Capítulo 2 - você novamente?

1818 Words
- Obrigado e volte sempre- Entreguei a última rosa do dia, que a Dona Jav havia me recomposto, e feliz por ter vendido como nunca hoje. Andei um pouco para o lado e me sentei no banco da praça para descansar, pois o dia foi longo e cansativo. Sempre foi. - Luiza - a menina de cabelos loiros, Rebeca, se sentou ao meu lado esboçando um sorriso. - Trouxe pra você. Ela levantou sua mão que tinha uma sacola verde. - Não precisa Beca. Estas roupas aqui não estão m*l, eu acho. - Ela fechou a cara e colocou a sacola no meu colo. - Eu faço questão. Agora vai que daqui a pouco a lanchonete da Ruth fecha e você não foi trocar as roupas. - Sorri. Rebeca era um amor de pessoa, ela era nova ainda, acho que um pouco mais velha que eu, tem olhos azuis que eu tanto admiro já que os meus são castanhos, é uma garota feliz, apesar de tudo que ela passa na vida, foi diagnosticada com câncer a três anos atrás mas mesmo assim nunca deixou de ser a menina doce que ela é. Me levantei e peguei a sacola em mãos, dei um sorrisinho pra ela antes de ir e ela só gesticulou sem nenhum som "te espero aqui". Apesar de estar cansada corri para a Lanchonete azul e vermelha que tinha do outro lado da rua. - Boa noite Ruth. - cheguei perto do balcão e encontrei a senhora, não tão velha, tinha lá seus quarenta anos, sorrindo. - Como vai? - Ah querida ótima - Sorri para ela. - Vai trocar de roupas? Pode ir lá filha. Sorri sem mostrar dentes e me direcionei ao banheiro que ficava no final do estabelecimento. Passei pelas mesas e todos ali me cumprimentaram com toda a educação. Cheguei ao pequeno e apertado banheiro e logo comecei a me despir, não queria que Beca esperasse. Depois de ficar apenas com as roupas intimas pretas, que Ruth mesmo tinha comprado pra mim, peguei uma pequena bucha que ela sempre deixava ali pra mim, e a molhei passando no meu corpo. Depois de fazer o que devia fazer, peguei a sacola e tirei a roupa de lá. Era uma calça, preta e que me parecia bem quente, uma blusa de mangas curtas branca e uma blusa de frio de moletom cinza. Usei as escovas de dente que Beca deu pra mim e usei. Me vesti rápido mais meio atrapalhada, e logo sai. - Obrigado Ru - agradeci passando por onde ela estava e acenando um tchau. - Obrigado mesmo. Ela apenas sorriu e acenou de volta. Corri atravessando a rua e indo de encontro a menina que ainda estava sentada no banco. - Pronto. - cheguei perto dela e girei para fazer ela ri. - Você sempre arrasando quando escolhe roupas. - Eu sei eu sei. - Ela se levantou rindo e ficou ao meu lado. Ela era maior mais eu nunca me importei com isso. - Está faltando uma coisa. - Não está Beca - coloquei a mão sobre seu ombro. - Isso já basta. - Para de ser boba menina - Ela foi até o banco e pegou um par de um tênis preto. - Coloca isso e pronto. - Mas. - - Malu! - ela ficou frente a frente comigo e olhou no meu olho, segurando meus ombros. - Não é querendo ser dramática mas, daqui a uns dias eu sei que vou morrer e pra quem vai ficar todas as minhas coisas? Quero que fique com você, por favor. Suspiro chorosa. Apesar de saber que Beca vai morrer a qualquer momento, me sinto m*l. Ela é a única pessoa que eu cresci junto, ela sempre vinha aqui, sempre conversando comigo. - Ok Rebeca. - ela sorri e me abraça. - Agora tenho que ir, tenha uma boa noite e se cuida. - pediu ela, passando a mão nas minhas bochechas e sorrindo maternalmente. - Boa noite Beca. Se cuida também e obrigada. - Ela sorri e me beija a bochecha antes de se afastar. Fiquei observando ela se afastar e quando ela sumiu da minha vista fui me sentar. A noite de Londres é linda, de pouco a pouco as ruas vão ficando vazias e o vento se apodera do lugar. O céu é estrelado e as luzes dos postes nas ruas vão iluminando as ruas onde passava poucos carros. Suspiro e encolho minhas pernas no banco e as abraço, encostando o queixo no joelho. Não era r**m morar aqui, pelo contrário, todo mundo era gentil comigo e eu sou até mais feliz do que algumas pessoas. Dias de chuva que era r**m por aqui, muitas das vezes eu não dormia e ficava olhando a chuva cair, mas nas outras eu não me importava muito com a água caindo sobre meu corpo. Era algo em que eu já estava acostumada. - Muito lindo. - olhei pro lado e me assustei com ele sentado ali, estava tão perdida nos pensamentos que nem notei ele chegar. - Pensei que não o veria tão cedo. - Ele ri e coloca as mãos no bolso da sua blusa pra abafar o frio. - Sai pra esfriar a cabeça e resolvi voltar aqui. - sorriu, me encarado. - Você mora onde? - perguntei por curiosidade. - Por que por aqui acho que não é. - Não. - ele solta uma risada sem graça. - Do outro lado de Londres. - E o que faz pra esses lados? Quer dizer, aqui não é tão bonito como onde mora é... simples. - - Gosto daqui. - ele suspira e um pequena brecha de fumaça sai de seu nariz. - Gosto de coisas simples e tranquilidade. E quando vim aqui, gostei. - Todo mundo gosta - abracei mais minhas pernas e deitei meu rosto sobre o joelho para olhá-lo. - Mas você vem de Bonde? - Não - ele ri e se encosta no banco. - Quem me dera. Ele não deixa. Apontou para frente. Olhei na direção e vi um homem encostado em um carro, de terno preto. - O que ele é seu? - Perguntei, curiosa. - Segurança. - franzi o cenho e ele percebeu minha confusão. - Pra caso acontecer algo, tipo, ataque de fãs. - É Claro. - bati na testa. Estava óbvio. Ele riu. - Mas acho que hoje em dia, os adolescentes não vivem muito nas ruas. Principalmente aqui por esses lados, sabe, é mais gente velha. Ele sorri e assente. - Por isso gostei daqui. - ele enfim tirou as mãos do bolso apenas para mexer no cabelo. - Tranquilidade. Concordei. Voltando meu olhar para as ruas, para as ruas. - Por que não traz sua namorada? - Ele me encara. - Aqui é bem tranquilo para os dois, passearem sem preocupação. - Sim. - ele não desvia o olhar. - Mas Elle gosta de lugares mais sofisticados. - Sofisticados? - Uhum. - ele suspira. - Hotéis. Shoppings. Esse tipo de lugar. - - Então ela não sabe o que está perdendo. - solto minhas pernas, mas deixo elas grudada ainda no meu corpo. - Lugares mais simples as vezes são os mais belos lugares. - Eu concordo completamente! - Me conta de você Louie. Como é sua vida? - me sentei com as pernas de índio e me virei para ele. - De mim? O que você gostaria de saber? - me surpreendi quando ele cruzou as pernas também, como as minhas, e se virou pra mim. - Sei lá - Dei de ombros - O que você mais gosta de fazer? - Cantar - deixei uma gargalhada sair e ele riu junto comigo. - Não. Quando você está livre, sem fazer nada. - - Bom, depende - perguntei um "do que?" e ele sorriu e encarou o nada. - Às vezes gosto de sair com os meninos, outras quero ficar sozinho, sair relaxar, igual agora, ser.. normal. - Mas você é normal - ele ri e balança a cabeça negativamente. - Claro que é Louie. Você é apenas amado pelo mundo todo e ganha pra cantar pra eles. - Ele não fala nada, apenas me encara, fazendo a luz refletir nos seus olhos azuis. - Eu não sei como é isso mas, aposto que é bom, não poder sair nas ruas por que tem várias pessoas te esperando pra te atacar, deve ser um pouco chato, mas isso não significa que você não é normal. Ele baixa a cabeça e entrelaça os dedos. - Fala mais alguma coisa de você. - Continuei, vendo que se eu não falasse um silêncio ia se apoderar do lugar. - Gosto de cenoura. - ele ri sem graça e eu fico surpresa. - Gosto muito. - Saudável. - falei. Ele só disse um "é" todo envergonhado. - Tímido? Apontei para seus dedos que brincavam um com o outro, ele parou imediatamente me fazendo rir. - Sei lá. - colocou suas mãos de volta na blusa. - Tá com fome? Não respondi, só o encarei. Ele voltou a repetir. - Por que? - - Sei lá. Eu estou. - ele falou levantando do banco e estendendo a mão para mim. - Vem comigo me acompanhar. Segurei em sua mão apenas pra levantar. E fiquei parada na sua frente. - Não precisa. - Ele fechou a cara e colocou as duas mãos na cintura, ele era um pouco só mais alto que eu e isso era até engraçado. - Ah por favor. - ele fez uma cara de cachorro pidão e fez biquinho. - Eu não quero comer sozinho. - Mas e se alguém ver você com uma... - hesitei em falar o que ia falar. - moradora de rua. - Você está preocupada com isso? - assenti, meio tímida, mas assenti. - Eu não ligo pra essas coisas Malu, vamos. Hesitei mais um pouco, tentando decidir se deveria ou não, mas ele não me deixou pensar e me puxou pela mão em direção ao carro. - Essa é Malu, Paul. - Estendi minha mão para o homem e ele logo me cumprimentou sorrindo. - Como Louie mesmo disse, sou Paul. - Sorri de volta e assenti. - Pra onde vai ir agora? - Comer. - ele abriu a porta pra mim. - Entra Malu. Entrei ainda tímida, e só entrei por que eu sabia que ele iria me colocar ali dentro de qualquer jeito. Ele entrou atrás e se sentou ao meu lado, esfregando as mãos logo que fechou a porta. - Nando’s, Louie? - o Paul que agora estava no condutor se virou para nós. - Não. Hoje não. Quero ir a algum lugar... - Ele olhou pra mim. - quer sugerir Malu? - Neguei. - Não conheço muito Londres. Não saí dessa parte que moro. - Ele assentiu, parecendo chateado com alguma coisa, pensativo. - Mas acho que Hambúrguer com fritas seria ótimo, uma vez eu comi. - Uau - o encarei, confusa com sua animação inesperada. - Pensei que iria sugerir... Salada igual as meninas que conheço... - Sorri envergonhada e balancei a cabeça negativamente. - Melhor ainda então, ia sugerir isso também... Paul já sabe. Ele assentiu e deu partida no grande e lindo carro. Eu não sabia se era meu dia de sorte, ou era só coincidência, mas que eu senti que a partir dali tudo iria mudar, isso eu senti.
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