Não quero casar

1037 Words
Bernardo Por volta das cinco horas da tarde, o motorista estacionou o carro em frente ao Palazzo del Monestevole. Eu saí do automóvel e vi o imenso vinhedo que rodeava a propriedade. Na frente do imóvel havia muitas árvores e um enorme jardim. Dali, já não dava mais para ver a estrada. Embora a economia daquela fazenda prosperasse com as vinícolas e os vinhedos, a minha família também investia nas plantações de vegetais, verduras e em oliveiras; além de produzir diversos tipos de queijos. O meu pai tinha tino para os negócios e já havia comprado as terras de boa parte da região. Ao entrar na casa, eu me deparei com a decoração de mobílias de época espalhadas por todos os cantos do palacete de três andares. — Posso levar a sua mala para o seu antigo quarto, senhor? — Casimiro indagou enquanto trazia a bagagem. — Deixe em qualquer um dos quartos! — Meu bambino, você voltou! — O velho Domênico me recebeu de braços abertos. — Nonno, eu estava com saudades. — Correspondi ao abraço demorado. — Não sou mais um bambino. — Estou vendo! — O patriarca de afastou e me avaliou entre risos. — Por que demoraram tanto? Eu já estava preocupado. — Tivemos um pequeno acidente na estrada. — Você está bem? — Ele se afastou e tocou em meu rosto com as duas mãos. — Sim, estou ótimo. — Venha comigo, a Monalisa está preparando fettuccine para o jantar. Por quase duas horas, o meu avô sorriu e contou suas histórias. Em certo momento, ele enfiou um envelope no bolso do meu casaco. — Não deixe o seu pai saber que te dei esse presente. Mesmo depois que cheguei a fase adulta, o meu avô continuava com o costume de me presentear com boas quantias em euros. — O jantar está servido, Don Matarazzo. — A velha Monalisa sorriu para o meu avô. Eram mais de sete da noite e, curiosamente, o meu pai estava atrasado para o jantar. — Vamos esperar na sala de jantar. — Claro, nonno! — Acompanhei o meu avô. — Está ansioso para conhecer a sua noiva? — Ele se acomodou na cadeira na outra ponta da mesa. — Na verdade, eu não quero casar, mas farei isso para honrar o acordo. Embora os assistentes tivessem me enviado fotos e vídeos da bela jovem de pele dourada, eu não estava empolgado com o casamento. — Eu também não queria me casar com a sua vó. — Sério? — Arqueei as minhas sobrancelhas. — Depois do casamento, eu levei algum tempo para me afeiçoar a sua vó. Quase um ano depois, eu me apaixonei perdidamente por ela. — Ele sorriu ao recordar. — O amor vem com o tempo. — Que assim seja, nonno! Peguei a taça de vinho tinto que Monalisa serviu e sentei a mesa ao lado direito dele. Domênico tinha boas lembranças de minha avó. Ela realmente era doce e carinhosa e fazia doces deliciosos. A paz e alegria perpetuou até Joaquim Matarazzo chegar com a enteada e a minha madrasta para o jantar. — Caspita, te atacaram de novo? — A voz crepitante do meu avô indagou quando viu os curativos no braço do meu pai. — Alguém me emboscou. — A Giovanna me ligou quando Joaquim estava no hospital. — A minha madrasta explicou. Giovanna era filha de Paola, minha madrasta. Ela fazia residência em um dos hospitais da cidade. Tive sorte de não encontrá-la quando levei Antonella. — Quem é vivo sempre aparece! — O meu pai debochou de mim. — Seja bem-vindo. — Paola forçou o riso. — É bom te ver, querido. — Bem-vindo de volta! — Giovanna beijou o meu rosto e ao se acomodar na cadeira ao meu lado, ela tocou em meu joelho embaixo da mesa. A garota de cabelos platinados foi a minha perdição durante a adolescência. A nossa primeira vez foi no dia do casamento dos nossos pais. Não negarei que tivemos momentos bem intensos, mas o encanto acabou quando ela começou a namorar o meu melhor amigo. — O que trouxe você de volta a estas terras? — O rosto do meu pai tinha um semblante inescrutável. — O senhor sabe porque eu voltei. — Ah, eu havia esquecido do seu noivado. — Ele ajeitou as costas na cadeira — Coloque um pouco deste fettuccine para mim, Paola! — Pediu num tom autoritário. Imediatamente, a minha madrasta obedeceu. — Já terminou com aquela ragazza siciliana, Bernardo? — Paola perguntou. — Ela é uma oportunista e não serve para você. — Sim! — Eu retorqui. — A Mariana tem uma vida muito agitada. Ela é modelo e atriz. Vive focada nos trabalhos. — Esse relacionamento nunca daria certo. — O nonno opinou. — Eu queria tanto conhecê-la, — Giovanna tomou um gole do vinho e em seguida, umedeceu os lábios com a língua, chamando a minha atenção. — Que bom que vai se casar. Agora, você ficará aqui para me ajudar a administrar os negócios. O avô Domênico pigarrou. Ele sabia que eu almejava ficar na Sicília, mas o meu pai insistia que eu deveria gerir os negócios da família na Úmbria. — A futura esposa do Bernardo é uma bela ragazza, — o meu avô teceu o comentário. — Acho que ela é magra demais, — o meu pai criticou num tom ácido. — Você é bem mais bonita, Giovanna. — Joaquim riu para a enteada. — Convidei a sua noiva para ficar aqui por sete dias. — Paola falou. — Não vou ficar passeando por aí com ela antes do casamento, — eu avisei. — Você não vai romper o acordo. — A taça de vinho virou no instante que o meu pai socou a mesa. — Pare com isso agora, Joaquim! — Meu avô aumentou o tom da voz. — Eu ainda sou o patriarca desta família. Apreensivo, eu tomei o líquido de um tom bordô numa só golada. — O seu neto vai atrapalhar os negócios da família, babbo. — Joaquim estava com os punhos fechados sobre a mesa. — O Bernardo retornou e vai casar. — Os olhos inquisidores do velho mafioso focaram em mim. — Não é mesmo?
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