CAPITULO 4

1303 Words
Andei sozinha pela floresta, meus pés afundando nas folhas secas e na terra úmida. Enquanto caminhava, minha mente voltou a seis anos atrás, quando eu era uma jovem loba de pelagem preta, ágil e rápida. Naquela época, percorria aquele mesmo caminho em minha forma lupina, correndo com velocidade e graça. Ao meu lado, estava Hunter, meu irmão adotivo, melhor amigo de infância e o dono do meu coração, mesmo que ele não soubesse disso. Nós éramos inseparáveis naquela época, e nosso tempo juntos era repleto de aventuras e brincadeiras. Disputávamos corridas pela floresta, testando nossos limites e aprimorando nossas habilidades de caça. Caçar juntos era um vínculo que compartilhávamos, uma maneira de nos conectarmos com nossa natureza de lobos. Naquele dia, encontramos uma presa digna de nossa perseguição: um majestoso alce, com chifres imponentes que se erguiam em direção ao céu. Seus olhos mostravam um misto de medo e coragem, enquanto ele observava com cautela nossos movimentos. Hunter, com sua pelagem acinzentada, encarou-me com um desafio em seus olhos. "Acha que conseguimos, Fierce?" Ele perguntou, seu tom carregado de diversão. Eu sorri, minha língua de loba se enrolando em um gesto de confiança. "Claro, Hunter. Isso será moleza." Nós partimos em uma corrida veloz atrás do alce, nossas patas se movendo em perfeita harmonia, como se fossemos um só. A adrenalina corria forte em nossas veias, e a sensação de liberdade era inebriante. Caçar era mais do que um instinto para nós; era uma expressão de nossa identidade como lobos. A presa estava próxima, e eu podia sentir o cheiro da sua pelagem. A corrida era acirrada, mas estávamos prestes a alcançá-lo quando um som gutural e ameaçador ecoou pela floresta. Um enorme urso pardo, com sua pelagem escura e poderosa, surgiu do nada, bloqueando nosso caminho. Nossos olhos se arregalaram de surpresa e medo, e nós diminuímos a velocidade, desviando rapidamente para evitar uma colisão com o imenso predador. O urso nos encarou com olhos ferozes e dentes afiados, sua presença dominando o ambiente. Era um lembrete brutal de que, mesmo como lobos, havia ameaças na floresta que não podíamos subestimar. Hunter e eu recuamos, mantendo uma distância segura do urso. Nossas orelhas estavam empinadas, atentas a cada movimento do predador. O alce, aproveitando a confusão, desapareceu na mata, escapando de nossa caçada. Nossos instintos de sobrevivência entraram em ação, e nos viramos imediatamente para fugir do urso. Nós éramos lobos, fortes e ágeis, mas um urso daquele tamanho era uma ameaça formidável. Corremos com todas as nossas forças, o som dos passos pesados do urso ecoando atrás de nós. Hunter estava à minha esquerda, e eu podia sentir a pressão de seus olhos em mim enquanto corríamos. Eu sabia que ele estava disposto a lutar e morrer para me proteger, e eu faria o mesmo por ele. Mas a corrida era nossa única opção naquele momento. Enquanto nos aproximávamos das árvores, eu pude sentir o bafo quente do urso em minha pelagem, suas garras raspando meu flanco. Um grito de desespero escapou de meus lábios, mas eu continuei correndo, determinada a não ser a presa daquele monstro. Finalmente, chegamos às árvores e, com um último esforço, nos lançamos pela densa vegetação, escapando da visão e alcance do urso. O rugido furioso do predador ecoou pela floresta, mas nós já estávamos longe demais para que ele nos alcançasse. Percebemos que o urso não estava interessado em nós; ele estava mais preocupado em proteger seu território do que em nos atacar. Respiramos aliviados, mas a adrenalina continuava a pulsar em nossas veias. Hunter e eu nos olhamos, nossos corações disparados e a respiração pesada. Hunter se aproximou de mim, sua pelagem roçando contra a minha. "Foi por pouco, Fierce," ele disse, seu tom de voz carregado de alívio. "Acho que o alce ganhou essa rodada." Eu me virei para ele, nossos olhos se encontrando em uma cumplicidade que transcendia palavras. "Você sabe, Hunter, não vou contar para o Alastair que você fugiu do urso. É o nosso segredinho." Hunter me empurrou levemente, um sorriso brincando em seus lábios. "Você não vai contar porque sabe que só fugi porque sabia que você não daria conta." Eu revirei os olhos de brincadeira e empurrei Hunter de volta com meu focinho. "Eu teria dado conta facilmente do urso. Você subestima minha força." Nossas brincadeiras logo se transformaram em uma luta amigável, com dentes e garras inofensivos, mas nossa determinação e espírito competitivo eram intensos. Nós rolamos pelo chão coberto de folhas, cada um tentando derrubar o outro. No final, Hunter usou sua força superior para me jogar no chão, folhas se espalhando ao nosso redor. Ele se deitou sobre mim, nossos rostos a centímetros de distância. Nossos olhos se encontraram, e o calor do momento era palpável. Eu olhei profundamente nos olhos de Hunter, esperando por um toque que poderia mudar tudo. Mas antes que nossos focinhos pudessem se tocar, um grito ao longe quebrou o feitiço. Um grupo de lupinos, liderados por Caleb, o melhor amigo de Hunter, apareceu. Caleb era um lobo de pelagem marrom e um dos mais próximos de Hunter. Ele nos chamou, rindo e brincando com Hunter. "Deixe sua irmãzinha brincando e venha conosco, Hunter! É hora de você se tornar um homem!" Caleb gritou com um sorriso travesso no rosto. Fiquei no chão, observando a cena com curiosidade enquanto Hunter se afastava ligeiramente de mim, seus olhos se encontrando com os de Caleb. O que Caleb quis dizer com "tornar-se um homem" me deixou intrigada, e uma pontada de ciúmes se misturou às minhas emoções. "O que Caleb quis dizer com 'se tornar um homem'?" Eu perguntei a Hunter, com uma expressão séria. "Eu preciso ir com eles, Fierce. Eles estão indo para Denver, a cidade próxima da floresta." A notícia me pegou de surpresa. "Mas como você vai até lá?" Ele me lançou um olhar significativo, e eu soube exatamente do que ele estava falando. "Você sabe como, Fierce." Minha irritação aumentou. Alastair, o alfa da alcateia e figura paterna para nós dois, havia proibido que os lobos fossem à cidade como humanos sem sua autorização. Era uma regra que eu levava a sério, mas Hunter parecia não compartilhar da mesma preocupação. Eu olhei fixamente para Hunter, minha voz carregada de desapontamento. "Alastair proibiu isso, e você sabe disso, Hunter. Ele não quer que saiamos da floresta como humanos sem permissão." Hunter deu de ombros, como se o perigo de desafiar essa regra fosse algo que ele podia simplesmente ignorar. "Meu pai jamais vai saber, a menos que você abra a boca." Eu o encarei, perplexa. Minha lealdade para com Alastair era inabalável, e eu não queria quebrar as regras da alcateia. Mas Hunter e seus amigos estavam determinados a desafiar as convenções, e eu me vi em uma posição difícil. "Isso não é certo, Hunter," eu disse, minha voz baixa. "Devemos respeitar as regras da alcateia." Ele me olhou por um momento, seus olhos escuros transmitindo um conflito interno. "Vai ficar de bico, Fierce? Você sabe que isso é uma oportunidade única. Além disso, não vamos fazer nada perigoso, apenas nos divertir um pouco na cidade." Fiquei irritada com a ousadia de Hunter. Ele estava propondo que eu fosse cúmplice de uma desobediência às regras da alcateia. Olhei para Caleb, que esperava a resposta de Hunter. Em seguida, olhei de volta para Hunter e disse: "Não contarei a Alastair, desde que vocês me levem junto." Caleb perguntou impacientemente se Hunter iria ou não, e Hunter me encarou. "Você pode ir, Fierce." Meu coração saltou de alegria. Era a primeira vez que eu teria a chance de visitar o mundo humano, algo que eu ansiava fazer há muito tempo. O desconhecido do mundo humano se estendia diante de mim, e eu estava pronta para explorá-lo, ao lado de Hunter.
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