tem certeza?  — Sim. Por favor, convença sua irmã. Ela é cabeça dura e não gosta do pai, então vai ser difícil ela se render, mas sei que você consegue o impossível. Chame seu pai pra entrar depois, tudo bem?— Me mostra um meio sorriso e balanço apenas minha cabeça, em concordância. Seria uma missão realmente impossível, mas não custava tentar. Me despeço dela prometendo que no dia seguinte voltaria, e que lhe traria comidas melhores que as do hospital. Pego minhas coisas e saio do quarto, dando de cara com Marjorie, que chorava de cabeça baixa no banco ali perto. — Ei, Marjorie.— Caminho até ela e toco em seu ombro, que a faz se assustar. Ela me encara com seus olhos inchados e vermelhos, nunca lhe vi assim. — Shiiu, tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. Digo pra ela e me sento ao seu lado, abraço seu corpo fortemente e ela volta a desabar. Vai ficar tudo bem. Ela vai ficar bem. Repito isso pra eu mesma, na tentativa de acreditar. E eu quero acreditar que realmente, tudo no fim ficará bem. Aos poucos, seu choro vai cessando e ela se afasta do abraço limpando o rosto. — Por que você está com suas coisas? Achei que ficaria aqui — diz, enquanto relaxa o corpo. — Lógico que você não vai ficar, você é a Maitê. Mimada e que prefere dormir na cama quente e aconchegante, do que em poltronas hospitalar. — Respira, garota. Não, eu não vou ficar. Nós não vamos — aviso, o que faz ela me encarar confusa. Ok, hora de faze-la surtar em 3, 2, 1. — Papai ficará com ela essa noite, nós iremos pra casa dormir tranquilas, pois o dia foi cansativo e precisamos estar bem dispostas para o que estar por vir — digo em relação aos efeitos colaterais da quimioterapia. Foi o suficiente pra ela saltar do banco, colocar as mãos na cintura e dizer o que eu estava imaginando que ela diria. — Ele não vai passar a noite com ela. Sozinhos ainda por cima. Não, nem pensar. — Tento tocar em seu braço mas ela puxa, fazendo com que minha mão bata sobre minha perna. — Não, Maitê. Não seja estúpida, você sabe que eu não vou concordar com isso. — Foi ela quem pediu, Marjorie. Então engula essa sua carranca e seu orgulho, e vamos fazer isso por ela, assim como estamos tentando nos dar bem, por favor. Não seja imatura em um momento desse. — Me levanto, ajeitando minha bolsa ao lado de meu corpo, o celular em uma mão e umas roupas de Pilar para lavar em outra. Ela respira fundo algumas vezes, e vira as costas para mim, entrando no quarto de Pilar. Reviro os olhos e volto a me sentar. Que garota teimosa, nem parece minha irmã. Três minutos depois seu corpo atravessa a porta novamente, saindo para fora. Suas coisas está em suas mãos, e abro um sorriso ladino ao perceber. Ganhei a batalha, mas ainda não a guerra. — Não, nem fique felizinha por isso. Não foi por você ou pelo seu pai. — Nosso pai, Marjorie — corrigo-a. — Não, seu pai! Voltando, não foi por você ou por ele. Foi por ela. Ela merece que estejamos bem nesse momento delicado, mesmo que para isso eu tenha que suportar o genitor, o seu papai querido — faz careta e eu coloco a mão na boca disfarçando o sorriso que eu dei. — Vamos, quero dormir logo para o dia não demorar a amanhecer. — Mandona como o Otávio — provoco a ruiva que está caminhando na minha frente. — Cala a boca. — Mostra-me o dedo do meio como uma criança birrenta, que não conseguiu o que queria. Quando chegamos na sala de espera, aviso nosso pai sobre a decisão de Pilar e vejo seus olhos brilharem assim que termino de falar. Ele havia ficado sentado durante toda a tarde, até agora. Meu pai nunca fez isso nem pela Agnes, e eu nunca vi seus olhos brilharem como brilham quando ele está com Pilar. Talvez ele não sinta amor pela minha mãe, e ele esteja realmente percebendo isso agora. Nunca foi amor, talvez tenha sido culpa. [...] Adentro a casa de Marjorie. Pelo caminho, viemos discutindo sobre aonde ficar. Se seria em meu apartamento ou em sua casa, e ela, após jogar na minha cara que sequer teria saído do hospital se eu não tivesse lhe obrigado, então, acabou ganhando e aqui estamos, mas antes passamos pelo meu apartamento e pegamos algumas roupas minhas. Estou sentada no sofá respondendo as diversas mensagens de Marcos e Isabel, e algumas de Mia, enquanto Marjorie está no andar de cima, creio eu que tomando banho. Sinto meu estômago roncar e lembro que m*l me alimentei hoje. Como provavelmente Marjorie também está sentindo o mesmo, decido ir até a cozinha fazer algo que possamos comer. Mas não sei nada que ela goste. — Marjorie — grito por ela, que não demora pra aparecer rente a escada. — O quê você quer comer? — Não precisa fazer nada pra mim, irei pedir um hambúrguer. Faço careta com sua resposta e somente a menção do lanche gorduroso faz meu estômago embrulhar. — Você precisa refazer seu cardápio alimentar. Urgente!!  — Deixa de sermão, irmãzinha. — Termina de descer as escadas e senta na cadeira próximo da mesa que havia na cozinha. Observo ela pegar seu celular pra pedir o seu lanche e reviro os olhos. Abro a geladeira e procuro algo que eu possa comer, e que seja rápido de se fazer.  — Não tem nada de saudável nessa geladeira, minha nossa. — Remexo na gaveta da geladeira e por sorte, encontro alface, tomate cereja e palmito em conserva. — Encontrei!! Digo e saio com os ingredientes em mãos fazendo uma dancinha desengonçada como vitória. — Eca, que saudável você é.  Ignoro-a e pego uma tigela de vidro no armário. Lavo todos os ingredientes, coloco as folhas de alface, os tomates e os palmitos . Pego azeite e jogo sobre a salada, jogo um pouco de sal e logo guardo os ingredientes que sobraram de volta a geladeira. — Aceita um pouco? Juro que não faz m*l — zombo dela que me ignora enquanto foca no celular. Tampo a tigela e saio da cozinha. — Marjorie, aonde eu posso tomar banho? — No banheiro, ué. — Bufo, e passo por ela. Talvez a trégua exista somente no hospital, pelo visto. Subo as escadas meio perdida com minha toalha nos ombros e quando chego ao corredor, vou direto na última porta de frente ao corredor. Abro e constato ser o banheiro de hóspedes. Tomo um bom banho, tirando toda a tensão do meu corpo e o cheiro hospitalar. Visto um blusão cinza e um short frouxo preto. Meu cabelo continua preso em um coque por causa do pouco tempo que tive. Ouço uma buzina no andar debaixo e imagino que seja o lanche gorduroso de Marjorie que havia chegado. Desço as escadas no exato momento em que a porta da frente fecha e ela entra com uma sacola marrom. A ruiva passa por mim sentando no sofá e retira seu hambúrguer da sacola, balanço a cabeça tentando jogar esse cheiro de gordura para longe, mas não adianta muito quando ela está na minha frente. Coloco minha toalha no braço do sofá, pois não queria deixar no banheiro. Seria muita i********e que eu ainda não conquistei. Não com a casa. Adentro a cozinha e pego a tigela. Como seria somente eu a comer, não coloco no prato, busco apenas por um garfo que me auxilie. Sento ao seu lado no sofá e ela liga a TV em algum filme que desconheço por ser brasileiro. — Estava começando a gostar de você, mas depois de ver que só come animal morto desisto de ser sua irmã. — Enfio uma garfada de salada em minha boca e mastigo com total prazer enquanto lhe encaro.  — Oh céus, é um favor que você me faz.
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