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1399 Words
– Lamento muito Bernard, mas Izabel está morta. – Lucy fala com dificuldade. – O que disse? O que você disse? – Bernard parece fora de seu chão. – Sinto muito. Sinto muito mesmo. Acabamos de receber a notícia. Estou preocupado, estou muito preocupado e sentido com a notícia, assim como todos. – Minha mãe… morreu? – Ele pergunta devagar como se testasse as palavras em sua boca. – Não, isso não pode estar certo. Eu a vi a uma semana atrás, estava bem, saudável, forte, bonita. Ela não morreria assim. Ela não morreria. – O sorriso em seu rosto não chega aos seus olhos. – Nossa mãe descobriu o câncer algum tempo antes de vir nos visitar quando soube que Lucy estava grávida, estava em estado avançado e as chances de melhora eram mínimas. Ela preferiu aproveitar o resto dos seus dias animadamente e consertar o passado do que tentar sobreviver e sofrer com fortes dores todos os dias e quimioterapia. Ela sabia que estava perto de morrer e veio se despedir de nós, ninguém mais sabia além do médico da família e foi ele que ligou para nos avisar. Eu sinto muito, irmão. Eu também não percebi que tinha algo errado, me desculpe. – Os dois irmãos se abraçam apertado e posso ver que Bernard está desolado. Eu estou desolado por ele. – Eu nem tive tempo de visitá-la, dar-lhe netos como me pediu, ainda não era a hora dela. Não era. – Ele chora e sinto meus olhos molhados. – Ela está olhando por nós agora. Devemos ser fortes por ela, especialmente você. Recebemos a noticia a alguns minutos e o médico do conselho nos aconselhou a voar para a Itália o mais rápido possível. – Gustav fala se afastando e encarando o irmão. – Porque? O que está havendo? – Ele seca as lagrimas. – Os acionistas estão tentando roubar o seu lugar, especialmente o Tio Ricardo. – Tio Ricardo? Mas ele é consigliere e além de tudo somos família, somos sangue, porque ele roubaria o meu lugar? – Poder. – Respondo. – E não é ele que quer roubar o seu lugar e sim o seu filho, Felippe. Bernard fecha o semblante imediatamente a simples menção de Felippe, os dois nunca se deram muito e agora pior ainda depois de Kelyne. – Quando partimos? – Ele pergunta fechando o semblante, mas eu sei que é apenas uma máscara. – Daqui a uma hora. Prepare-se e lembre-se que estou sempre aqui para você. Somos família, não importa o que vamos encontrar lá, podemos vencer de qualquer forma se continuarmos juntos. – Gustav dá dois tapinhas nas costas dele e sai acompanhado de Lucy – Também vou fazer a minha mala. – Eu digo e saio em silêncio indo até o meu quarto. Sem pensar muito, pego a minha mala e começo a colocar tudo que vou precisar nela. Eu jurei que não voltaria a Itália de forma alguma enquanto vida eu tivesse, mas eu jamais abandonaria o meu melhor amigo no momento que ele mais precisa de mim. Estávamos todos na sala a uma hora atrás conversando e aproveitando que estamos livres de Charles para sempre e agora podemos baixar a guarda um pouco quando recebemos a notícia esmagadora. Ele m*l teve uma mãe e ela se foi novamente. A sua dor deve estar sendo muito grande. Todas as vezes que precisei, ele estava lá para mim e não mediu esforços para me ajudar e eu finalmente posso retribuir o seu favor. Não importa se terei que enfrentar traumas de adolescência no processo, eu irei mesmo assim. Assim que termino de fazer a minha mala, separo um dos meus melhores ternos e pego outra mala vazia para preparar as armas. Pego uma pistola e seguro em minha mão. – Chegou a hora de mostrar para todos que não sou mais o mesmo. – Falo baixo para mim mesmo olhando a arma e coloco de volta na mala. Assim que coloco tudo que vou precisar, fecho e vou tomar um banho. Meia hora depois, tudo está pronto, inclusive eu. Olho para as malas e respiro fundo. Chegou a hora de enfrentar os meus demônios. Desço as escadas com as minhas malas e coloco no hall. Assim que me viro, encontro Bernard tão bem-vestido quanto eu e com Kelyne a tiracolo. – Uau, quem é essa? – Pergunto fazendo graça. – Engraçadinho. – Ela mostra a língua e eu dou um pequeno sorriso. – Vai enfrentar alguma coisa? Está lindíssima. Alguma ocasião especial? – Outra que vai enfrentar seus próprios demônios no seu pais natal. – Vou enfrentar todos, principalmente os meus pais. – Sei que ela não tem uma relação boa com os pais. – Agora entendi tudo. Boa sorte. – Obrigada, acho que vou precisar. Gustav e Lucy descem as escadas e os seguranças sobem imediatamente para pegar suas malas. – Você também vai? – Pergunta Lucy encarando Kelyne. – Está gatissima. – Chegou a hora de enfrentar meus demônios, não dá pra fugir para sempre. – Dá sim. – Respondo calmamente. Eu fugi até agora e continuaria fugindo se tivesse a opção. – Todos prontos? Vamos? – Pergunta Gustav. – Vamos. O caminho até o aeroporto é feito em silêncio por todos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Assim que o carro para em frente ao jatinho e todos entram, eu olho ao redor uma última vez e respiro fundo antes de entrar no avião. Assim que estamos todos instalados em nossos lugares, Kelyne se levanta. – Gostaria de fazer um pedido a todos. – Diz chamando a atenção de todos. – Gostaria que não dissessem a ninguém que estou noiva de Bernard, acredito que apenas a mãe de Bernard sabia e eu não quero que ninguém saiba, pelo menos não ainda. – Porquê não? – Pergunta Bernard confuso e eu reviro os olhos. Ele é tão lento as vezes. – Ela quer testar os pais. – Respondo como se fosse obvio. – Sério? Porque? – Pergunta Lucy. – Os casamentos na máfia são muito sobre poder e muito pouco sobre gostar, se você se casa e se apaixona por alguém no processo e vice-versa é porque você deu muita sorte. O meu casamento era apenas um meio para o fim, no caso, poder. Olhe para mim agora, estou noiva do novo futuro capo, você acha que a minha mãe vai mostrar seu verdadeiro eu se souber que estou noiva dele? Quero saber se eles gostam de mim de verdade, por isso só vou contar depois. – É uma grande jogada. – Diz Gustav e eu concordo com a cabeça em silencio. – É sim. – E o que vai fazer se eles não te acolherem? – Vou fazer o mesmo que eles fizeram comigo esse tempo inteiro, fingir que não existem. Não quero que gostem de mim só por causa do meu noivo, ele não é uma mercadoria. As pessoas têm que parar de valorizar as outras apenas por causa dos seus bens materiais, isso não é amor, é interesse. Então, podem esconder apenas por mais um dia? – Claro. – Por mim tudo bem. – Seu segredo está seguro comigo. Todos nós concordamos. – Mas tenho uma coisa a pedir. – Bernard diz e eu me preparo. La vem... – Eu vou com você até a casa e vou te esperar no carro. – Todos nós sabemos que ele não vai esperar no carro, mas é melhor não falar para ela. – Mas porquê? – Paz de espírito. – Tudo bem, vai ser bom saber que você está próximo. – E não vamos adiar, vamos lá assim que chegarmos. Não quero esconder nem mais um minuto que você é minha. –Blé, esses dois estão sempre com suas demonstrações de afeto. – Tudo bem. – Ela cora e baixa a cabeça. – Vocês dois… eca. – Digo e coloco os fones de ouvido fechando os olhos. Não quero ver isso. – Não liguem para ele, é um solteirão amargurado. – Diz Lucy se referindo a mim. – Eu ouvi isso. – Digo com o fone e de olhos fechados. – Grande coisa. – Ouvi isso também. Tento dormir na esperança de que isso me acalme e retire a ansiedade gritante que está em mim. Eu sinto o meu coração acelerado e as minhas mãos tremem. Que Deus me ajude.
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