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1162 Words
Depois de toda a ação no escritório e do cansaço da viagem, achei que seria melhor descansar e depois sair para caminhar um pouco e organizar as minhas ideias. Vou para o quarto, tomo um banho e desço para o jardim. Estranhamente, sempre gostei muito de ter contato com a natureza e de música, dois grandes motivos para sofrer bullying no meu tempo. Agora, no entanto, não dou mais atenção a isso e não deixo que as pessoas conheçam os meus gostos. Evito falar sobre o que eu gosto já que muitas pessoas estão apenas procurando um motivo para te criticar sobre algo que nem as diz respeito. Ando em meio as flores e passo a mão em algumas, mas depois paro em meio ao jardim. – Deveria saber que me esperaria. Saia das sombras. – Digo baixo e o meu pai se revela. – Você sempre gostou de plantas, meu filho. Eu sabia que te encontraria aqui. – Diz se aproximando de forma hesitante. Ele me conhece bem, mesmo depois de muitos anos. – Como vai? Já faz algum tempo. – Estou bem. E você? A mãe está bem? – Não consigo evitar a pergunta. – Estamos bem mas sentimos sua falta. – Ele sorri aberto e uma lágrima desce pelo seu olho, mas ele a seca rapidamente. – Também sinto sua falta, pai. Da mãe também. – Não consigo me conter e corto a distância que há entre nós dois e o abraço apertado. – Por favor, vá nos visitar um dia enquanto estiver na Itália. – Ele pede ainda abraçado a mim e eu me afasto. – Não sente vergonha de mim? – Pergunto depois de tanto tempo. – Eu nunca sentiria vergonha de você, meu filho. Você é a minha maior riqueza. Fiquei tão surpreso e feliz ao vê-lo hoje, você está tão grande, forte e bonito meu filho. – Ele bagunça meus cabeços como quando fazia na minha infância e eu sorrio. – Sim, eu os visitarei. – Vá, por favor. Sua mãe sente sua falta todos os dias. Ela vai ficar muito feliz quando te ver. – Que tal jantarmos juntos hoje? – Digo subitamente e ele arregala os olhos. – Claro! Algum restaurante ou… – Não, eu gostaria de comer a comida da minha mãe. Faz tanto tempo. Mas não diga que sou eu, diga que é um convidado surpresa. – Tudo bem, eu direi. Eu dou a minha melhor tentativa de um sorriso e dou as costas para ele e saio andando. Eu nunca fui bom com despedidas e agora não seria diferente. Ver o meu pai depois de tanto tempo foi tão… esquisito. Diferente. Mas também tão bom. A noite, quando o horário do jantar se aproxima eu começo a questionar se fiz a coisa certa em marcar esse jantar. Não me sinto preparado para responder todas as perguntas que sei que eles vão me fazer hoje e já estou cogitando a ideia de não aparecer. Mas só de imaginar a cara de decepção dos meus pais eu sei que não posso, não devo fazer isso. Preciso tentar recuperar o tempo perdido. Gustav e Bernard sempre foram muito suficientes na minha vida mesmo que as vezes eu sentisse saudades dos meus pais, quando eu os olhava eu enxergava pessoas iguais a mim e que estavam passando pelo mesmo que eu. Isso me confortou um dia, mas não mais. Os dois se reconciliaram com a mãe e encontraram o amor mesmo em circunstancias tão ruins e isso me causa… inveja e solidão. Me sinto m*l de sentir inveja dos meus amigos mas não consigo evitar de pensar que nunca terei algo tão belo quanto eles tem com as suas mulheres. Eu nunca senti necessidade de uma companheira, até agora. Mas quem amaria alguém tão quebrado como eu? Tantos questionamentos rondam a minha mente, eu luto para controlá-los, mas é impossível. Em um momento estou arrumando o nó da gravata e no próximo estou encolhido em um canto do quarto chorando. Faz muito tempo que não tenho uma crise de ansiedade, mas acho que enfrentei coisas demais hoje e minha mente não aguentou. Passo algum tempo assim chorando, as lagrimas se acumulam em meus olhos e descem em cascatas pelas minhas bochechas manchando a camisa do meu terno. Nesse momento nada mais existe além da tristeza em meu coração e sei que vou me sentir melhor depois disso. De repente, alguém bate na porta e me tira do meu transe. – Quem é? – Falo secando as lágrimas e me levantando. – Cara, sou eu. Só queria saber se você estava no quarto ou se já tinha ido para um apartamento. – Bernard está do outro lado da porta. – Sim, eu vou amanhã. – Você vai ao velório, não? – Claro que sim. Nos vemos lá. – Ok, bom descanso para você. – Ouço os passos se afastando e respiro fundo. Foi por pouco. Ainda bem que ele não pediu para entrar no quarto, ele perceberia de primeira. Termino de me vestir, pego meus óculos escuros, a arma e desço rapidamente evitando tudo e todos. Em menos de dois minutos estou fora da casa suspirando de alívio. Passado o perigo, começo a andar calmamente para a casa dos meus pais e penso na vida enquanto faço isso. O caminho até a casa dos meus pais é relativamente curto já que eu o fiz em menos de 15 minutos. Olho o jardim onde eu gostava de me refugiar, a fachada da enorme casa e me recordo de muitas coisas, boas e ruins. Subo um degrau por vez calmamente e toco a campainha depois de respirar fundo. Quem abre a porta para mim é o meu pai, vestido em roupas casuais e com um sorriso enorme no rosto. Em silêncio, ele abre espaço para mim na porta e eu entro. O cheiro de Fettuccine está por toda a casa e sinto a minha boca salivar, é o meu prato preferido e ninguém o faz como a minha mãe. – Fique aqui, vou pedir a ela para que espere a sala e quando eu pedir você entra. – Meu pai me barra antes que eu entre na sala principal e eu concordo. Ouço passos se aproximando e quero cair em lágrimas, os passos da minha mãe são conhecidos de longe devido a leveza que ela anda. Muitas vezes fui pego de surpresa por ela pois não a ouvi chegar. – … mas quem é tão importante? Preciso ficar a cozinha e orientar as empregadas, você sabe que ninguém faz Fettuccine como eu. Você pediu para que eu preparasse então quero que fique bom. – Ela fala calmamente. – Não vai demorar, Andria. Pode entrar. Eu respiro fundo e forço minhas pernas a funcionarem, uma após a outra e ando em frente até estar na sala principal. Eu paro e levanto a minha cabeça para olhar para os dois. – Boa noite, pai e mãe.
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