Ela foi atacada

1171 Words
Bernardo — Claro, nonno. — Após responder, eu tomei outro gole do vinho. — Ele é um homem e o senhor continua mimando ele, babbo. — Joaquim levantou a mão ao protestar. — O Bernardo vai trair a esposa com a amante siciliana e trará problemas para nossa família. — Basta! — O meu avô ergueu a voz. — O meu neto conhece as regras. — Com um aceno, o patriarca chamou a empregada que encheu a taça dele. — Espero que ele não destrua tudo o que construímos. — O meu pai continuou discutindo com o meu avô. — Ele estudou na melhor Universidade e por isso, a nossa família tem um ótimo advogado. E você se graduou em que, Joaquim? — Fiquei aqui e trabalhei duro para aumentar a nossa fortuna, babbo. — Não quero falar de negócios durante o jantar. — O velho rebateu. Os dois se encararam, mas não disseram mais nada. O clima ficou ainda mais tenso com o silêncio. — Licença! — Eu pedi ao levantar. Poucas horas com a minha família foram suficientes para desejar nunca ter voltado. — Aonde vai? — Paola questionou. — Vou dar uma volta para respirar ar fresco. — Posso ir com você? — Giovanna sorriu. — Não, você vai estudar para as provas de amanhã. O chefe dos residentes já me avisou que aplicará uma prova sobre as cirurgias do último semestre. Graças ao dinheiro da família Matarazzo, Paola era uma das acionistas do hospital onde sua filha trabalhava. — Que saco! — Giovanna largou os talheres ao lado do prato. — Onde estão os seus modos, Giovanna? — Paola interrogou, nervosa. — Estamos investindo no seu futuro. No cerne de mais uma discussão, eu saí sem ser notado. Quando passei pela cozinha, eu encontrei Casimiro, que estava bebendo água. — Você conhece algum lugar onde eu possa comer e relaxar sem que a minha família esteja por perto? — Indaguei. — É complicado, — o motorista coçou o alto da cabeça. — A cidade é pequena e os homens que trabalham para o seu avô conhecem tudo… — Estou zuando, Casimiro! — Ah, sim! — Ele riu. — Há um pequeno restaurante chamado Pane e Vino que fica aberto até às dez da noite. Eu levo o senhor! — Não, me dê as chaves do Maserati MC12. — O seu pai tem ciúmes daquele carro. — Eu sei! Apenas me dê as chaves e diga ao meu que saí para dar uma volta naquela belezinha. Casimiro enfiou a mão no bolso da jaqueta e me deu as chaves e o documento do carro. _____________________________ A paz reinava dentro do Maserati preto. Eu dirigia pelas ruas tranquilamente, seguindo a instrução do GPS até receber uma chamada Giovanna em meu celular. Estava a ponto de atender quando levantei o rosto e então, eu freei em cima da garota que andava desnorteada de bicicleta. Saltei do veículo e gritei a pleno pulmão. — Você é louca? — Meu sangue fervilhou, eu estava carregado de raiva quando saí do carro. — Por que você não olha para onde anda? Ela não olhou no meu rosto. Com a mão direita, Antonella segurava o guidão da bicicleta e com a outra, ela suspendia a alça do vestido. Havia uma ferida com gotas vermelhas no ombro, além dos curativos na testa e nas ataduras em torno do cotovelo e do joelho. — O que houve com você? — Examinei minuciosamente antes de fazer mais perguntas. — Quem te atacou? — Os meus olhos estavam fixos na ferida no ombro de Antonella. — Quero falar com o Casimiro — a voz trêmula pediu entre sussurros. — Ele está no palacete. — O que aconteceu com você? — Olhei novamente para as pequenas marcas com pingos de sangue. — Quem te mordeu? Ela piscou algumas vezes, as lágrimas molharam o rosto anguloso. — Calma! — Tirei o meu casaco acolchoado e coloquei sobre os seus ombros. — Posso te levar até o Casimiro. A garota triste negou com a cabeça e recuou quando tentei ajudá-la a vestir o casaco. — São quase nove e meia, — verifiquei a hora no Rolex em meu pulso. — Você vai pedalar por mais de uma hora até a fazenda. — Eu me aproximei com cautela. — Tive uma ideia, — eu corri de volta para o carro e peguei o celular. Os belos olhos azuis me deram um olhar enviesado enquanto eu ligava para o motorista. — Casimiro, aquela moça está aqui na rua desnorteada, — expliquei. — Sim, é a Antonella. Acho que ela foi atacada, — comuniquei em voz baixa. — O Casimiro quer falar com você. Estendi a mão para dar o meu celular para ela. Por alguns segundos, ela titubeou. — Atende logo ou vou te deixar aqui, — disse num tom rude. Dei as costas e apoiei os meus braços no teto do automóvel depois que Antonella pegou o telefone móvel e colocou perto do ouvido. Se eu pudesse prever o futuro, teria ido para o quarto da Giovanna ao invés de sair. Em menos de um minuto, um arrepio percorreu as minhas costas quando a sua mão tocou-me com delicadeza. Virei-me para a moça com os belos olhos tristes quando ela devolveu o meu celular. Antonella parou ao lado da porta que dava para o banco traseiro do veículo. — Quer sentar lá atrás? — Eu abri a porta. — É isso? Ela assentiu com a cabeça, mas continuou parada. Aquela garota estava testando a minha paciência. — Entre logo, estou ficando com frio, — reclamei. Após sentar atrás do volante, eu ajustei o retrovisor. Antonella deitou-se no banco traseiro e fechou os olhos. Vez ou outra, eu ouvia quando ela fungava enquanto chorava. _____________________________________ Eu conduzi o Maserati MC12 preto pela propriedade de meu pai. Através do espelho retrovisor, dei outra olhada para o banco traseiro. Ela ainda estava deitada e quieta demais. Estacionei na frente do palacete e desliguei os motores. Deslizei para fora do carro e me dirigi rapidamente à parte traseira, onde abri a porta do banco do passageiro. — Hei, moça! — Toquei em seu braço. — Antonella. Ela acordou sobressaltada, olhando ao redor com olhos assustados. — Onde estamos? — perguntou, assustada. — Nós já chegamos. Fique tranquila, você está segura comigo. A chuva fina caía devagar, tocando em minha pele. — Por favor, chame o Casimiro! — sussurrou Antonella. — Ele está em algum dos aposentos para funcionários e eu não vou até lá. — Retruquei. — Você pode sair do carro e ver se ele está no quarto dos empregados. A força dos pingos aumentou e a minha roupa estava ficando cada vez mais ensopada. Eu passei as mãos nos músculos dos braços para me aquecer. — Saia logo do carro! — Olhei para a garota, que permanecia relutante. Antonella se encolheu do outro lado do banco traseiro. — Venha! — Segurei em seu braço fino. A minha paciência exauriu diante da teimosia daquela garota.
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