O sol bate no meu rosto e sem muita birra abro os olhos. Me estico um pouco sem jeito sobre o papelão que estava pousado no chão e escuto minhas costas estralarem. Sem muita escolha me sento e coço os olhos para olhar o movimento em que a praça estava, e como sempre logo cedo cheia de gente, passo a mão pelos cabelos que deviam estar esvoaçados e arrepiados e o prendi em um coque frouxo.
Sinto minha barriga roncar e coloco a mão sobre a mesma, desde a manhã passada eu não comia, por não ter juntado muita coisa. Olhei para o lado e vi minha caixa com as rosas que a dona Jav, uma senhora dona de uma floricultura, me dava sempre pra poder vender.
Quase todos os donos de lojas daqui me conheciam e não era pouco, já que eu cresci praticamente naquela praça, algumas vezes ou outras eles me ajudavam com comida ou roupas, e a última que ganhei foi de Caroline, uma moça que vendia roupas, elas eram usada mais eu pouco me importava com isso já que pra mim o que me cobrisse estava ótimo.
Me levantei e me espreguicei por completo e logo peguei a caixa do chão, eu precisava tomar café e para isso eu teria que vender algumas flores.
- Bom Dia Malu.
- Bom Dia senhor Jonh - cumprimentei o homem que passava por ali todos os dias e eu já conhecia bem.
O sol não estava quente, pelo contrário, estava correndo um vento gelado até, as vezes o sol só servia para enfeitar o céu Londrino, pois esquentar era um pouco difícil.
As pessoas passam por mim e eu como todo o sempre ofereço as rosas, que por mais que ficassem comigo por uma noite eram lindas e bem vivas, algumas dessas pessoas apenas me davam um sorrisinho e diziam que não queria e outras simplesmente ignoravam. Eu odiava apenas os olhares de algumas pessoas que me laçavam desprezo, ou até mesmo pena, eu não gostava disso, eles não eram melhores que eu por ter um lar.
- Bom Dia Malu. - O policial que sempre passava aquele horário para tomar café na lanchonete de Ruth estava na minha frente. - Hoje eu quero 5 flores.
Todos os dias eles comprava ao menos 1 flor comigo, nem sempre para dar a alguém e sim para me ajudar, já que ele me oferecia o dinheiro sem pegar as flores mas eu não aceitava pois não queria o dinheiro e sim vender minhas flores. Ele sempre foi gentil comigo.
- Tudo isso? - sorri, entregando a ele.
- Sim, vou levar pra minha mulher, as duas filhas e duas pra minha mãe que vai ir hoje em casa. - Sorri. Era tão lindo levar flores a alguém. Ele me entregou o dinheiro e eu o encarei, ele deu a mais. - Até mais querida.
Dei um pequeno aceno com a mão e coloquei o dinheiro no bolso, já que ele iria se recusar a receber o troco.
- Pode arrumar alguns pra mim? - Um homem, garoto, não sabia ao bem, me assustou parando na minha frente. Ele estava usando uma toca e uma blusa de gola bem alta, acho que pelo frio. E o destaque no seu rosto era seu olho azul. - se possível pode fazer um buquê com elas?
Ele dizia sem me olhar, ele encarava o celular nas mãos e digitava rapidamente. Parecia nervoso.
- Claro senhor. - peguei todas as flores da caixa e comecei a uni-las. Peguei um jornal que forrava o papelão que eu estava deitada e enrolei nas flores, o tempo inteiro em silêncio.
O rapaz, que até então estava fissurado no celular, encarou o lugar em que eu peguei o jornal e depois me encarou.
- Você dorme ai? - ele me chamou a atenção e vi que seu dedo apontava para o papelão, assenti sem tirar os olhos do meu trabalho e sem me intimidar, não tinha por quê mentir. - Mora na rua?
Assenti mais uma vez, sem responder. Eu não tinha timidez quanto á onde morava, mas sempre preferia não prolongar o assunto sobre.
Arrumei as flores e entreguei elas a ele, abri um sorriso bastante satisfeita com o trabalho que eu tinha feito, tinha ficado divino!
- Obrigada. - Sua voz saiu baixa. - Quanto é?
Encarei o rapaz que parecia um pouco incomodado e suspirei. Tinha dinheiro o suficiente pra tomar café agora, mesmo que essas flores me farão falta lá na frente, mas o que custava ser gentil uma vez? Eu estava de bom humor.
- É pra sua namorada? - Ele assentiu segundos depois, dando um sorriso de lado mais meio confuso com minha pergunta. - Então pode levar. Eu acho um gesto bonito dar flores a uma mulher.
- Eu quero pagar moça. - Neguei mais uma vez não deixando o sorriso sair de meu rosto. - Tudo bem. Mas pelo menos aceita tomar um café? Só pra compensar pelas rosas bonitas e cheirosas. - Abriu um sorriso, e pela primeira vez vi algo a mais além de um cara nervoso pra ir embora logo.
Hesitei mais um pouquinho mas logo meu estomago roncou e doeu muito em resposta da sua pergunta, então não tinha escolhas.
- Tudo bem - Sorri derrotada, deixando a caixa onde as flores estavam no chão. - Eu já estava indo mesmo.
- Qual seu nome? - Perguntou sem me olhar. Ele andava encarando o chão e de vez enquanto as rosas mas nunca pra frente, pelo jeito estava se escondendo, parecia que estava fugindo de alguém.
- Me chamo Maria Luiza, mas me chame de Malu - ele assentiu. - E o seu?
- Sério que não sabe quem sou eu? - Neguei, confusa. Ele apenas sorriu, desacreditado. - Sou o Louie.
- Louie, bonito nome, parece Francês - Ele concordou e riu sozinho. Olhei mais uma vez pra ele pra ver se eu não o conhecia de algum lugar mas tive a certeza que nunca o vi passar por aqui.
Paramos em frente uma cafeteria comum e eu encarei ela e depois olhei para ele, questionando silenciosamente se ele aceitaria ir ali.
- Ai? - ele olhou para o local e depois me olhou. Assenti. - Já ouviu falar em Starbucks?
- Claro que já, Tem uma no final da rua. - Ele sorriu, satisfeito.
- Vamos lá. - neguei, parada no mesmo lugar. - Por que não Malu?
- Por que eu... Eu... não posso pagar. - Ele começou a gargalhar e colocou o buquê embaixo dos seus braços, enquanto eu sentia minhas bochechas queimarem.
- Você me deu o buquê de graça - Ele começou a andar e seu braço que estava livre começou a me puxar para andar ao seu lado, pelo ombro. - Eu posso pagar um café pra você.
- Não senhor Louie. - suspirei. - Existe uma grande diferença entre um buquê e um café do Starbucks.
- Nada haver. E me chame apenas de Louie. - murmurou ele, impaciente. Percebi que ele não iria parar até eu ceder. - Agora vamos.
Não falei mais nada, apenas fui seguindo ele pela rua indo em direção ao nosso destino. Quando chegamos na frente e ele ia entrando puxei de leve a manga de sua blusa fazendo ele parar e me olhar, confuso.
- Eu não estou... muito bem vestida pra entrar em um lugar assim. - Eu não estava tão r**m, calça jeans escura e suja e uma blusa azul escura fina de manga longa. Mas eu me sentia m*l, não era como se eu frequentasse o lugar sempre. Ele me olhou indignado e balançou a cabeça negativamente me puxando pelo braço para entrar.
Ele nos direcionou para uma mesa um pouco afastada e de canto, puxou uma cadeira pra mim sentar e logo foi para o outro lado da mesa. Permaneci em silêncio. A garçonete veio anotar os pedidos, falou com ele toda sorridente e empolgada anotando nossos pedidos, Louie que pediu pra mim dizendo que eu iria gostar, não recusei, pois o que ele oferecesse eu iria aceitar de bom grado.
- Tímida? - ele falou depois que a garçonete se afastou e apontando para minhas mãos entre as pernas.
- Um pouco. - Sorri murmurando e colocando uma mecha da minha franja para trás da orelha. - Obrigado.
- Por nada Malu. É um imenso prazer pagar um café para você. - Ele colocou o cotovelo sobre a mesa e começou a me encarar. - Quantos anos?
- 18. - Falei olhando para a janela e sem graça.
- Mora na rua desde quando? - Eu não queria responder, mas eu não tinha vergonha em falar.
- Acho que desde que eu me entendo por gente... Ou antes - Solto uma risada nostálgica mais ele não faz o mesmo então eu paro de rir no mesmo momento.
O clima ficou tenso.
- Willians? - Uma menina para diante a mesa e encara Louie, quebrando o clima r**m que tinha se alastrado. Ele abre um sorriso e afirmou para a menina. - Meu Deus!! não acredito, vou enfartar!!!!... Você é muito mais lindo pessoalmente! ... posso tirar uma foto? Por favor!!!
- Claro. - ele se levanta e a menina tira uma foto com ele. Ou várias.
Fiquei apenas encarando os dois, já que eu realmente não sabia quem era ele e me sentia i****a por isso. Parecia que ele era alguém muito famoso, e pelo visto tinha um coração muito bondoso já que estava ali comigo, uma pessoa que não tinha nem onde morar... triste.
- Muito obrigada - Ela abraça ele fortemente e vejo que a mesma chorava. - Eu não estou bem, não estou bem...
A menina sai falando isso e balançando as mãos na frente do rosto. Ele só sorri e senta de novo vendo a menina se distanciar, olhando a cada segundo pra nossa mesa.
- E você deve ser um famoso. - Falo sorrindo - Eu acho que lembro de você só não sei de onde.
- Future? - ele fala e eu franzo o cenho, mas logo lembrei do dia, o único dia, em que eu vi Tv, estava passando uma entrevista com uma banda e esse era o nome. Olhei para seu rosto e vi que ele era o mesmo da Tv. Ele sorriu. - Sério mesmo que não me reconheceu?
- Não - solto um sorriso sem graça, nervoso e ao mesmo tempo surpreso. A garçonete traz nossos pedidos e acaba pedindo um autografo dele em um guardanapo. - Mas agora sei.
- Não vai dar um ataque? Pular em mim? - Neguei rindo.
- Eu só vi você uma vez na Tv. Então não tenho motivo. - Ele me encara surpreso sorrindo e eu continuava sem graça. Ele tinha um olhar penetrante. - Por que? Era isso que queria?
- Não. - Ele ri e começa a tomar seu café. Encaro o meu e faço o mesmo. - Só é engraçado, ou estranho não sei, encontrar alguém que não nos conheça.
- Eu conheço. - o olhei - Só não sou... fã, e nunca ouvi a música de vocês.
- Mas não vamos falar de mim. - ele balançou as mãos no alto apoiando o outro cotovelo na mesa. - Já basta o mundo todo, eu não aguento mais.
- E vamos falar sobre que? -
- Você é bem bonita - Sinto minhas bochechas ficarem violentamente vermelhas. Ele dizia isso com tanta segurança, sem medo de dizer e eu que nem me considerava tão merecedora de estar ali com ele Agradeço meio sem jeito. - O que gosta de fazer?
- O que? - Fecho o cenho. Eu entendi, só não sabia por ele estava perguntando. Ele repetiu mais uma vez e eu dei de ombros. - Muitas coisas.
- Tipo? - Incentiva e eu me esforço para pensar em alguma coisa.
- Tipo... - encarei o buquê. - Vender flores !?
- Ah fora isso. - ele colocou o buquê na cadeira ao lado. - o que você mais sonha em fazer?
- Não tenho sonhos. - ele me encara surpreso. - Pra mim eu acho que o que a vida me preparar vai ser ótimo. E você?
- Também não sei. - Então eu que fiquei confusa. Ele já não cantava? - Um deles eu já realizei, claro, Cantar, mas sei lá, não sei se só isso me basta.
- Acho que se a gente sonha muito acaba fantasiando uma coisa que não devemos. - deixei meu café de lado e encarei ele. - Então é melhor deixar a vida fazer o papel dela.
- Falou pouco, mas muito bonito. Gostei. - Sorri em agradecimento e ele olhou para o meu copo. - Terminou?
- Uhum - peguei o copo - Vou guardar como lembrança.
Ele sorriu e assentiu. Se levantou e foi até o caixa. Demorou alguns minutos mas logo voltou e pegou as flores, me avisando que precisava ir.
Me levantei da mesa levando o copo junto e me encolhia enquanto passava no meio daquelas pessoas que me encaravam sem entender como eu estava ali com um homem que parecia de uma classe tão grande. Só ignorei.
Paramos do lado de fora do estabelecimento e eu encarei ele.
- Te deixo na praça - ele continuou andando quando eu tinha parado. Só o segui já que eu não tinha escolhas. - Mesmo que tenham sido as poucas palavras que trocamos, posso dizer que adorei esse café.
- Eu também. - Digo sorridente e encarando meus pés enquanto andávamos. Que vergonha. - Obrigada.
- Muito obrigada você. - ele levantou o buquê. - Não só pelas flores e sim por levantar meu ânimo logo essa manhã.
- Como assim? - Atravessamos a rua.
- Eu estava indo comprar as flores pra ver se animava minha namorada por que ela está chateada comigo e acabei ficando triste - ele suspirou. - Mas você me animou Malu.
- Eu que devo agradecer. - Sorri. - Estou feliz também. - Levantei o copo vazio do café. - e nunca esquecerei você.
- Nem eu - Paramos ao lado de onde eu iria ficar- Por que eu vou voltar aqui mais vezes. Que além de ser tranquilo e eu poder andar sem pressão, tenho uma nova amiga.
Sorri assentindo e abraçando meu próprio corpo enquanto via ele à minha frente.
- Então até outro dia moço Louie. - coloquei minha mão para ele apertar. Mas ele levou à sua mão até a minha, levou até os lábios e a beijou.
- Até outro dia pequena Malu. -