CAPITULO 3

1676 Words
A viagem de Seattle até Denver, no Colorado, foi longa e desgastante. Eu escolhi uma rota mais longa que passava pelas majestosas Montanhas Rochosas, a Cordilheira Frontal, onde ficava o Parque Nacional de Rocky Mountain, o lar da alcateia da qual eu fazia parte. As paisagens incríveis e a beleza da natureza se desenrolavam diante de meus olhos, mas minha mente estava repleta de preocupações, e o vazio deixado pelo desaparecimento de meus filhos parecia se expandir a cada quilômetro percorrido. Finalmente, eu parei o carro em um ponto estratégico, no coração das Montanhas Rochosas, o lugar onde tudo começou para mim. Os humanos acreditavam que o governo dos Estados Unidos reintroduziu os lobos no Colorado em 1999, mas a verdade era que foi Alastair, o alfa da nossa alcateia, quem tomou conta desse lugar. Ele foi o lobisomem que me encontrou à beira de uma estrada quando ainda era uma filhote, me acolhendo como sua filha. Meus pais haviam sido mortos pelos humanos, e Alastair foi a única família que eu conheci. Nas profundezas de minhas memórias, eu podia ver o rosto de Alastair, seus olhos amáveis, mas também seus olhos ferozes quando era necessário proteger nossa alcateia. Ele me orientou, me ensinou a ser uma loba, a honrar nossas tradições e a proteger aqueles que amávamos. Seu legado era algo que eu levava comigo, e eu me perguntava se ele ainda estava vivo. Sabia que era improvável, dadas as longas décadas que haviam se passado desde que me adotara. No entanto, havia outra questão que me inquietava. Se Alastair não estivesse mais entre nós, quem teria assumido seu lugar como alfa? Eu sabia a resposta, mas precisava ter certeza. Eu parei no meio da mata, o cheiro de pinheiros e a brisa fresca me cercando. Aqui, o ar era limpo e fresco, e a sensação de nostalgia me invadiu. Eu sabia que estava perto de casa, perto do coração de nossa alcateia. Caminhei alguns passos adiante, até encontrar uma área que era particularmente significativa para mim. Era onde Alastair costumava me levar para observar o pôr do sol e ensinar-me os segredos dos lobos. Ele me contava histórias sobre nossos ancestrais e o pacto que tínhamos com a terra e a lua. Meus pensamentos vagaram para Alastair, para as lições que ele me ensinara, para a profunda conexão que tínhamos. Eu sabia que, mesmo se ele estivesse morto, sua influência e seus ensinamentos permaneceriam comigo. Eram essas lições que agora me guiavam na busca por meus filhos, uma jornada que eu estava disposta a enfrentar a qualquer custo. Minha mente retornou ao presente quando me lembrei do ritual que precisava realizar para confirmar a liderança da alcateia. Não era um processo simples, mas acreditava que era a única maneira de obter as respostas que eu procurava. Eu sabia o que precisava fazer. Com cuidado, eu peguei uma faca que estava em minha bagagem, olhando para o brilho prateado da lâmina. Com determinação, fiz um pequeno corte em meu pulso, deixando as gotas de sangue caírem no solo. Era um antigo ritual de convocação que os lobos usavam para se comunicar em situações importantes. Eu esperava que funcionasse. Minha ação reverberou pelas árvores e pela terra, ecoando pela floresta. Sabia que em breve eles apareceriam. O silêncio da floresta parecia envolver-me, como se a própria natureza aguardasse em suspense. Então, um uivo ecoou ao longe, rompendo o silêncio da montanha. Era um som que eu conhecia bem. Os pelos em minha nuca se eriçaram, e meu coração acelerou quando eu soube que não estava sozinha. O uivo de lobos ao longe ecoou como uma resposta à minha chamada. Outros uivos se uniram ao primeiro, uma cacofonia sinistra que se aproximava. Quando os lobos apareceram, eu os encarei, ciente de que eles desejavam me rasgar em pedaços. A hostilidade estava evidente em seus olhos, e seus dentes afiados eram visíveis quando rosnaram em minha direção. Eu estava sozinha e vulnerável, mas minha determinação não vacilou. Eu tinha que continuar. "Gostaria de falar com o Alfa," eu disse, minha voz firme. Os lobos uivaram e se aproximaram, mas ainda não consegui entender suas palavras. Repeti meu pedido, com ainda mais determinação, enquanto mantinha o olhar firme. "Preciso falar com o Alfa." Outro lobo, mais imponente e confiante, uivou e depois se transformou em humano. Ele se aproximou de mim, seu olhar penetrante me sondando. "Quem é você e o que deseja com o Alfa?" Eu o encarei diretamente e disse, "Meu nome é Fierce Silver, e preciso falar com o Alfa." O lobo humano me estudou por um momento, antes de finalmente assentir. Ele então se virou e uivou, chamando o Alfa. Eu me perguntava se ele ainda era Alastair ou se outra figura havia assumido seu lugar. Finalmente, eu o vi, majestoso e imponente, emergindo das sombras da floresta. Era um lobo grande cinza de pelagem espessa, com olhos penetrantes que me encaravam com sabedoria. Ele se aproximou de mim com calma e dignidade, seu olhar revelando sabedoria e autoridade. Era ele, o alfa que havia assumido o comando após a partida de Alastair. Nosso olhar se encontrou, e eu soube que ele reconhecera o sangue que eu derramara. Então, ele se aproximou lentamente, seu focinho tocou o corte em meu pulso, e ele fechou os olhos por um instante. Quando ele voltou a abrir, seus olhos profundos refletiam uma mistura de emoções, incluindo surpresa e, talvez, um toque de pesar. Havia também algo mais profundo, algo que eu não conseguia identificar completamente. "Fierce," ele murmurou, seu tom grave e poderoso. "Você retornou." Eu conhecia aquela voz. Era Hunter, o primogênito de Alastair e o novo alfa da alcateia, que havia me rejeitado há anos. A tensão estava no ar, e eu me perguntava como ele reagiria a minha presença, e os três motivos que me levaram até ali. O silêncio pairava no ar por um breve momento antes de ele finalmente quebrá-lo com sua voz grave e autoritária. "O que faz aqui, Fierce?" Hunter perguntou, suas palavras soando como um rugido baixo na noite. Ele parecia surpreso com minha presença, talvez até ofendido. Eu respirei fundo, sabendo que não tinha tempo a perder. "Preciso de ajuda, Hunter. Meus filhos foram raptados." A surpresa nos olhos de Hunter era palpável. "Filhos?" Ele repetiu, como se a ideia fosse inconcebível. Assenti com determinação. "Sim, Hunter. Tenho filhos, e eles foram tirados de mim. Eu não sei a extensão do que está acontecendo, mas preciso da alcateia para encontrá-los." Hunter permaneceu em sua forma lupina, mas seu olhar era sério e avaliativo. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, seus olhos fixos nos meus. "Você rejeitou a alcateia, Fierce. Há anos você partiu e nunca mais olhou para trás. E agora volta como se nada tivesse acontecido, exigindo a ajuda da alcateia. E, para piorar, faz isso em sua forma humana. Nem mesmo tem a decência de vir até nós como uma lobisomem." Suas palavras eram duras, cortantes, mas eu estava determinada a não me abalar por elas. Meus filhos eram a prioridade agora. Eu mantive meu olhar fixo no dele, sem recuar. "Hunter, não estou aqui para exigir nada. Estou pedindo ajuda. Meus filhos estão em perigo, e eu faria qualquer coisa para protegê-los." Ele se ergueu em suas patas, assumindo uma postura ainda mais imponente. Seu pelo estava eriçado, e eu podia sentir a tensão no ar enquanto a alcateia aguardava sua decisão. "Por que não pede ajuda aos humanos a quem você venerou durante todos esses anos?" Hunter perguntou com desdém. Eu abaixei a cabeça por um momento, pensando em como explicar. "Os humanos estão fazendo a parte deles, mas há um detalhe que eu não mencionei. Um dos possíveis sequestradores é um lobisomem." A revelação pareceu surpreendê-lo. Hunter recuou um pouco, seus olhos agora fixos em mim com um misto de curiosidade e preocupação. "Um lobisomem? Como você sabe disso?" Eu respirei fundo, escolhendo minhas palavras com cuidado. "Eles deixaram evidências, e eu confio em meus instintos. Além disso, o cheiro, a aura... algo está errado, Hunter. Eu não posso enfrentar isso sozinha, e meus filhos precisam de sua alcateia." Hunter permaneceu em silêncio por um momento, sua expressão indecifrável. A tensão no ar era quase palpável, e eu sabia que estava pendurada em um fio. Mas eu não desviaria meu olhar, não quando a vida de meus filhos estava em jogo. Ele se levantou lentamente em suas patas, sua forma lupina tornando-se mais alta e imponente. Seu olhar estava sério quando ele disse, " Sua presença aqui é um insulto. E agora nos insulta sugerindo que um lobisomem fez isso?" A acusação de Hunter era dura, mas eu estava disposta a enfrentar tudo, a qualquer coisa, por meus filhos. Eu abaixei minha cabeça, engolindo meu orgulho. "Eu não queria que minha presença fosse um insulto, Hunter. Eu vim aqui em busca de ajuda, não para reivindicar algo que não mereço e muito menos acusar um lobisomem. Porém, você me conhece melhor do que ninguém, sabe que meu faro sempre foi muito bom. Eu sei que um lobisomem esteve em minha casa e levou meus filhos." Hunter permaneceu em silêncio por um momento, sua atitude agora menos hostil. Ele olhou em volta, como se contemplasse sua decisão. "Eu vou chamar a alcateia. A decisão final será deles, Fierce." Eu assenti com gratidão, sabendo que essa era a melhor resposta que eu poderia esperar. "Obrigada, Hunter. Sei que não é uma decisão fácil, mas meus filhos estão em perigo, e eu faria qualquer coisa para protegê-los." Ele encarou-me com desprezo, seu olhar cortante. "Até lá, Fierce. Você ficará na Cabana. E eu acredito que você ainda lembra o caminho." Não era uma oferta, era uma ordem. Hunter se afastou, desaparecendo nas sombras da floresta, deixando-me para trás com o coração pesado. O desafio que se desenhava diante de mim era tão grande quanto a lua que iluminava o caminho, mas eu estava disposta a provar que eu não era a mesma Fierce que havia partido anos atrás.
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