O desespero havia tomado conta de mim, e eu sabia que precisava fazer algo. Minha decisão foi instantânea e impulsiva. Eu precisava me reconectar com minha natureza lobisomem, aquela que sempre esteve lá para me proteger e para proteger meus filhos. A lua, naquela noite especial de Lua Azul, parecia me chamar, e eu decidi segui-la.
Corri para fora de casa, os pés descalços encontrando o caminho até a floresta. Cada passo que eu dava me aproximava mais da escuridão da mata, mas eu não sentia medo. Minha necessidade de encontrar meus filhos superava qualquer temor que a escuridão pudesse provocar. Eu sabia que precisava recuperar a força que me permitiria enfrentar o desconhecido e trazer meus filhos de volta para casa.
Caminhei mata adentro, guiada pelo brilho da lua, até que encontrei um pequeno riacho que serpenteava pela floresta. A lua estava alta no céu, sua luz refletida nas águas calmas do riacho. Era um lugar tranquilo e mágico, um local onde eu tinha vindo muitas vezes para encontrar paz e reflexão.
Fechando os olhos, respirei profundamente e permiti que a serenidade do lugar tomasse conta de mim. Era hora de me reconectar com a Deusa da Lua, a entidade que sempre representou a essência de minha transformação lobisomem. A lua naquela noite especial era um símbolo do meu renascimento, da minha redescoberta.
Comecei a rezar, em um sussurro suave, pedindo à Deusa da Lua que me ajudasse, que restaurasse a conexão que eu havia perdido.
Fechei os olhos e comecei a orar em silêncio, buscando aquela conexão que outrora foi tão forte. "Deusa da Lua, eu clamo por sua ajuda. Por favor, mostre-me o caminho, guie-me neste momento de trevas. Eu preciso encontrar meus filhos, eu preciso encontrar minha loba interior."
No entanto, algo estranho aconteceu. Senti uma barreira, como se a Deusa tivesse negado a minha prece. Era como se ela estivesse rejeitando a conexão entre nós, e a rejeição era quase física, como um empurrão.
Eu me senti fraca e vazia, perdida em meio às sombras da floresta. A lua acima de mim parecia distante, e eu me perguntei se minha loba interior estava perdida para sempre. Meu desespero cresceu, e eu soube que não poderia desistir, não quando meus filhos dependiam de mim.
Decidi me ajoelhar, como um último ato de desespero, e olhei para a lua mais uma vez, suplicando com todas as forças que ainda me restavam. "Deusa da Lua, por favor, me ajude. Não tenho mais ninguém a quem recorrer. Minha loba interior está perdida, e meus filhos estão em perigo. Eu farei qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, para tê-la de volta. Por favor, me ajude."
Eu não sabia o que esperar, mas estava disposta a fazer qualquer sacrifício para ter minha loba interior de volta, para ser capaz de usar minha força para encontrar meus filhos. A lua brilhava intensamente, e então, algo surpreendente aconteceu.
Uma sensação de calor e luz começou a se espalhar por meu corpo, como se a própria lua estivesse me abraçando. Uma voz sussurrou suavemente em minha mente, uma voz que ecoava com a sabedoria e a serenidade da Deusa.
"Você se esqueceu de quem é, Fierce. Sua loba nunca a abandonou, mas você a negou. Ela ainda está aí, esperando por você."
Uma lembrança surgiu, inundando minha mente como uma torrente de emoções. Foi o último momento em que me transformei, um momento que eu havia suprimido, bloqueado, porque doía demais. Foi quando Hunter, o pai dos meus filhos, partiu meu coração, deixando para trás uma rejeição e uma traição que ainda ecoava em meu peito.
A dor daquela despedida havia feito com que eu fizesse uma promessa a mim mesma, uma promessa que eu tinha esquecido: eu nunca mais me permitiria ser vulnerável. Para cumprir essa promessa, eu tinha enterrado minha loba interior, sufocando-a e negando-a. E agora, eu estava colhendo as consequências dessa decisão.
Lágrimas inundaram meus olhos enquanto a lembrança da dor, da traição, e da decisão que tomei naquele dia retornaram. Eu tinha me fechado para proteger meu coração, mas em fazer isso, eu também tinha perdido uma parte vital de mim mesma. Agora eu sabia o que precisava fazer.
"Deusa da Lua, obrigada," eu murmurei, minha voz embargada. "Agradeço por me mostrar o caminho."
A resposta da Deusa foi um calor reconfortante que começou a se espalhar por mim. Eu sabia que minha jornada estava apenas começando, mas agora eu tinha uma direção. Eu tinha que enfrentar o passado, a dor e a decisão que me levaram a perder minha loba.
***
A manhã seguinte chegou com um céu nublado, mas a decisão estava tomada. Eu precisava fazer o que a Deusa da Lua me orientou, e isso envolvia voltar ao meu passado, encarar as memórias dolorosas que eu havia enterrado e desvendar o mistério que parecia estar relacionado à minha capacidade de me transformar em lobisomem. Arrumei algumas peças de roupa e coloquei tudo nas malas, então as levei para meu carro.
A ação inesperada não passou despercebida. Minha vizinha, Meg Stuart, estava do lado de fora, observando com curiosidade enquanto eu arrumava minhas coisas no carro.
Meg se aproximou, seus olhos inquisitivos não perdendo um detalhe. Ela era conhecida por sua língua afiada e sua sede de fofocas, e eu sabia que não conseguiria evitar suas perguntas. Respirando fundo, eu me preparei para enfrentá-la.
"Fierce, está tudo bem?" Meg perguntou, com uma falsa expressão de preocupação em seu rosto.
Eu respirei fundo e respondi, "Dentro do possível, Meg. A situação é difícil."
Ela inclinou a cabeça, claramente curiosa, e perguntou, "Para onde você está indo? Não acho que seja uma boa ideia sair daqui enquanto as investigações estão em andamento."
Eu sabia que precisava de uma boa desculpa, algo que não levantasse suspeitas. "Meus pais me convidaram para passar um tempo com eles em Denver, no Colorado. Eles acham que seria bom para eu me afastar por um tempo até as coisas se acalmarem aqui."
A mentira escapou de meus lábios com facilidade, e eu me perguntei se Meg acreditaria nela. Meus pais, porém, eram apenas um disfarce. Eu era uma órfã, criada pela alcateia de Alastair, e minha verdadeira origem era um segredo que eu guardava a sete chaves.
Os olhos de Meg se arregalaram, surpresos. "Denver? Isso é uma longa viagem de carro, Fierce. Vai levar mais de um dia para chegar lá."
Eu fechei a porta do carro, sabendo que não podia prolongar a conversa. "Sim, Meg, mas acho que é exatamente o que eu preciso. Distrair minha mente e tentar encontrar um pouco de paz. Talvez você devesse tentar algo semelhante, em vez de se preocupar tanto com a vida dos outros."
Meg abriu a boca, mas pareceu não encontrar palavras para responder. Ela apenas balançou a cabeça, ainda surpresa com minha resposta, e se afastou, aparentemente sem saber o que fazer com minha atitude inesperada.
Assim que Meg desapareceu de vista, entrei no carro, dei a partida e comecei a dirigir em direção ao meu passado, ao lugar onde tudo havia começado, onde minha loba interior havia sido sufocada. Eu sabia que essa jornada seria cheia de desafios, segredos dolorosos e confrontos difíceis, mas era o único caminho que eu poderia trilhar.
Eu estava pronta para enfrentar meu passado, pois mais do que nunca, meus filhos dependiam de mim, e eu faria o que fosse preciso para tê-los de volta.